sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Hermes Trismegisto, Criação, Vida, Unidade.





“Busca, ó alma, adquirir o conhecimento absoluto das coisas aprendendoa conhecer sua forma e sua essência. Mas deixa de lado suas qualidades
e sua quantidade, pois a Vida verdadeira, assim como sua essência, é una e eterna, e não há nada que se interponha entre ela e a alma.”

Por que o mundo é assim? 
Por que os homens fazem assim? 
Ou, mais diretamente, por que sou assim? 
Por que faço o que faço? 
Por que existe sofrimento?
Por que existe injustiça? 
O que é o amor? 
Onde está a harmonia? 

Todas estas perguntas, certamente, não são novas. O homem, olhando as estrelas,
sempre procurou compreender o como e o porquê da criação. 

Mas, nos dias de hoje, quem chega ao final do processo de individualização, já não se satisfaz com fórmulas prontas e, como já as conhece, sente uma surda inquietação.

Buda disse: 
“Mesmo que o mundo fosse tão belo como cantam os poetas ou
como o pintam os artistas, aqui não encontraríamos a paz”.

A resposta para estas indagações não é difícil e nem complicada. 

Não se trata de usar a inteligência, como geralmente pensamos, enganosamente. 

As funções intelectuais sempre estão relacionadas com o tempo e o espaço. 

Depois da morte do corpo, o que resta são os pensamentos e sua expressão, em
formas que não permanecem. 

E, se não prestamos nenhuma atenção a eles, eles desaparecem. 

Há pensamentos que podem durar mais, mas não são eternos. 

As idéias, as reflexões, os gostos, as tendências, os sentimentos, as preferências, acabam-se apagando na poeira dos séculos. 

E isto é muito bom, pois muitas especulações, talvez muito interessantes em um dado momento, nada servirão para a eternidade.

Muito acima das atividades mentais, está a fonte da vida. 

A vida penetra e engloba toda a criação, mas sem receber dela nenhuma influência. 

Da fonte, jorra a força que conduz a criação para seu objetivo. 

Esta força não se reduz a uma soma de preceitos: ela não permite o sucesso na vida pessoal; ela não é tangível, nem pode ser captada. 

Podemos apenas recebê-la e ela nos permite participar da verdadeira vida. 

Ela alimenta a alma, desde que a alma deseje ser alimentada por ela. 

É a fonte silenciosa, intangível, na qual a alma pode matar sua sede para encontrar a fé e o consolo, e avançar no caminho até o bom fim.

A primeira condição é que a alma queira matar sua sede na fonte de vida original.

Depois de ter perdido o rumo, ela deve optar pela volta. 

É por esta razão que dizemos que o mundo material não passa de uma morada provisória para a alma. 

Isto quer dizer que a alma está de passagem, que ela deve ir além, sem “dormir sobre os louros”. 

“Na planície do desespero, jazem os ossos dos inúmeros que se sentaram para
descansar. E, enquanto estavam sentados, morreram.”

O homem é empurrado para a frente e sacudido, até conseguir adiantar-se, rumo a sua meta, que é a unidade tríplice: do Espírito divino, da Alma imortal e
do Homem transfigurado. 

Buda mostrou a angústia da alma aprisionada, comparando o mundo em que ela vive a uma casa prestes a pegar fogo: é preciso abandonar a casa.

Quem aspira a libertar sua alma é um passageiro neste mundo. 

Está aqui, trabalha aqui, faz o melhor de si, mas continua neutro em relação a tudo o que se passa dentro dele e a sua volta. 

Sua meta final não está incluída nos limites do espaço e do tempo. 

Ele se comporta com inteligência e sabedoria. 

Sua conduta testemunha sua paz interior, sua compreensão e sua fé verdadeira. 

E, quando ele encontra alguém que está angustiado, o ajuda como o bom samaritano e não como o fariseu.

Como a paz na terra é efêmera, ele não fica procurando aqui embaixo uma
sociedade ideal dotada de uma estrutura em perfeito funcionamento. 

Certamente, ele consagra o melhor de suas forças a elevar o mais alto possível o nível da sociedade, mas este não é seu objetivo principal.

Quem vê a solução neste modo de considerar a vida, não deve hesitar em
se submeter, a si mesmo e ao mundo, a um exame aprofundado. 

Hermes Trismegisto diz: 

“Busca, ó alma, adquirir o conhecimento absoluto das coisas aprendendo a conhecer sua forma e sua essência. Mas deixa de lado suas qualidades e sua quantidade”.

No mundo da multiplicidade, este é um trabalho sem fim: estudar as propriedades
dos inúmeros seres e fenômenos.

Cada resposta suscita uma nova série de perguntas; e também não devemos
buscar a paz interior na multiplicidade das coisas, pois a “paz é leve como o vento”. 

Uma paz interior durável nasce justamente quando a alma se eleva para além da multiplicidade, para celebrar a unidade com a Fonte

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