terça-feira, 27 de setembro de 2011




O primeiro passo na senda da perfeição é o nascimento do Cristo. Ele é a luz do mundo, que permanece dormente em todos os seres até ser despertado em nossa consciência. Os relatos apresentam uma riqueza de detalhes sobre o evento. A luz do Cristo nasce sempre quando as trevas são mais profundas no mundo, daí seu nascimento ser apresentado pela igreja como ocorrendo em 25 de dezembro, data do equinócio do inverno, a noite mais longa do ano no hemisfério norte, onde ocorre o exemplo histórico. A luz do sol aparece nessa data sob o signo de virgem.

Mestre Jesus representa a centelha divina no homem, o Cristo.
Sua mãe, Maria, simboliza a alma espiritual, situada no plano mental superior. José, seu pai, figura como a mente inferior.

Por isso, não foi José quem gerou a criança, pois a luz da intuição não pode ser gerada pela mente concreta. No entanto, após o nascimento da criança divina ela passa a ser cuidada por esse pai adotivo. Maria e José, portanto, formam um casal, a mente superior e a inferior, sendo, nesse sentido, os pais de Jesus.

O Cristo é concebido pelo Espírito de Deus, sendo a conceição imaculada anunciada a Maria pelo mensageiro divino, o arcanjo Gabriel, a expressão da vontade divina criativa.

A anunciação é uma experiência interior pela qual todo iniciado deve passar. Nessa ocasião, a consciência do homem começa a desabrochar expandindo sua capacidade intelectiva e percepção psíquica. Trata-se de um verdadeiro nascimento dentro da alma, aludido por Paulo alegoricamente:

“meus filhos, por quem eu sofro de novo as dores do parto, até que Cristo seja formado em vós” (Gl 4:19).

No plano de Deus a harmonia está sempre presente. Toda vez que o pêndulo da vida estende-se para um extremo, deve inevitavelmente oscilar a seguir para o outro. Assim, depois do despontar da luz, da boa nova do nascimento divino, a força das trevas faz-se sentir, procurando trazer a morte.

Herodes, o governante exterior, personifica as forças das trevas que combatem a luz .

No ser humano, Herodes representa a personalidade autocentrada, a força do passado, que teme o nascimento da luz no interior do ser, pois o Cristo, a esperança do futuro, necessariamente provocará uma revolução, ameaçando o controle das forças da materialidade e do egoísmo que mantêm o homem prisioneiro. Para que as forças trevosas do mal não matem o recém-nascido, a divina família deve fugir para o Egito, terra dos mistérios e santuário onde os iniciados eram e ainda são instruídos.

A cena do Natal, rememorada com profunda alegria por milhões de cristãos todos os anos, está repleta de símbolos.

O estábulo, ou gruta, representa o corpo físico que abriga em seu interior todos os membros da família divina, que são os diferentes princípios do homem.

A manjedoura, onde o Cristo menino está reclinado, utensílio usado na alimentação dos animais, representa o corpo vital ou etérico que preserva e distribui o prana, ou força vital do sol, pelo corpo físico.

Os carneiros e as vacas representam as emoções. Para que o Cristo possa nascer pressupõe-se que esses animais tenham sido domesticados, ou seja, que as emoções do candidato à iniciação tenham sido disciplinadas e purificadas.

Os pastores representam os irmãos mais velhos e guias da humanidade, os Mestres que sempre comparecem às cerimônias de iniciação. Paulo refere-se a esses guias como “os justos que chegaram à perfeição” (Hb 12:23).

Os três reis magos, que vieram do oriente (de onde vem a luz), simbolizam os três aspectos da divindade. Eles trazem presentes (ouro, incenso e mirra) ao jovem iniciado, expressando os aspectos espirituais do poder, do amor e da sabedoria. Com esses presentes a alma recém-iluminada, ou o Cristo-criança recém-nascido, está capacitado a empreender sua missão. Os reis magos são guiados pela estrela de Belém, o pentagrama que cintila acima da cabeça do hierofante sempre que um rito iniciático está em andamento.

Os evangelistas, como iniciados, conheciam claramente a linguagem sagrada e assim apresentaram um relato alegórico que preserva para todos os que têm olhos para ver a mensagem auspiciosa de que Cristo aguarda a oportunidade para nascer na consciência de todos os que aspiram alcançar o Reino dos Céus.

Quando esse nascimento virginal ocorrer, a luz crística na alma do iniciado passará a derramar suas bênçãos sobre toda a natureza inferior do homem, estimulando sua capacidade intelectual, percepção e sensibilidade. A expansão de consciência conseqüente faz com que a unidade de todos os seres deixe de ser meramente um conceito intelectual para tornar-se, ainda que momentaneamente, uma profunda experiência de vida.

"Se manifestarem aquilo que têm em si, isso que manifestarem os salvará. Se não manifestarem o que têm em si, isso que não manifestarem os destruirá".
Mestre Jesus, o Cristo
Evangelho Gnóstico de Tomé.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Caminho Místico



"Esse é o caminho que vem sendo trilhado por milhares de místicos ao longo dos séculos. Esses incansáveis buscadores trilharam arduamente o caminho da perfeição, recebendo em seu coração, provavelmente de forma inconsciente, os sacramentos do Mestre Jesus, à medida que progrediam no caminho espiritual. Ao analisarmos a vida dos místicos torna-se óbvio a correlação dos estágios da via mística com as iniciações e os sacramentos do Mestre Jesus.

O despertar. A primeira etapa é caracterizada pelo despertar da consciência para a Realidade Divina. Ela é abrupta e bem marcante em muitos casos, mas também pode ser gradual. Geralmente, é acompanhada de sentimentos intensos de contentamento e até mesmo de arrebatamento espiritual, que proporcionam incentivo ao indivíduo a se dedicar integralmente a “seguir a Deus.”

Purgação. Na segunda etapa, o místico torna-se consciente da disparidade entre a beleza e a pureza divina que foram experimentadas em seu interior frente à realidade do seu estado exterior, caracterizado por imperfeições, apegos, ilusões e impurezas. Inicia-se, então, a penosa etapa de purificação em que ele procura eliminar, pela disciplina e mortificação, tudo aquilo que julga ser uma barreira ou elemento impeditivo para seu progresso rumo ao ideal de união com Deus. São geralmente longos anos de esforço e sofrimento, na luta ingente contra a natureza inferior.

Iluminação. Depois do sofrimento da purgação vem a intensa felicidade da iluminação, ou comunhão com Deus. Tendo se libertado em grau considerável das ‘coisas do mundo,’ a custo de muito suor e lágrimas, o místico pode agora colher os frutos da realidade espiritual que em nada se parecem com a gratificação dos sentidos. Ocorrem visões da Unidade, da Luz Divina, percepções intuitivas da natureza humana e da realidade das coisas, vozes angélicas e celestiais que o instruem, arrebatamentos e viagens fora do corpo. O místico entra numa nova dimensão e passa a contribuir de forma mais capaz e dedicada às necessidades dos que o cercam.

A noite escura da alma. Prossegue a alternância entre luz e sombra das três primeiras etapas. Depois de ter metaforicamente visto o Sol, o místico agora penetra nas profundezas das trevas. Tendo se deleitado com a experiência da presença de Deus, agora ele sofre com a ausência divina. Ele enfrenta a mais terrível de todas as experiências do caminho místico, descrita por João da Cruz como a noite escura da alma e, por outros, como a ‘dor mística,’ a ‘morte mística,’ a ‘purificação do Espírito.’ É uma verdadeira ‘crucificação espiritual’ a que o buscador deve submeter-se para alcançar a glorificação subseqüente da ascensão às alturas da união com Deus. Enquanto estava na etapa da purgação, o místico buscava extirpar o interesse pelas coisas do mundo e pela gratificação dos sentidos, agora ele deve estender o processo de purificação ao âmago de sua natureza inferior, eliminar o sentido de ser um ‘eu separado.’ Somente quando a personalidade entrega-se inteiramente a Deus, com fé inquebrantável, apesar de sofrer com o que lhe parece ser o abandono da Divina Presença, quando não mais espera nada para o eu pessoal, cortam-se os últimos laços com a consciência egoísta, capacitando a alma a unir-se com o Supremo Bem.

A União. A bem-aventurança experimentada nesse estágio é inteiramente diferente de qualquer experiência de felicidade até então, pois agora o místico não experimenta algo fora de si como um observador ou mesmo como participante, como acontece na etapa da Iluminação. Nessa etapa ele une-se a Deus e tem a experiência absolutamente indescritível de ser divino. Essa é a meta final do caminho místico e da vida espiritual.

É geralmente alcançada em estado de profunda contemplação, quando cessam todas as imagens do mundo das formas e dos conceitos, e o místico identifica-se com o Vazio, o estado contemplativo sem formas e conceitos, que é simultaneamente a plenitude da Vida e do Ser.

A rica tradição esotérica cristã sempre esteve voltada para a transformação do homem velho num homem novo. O objetivo dessa tradição não é formar meros devotos, ou cristãos tradicionais, mas sim verdadeiros Cristos, nascidos na gruta do coração, sendo batizados, transfigurados, mortos e sepultados, ressurgindo dos mortos e, finalmente, ascendendo em glória aos céus, para permanecerem à direita do Pai.

Essa é a via mística, trilhada por tantos milhares de buscadores sinceros ao longo dos séculos. Nela todos os ensinamentos e passagens da vida do Cristo retratam a vida de sua própria alma."

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Jalaluddin Rumi





A Alquimia do Amor
Você chega a nós
Vindo de um outro mundo
Além das estrelas e
De um espaço sem fim.
Transcedental, puro,
De uma beleza inimaginável,
Trazendo com você
A essência do amor.
Você transforma tudo o que toca
Aflições banais,
Problemas e tristezas
Dissolvem-se na sua presença,
Trazendo alegria
Aos comandantes e aos comandados,
Aos plebeus e aos reis.
Você nos enfeitiça
Com sua graça.
Qualquer mal
Transforma-se em
Bem.
Você ascende a chama do amor
Na terra e no céu,
No coração e na alma
De cada ser humano.
Com seu amor
O existir e o não-existir se unem.
Os opostos de fundem.
E tudo o que é profano
Torna-se sagrado outra vez