segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Grande Homem



Quem faz jus ao título de "grande homem"?
Não sei...

O homem inteligente? 
Não basta ter inteligência para ser grande...

O homem poderoso? 
Há poderosos mesquinhos...

O homem religioso? 
Não basta qualquer forma de religião...

Podem todos esses homens possuir muita inteligência, muito poder, e muita religiosidade - e nem por isso são grandes homens.
Pode ser que lhes falte certo vigor e largueza, certa profundidade e plenitude, indispensáveis à verdadeira grandeza.
Podem os inteligentes, os poderosos, os virtuosos não ter a verdadeira liberdade de espírito...
Pode ser que as suas boas qualidades não tenham essa vasta e leve espontaneidade que caracteriza todas as coisas grandes.
Pode ser que a sua perfeição venha mesclada de um quê de acanhado e tímido, com algo de teatral e violento.
O grande homem é silenciosamente bom...
É genial - mas não exibe gênio... 
É poderoso - mas não ostenta poder... 
Socorre a todos - sem precipitação... 
É puro - mas não vocifera contra os impuros...
Adora o que é sagrado - mas sem fanatismo...
Carrega fardos pesados - com leveza e sem gemido... 
Domina - mas dem insolência... 
É humilde - mas sem servilismo... 
Fala a grandes distâncias - sem gritar...
Ama - sem se oferecer... 
Faz bem a todos - antes que se perceba...

"Não quebra a cana fendida, nem apaga a mecha fumegante - nem se ouve o seu clamor nas ruas..."
Rasga caminhos novos - sem esmagar ninguém... 
Abre largos espaços - sem arrombar portas... 
Entra no coração humano - sem saber como...

Tudo isso faz o grande homem, porque é como o Sol - esse astro assaz poderoso para sustentar um sistema planetário, e assaz delicado para beijar uma pétala de flor...
Assim é, e assim age o homem verdadeiramente bom - porque é instrumento nas mãos de Deus...
Desse Deus de infinita potência - e de supremo amor...
 
Desse Deus cuja força governa a imensidade do cosmos - e cuja preciência sabe das fraquezas do homem...

O grande homem é, mais do que ninguém, imagem e semelhança de Deus...
Huberto Rodhen

sábado, 29 de outubro de 2011

Casamento Alquímico



Duas partes complementares, separadas da unidade, trilham um conhecimento subconsciente do relacionamento anterior e procuram restabelecer a união.

Aprendemos dai que fundamental e unicamente do ponto de vista metafísico e alquímico, existe uma outra e verdadeira metade complementar para cada ser vivo.
Esta noção, entendida de maneira generalizada e errônea, levou a crença popular na existência de urna afinidade para cada ser humano, bem como uma afinidade química para cada um dos elementos naturais.

Se encararmos o casamento como a união por uma lei ou principio alquímico natural de duas partes separadas, mas simpáticas e complementares de uma unidade pré-determinada, podemos concluir por tais condições que o matrimônio e o estado ideal. Na verdade, e o único estado em que dois seres encontram o grau de manifestação perfeita decretada por Deus e pela natureza.

Estes são os princípios, mas diferentemente das manifestações que ocorrem naturalmente no mundo químico ou elemental, entre os humanos existem interferências causada pela insistência intencional do homem em suplantar a mente Cósmica ou espiritual com sua própria mente.

No casamento entre dois seres complementares ele não hesita em exercer sua 
vontade, seu arbítrio, a um grau que seria considerado sacrílego para o alquimista. 

O homem desenvolveu a idéia de que e capaz de interpretar as varias emoções de seu ser e decidir quais as atrações naturais, alquímicas, puras e quais são atrações passageiras...

Ele interpreta as ilusões, impressões e emoções transitórias como sendo o grito cósmico, permanente, apropriado, de um ser separado a chamar sua contraparte.

Os químicos sabem que os elementos da natureza que não estão unidos a suas partes complementares não podem ser forçados a uma combinação não natural, não simpática ou não harmônica com outros elementos.

Os biólogos sabem que a união de dois elementos não harmônicos e não simpáticos ira manifestar um produto desarmônico, sub-normal ou anormal muito distanciado da criação perfeita representada pela terceira ponta do triângulo.

Infelizmente, este fato, conhecido dos químicos e biólogos, e tão perfeitamente compreendido pelos místicos, não e aceito nem levado em consideração pelo homem e pela mulher comum.

Fala-se levianamente que os casamentos são feitos no céu, o que perfeitamente correto do ponto de vista alquímico. Do ponto de vista do biólogo e do químico e um principio bem fundamentado. Mas não se aplica no caso de pessoas unidas por uma decisão arbitrária e pela obstinada e ignorante má aplicação da lei natural. 

0 verdadeiro matrimonio entre dois seres humanos só pode resultar de um estudo cuidadoso de suas características e elementos naturais.

Para um verdadeiro casamento alquímico, e portanto uma união Cósmica natural, a essência divina de cada um deve se unir a do outro por atração natural, antes que seus corpos possam se unir adequadamente.

Nas antigas cerimônias místicas, o rito matrimonial físico jamais era realizado enquanto as dois "Eus" interiores não tiverem encontrado a perfeita união, a sublime harmonização.

A Cerimônia do casamento físico era realizada com o único fim de obedecer costumes éticos, legais ou religiosos da terra, e era considerada apenas uma formula a ser completada após a união natural espiritual.

Com a passar do tempo, a cerimônia espiritual, o processo alquímico do matrimônio, passou a ser ignorado.

Fórmulas criadas pelo homem aumentaram a ponto de levá-lo a acreditar que ele não só decretava ser o casamento físico apropriado, completo e de acordo com a lei natural, mas também, de alguma forma, forçava a natureza a sancionar e sintetizar o casamento espiritual que deveria ter ocorrido anteriormente.

Em alguns casos, tais matrimônios são perfeitos pelo casamento natural da essência da alma ter ocorrido muito antes do casamento físico.

Nestes casos, o casamento físico e apenas o resultado de algo experimentado interiormente e de forma divina.

Na maioria das vezes, entretanto, o casamento físico ocorre sem que antes ocorra a União das ALMAS, o casamento no sentido espiritual ou alquímico e impossível, pela falta de harmonização entre duas pessoas unidas desta forma.

Em tais uniões, não há uma fusão de duas naturezas simpáticas, não há atração alquímica ou Cósmica, apenas uma atração química, física e transitória.

As coisas mortais modificam-se constantemente, e mais cedo ou mais tarde os cônjuges percebem que não estão adequadamente combinados, mesmo nas minúsculas formas do mundo material químico, os elementos erroneamente unidos sempre vibram de forma desarmônica e acabam por desfazer a união.

Não e de surpreender, portanto, que homens e mulheres unidos de maneira 
incorreta procurem livrar-se, não só exteriormente, mas também através de sua essência da alma e natureza divina, das estreitas limitações a que foram forçados. 

A separação, o divórcio será inevitável enquanto o homem arbitrariamente dirigir a união da sua natureza com outra.
 

Os fins não justificam os meios





"Non nobis Domine, non nobis, sed nomine Tuo da gloriam" 
"Não a nós, Senhor, não a nós, mas a glória do teu Nome".

Os filhos das trevas agem, manipulando, hipnotizando ou forçando as pessoas, de uma forma ou outra, sem respeitar sua vontade própria. Para os agentes das trevas os fins justificam os meios, para os Seres de Luz isso seria inadmissível.

Em outras palavras, as entidades do astral não são confiáveis como instrutores. Com exceção dos seres conhecidos que atuam no plano astral para o benefício daqueles que estão de passagem por aquele plano ou podem receber comunicações astrais, a grande maioria dos habitantes do astral que enviam mensagens para pessoas encarnadas por intermédio de médiuns, "santos", profetas, videntes, canalizações, já perderam seus princípios superiores e estão em processo de decomposição. 

No entanto, devido às características especiais daquele plano, essas entidades, melhor conhecidas como cascões, ou cadáveres astrais, retêm parte de sua memória passada e podem, além disso, entrar em sintonia com as emoções e pensamentos das pessoas envolvidas na sessão mediúnica. 

Por essa razão podem enviar mensagens baseadas no que restou de sua memória do passado bem como no conhecimento atual dos encarnados que participam da sessão. Por isso, as mensagens tendem a refletir a expectativa dos recipiendários, sendo geralmente aceitas, apesar de não acrescentarem nada de novo em termos de ensinamentos.

"E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre." 
Apocalipse de João (20:10)

"Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo."
Apocalipse de João (1:1)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Da Crença Para a Experiência



Até o fim da Idade Média, prevalecia na cristandade o período da crença em Deus, na imortalidade, no Cristo, no mundo espiritual.

Com o fim da Idade Média, grande parte da cristandade e da humanidade ocidental abandonou a crença, e, com o início da Renascença, muitos proclamaram a ciência como elixir da felicidade. A crença, que é um ato de boa vontade, foi substituída pela ciência, que é um "ato da inteligência".

Hoje, porém, após quase cinco séculos de Renascença, e no apogeu da ciência, a nova humanidade está iniciando o terceiro estágio da sua evolução ascensional, para além da crença e da ciência, rumo à experiência de Deus e do mundo invisível. Se a crença foi um ato de boa vontade, e a ciência um "ato da inteligência", a experiência é o despertar da intuição, do Lógos, do Cristo.

A crença corresponde à infância.

A ciência é da adolescência.

A intuição é da maturidade.

O grosso da humanidade continua no período da crença, porque a imensa maioria do gênero humano se acha ainda no plano da infância espiritual, em que a única atitude é a de crer em Deus e no mundo espiritual.

Nem é provável que, em tempo previsível, haja uma humanidade que consiga ultrapassar o estágio da crença, uma vez que a evolução progride com passos mínimos em espaços máximos. Para esta humanidade, a crença é necessária, porque é um freio disciplinar para conter o homem dentro de certos limites de moralidade.

Apenas uma pequena elite da humanidade ocidental conseguiu ultrapassar a crença baseada em testemunhos alheios e entrar na experiência própria de Deus e do mundo invisível.

Os que perdem a crença sem atingirem a experiência caem facilmente na descrença.

A elite dos experientes sabe que essa experiência do mundo superior não é um ato transitório, mas uma atitude permanente do homem, uma abertura ou receptividade em face do mundo superior. Para ter experiência da Realidade invisível, deve o homem ser invadido pela alma do Universo, que é Deus.

E, para que aconteça ao homem essa invasão cósmica, deve ele oferecer ao invasor canais abertos; somente o homem invadível pode ser invadido pela alma do Universo. Esta invadibilidade ou disponibilidade cósmica do homem consiste num total ego-esvaziamento, que, segundo leis infalíveis, preludia a cosmo-plenificação, que certas teologias chamam “graça”.

A verdadeira meditação é idêntica a esse ego-esvaziamento. E, na linguagem dos Mestres, é um egocídio voluntário, após o qual nasce na alma o Cristo, ou o Reino de Deus.

Durante esse egocídio, ou ego-esvaziamento, o homem ignora totalmente a sua personalidade humana, mas fica perfeitamente consciente da sua individualidade divina. É um estado 100% consciente e 0% pensante.

Os Mestres da vida espiritual são unânimes em exigir esse egocídio, para que possa nascer o Reino de Deus no homem: “Se o grão de trigo (ego) não morrer, ficará estéril; mas, se morrer, produzirá muito fruto”. “Eu morro todos os dias, e é por isto que eu vivo; mas já não sou eu (ego) que vivo, é o Cristo (Eu) que vive em mim”.

Após esse egocídio e esse nascimento do Cristo interno, o homem tem experiência direta e imediata de Deus, da sua alma imortalizável, e agora imortalizada. Já não é um ciente, mas um experiente ou sapiente.

Esta experiência gera absoluta certeza de Deus e da imortalidade, certeza essa que transforma toda a vida individual e social do homem.

Da crença há um possível regresso para a descrença, mas da experiência não há regresso para a inexperiência.

A certeza dos verdadeiros iniciados não vem da crença, menos ainda da ciência, mas vem da experiência. O homem que não tem experiência de Deus e da imortalidade não realizou o destino da sua existência.

"Se manifestarem aquilo que têm em si, isso que manifestarem os salvará. Se não manifestarem o que têm em si, isso que não manifestarem os destruirá".
Mestre Jesus, o Cristo
Evangelho Gnóstico de Tomé.


Huberto Rohden – (A Nova Humanidade)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ADEUS, ALMA QUERIDA






ADEUS, ALMA QUERIDA

Adeus, alma querida "Se você ama alguma coisa, deixe-a livre. Se voltar, é sua. Se não voltar, nunca foi."

Se, no caminho do teu saara, encontrares uma alma que te queira bem, aceita em silêncio o suave ardor da sua benquerença, mas não lhe peças coisa alguma, não exijas, não reclames nada do ente querido. Recebe com amor o que com amor te é dado, e continua a servir com perfeita humildade e despretensão.

Quanto mais querida te for uma alma, tanto menos a explores, tanto mais lhe serve, sem nada esperar em retribuição.

No dia e na hora em que uma alma impuser a outra alma um dever, uma obrigação, começa a agonia do amor, da amizade.

Só num clima de absoluta espontaneidade pode viver esta plantinha delicada. E quando então essa alma que te foi querida se afastar de ti, não a retenhas. Deixa que se vá em plena liberdade.

Faze acompanhá-la dos anjos tutelares das tuas preces e saudades, para que em níveas asas a envolvam e de todo mal a defendam, mas não lhe peças que fique contigo. Mais amiga te será ela, em espontânea liberdade, longe de ti, do que em forçada escravidão, perto de ti.

Deixa que ela siga os seus caminhos, ainda que esses caminhos a conduzam aos confins do Universo, à mais extrema distância do teu habitáculo corpóreo.

Se entre essa alma e a tua existir afinidade espiritual, não há distância, não há em todo Universo espaço bastante grande que de ti possa alhear essa alma.

Ainda que ela erguesse vôo e fixasse o seu tabernáculo para além das últimas praias do Sírio, para além das derradeiras fosforescência da Via Láctea, para além das mais longínquas nebulosas de mundos em formação, contigo estaria essa alma querida...

Mas, se não vigorar afinidade espiritual entre ti e ela, poderá essa alma viver contigo sob o mesmo teto e contigo sentar-se à mesma mesa, não será tua, nem haverá entre vós verdadeira união e felicidade.

Para o espírito a proximidade espiritual é tudo, a distância material não é nada.

Compreende, ó homem/mulher, e vai para onde quiseres! Ama, e estarás sempre perto do ente amado... Em todo o Universo... Dentro de ti mesmo...

(De Alma para Alma, Humberto Rohden)

Einstein e Tagore - Diálogo sobre a Beleza e a Verdade


1 ) Einstein: Crê o senhor no Divino como isolado do mundo? 


1.1 ) Tagore: Isolado, não. A infinita personalidade do homem compreende o Uni-

verso. Nada pode haver que se não possa resolver na humana persona-

lidade, e isto prova que a verdade do Universo é uma verdade humana.

Exporei um fato científico para ilustrar minhas palavras. A matéria está

composta de prótons e elétrons, com abismos entre eles, e, no entanto, a

matéria pode parecer-nos sólida. Analogamente, a humanidade está com-

posta de indivíduos; não obstante, porém, estes guardam entre si uma

interconexão de relacionabilidade humana, que dota o mundo do homem

de viva solidariedade. Pois todo o Universo se acha entrelaçado a nós

de um modo semelhante; é um Universo humano. Eu tenho seguido este

pensamento através da arte, da literatura e da consciência religiosa do

homem. 



2 ) Einstein: Há dois conceitos diferentes acerca da natureza do Universo:

(i ) o mundo como universo dependente da humanidade;

(ii ) o mundo como realidade independente do fator humano. 



2.1 ) Tagore: Quando o nosso Universo se acha em harmonia com o Homem Eterno,

conhecemo-lo como verdade, sentimo-lo como beleza. 



3 ) Einstein: Isto é um conceito puramente humano do Universo.


3.1 ) Tagore: Nenhum outro conceito pode haver. Este mundo é um mundo humano;

seu ponto de vista científico é também o do homem de ciência. Há certo

tipo de razão e de gozo que lhe confere verdade: o tipo do Homem Eterno,

cujas experiências se realizam através das nossas. 



4 ) Einstein: Essa é uma compreensão da entidade humana.


4.1 ) T: Sim, uma entidade eterna. Temos de compreendê-la mediante nossas

emoções e atividades. Nós realizamos o Homem supremo que carece de

limitações individuais, mediante nossas limitações. A cência ocupa-se

naquilo que não está limitado aos indivíduos; é o mundo humano impessoal

das verdades. A religião compreende essas verdades e as encadeia com

as nossas necessidades mais profundas; a nossa consciência individual de

verdade adquire sentido universal. A religão aplica valores à verdade e

conhecemos como boa a verdade em virtude de nossa harmonia com ela. 



5 ) E: De modo que a verdade ou a beleza não são segundo isso, indepen-

dentes do homem? 



5.1 ) T: Não.


6 ) E: Se se extinguisse a espécie humana, deixaria, pois, de ser belo o Apolo

de Belvedere? 



6.1 ) T: Assim o creio.


7 ) E: Estou de acordo com sua concepção de beleza, mas não com a que

sustenta acerca da verdade. 



7.1 ) T: Por que não? A verdade realiza-se mediante o homem.


8 ) E: Eu não posso demonstrar que a minha concepção seja a certa, porém

essa é a minha religião. 



8.1 ) T: A beleza cifra-se no ideal de perfeita harmonia que reside no ser Uni-

versal. Nós, os indivíduos, achegamo-nos a ela mediante nossos erros

e equívocos, mediante nossa experiencia acumulada, a nossa iluminada


consciência. . . Como, se não fosse assim, poderíamos conhecer a verdade?



9 ) E: Não posso comprovar cientificamente que a verdade deva conceber-

se como uma verdade de valor, com independência da humanidade; mas

creio-o assim firmemente. Creio, por exemplo, que o teorema de Pitágoras

em geometria afirma alguma coisa aproximadamente certa, com

independência da existência dos homens. Seja como for, se há uma realidade

independente do homem, há também uma verdade relativa a essa reali-

dade; e de igual modo a negação do primeiro traz consigo a negação da

segunda. 



9.1 ) T: A verdade que é unacom o Ser Universal deve ser essencialmente

humana; pois, de outro modo, tudo quanto nós indivíduos consideramos

como verdade não poderia merecer tal nome - pelo menos na acepção

científica da palavra, como verdade que só se pode alcançar mediante o

processo da lógica, ou, dito em outros termos, por um orgão humano de

pensamentos. Segundo a filosofia indiana, existe Brama, a verdade abso-

luta, que não pode ser concebida pela inteligência humana isolada, nem

tampoucodescrita com palavras, senão unicamente abismando o indivi-

dual em sua finitude. Porém, tal verdade não pode pertencer à ciência.

A natureza da verdade que tratamos é uma aparência; quer dizer; aquilo

que aparece como verdade à inteligência humana, e é, portanto, humano,

podendo-se-lhe chamar maia ou ilusão.



10 ) E: Segundo sua concepção, pois, que pode ser a concepção indiana, não é a ilusão do indivíduo, mas da 


humanidade inteira.


10.1 ) T: Na ciência procedemos seguindo a disciplina de eliminar as limitações pessoais de nossas 


inteligências individuais, para alcançar¸ assim essa compreensão da verdade que reside na mente do homem 


universal. 

11 ) E: O problema começa quando consideramos a verdade independente de nossa consciência.

11.1 ) T: O que chamamos verdade apóia na racional harmonia entre os aspectos subjetivos e objetivos da 



realidade, que pertencem ao homem superpersonal. 


12 ) E: Inclusive em nossa vida cotidiana, sentimo-nos obrigados a atribuir- lhe uma realidade independente 


do homem ao objeto que empregamos.

Agimos assim para coordenar as experiências de nossos sentidos em uma forma razoável. Por exemplo, se 


não estivesse ninguém nesta casa, nem por isso deixaria de estar aqui esta mesa.

12.1 ) T: Sim estaria fora da mente individual; porem, não fora da mente universal. A mesa que eu percebo é 


perceptível pela mesma classe de consciência que eu possuo.


13 ) E: Nosso natural ponto de vista com relação à verdade independente da humanidade, não pode ser 


explicada nem provada; mas é uma crença que a ninguém pode faltar. . . nem mesmo aos primitivos. 


Atribuímos à verdade uma objetividade super-humana. E indispensável para nós esta realidade a que me 


refiro, que é independente de nossa existência, de nossa inteligência. . . ainda mesmo que não possamos 


dizer o que significa.


13.1 ) T: A ciência demonstrou que a mesa, como objeto sólido, é uma aparência, e, por conseguinte, isso 


que a mente humana percebe como tal mesa não existiria se não existisse a mente humana. Deve 


reconhecer-se, ao mesmo tempo, que o fato de que a ultima realidade física da mesa não seja outra coisa 


que uma multidão de centros isolados de forças elétricas em revolução, pertence também à mente humana. 


14 ) E: Na apreensão da verdade, há um conflito eterno entre a mente humana universal e a mesma mente 


confinada no indivíduo. Nossa ciência, nossa filosofia e nossa ética andam sempre ocupadas no processo de 


reconciliação. Em resumidas contas, posto que houvesse alguma verdade que se não refira em absoluto à 


humanidade, tal verdade seria em absoluto para nós como não existente.


14.1 ) T: Não é difícil imaginar uma inteligência à qual a seqüência das coisas não se lhe mostre no espaço, 


senão no tempo, tal como a seqüência das notas em música. Para semelhante inteligência, a percepção da 


realidade seria parecida à da realidade musical, em o que carece de todo sentido a geometria de Pitágoras. 


Existe a realidade do papel, totalmente distinta da realidade da literatura. Pois a classe de inteligência que 


possui a traça que engole essa literatura de papel é, em absoluto, inexistente, e, sem embargo, para a 


inteligência do homem possui a literatura um valor de verdade maior que o próprio papel. De modo análogo, 


se alguma verdade existe que não guarde nenhuma relação sensitiva ou racional com a inteligência humana, 


será igual a zero, enquanto formos nós seres humanos. 


15 ) Einstein: Então sou mais religioso que o senhor.
15.1 ) Tagore: Minha religião resume-se na reconciliação do Homem superpersonal, o Espírito humano 



universal, em meu ser individual. Este foi o assunto de minhas conferências, às quais dei o título de - A Religião do Homem*.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Apocalipse de João



Eu, João que também sou vosso irmão e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo. Estava no Espírito no dia do Senhor e ouvi atrás de mim uma voz forte, como de trombeta.

Dizendo: Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último; e, o que vês escreve-o num livro e envia-a às 7 igrejas que estão na Àsia: a Éfeso e a Esmirna e a Pérgamo e a Tiatira e a Sardes e a Filadélfia e a Laodicéia.

E virei-me para ver a voz que falava comigo. E virando-me, vi 7 castiçais de ouro. E, no meio dos 7 castiçais, alguém semelhante ao Filho do Homem, vestido com túnica até os pés e cingido à altura do peito com um cinto de ouro. Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como a lã, tão brancos como a neve; e seus olhos eram como uma chama de fogo. E os seus pés semelhantes a refinado bronze, como se incandescentes em uma fornalha, e sua voz como o som de águas torrenciais. E ele tinha em sua mão direita 7 estrelas; e de sua boca saia uma espada afiada de dois gumes; e sua face era como o sol que brilha em esplendor.

E quando o ví, cai a seus pés como morto. E ele pôs sobre mim sua mãe direita, dizendo-me: Não temas: Eu sou o primeiro e o último; Eu sou aquele que vive e estive morto; e eis que estou vivo para todo o sempre, Amém; e tenho as chaves do inferno e da morte. Escreve as coisas que viste, e as que são, e as que serão daqui em diante; O mistério das 7 estrelas que viste em minha mão direita, e dos 7 castiçais de ouro: as 7 estrelas são os anjos das 7 igrejas; e os 7 castiçais que viste são as 7 igrejas.

Escreve os anjos da Igreja de Éfeso: "Eis o que diz aquele que segura as 7 estrelas na sua mão direita, aquele que anda por entre os 7 candelabros de ouro: Conheço tuas obras, teu trabalho e tua perseverança, e sei que não podes tolerar os maus e que puseste à prova os que se apresentam como apóstolos, sem o serem, verificando que eram mentirosos. Sei que tens perseverança e que sofreste pelo meu nome sem desanimar. Mas tenho contra ti que esfriaste no teu primeiro amor. Portanto, lembra-te portanto de que altura caíste e converte-te, voltando a fazer tuas primeiras obras. Se não te converteres, eu virei a ti para tirar o teu candelabro do lugar. Mas sei também que detestais as obras dos nicolaitas, como eu as detesto. Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas: ao vencedor, darei de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus."

E escreve ao anjo da Igreja de Esmirna: "Eis o que diz o Primeiro e o Último, o que estava morto e voltou a vida: Conheçoo teu sofrimento e a tua pobreza, mas és rico. Conheço também as difamações daqueles que se apresentam, sem razão, como judeus, e são apenas uma sinagoga de Satanás. Nada temas do que tens de sofrer: o Diabo vai lançar alguns de vós na prisão, para vos tentar. Terei sofrimentos durante dez dias. Permanece fiel até a morte e eu te darei a coroa da vida. Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas: o vencedor não sofrerá nenhum dano da segunda morte."

terça-feira, 18 de outubro de 2011

MINHA LUMINOSA ESCURIDÃO

Lá se vão os tempos remotos
Em que eu me sentia satisfeito,
Obscuramente satisfeito,
Na minha amorfa ignorância,
Na minha incolor neutralidade...
Possuía tudo que desejava
E bem pouco era esse tudo,
Porque as minhas potências dormiam
O longo sono da sua inexperiência...
E o incônscio equilíbrio
Entre o meu pequeno desejar,
E o meu pequeno possuir
Era a bitola da minha satisfação,
O estático nivelamento
Entre a potencialidade das minhas aspirações
E a atualidade das minhas realizações.


Mas ai! que despertou,
Nas profundezas do meu ser,
Algo como um estranho querer
Algo como uma longínqua alvorada,
Que me fazia adivinhar vagamente
Um luzeiro para além dos horizontes
Das minhas rotineiras satisfações...
E esse adivinhar de uma luz ignota,
Para além das trevas tão notas
Do meu costumado viver,
Encheu-me a alma de pressaga insatisfação...
Irrequietas, oscilaram em mim
Todas as agulhas magnéticas...
Despertaram as angústias subterrâneas
Da minha natureza lucigênita
Que ainda em trevas dormia...
Acordou em mim o instinto migratório
Da ave que adivinha tépidas primaveras
E cálidos estios,
Para além dos frígidos outonos
E dos gélidos invernos
Da sua querência nativa...


Abriu-se vasto abismo
Entre o que eu era
E o que desejava ser,
Entre as minhas realidades finitas
E as minhas possibilidades infinitas.
Fiz a estranha descoberta
De que eu era muito mais
O muito que desejava ser
Do que o pouco que era...
Tornei-me peregrino do Infinito.
E desde então acredito mais
No muito que ignoro
Do que no pouco que sei...
Minha vida começou a gravitar
Em torno dum centro ignoto,
Mais dinâmico que todas as coisas
Que eu possuía e conhecia.
O meteoro erradio da minha vida
Passou a ser planeta,
Posto em órbita heliocêntrica.
Ultrapassei o estágio primário
Da infeliz satisfação,
Entrei na etapa secundária
Da feliz insatisfação
Mas ainda não gozo plenamente
O "terceiro céu"
Da feliz satisfação...
Algo me diz que estou longe
Dessa meta final,
Ainda que em caminho certo.


E haverá mesmo meta final?
Poderá o humano finito
Atingir o divino Infinito?
Não consistirá a vida eterna
Nesse eterno jornadear,
Rumo à meta distante?...
Nessa agridoce nostalgia do eterno termo?
Nessa dulcíssima tortura
De estar no caminho certo,
Mas sempre longínquo do termo?
Nesse misto de luzes e trevas;
Nessa insatisfeita felicidade;
Nessa feliz insatisfação?...
Nesse inebriante buscar a Deus
E nesse inquietante possuir a Deus?


Estranho paradoxo!
Quanto mais possuo a Deus,
Mais o procuro.
Quanto mais deliciosamente o gozo,
Mais dolorosamente o sofro...
E desse doloroso gozar,
Esse gozoso sofrer,
É todo o meu inferno celestial...
É a luminosa escuridão
Da minha paradoxal beatitude...


(Huberto Rodhen - Escalando o Himalaia)

domingo, 16 de outubro de 2011

A loucura - Jacob Bohème‏




Como caminhar para Deus ? 

Pondere a sua vida com um único pensamento :

Que tipo de pessoa é ? Considera-se digno de ter a Graça de ser Filho de Deus ?

A sua vontade tende para onde? Tende sinceramente para o divino, para Deus ?

Se descobrir em si esse desejo do divino saiba que esse desejo lhe foi ‘inspirado’ e é uma manifestação de Deus e assim Deus atrai para si todos aqueles que no seu interior mais profundo aspiram pelo infinito e pela liberdade perdida.

Essa atração do Pai puxa por todos, contando que se permitam ficar quietos perante essa atração.

Aquele que descobrir em si esse desejo não deve adiar para o futuro mas começar já hoje o seu percurso de Fé.
Quem adia para o futuro está a ouvir a voz de Deus ser abafada pelas imagens que são sopradas pelo diabo, que quer adiar, adiar e assim atrasar o desenvolvimento espiritual da alma para o Pai.

Essas imagens ( paixões terrestres, orgulho, ganância, soberba, cólera) fazem com que a conversão seja adiada até a alma se tornar insensível ao divino e não mais possa alcançar a Graça.

Todas essas imagens são as patas e os chifres do demonio e também da serpente que o homem carrega em seu interior.

Analise sua vida e veja quanto se afastou da virtude e em que consiste sua ação e desejos diários, se é um homem verdadeiro ou se continua a ser um mero animal com bestiais desejos.

Tome a decisão de se voltar para Deus e permaneça fiel a essa promessa perante ‘mares e tormentas’.

Considere-se como um imundo guardador de porcos que delapidou os bens de seu Pai e seus direitos de nascença com os porcos do mundo e que, por isso, não é digno da Graça divina.

Todavia não desespere da Graça de Deus, sinta apenas que não depende só de si, pelo seu próprio poder e vontade, de a alcançar.

Surgirá então a angústia de se sentir ‘incapaz’ de saber como caminhar mas permaneça firme nessa determinação e nessa promessa feita, mesmo que assim se torne um ‘louco para o mundo’.

Assim se enfraquecem as paixões a pouco e pouco.

Saiba que a Graça de Deus nunca o abandona e saberá a altura certa para começar a ‘trabalhar’ dentro de si, a obrar consigo.

Quanto mais o homem se afasta das imagens bestiais, mais Deus se aproxima dele para preparar o casamento interior.

Existe e onde está Deus ?


A razão diz :

-Ouço muito falar de Deus mas ainda não conheci ninguém que o tenha visto, dito onde Ele está e como É, nunca ninguém regressou da morte e disse ter visto Deus.

- O mundo está cheio de sofrimento, guerras e miséria, como pode existir um Deus que deixa morrer na miséria aquele que Nele acredita?

Boehme responde :

- A razão é uma vida natural perecível, pois tem inicio e fim e logo aí nunca poderá entender o fundamento eterno no qual Deus pode ser entendido.

O homem racional sofre com o mal e a injustiça no mundo onde vive.

Devido a esse sofrimento a vida da razão tende a ‘aspirar’ a um ‘regresso’ a algo que ‘sente’ existir e onde ‘sente’ que esse mal e injustiça não existem.

Esse algo ainda não sabe o que é, mas sabe que pode ser aí que teve sua origem.
O homem racional usa a sua oposição ao mal e injustiça para rejeitar a sua vontade natural e tender a dirigir-se para esse algo, essa Vontade original.

A razão diz :

- Por que Deus criou uma vida angustiante e sofredora? O mundo não seria melhor sem sofrimento e angústia? Porque Ele, se Criador, tolerou a vontade desobediente e contrária?
Porque não destruiu o mal para que só houvesse o bem?

Boehme responde :

- Sem contrariedade nada pode ter consciência de si.

Sem mal e sofrimento o homem da razão não pensaria sequer que pudesse haver outra vida, pois tudo era perfeito e não haveria ‘opçoes’ por assim dizer.

Pois se nada há que lhe resista, sai continuamente de si e nunca a si regressa!!

Se nunca a si regressa, nunca regressa de onde veio, nunca conhece a sua origem e causa.
Se a vida natural não tivesse contrariedade alguma e não tivesse limite, nunca perguntaria pelo fundamento de onde provém, de modo que Deus oculto permaneceria desconhecido para a vida natural.

Por isso Deus deixa que o homem sofra até perceber a ‘loucura’ que é negá-lo e viver sem seguir a Lei e a Vontade divinas .

Quando o homem percebe num dia da sua vida a ‘loucura’ em que vivia, o sofrimento causado pelo erro se detém, pois ele reconhece que o mereceu e vê que isso serviu para reconduzi-lo à Verdade, agradece a Deus pelo sofrimento mas a principio não perdoa a si mesmo por ter persistido por tanto tempo em sua louca cegueira.

Assim também se percebe porque Deus criou, a criação foi uma ‘necessidade’ Dele que era Uno para se conhecer a Si mesmo.

Se Ele não se tivesse conduzido para fora de Si (a fim que uma contrariedade pudesse surgir) para a divisibilidade nas criaturas, divisibilidade que é uma luta, um permanente contraditório, como se poderia conhecer a Ele mesmo numa Vontade que é única?

A razão diz :

Então é bom e útil que junto com o bem haja o mal ?

Boehme responde :

O mal, como vontade contrária, faz com que o bem queira regressar à sua existência e causa primeira, ao Bem, à vontade Boa, pois uma coisa que em si mesma é apenas boa e não tem nenhum sofrimento nada deseja, porque não conhece nada de melhor que possa desejar em si ou para si.

Através do mal, o Bem torna-se perceptivel, efetivo e capaz de vontade, pois desejará separar-se do mal, deseja estar tranquilo de novo e aspira a entrar de novo no Um (retornar à Vontade única).

Deus só pode desejar a Si mesmo, pois nada mais tem diante ou depois Dele que possa desejar.

Mas se a Sua Vontade ‘imagina’ em idéia algo, esse algo só pode emanar Dele e é um contrário. Se esse algo fosse uno então a Sua Vontade não poderia exercitar-se aí, daí se ter dividido em principios e criaturas para aí operar.

Na mente do homem existe um método semelhante.

Se a mente não saisse de si, não haveria pensamentos, sem pensamentos não haveria conhecimento de si e seriamos incapazes de criar e agir.

Contudo o afluxo de pensamentos à mente, origina um contrário da mente com o qual ela se descobre a si mesma, faz com que ela queira e deseje algo e para aí dirija os seus pensamentos para nessa operação se revelar e contemplar em ação neles.

Essa divisibilidade permanente em centros de contrários (de opostos) é que permite que a mente conheça e conceba as maravilhas e poderes da Sabedoria divina num modus operandi semelhante ao da própria emanação divina.

Deste emergir de contrários em todos os planos, surge a luta permanente, a angústia e o desejo da mente aflita de regressar ao Sossego, de mergulhar de novo no repouso eterno na Casa do Pai pela Fé e pela Esperança.

Deste permanente contraditório em tudo, se percebe que em todas as coisas e criaturas coexista o bem e o mal.

O bem é a Inteligência da Vontade una que tende para a origem do poder divino e deseja um contrário que lhe seja semelhante, algo de bom, onde a boa Vontade divina emanada possa operar e manifestar.

O mal é a vontade pequena, própria, natural, é a Loucura que procura também um contrário semelhante, que para ela será uma substancialização, uma corporiedade, a única coisa que deseja para ela.

Em cada homem existem pois estas duas facetas ou naturezas, uma eterna, divina e espiritual e outra perecível, criada e natural.

Ambas buscam contrários semelhantes, uma o seu contrário de origem divina, outra o seu contrário meramente material ou natural.

Sem a Loucura não haveria manifestação da Sabedoria, a Loucura é um dos contrários dessa manifestação mas a Loucura atribui poder apenas a si mesma, à sua egoidade por meio de um fundamento que tem inicio e fim.

Nota : A Loucura é uma mente e uma vida que se apoiam apenas em si mesmas, é a razão natural e a vontade própria.

Assim a vida eterna é revelada pela Loucura, a fim de que nela se possa elevar um louvor à Glória de Deus e o eterno e permanente possa tornar-se conhecido no mortal.

Através do sofrimento infligido á vontade própria, a vida e a razão que querem se apoiar apenas em si mesmas ( isto é a Loucura) desejam retornar á sua origem e se persistem nesse desejo e nesse retorno, o celeste ( Deus, o Amor, a Liberdade) acaba por se manifestar no terrestre, no homem, libertando-o dessa dor e sofrimento.

A vida da razão é apenas um contrário da verdadeira vida, e se não encontra em si, fome ou desejo algum pela vida donde se originou, ela não passa, em sua própria vida, de uma loucura e de um jogo onde a Sabedoria manifesta suas maravilhas.

A razão louca e terrestre não entende que o homem sábio é livre em si mesmo, pelo sofrimento e contrariedades, odiando a frágil vida terrestre, morrendo para a razão natural até sua vontade própria se romper, caindo em sua primeira origem e aí nascendo de novo.

Não entende que para a Sabedoria a sua vida não passa de uma Loucura através da qual se revela para ser conhecida.

Não percebe que se desviou de Deus em direção ao egoismo e aos seus próprios poderes e habilidades que são finitos.

A razão terrestre ao ver o sábio ser enterrado sem ajuda pensa, erradamente, que Deus o abandonou, logo diz que Deus não existe, que não recebeu de Deus nenhuma libertação e depreende, outra vez errôneamente, que sua Fé estava equivocada senão Deus o teria libertado durante sua vida.

Pior ainda, como não sente nesta vida qualquer punição, conclui que não vale a pena se esforçar, tomar qualquer decisão espiritual enquanto vive.

Esquece que quando morrer a luz exterior se apaga e ver-se-à no desespero, sem libertador algum por perto.
Ao contrário o homem sábio, observa a loucura que traz atrelada a si durante a vida, e aprende a odiá-la, apesar da sua sabedoria ser vista pelo mundo como loucura e por isso humilhada.

Ao morrer, o sábio apreende a essência divina nele e deixa o corpo da loucura descer ao túmulo com ela.

A razão é louca porque não entende isto.
Como regressar à essência celeste e abandonar a loucura ?

Primeiro perceber essa necessidade fundamental para o homem, depois confiar em Deus e não na sua vontade própria, ficar quieto nessa vontade própria até Deus ‘falar’ nele.

Quem permanece ‘quieto’= sem vontade própria, mesmo por uma hora ou menos, a Vontade divina ‘fala’ nele.

A vida que se entrega ao seu fundamento divino é uma vida onde o ‘falar’ de Deus não pode deixar de se fazer ouvir pois está no Abismo da Natureza e da criatura, no eterno ‘falar’ de Deus e Ele ‘fala’ nela.

Pois se a vida se originou e veio ao corpo através do ‘falar’ de Deus e não passa de uma imagem da Sua Vontade, então se a imaginação e vontade próprias se calam, a imaginação e Vontade divinas se elevam e ‘falam.’

Pois o que está sem vontade própria constitui uma só coisa com o Nada e está fora e acima da Natureza.

Esse Nada é o próprio Deus.

Nesse Nada o homem se reencontra com sua divina origem, pois esse Nada é um eterno ‘falar’, que ‘soprou’ a vida à Sua semelhança, que ‘fala’ com ela quando a vê abandonada, porque dois semelhantes não podem deixar de se ‘comunicar’.

A vida que se entrega à imaginação da vontade falsa e terrena, adquire uma qualidade terrestre animal e passa a ser, em seu corpo, um animal maligno, e em sua alma, uma vontade falsa que despreza Deus e habita simplesmente na sua própria imaginação e conhecimentos sensiveis.

Tomemos o Sol como exemplo.

Se uma planta não tem seiva, ela é queimada pelo Sol, mas se tem seiva ela é aquecida e cresce com os raios do Sol...

Se o homem não conduz sua vida no sentido da essência da doçura e amor de Deus, o eterno ‘sopro’ da ‘fala’ de Deus não encontra seu semelhante e então produz ( por falta de ‘equilibrio’ na comunicação ) uma ‘fala’ inflamada, feroz, invejosa e espinhosa que destrói no homem tudo o que é bom.

A doçura divina não pode agir na falsa vontade própria do homem pois ela não lhe é ‘semelhante’, apenas tem uma ígnea cobiça e uma pungente inveja.

Mas se o homem percebe qual a verdadeira razão de ter nascido e caminha no sentido certo, então estabelece-se uma comunicação equilibrada entre ‘semelhantes’ que faz nascer um Espirito Novo, um Espirito Santo a partir dessa natureza antes inflamada (desequilibrada) como uma vontade de amor divino e não mais devoradora mas agora doce e doadora que se dá a tudo e em tudo produz algo de Bom.

A mente, a vontade e os pensamento da vida humana originam-se na Vontade de Deus e são um contrário ou uma imagem de Deus na qual Ele quer, age e habita.

Quem se afasta desta imagem e procura repouso não o encontra, pois procura-o, não na imagem ou contrário divino mas na fragilidade das imagens terrenas, que como temporais que são, perecem e que nada têm de semelhante com a vida.

Daí a vida do homem se elevar neste mundo como se fosse um deus da natureza (material) numa conduta louca e tola, numa imaginação terrestre e numa auto-elevação que o impede de conhecer seu próprio fundamento, seu próprio estado original, aí sim, onde está o seu repouso eterno.

Como quis habitar no que perece e não no que é eterno, o que passa rápido como fumaça e não no que é permanente, conduziu-se para fora da sua essência divina e entrou numa essência terrestre, num ser extremamente frágil.
Quando morre, a vida assim vivida sómente na essência terrestre, apenas subsiste no principio do fogo da contrariedade e das trevas e daí a sua angustia permanente pois não alcança a doçura e o repouso celeste.