sábado, 18 de fevereiro de 2017

A ORIGEM DE VAJRAKILAYA por Khenpo Namdrol Rinpoche


Aquele a ser domado
Geralmente falando, a expressão "aqueles que precisam ser domados" refere-se a todos os seres sencientes, mas o ser específico que discutiremos aqui é o rudra conhecido como Tharpa Nagpo, Liberação Negra. Agora, em geral há três modos de se explicar os rudras. O primeiro identifica-os como os herukas irados no reino puro Akanishtha, que aparecem sobre os corpos de diferentes seres a fim de subjugá-los. Entretanto, estes são de fato manifestações sambhogakaya, apesar de terem o nome rudra aplicados a eles. O segundo são emanações emitidas por buddhas e bodhisattvas, manifestações nirmanakaya que aparecem nos "campos" daqueles que precisam de treinamento, de acordo com esse campo específico. Além das emanações como Shakyamuni, há também aqueles que são externamente separadores, como os monges desordeiros emanados por Shakyamuni para que suas transgressões pudessem ser usadas como exemplos de como não agir, e assim se tornar a base para as regras da disciplina monástica. Entretanto, eles também são emanações essencialmente puras. Estes dois tipos de rudra podem, portanto, realmente se tornar objetos de refúgio e não são relevantes aqui. É o terceiro tipo que é relevante; explicarei este tipo de acordo como é apresentado, de maneira muito similar, dentro de dois tantras: o Vajrakilaya Nirvana Tantra e o Tantra Raiz do Vajra Irado.
O terceiro tipo de rudra é essencialmente negativo e é um ser tangível, renascido em uma forma maligna como resultado de compromissos tântricos [samayas] quebrados em vidas anteriores. Esse rudra é geralmente acompanhado por um séqüito de outros seres malignos e, como grupo, sua principal atividade é causar obstáculos à propagação dos ensinamentos do Mantrayana secreto. É por isto que os praticantes dos insuperáveis mantras secretos realizam uma prática chamada Rudra Dralwa, "matar o rudra", antes de embarcar em qualquer prática importante como um drubchen, ou cerimônia de grande realização. Através desta prática de matar e liberar do rudra, tanto o rudra quanto o seu séqüito são naturalmente liberados, garantindo assim que eles não poderão criar obstáculos. Então nossa prática do mantra secreto será livre de qualquer força maligna e circunstâncias auspiciosas serão seguramente estabelecidas deste o início.
A principal causa para renascer como um rudra é permitir que o samaya do tantra secreto deteriore, e aqui eu gostaria de contar a história da origem de um certo rudra. A era na qual vivemos é chamada Kalpa Zangpo - Era da Fortuna Excelente. Doze mil e seis "grandes éons" atrás, havia um éon chamado Künkö - Ordem Completa - e um mundo chamado Ngönpar Gawa - Alegria Manifesta. Foi a era na qual os ensinamentos foram propagados neste mundo pelo mestre Buddha Akshobhya, assim como foram propagados nesta era pelo mestre Buddha Shakyamuni. Naquele tempo, então, viveu um monge chamado Thubka Shyönnu, que estava ensinando o Mantrayana secreto. Vizinho a ele vivia uma rica família chamada Keukaya, na qual havia um filho chamado Tharpa Nagpo - Liberação Negra -, que tinha um servo chamado Denpag. Em certo ponto, Tharpa Nagpo foi com seu servo visitar Thubka Shyönnu e com grande respeito eles apresentaram a ele esta pergunta: "Há algum caminho para a liberação onde você desfrute de tudo, assim como quiser? Ouvimos falar que havia um, mas isso é realmente verdade?" O monge respondeu, "Oh sim, é verdade, completamente correto. Esse ensinamento realmente existe. "Tharpa Nagpo e seu servo ficaram muito felizes, ambos tomaram ordenação e se juntaram ao caminho do Dharma. Tharpa Nagpo continuou pedindo a Thubka Shyönnu que desse a eles as instruções que permitiriam a alguém utilizar e desfrutar dos objetos de desejo a fim de obter a liberação. Então o monge ensinou a eles que, se alguém tiver realizado a natureza fundamental da realidade, então mesmo se ele matar, roubar, mentir, cometer adultério ou se engajar em conduta sexual errônea, ainda assim poderá atingir a liberação.
Do ponto de vista mundano, é claro, estas são não-virtudes que o farão ficar atados ao samsara, mas se você tiver realizado a natureza fundamental da mente, então, mesmo se você cometer essas ações, a liberação pode ser atingida. Entretanto, Tharpa Nagpo não era tão brilhante e quando ouviu este ensinamento, falhou em entender que deveria realizar a natureza da mente antes de ser capaz de se comportar desse modo. Ao invés disso, ele entendeu mal o ensinamento, como se significasse que simplesmente matando, roubando e assim por diante, uma pessoa poderia atingir a liberação. Apesar de ele ser o filho do líder da comunidade, sua mente tinha o potencial para acumular uma não-virtude extremamente negativa. Mas seu servo Denpag era muito mais inteligente e tinha o tipo de capacidade e perspicácia de sensibilidade para realizar o significado interno do mantra secreto e o modo correto de praticar o caminho esotérico. Apesar de externamente ser apenas um servo, internamente ele se tornou um praticante puro do mantra secreto.
Então, Tharpa Nagpo e Denpag perceberam que suas respectivas visões e condutas contradiziam um ao outro e continuaram se envolvendo em conflito e debate. Finalmente, eles foram perguntar ao seu mestre sobre seus desacordos e disputas. Quando perguntaram a Thubka Shyönnu quem estava correto quanto à visão e conduta, ele respondeu que Denpag estava correto e que Tharpa Nagpo estava errado. Tharpa Nagpo ficou com muita raiva de seu mestre e correu em um ataque de cólera. Ele sentiu que pelo menos o seu mestre pudesse ter dito que ambos estavam certos ou que ambos estavam errados, mas dizer que um estava certo e que o outro estava errado era completamente inaceitável. Sua raiva o fez desenvolver uma visão incorreta de seu próprio mestre.
Naquele momento o pai de Tharpa Nagpo era o governante da vila e, encorajado por seu filho, ele prendeu o servo Denpag e o monge Thubka Shyönnu, humilhou-os publicamente e então os exilou da comunidade. Isto deixou Tharpa Nagpo, que tinha um entendimento completamente incorreto do insuperável mantra secreto, pesando que podia se engajar na união [sexual] e no assassinato quando quer que quisesse. Assim ele se aventurou nos campos de cremação e começou a comer carne humana, e a esfolar e usar pele [humana] com sua roupa. Os habitantes selvagens dos campos de cremação - feras carnívoras, javalis selvagens, pássaros comedores de carne e afins - tornaram-se seu séqüito, o qual ele conduziu em matar todos os que apareciam em seu caminho. Ele juntou um grande número de prostitutas, a quem estuprou e torturou. Isto continuou por um longo tempo, com o resultado de que ele acumulou uma quantidade tremenda de karma negativo.
Então, quando Tharpa Nagpo morreu, ele renasceu imediatamente no Inferno Vajra. Apenas aqueles que quebraram seus samayas do mantra secreto renascerão nesse inferno específico. O karma negativo de Tharpa Nagpo amadureceu e, conforme seguiu seu curso, gradualmente se extinguiu. Então, ele vagarosamente começou a entrar e sair dos reinos do inferno a cada vez que renascia. Ele foi do Inferno Vajra para os oito infernos quentes, e então alternaria entre um renascimento em um dos oito infernos quentes e um renascimento nos oito infernos frios. Isto continuou durante doze mil grandes kalpas. É a natureza do karma que eventualmente se desenrola, seja ela virtuosa ou não-virtuosa. E assim, quando o seu karma amadurecido para nascer nos reinos do inferno se exauriu, foi finalmente capaz de renascer como um fantasma faminto, por seis grandes kalpas ele experienciou o sofrimento dos fantasmas famintos. Depois de o karma para renascer entre os fantasmas famintos ter amadurecido e se exaurido, ele então renasceu como um rakshasa, ou demônio canibal, na forma de Rudra Tharpa Nagpo. Ele se tornou um poderoso rakshasa porque, anteriormente, durante seu aprendizado com Thubka Shyönnu, ele tinha se visualizado constantemente como diferentes divindades iradas do Mantrayana secreto e recitado seus mantras irados.
Apesar de o que ele estava fazendo não ser uma autêntica prática tântrica do estágio de geração, ainda assim ele gerou um karma poderoso. Assim ele se tornou o controlador dos doze níveis inferiores do Reino da Forma e do Reino do Desejo. Ele era um governante tão poderoso que não havia um único ser em qualquer um desses reinos a que pudesse infligir qualquer mal sobre ele, e enquanto isso ele estava ocupado matando-os, comendo-os e fazendo a eles todo tipo de mal que pudesse. Esta é a história de Rudra, e isto completa o registro daquele a ser domado.
Geralmente se diz que, se você conhecer as origens e a história dos deuses mundanos e dos demônios, eles não poderão mais causar mal a você. O mesmo é verdade para um rudra: você está além dos seus efeitos malignos uma vez que você entenda a história de suas origens e desenvolvimento. É por isso que fui em detalhes quanto às origens e história deste rudra.
Em geral, um rudra foca-se especialmente em tentar prejudicar aqueles que estão praticando o insuperável mantra secreto; eles são os seus principais alvos. Agora, o tipo de seres que criam obstáculos aos ensinamentos e praticantes do Mantrayana secreto são geralmente chamados damsi e são basicamente aqueles que, no passado, permitiram que seus samayas tântricos se deteriorassem. O principal entre estes são os rudras, enquanto os inferiores renascem como seu séquito. Este tipo de rudra, junto com seu séquito, precisa ser subjugado, mas tentar subjugar um rudra como este através de meios pacíficos seria bem infrutífero. Os veículos baseados nos sutras não ensinam quaisquer métodos viáveis para subjugar seres como estes, e assim sua subjugação não pode ser endereçada no contexto do Sutrayana.
Entretanto, no caminho do insuperável mantra secreto, quando há um ser que precise ser subjugado, há uma variedade de métodos oferecidos para realizar esta subjugação. Em geral, o mantra secreto é caracterizado por uma pluralidade de métodos que se adaptam a qualquer situação. O método específico que é usado para subjugar rudras é chamado dralwa, ou liberação.
O domador
Retornando à história de Rudra Tharpa Nagpo, foi neste ponto que, a pedido do heruka da atividade iluminada, os buddhas dos três tempos, no reino puro de Akanishtha, vieram a perceber que aqui estava uma situação desastrosa e um ser extremamente separador. Eles se reuniram em um encontro especial para discutir exatamente como lidar como o rudra que era o responsável.
Percebendo que ele não poderia ser subjugado com eficácia por meios pacíficos, eles concordaram que as circunstâncias requeriam uma manifestação irada especial. Então, através de sua grande compaixão, estes buddhas supremos emanaram incontáveis divindades iradas, como Hayagriva, o Glorioso com Pescoço de Cavalo, para subjugar o Rudra pelo bem de todos os seres vivos. Isto é o que alguns registros dizem a nós, mas aqui explicarei o registro dado nos tantras de Vajrakilaya, que descrevem como o domador de Rudra Tharpa Nagpo não foi outro que Vajrakilaya.
O método de domar
Geralmente falando, é entendido haver um fato invariável e definido de que, quando os buddhas e divindades manifestam-se, estas manifestações, em termos de sua própria essência, são exclusivamente puras. Entretanto, quando eles exibem seus corpos da forma, ou rupakayas, dentro dos vários campos de seres vivos que precisam ser domados, estas manifestações são bem variáveis e indeterminadas em termos de como são experienciadas por aqueles seres vivos.
Há diferentes manifestações pacíficas e iradas, diferentes constelações de marcos maiores e menores, e diferentes divindades como as do Kagye, Vajrakilaya, Gongdü e assim por diante. Em geral, todas estas manifestações dos corpos da forma são a expressão do estado desperto iluminado dos buddhas, manifestando-se diretamente da expansão da realidade, o dharmadhatu. Porém, quando interagem com os vários seres vivos, estas manifestações aparecem em uma enorme variedade de formas para se adaptar as perspectivas individuais destes seres, e assim eles são às vezes extremamente agradáveis e em outras vezes, extremamente separadores.
Por exemplo, na tradição Nyingma, os buddhas manifestam-se em cada um dos seis reinos da existência nas formas que correspondem aos seres desses reinos. No reino do inferno, eles se manifestam na forma do rei do inferno, Yamantaka, para domar os seres do inferno; no reino dos fantasmas famintos, eles se manifestam como o rei dos fantasmas famintos, Khabarma - Boca Flamejante; no reino dos animais, eles se manifestam como o leão; no reino humano, como Shakyamuni; no reino dos semi-deuses, eles se manifestam como o rei dos semideuses, Thagzangri; e no reino dos deuses, eles se manifestam como Indra, senhor dos deuses. Entretanto, em termos de prática, geralmente visualizamos todas estas seis emanações em uma forma agradável, similar ao Buddha Shakyamuni, já que, como seres humanos, estamos acostumados a ele. É por isto que os pintores de thangkas geralmente representam-nos desta maneira, ao invés de nas formas que eles realmente adotam e aparecem para os seres de cada reino, por exemplo, como um ser do inferno nos infernos. Tomemos dois exemplos. Quando meditamos sobre a assembléia das cem divindades pacíficas e iradas, estes seis buddhas aparecem dentro dessa mandala como buddhas nirmanakaya, em forma humana. Novamente, na tradição do tesouro Namchö, Avalokiteshvara sozinho manifesta-se em uma variedade de formas, não simplesmente na forma familiar com quatro braços, segurando o lótus e assim por diante. Então nos tantras é dito que as manifestações da forma dos buddhas são indeterminadas e não podem ser precisamente definidas, já que elas aparecem de acordo com as perspectivas e disposições dos seres que precisam ser domados.
Neste exemplo específico, a mente de sabedoria de todos os buddhas se combinaram para manifestar uma outra forma idêntica a Rudra Tharpa Nagpo, a fim de domá-lo. Na forma deste rudra que eles emanaram, eles se engajaram em união sexual com sua consorte feminina, Krodhishvari, que pensou que tudo isto era o seu próprio Rudra. Como resultado de sua união, o tigle da emanação rudra dos buddhas, na forma de um Hum, veio a repousar no topo de uma mandala lunar branca em seu ventre. Além disso, este rudra emanado subjugou os dez protetores atendentes das dez direções, que agiam como guarda-costas de Rudra [Tharpa Nagpo], e os trouxe sob seu poder. Então ele simplesmente desapareceu, dissolvendo-se na expansão da realidade.
Subseqüentemente, os dez protetores das direções e suas consortes femininas começaram a ter prole, que exibiu sinais horrendos como nascer com cabeças de porco e cabeças de urso. Então Krodhishvari, impregnada pelo Hum que a emanação deixou dentro dela, deu a luz a Vajrakilaya. Ele emergiu de seu ventre com três faces, seis braços e com asas-vajra indestrutíveis, e imediatamente proclamou "Kilaya" mais e mais.
Quando o Rudra real viu tudo isto, e em particular Vajrakilaya emergindo do ventre de sua consorte, ele ficou tomado de terror e caiu inconsciente, assim como todos os outros membros de seu séquito. Quando perderam a consciência, todos começaram a vomitar sangue. Quando voltaram à consciência, Rudra juntou seu séqüito e todos lamentaram em vozes altas.
Então Rudra manifestou-se em forma como a do próprio Vajrakilaya, com três faces e seis braços, e juntou tropas de demônios que despejaram armas sobre Vajrakilaya. Em resposta, Vajrakilaya manifestou-se em uma forma com nove cabeças e dezoito braços, enquanto de cada poro de seu corpo ele começou a emanar Kilayas em miniatura com nove cabeças e dezoito braços. Eles se lançaram em muitas direções, todos proferindo mantras irados, e finalmente o Rudra real e seu séquito foram deixados sem fala, derrotados; entretanto, Rudra então foi até ele mas, de novo em uma nova forma, com nove cabeças e dezoito braços. Em resposta, Vajrakilaya manifestou-se em uma forma com mil cabeças e mil braços, junto com incontáveis olhos, enquanto ainda continuava emanando dos poros de sua pele as miniaturas de Vajrakilayas com nove cabeças. Além disto, ele emanou os dez herukas irados masculinos e femininos, que suprimiram os dez protetores das direções permanecendo sobre eles. Então o som do mantra Ha Sa Ya Ta Hri Tanaya ressoou e emergiu da coroa da cabeça de Vajrakilaya e se dissolveu nele. A potência deste mantra foi tanta que Rudra foi separado de todos os deuses que estavam o ajudando e ele foi deixado completamente sozinho e sem assistência. Enquanto isso, Vajrakilaya continuou a emanar outros cinco tipos de mantras de seu corpo, e cada um deles entrava no ponto correspondente do corpo de Rudra. Um tipo de mantra puxou a força vital de Rudra de sua residência habitual fora do corpo (pensa-se que cada ser ter um lugar especial no ambiente no qual sua força vital reside) e a dissolveu em seu corpo físico. Um outro tipo de mantra trouxe o poder de causar mal a ele em seu próprio corpo, e o conduziu à insanidade. Com um mantra carregado com a potência para dilacerar Rudra em pedaços, Vajrakilaya apanhou o principal implemento da mão de Rudra, seu tridente khatvanga, e com ele furou o corpo de Rudra e o cortou em pedaços. Então, junto com um mantra que juntou estas partes corpóreas e as ofereceu à boca de Vajrakilaya, ele proferiu Ah La La Ho e engoliu todos os pedaços do cadáver, sem piscar um olho.
De fato estes seis mantras são os mesmos usados na prática de Vajrakilaya quando nos engajamos na liberação de forças demoníacas, e é assim que eles se originaram pela primeira vez.
Então Vajrakilaya dispersou todos os membros do séqüito de Vajrakilaya que pertenciam à classe dos demônios. Já que ele tinha agora subjugado Rudra com sucesso, os buddhas do passado, do presente e do futuro ofereceram louvou a Vajrakilaya na melodia dos rakshasas. Então, com seus relinchos atemorizadores, os cavalos-vajra - Hayagriva e assim por diante - humilharam Rudra e seu séqüito de uma vez por todas.
Rudra foi então consumido por Vajrakilaya e através da bênção de ter sido mantido no estômago de Vajrakilaya, ele se lembrou de todas as formas nas quais tinha renascido em inumeráveis vidas - os doze mil grandes kalpas de renascimentos no inferno e os seis grandes kalpas de renascimento como um fantasma faminto. Então ele veio a realizar que este sofrimento foi devido a ter deixado seus compromissos tântricos se degenerar, e finalmente ele entendeu a virtude e negatividade governantes. Então, ele lamentou, chorando com muitas palavras de remorso e confissão. Estas palavras foram subseqüentemente arranjadas na forma de preceitos, no que hoje é usado na cerimônia de confissão chamada As Lamentações e a Confissão de Rudra. Então Rudra emergiu do lugar secreto de Vajrakilaya - seu ânus - e, mantendo Rudra em frente dele, Vajrakilaya intimidou-o ainda mais com sua presença e posição ameaçadoras. Em seguida, cada membro de seu séqüito óctuplo, as oito classes de deuses e demônios, confessaram-se e cortaram suas cabeças como uma oferenda a Vajrakilaya. Nesta situação, atemorizado e intimidado, Rudra apelou, "Muito magra tem sido a sua compaixão por mim, que você me expeliu através do seu orifício inferior. Mas agora sou seu servo, e deste ponto em diante, peço que você me mostre o respeito apropriado. Se eu transgredir suas ordens, então me deixe queimar no inferno! Ofereço minha mãe, irmão e servas como suas súditas dispostas, para estarem ao seu comando. Entendo que não posso ser um membro principal da brilhante mandala irada, e então não mereço qualquer parte da oferenda primária na festa ganachakra. Entretanto, por favor me deixe residir na periferia da mandala e me conceda os restos que foram cuspidas pelo mestre-vajra."
Com estas palavras, Rudra ofereceu seu corpo a Vajrakilaya como um "assento" abaixo de seu pé, focou seus ouvidos na transmissão de ensinamentos pacificadores de Vajrakilaya e, com esta mente, constantemente se arrependeu e confessou todo o karma negativo que acumulou. O séquito de Rudra também agiu como assentos para o séquito de Vajrakilaya; por exemplo, os dez protetores das direções com a face voltada para baixo e com suas contrapartes femininas sobre suas costas, são os assentos dos dez Irados.
Eles também ouviram Vajrakilaya transmitir os ensinamentos, já que estavam agora incluídos dentro da mandala. Quando à residência de Rudra, que era construída com crânios, Vajrakilaya abençoou-a para ser o palácio divino de sua própria mandala. Esta então é a origem de toda a assembléia das divindades de Vajrakilaya, assim como das residências e dos seres que residem dentro delas.
A razão pela qual o Rudra teve a boa fortuna de encontrar Vajrakilaya e de ter sido tratado deste modo foi porque ele fez contato com os ensinamentos do mantra secreto muitas vidas antes, quando recebeu instruções do monge Thubka Shyönnu. Apesar de o Rudra ser agora, assim como Mahakala, os protetores dos ensinamentos dos mil e dois buddhas deste éons afortunado, há uma profecia de que no futuro ele mesmo se tornará um buddha em um mundo subterrâneo.
Então esta é a explicação de como, neste ponto específico do tempo, Rudra foi completamente liberado por Vajrakilaya. Porém, é apenas um registro, e de fato há muito mais rudras, que vieram dos renascimentos dos indivíduos incapazes de manter seus compromissos tântricos. Eles renascem como forças malignas, que criam obstáculos para os praticantes do mantra secreto e interferem na manutenção dos samayas tântricos puros. Quando Guru Rinpoche concedeu pela primeira vez os ensinamentos do mantra secreto aos seus vinte e cinco discípulos principais no Tibet, ele deu a eles esta transmissão de Vajrakilaya, já que realizou que eles experienciariam obstáculos em sua prática do Mantrayana secreto por causa dessas forças malignas. Os praticantes como nós, por praticar Vajrakilaya, não mais serão atingidos por esta classe damsi de fazedores do mal, com todas as suas tentativas de criar obstáculos à prática do mantra secreto e do comprimento dos samayas tântricos puros.
(Khenpo Namdrol Rinpoche. The practice of Vajrakilaya: oral teachings. Ithaca: Snow Lion, 1999. Pág. 31-43.
Agradecimentos especiais ao Fred, Pema Wangyal)

De Longchenpa-Drimed Odzer em conversações visionarias com Dudjom Lingpa.




"Até agora você tem comido uma quantidade de comida equivalente ao Monte Sumeru e tem bebido o equivalente a água de todos os oceanos, mas ainda assim você não está cheio. Embora você tenha usado roupas suficientes para vestir o universo umas três mil vezes, você ainda não está quente. Você deve entender que estas são indicações de que as coisas nunca existiram como algo além de meras aparências sensoriais."
De Longchenpa-Drimed Odzer em conversações visionarias com Dudjom Lingpa.