quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

ASSIM DIZIA PARACELSO...



I
Se, por um espaço de alguns meses, observares rigorosamente as prescrições, que se seguem, ver-se-á operar, em tua vida uma MUTAÇÃO TÃO FAVORÁVEL, que nunca mais poderás esquecê-las. Mas, meu irmão, para que obtenhas o êxito desejado, é mister que adaptes tua vida à estrita observância destas regras.
São simples e fáceis de seguir, mas é preciso observá-las com a máxima perseverança. Julgarás que a felicidade não vale um pouco de esforço? Se não és capaz de pores em prática estas regras, tão fáceis, terás o direito de te queixares do destino? Será tão difícil a tentativa de uma prova? São regras legadas pela antiga Sabedoria e há nelas mais transcendência do que simplicidade, como parece à primeira vista.

II
Antes de tudo, lembra-te de que não há nada melhor do que a saúde. Para isso deverás respirar, com a maior freqüência possível profunda e ritmicamente, enchendo os pulmões, ao ar livre ou defronte de uma janela aberta. Beber quotidianamente, a pequenos goles, dois litros de água, pelo menos; comer muitas frutas; mastigar bem os alimentos; evitar o álcool, o fumo e os medicamentos, salvo em caso de moléstia grave. Banhar-se diariamente, é um hábito que deverás à tua própria dignidade.

III
Banir absolutamente de teu ânimo, por mais razões que tenhas, toda a idéia de pessimismo, vingança, ódio, tédio, ou tristeza. Fugir como da peste, ao trato com pessoas maldizentes, invejosas, indolentes, intrigantes, vaidosas ou vulgares e inferiores pela natural baixeza de entendimentos ou pelos assuntos sensualistas, que são a base de suas conversas ou reflexos dos seus hábitos. A observância desta regra é de importância DECISIVA; trata-se de transformar a contextura espiritual de tua alma. É o único meio de mudar o teu destino, uma vez que este depende dos teus atos e dos teus pensamentos: A fatalidade não existe.

IV
Faze todo bem ao teu alcance. Auxilia a todo o infeliz sempre que possas, mas sempre de ânimo forte. Sê enérgico e foge de todo o sentimentalismo.

V
Esquece todas as ofensas que te façam, ainda mais, esforça-te por pensar o melhor possível do teu maior inimigo. Tua alma é um templo que não deve ser profanado pelo ódio.

VI
Recolhe-te todos os dias, a um lugar onde ninguém te vá perturbar e possas, ao menos durante meia hora, comodamente sentado, de olhos cerrados, NÃO PENSAR EM COISA ALGUMA. Isso fortifica o cérebro e o espírito e por-te-á em contanto com as boas influências. Neste estado de recolhimento e silêncio ocorrem-nos sempre idéias luminosas que podem modificar toda a nossa existência. Com o tempo, todos os problemas que parecem insolúveis serão resolvidos, vitoriosamente por uma voz interior que te guiará nesses instantes de silêncio, a sós com a tua consciência. É o DEMÔNIO de que
SÓCRATES falava. Todos os grandes espíritos deixaram-se conduzir pelos conselhos dessa voz íntima. Mas, não te falará assim de súbito; tens que te preparar por algum tempo, destruir as capas superpostas dos velhos hábitos; pensamentos e erros, que envolvem o teu espírito, que embora divino e perfeito, não encontra os elementos que precisa para manifestar-se.

VII
A CARNE É FRACA Deves guardar, em absoluto silêncio, todos os teus casos pessoais. Abster-se como se fizesses um juramento solene, de contar a qualquer pessoa, por mais íntima, tudo quanto penses, ouças, saibas, aprendas ou descubras.
É UMA REGRA DE SUMA IMPORTÂNCIA.

VIII
Não temas a ninguém nem te inspire a menor preocupação a dia de amanhã. Mantém tua alma sempre forte e sempre pura e tudo correrá e sairá bem. Nunca te julgues sozinho ou desamparado; atrás de ti existem exércitos poderosos que tua mente não pode conceber. Se elevas o teu espírito, não há mal que te atinja. Só a um inimigo deves temer: A TI MESMO. O medo e a dúvida no futuro são a origem funesta de todos os insucessos; atraem influências maléficas e, estas, o inevitável desastre. Se observares essas criaturas, que se dizem felizes verás que agem instintivamente de acordo com estas regras. Muitas das que alegam que possuem grandes fortunas podem não ser pessoas de bem, mas possuem muitas das virtudes acima mencionadas. Demais, riqueza não quer dizer felicidade; pode se constituir em um dos melhores fatores, porque nos permite a prática de boas ações, mas, a verdadeira felicidade só se alcança palmilhando outros caminhos, veredas por onde nunca transita o velho Satã da lenda, cujo nome verdadeiro é EGOÍSMO.

IX
Não te queixes de nada e de ninguém. Domina os teus sentidos, foge da modéstia como da vaidade; ambas são funestas e prejudiciais ao êxito. A modéstia tolherá tuas forças e a vaidade é tão nociva como se cometêsses um pecado mortal contra o ESPÍRITO SANTO. Muitas individualidades de real valor tombaram das altas culminâncias atingidas, em conseqüência da Vaidade; a ela deveram certamente a sua queda Júlio Cesar, aquele homem extraordinário que se chamou Napoleão e muitos outros.Oxalá, sigas sempre estas poucas regras para a tua FELICIDADE, para o teu BEM e a nossa ALEGRIA.



PAZ PROFUNDA!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

CONVERSA SOBRE EVANGELHO GNÓSTICO DE TOMÉ e os AMIGOS DE DEUS.



O homem profano vive numa permanente embriaguez das coisas do ego material-mental-emocional.

E por isto não tem sede das coisas espirituais do Eu.

São cegos para a Verdade, porque só enxergam as ilusões.

Todo o homem entra neste mundo sem nada, mas não deve sair do mundo sem nada.



"Se manifestarem aquilo que têm em si, isso que manifestarem os salvará. Se não manifestarem o que têm em si, isso que não manifestarem os destruirá".
Mestre Jesus, o Cristo
Evangelho Gnóstico de Tomé



A razão-de-ser da nossa encarnação terrestre é adquirirmos algo que não nos foi dado.

De Deus recebemos a nossa alma como carta branca; mas não lhe podemos devolver como carta branca.

Se devolvermos a Deus o que de Deus recebemos, seremos iguais àquele "servo mau e preguiçoso" da parábola dos talentos, que devolveu o mesmo talento que recebera.

A nossa missão terrestre é realizarmos pelo poder creativo do livre arbítrio valores que Deus não nos deu, mas para cuja creação nos deu potencialidade creativa.

O homem deve atualizar as suas potencialidades creadoras.

Quanto ao corpo, sim, sairemos do mundo assim como no mundo entramos, sem nada.

O corpo nos foi emprestado como embalagem pêlos nossos pais e pela natureza. Devolveremos à natureza o que da natureza recebemos.

Mas temos de restituir a Deus o que de Deus recebemos.

Quem pode, deve; e quem pode e deve e não faz, crea débito, e todo débito gera sofrimento. O homem é uma creatura potencialmente creadora, e seu dever é fazer-se uma creatura atualmente creadora. É esta a grande Verdade insinuada pelas palavras de Jesus, o Cristo.

Já no início da Era Cristã, lamentava o grande Orígenes, de Alexandria, que muitos falam do Cristo e poucos se cristificam.

Muitos sabem que existe uma fonte de águas vivas, poucos bebem dessa água. Este mesmo fenômeno, aliás, se repete no mundo inteiro: quase toda a Ásia conhece a sabedoria de Buda, de Krishna, de Lao-Tse: muitos admiram as "quatro verdades nobres", a Bhagavad Gita, o Tao Te King...e poucos descem à profundeza dessas fontes de sabedoria vivenciando-as.

Quase todo o ocidente, europeu e americano, se diz cristão: muitos lêem os Evangelhos, fazem sermões, conferências e escrevem poesias sobre os ensinamentos do Mestre Jesus, mas quantos orientam a sua vida pelas grandes verdades do Cristo?

O Evangelho, como se vê, é puro auto-conhecimento, que culmina em auto-realização. Todos os grandes Mestres da humanidade, do Oriente e do Ocidente, são unânimes em pôr o auto-conhecimento acima de qualquer alo-conhecimento.

O homem deve iniciar a sua verdadeira realização, o Reino de Deus. Interno e externo, aqui e agora, harmonizando a sua consciência mística e sua vivência ética com a Divindade.



"Velai para que ninguém vos engane dizendo: Ei-lo aqui. Ei-lo lá. Porque é em vosso interior que está o Filho do Homem; ide a Ele..."
Mestre Jesus, o Cristo.
Evangelho Gnóstico de Maria Madalena



Quem só conhece o Universo, mas ignora a si mesmo, conhece muitos nadas: mas quem se conhece a si mesmo, conhece sua alma, que é também a alma do Universo.



"Mas, o Reino está dentro de vós, e também fora de vós. Se vos conhecerdes, sereis conhecidos e sabereis que sois filhos do Pai Vivo. Mas, se não vos conhecerdes, vivereis em pobreza, e vós mesmos sereis essa pobreza".
Mestre Jesus, o Cristo
Evangelho Gnóstico de Tomé



Realizar-se é conscientizar Deus em si mesmo e conscientizar Deus no Universo. Realizar-se é Universificar-se.

O homem intelectual, escreve Einstein, descobre aquilo que é, mas o homem espiritual realiza em si aquilo que deve ser, aquele é um descobridor de fatos, este é um creador de valores. Valor é Realidade eterna, fatos são reflexos passageiros.

Do substantivo latino factum veio o adjetivo facticium, que mais tarde deu ficticium; quer dizer que os fatos são fictícios e não reais.



"O cristianismo é uma afirmação do mundo que passou pela negação do mundo".
Albert Schweitzer



"Na verdade, os amigos de Deus nada temem e não se entristecem por coisa alguma. Pois se defrontam com a realidade interior deste mundo, enquanto outros homens se defrontam com sua aparência exterior. Do mesmo modo visam o fim deste mundo, enquanto outros visam apenas o presente imediato aqui. Destroem no mundo aquilo que pode destruí-los, e abandonam o que sabem que vai abandoná-los. São hostis para aquelas coisas às quais os outros homens se associam, e abençoam as coisas que outros homens odeiam. Demonstram a maior admiração pelo boas ações dos outros, enquanto eles próprios possuem bens que valem a maior admiração. Para eles, conhecimento (gnose) é o guia, através do qual eles mesmos ganham conhecimento. Não depositam fé exceto naquilo que guardam esperança, nem temem nada exceto aquilo que deveria ser evitado."

POR HAVER PERDIDO O EGO - RUMI



Nas areias do deserto,
Fui eleito em virtude
Do "ja não ser".
Na desolação desta existência,
Fui encontrado pela luz,
Que agora, desta aridez,
Me chama para o rio de Deus!
Os mansos, nascidos da Ordem
Espiritual de Jesus Cristo,
Herdarão a terra e viverão em grande paz.
Travai vossa batalha
Na força do amor impessoal,
Nada forceis e jamais sejais agressivos!
Permiti que o milagre da vitória
Se realize mediante a mansidão!

"Bem aventurados são os mansos,
pois herdarão o reino!"

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Maledicência - Não fales mal de ninguém.




"Não é aquilo que entra pela boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca é que torna o homem impuro."
Mestre Jesus, o Cristo
Mateus 15,11

Toda pessoa não suficientemente realizada em si mesma tem a instintiva tendência de falar mal dos outros.

Qual a razão última dessa mania de maledicência?

É um complexo de inferioridade unido a um desejo de superioridade.

Diminuir o valor dos outros dá-nos a grata ilusão de aumentar o nosso valor próprio.

A imensa maioria dos homens não está em condições de medir o seu valor por si mesma. Necessita medir o seu próprio valor pelo desvalor dos outros.

Esses homens julgam necessário apagar as luzes alheias a fim de fazerem brilhar mais intensamente a sua própria luz.

São como vaga-lumes que não podem luzir senão por entre as trevas da noite, porque a luz das suas lanternas fosfóreas é muito fraca.

Quem tem bastante luz própria não necessita apagar ou diminuir as luzes dos outros para poder brilhar.

Quem tem valor real em si mesmo não necessita medir o seu valor pelo desvalor dos outros.

Quem tem vigorosa saúde espiritual não necessita chamar de doentes os outros para gozar a consciência da saúde própria.

As nossas reuniões sociais, os nossos bate-papos são, em geral, academias de maledicência.

Falar mal das misérias alheias é um prazer tão sutil e sedutor – algoparecido com whisky, gin ou cocaína – que uma pessoa de saúde moral precária facilmente sucumbe a essa epidemia.

A palavra é instrumento valioso para o intercâmbio entre os homens. Ela, porém, nem sempre tem sido utilizada devidamente.

Poucos são os homens que se valem desse precioso recurso para construir esperanças, balsamizar dores e traçar rotas seguras.

Fala-se muito por falar, para "matar tempo". A palavra, não poucas vezes, converte-se em estilete da impiedade, em lâmina da maledicência e em bisturi da revolta.

Semelhantes a gotas de luz, as boas palavras dirigem conflitos e resolvem dificuldades.

Falando, espíritos missionários reformularam os alicerces do pensamento humano.

Falando, não há muito, Hitler hipnotizou multidões, enceguecidas, que se atiraram sobre outras nações, transformando-as em ruínas.

Guerras e planos de paz sofrem a poderosa influência da palavra.

Há quem pronuncie palavras doces, com lábios encharcados pelo fel.

Há aqueles que falam meigamente, cheios de ira e ódio. São enfermos em demorado processo de reajuste.

Portanto, cabe às pessoas lúcidas e de bom senso, não dar ensejo para que o veneno da maledicência se alastre, infelicitando e destruindo vidas.

Pense nisso!

Desculpemos a fragilidade alheia, lembrando-nos das nossas próprias fraquezas.

Evitemos a censura.

A maledicência começa na palavra do reproche inoportuno.

Se desejamos educar, reparar erros, não os abordemos estando o responsável ausente.

Toda a palavra torpe, como qualquer censura contumaz, faz-se hábito negativo que culmina por envilecer o caráter de quem com isso se compraz.

Enriqueçamos o coração de amor e banhemos a mente com as luzes da misericórdia divina.

Porque, de acordo com o Evangelho de Lucas, "a boca fala do que está cheio o coração".

Huberto Rohden


Fraternalmente - Jesus عيسى Mihu Omnia - السلام عليكم, nʌmʌsˈte नमस्ते
Anubys

domingo, 14 de novembro de 2010

Jung Gnóstico




Quando indagado se acreditava em Deus, ele responde:
“Eu não creio em: eu sei!”.


"Senti ao conhecê-los (Gnósticos) como se finalmente, tivesse encontrado um círculo de amigos que me entendiam" Jung.


A definição léxica de gnóstico é conhecedor, e não seguidor de alguém que pode ser um conhecedor.
Jung sem dúvida era um conhecedor, se é que já houve algum.


Jung é um gnóstico, na medida em que vivencia a experiência direta e interior (1914-19) com as imagens arquetípicas: sombra, trevas etc., como o caminho do auto-conhecimento e da individuação.O processo junguiano de individuação é a contrapartida moderna da luta pela aquisição gnóstica do autoconhecimento. Assim, salvar o Homem do mundo é para um gnóstico o que Jung denomina de desidentificação em relação ao Outro exterior e ao Outro interior, inclusive de sua Sombra, já que o Bem e o mal estariam contidos no Pleroma, a realidade indivisa primitiva, indiferenciada, para Jung, o inconsciente de Deus, contendo em potencial o caos e o cosmos.

Os Sermões representam a expressão metafórica de uma experiência interna. Assim, alguns paralelos podem ser traçados entre os princípios gnósticos e a psicologia junguiana. São em número de oito:

1- o elemento pneumatológico = Si-mesmo;

2- diálogo consciência/inconsciente, como a tentativa de experiência direta com a realidade arquetípica;

3- processo de individuação como o percurso da alma para retornar à sua verdadeira morada, a seu hthos, pelo processo de autoconhecimento;

4- a aceitação do mal, da dor e do sofrimento como ontologicamente substantes e não apenas como ausência do Bem;

5- a vivência da alienação da consciência para atingir a plenitude;

6- o Pleroma, o Anthropos e o Si-mesmo, como a experiência dos opostos;

7- a plenitude do Si-mesmo como aspiração substitutiva à da santidade de Deus e dos santos;

8- a plenitude e não a perfeição moral como escolhas emocionalmente auto-sustentadas.


A teogonia de Jung
é a projeção no macrocosmo da psiqué humana e os mitos de criação (cosmogônicos) descrevem o despertar da consciência a partir do inconsciente. Para ele, o Demiurgo é o ego ou o pequeno Si-mesmo. Nossos relacionamentos projetam nossos fracassos e inadequações interiores: é o reino da sombra, o vilão interior. Além disso, ele escolhe Sophia como a mais elevada entre as figuras de anima: Barbelo, Eva, Helena e Maria. Estas são representantes de fases anteriores do processo de autoconhecimento masculino, que é acionado quando a anima, ativada, conduz a alma para dentro do interior psíquico e produz a totalidade indispensável. Para ele, salvar o homem do mundo é um processo de desidentificação em relação ao Outro externo e ao Outro interno.Jung diz mais: mudança sem transformação é um desastre: os elementos naturais apenas mudam, mas não se transformam, por isso é necessário realizar a opus contra naturam, para que haja real transformação e diminuam as projeções, preparando o homem para encarar sua própria luz interior, quando o Self retorna a si-mesmo, dando a quintessência do que foi e do que será.

Sobre a questão do mal, Jung pronuncia-se contra a teoria platônica, retomada por Agostinho, de que o mal é a ignorância ou privação do Bem; para ele, o mal existe como pólo antinômico do Bem, atributos que se anulam no Pleroma. Isso ele afirma em seu Primeiro Sermão. Nessa questão, Jung coloca-se contra a teoria agostiniana da privatio boni, de origem platônica.Jung levanta a hipótese da inconsciência de Deus, a partir do caos da indiferenciação ao cosmos, da lei, da ordem e da diferenciação. Para ele, não existem seres irreligiosos, apenas há os que não reconhecem o nível importante do inconsciente, o poder da imaginação e a dialética de compensação que efetiva, por meio dos símbolos, os conteúdos inconscientes. Mas acrescenta ele: a necessidade não é de uma crença e sim de uma experiência religiosa que integra a alma numa totalidade. Deus é para ser vivenciado, pois só o que experimenta está vivo, o que crê está morto. Daí a importância do controle da consciência que enriquece e beneficia a alquimia e a magia do inconsciente em suas projeções.É assim que Jung dá grande importância à subida do nível de consciência, a partir do inconsciente urobórico e indiferenciado. Disso dão conta os mitos luciferinos e prometeicos, bem como os papéis de Lilith e Eva.

Na verdade, Jung acha que não somos nós que fazemos as imagens de Deus: “Elas é que se fazem”, constituindo-se a imago Dei num complexo autônomo de grande força e intensidade, arraigado na plenitude do Ser, na psiqué como um todo, cabendo apenas ao ego pessoal confiar nesse poder transcendente, que é o Deus que está na alma, como uma realidade viva, dando-nos o esplendor dos recursos suprapessoais, da criatividade e da auto-renúncia.Tais idéias conduzem diretamente à relatividade da concepção de Deus, sendo a prece apenas o prazer que se extrai da experiência divina, como doação de si-mesmo a seu Deus interior: a gnosis kardia, já mencionada. Por via de conseqüência, o mito da encarnação contínua de Deus nos seres criados e a redenção mútua do homem e de Deus, idéias que Jung retomará na década dos 50, com seu “Resposta a Jó”.No campo da moral, Jung aceita o antinomianismo dos gnósticos (não reconhecimento das leis ditadas pela moral convencional dos homens em sociedade) e propõe a ética da convicção pessoal, ditada pelo núcleo arquetípico da sabedoria interior que cada homem possui. Para ele, a meta da plenitude não deve ser confundida com os ideais da perfeição, pela via da imitação do Cristo.

Hoeller acha mesmo que a individuação pode implicar em ir-se contra os critérios estabelecidos pela sociedade, evidenciando um conflito entre a lei e a liberdade do indivíduo, único verdadeiro portador de consciência.Como Deus é uma união de opostos no Pleroma, a plenitude do Ser só ocorre no inconsciente coletivo: bem e mal, belo e feio, verdade e erro etc. Daí, a importância da integração da sombra, para compor a totalidade do indivíduo, incluindo seu lado negativo ou rejeitado no processo de individuação.

Acompanhando Hartmann e Schopenhauer, Jung concebe Deus como inconsciente, representado pelo caos e sua indiferenciação, tanto no inconsciente, como no cosmos. Resulta, então que a missão do homem é o resgate da diferenciação pela consciência, inclusive pela consciência do mal.A subida do nível de consciência, cujos mitos principais, já apontados, são os de Lúcifer e de Prometeu é a verdadeira missão do homem na terra e o papel do feminino no processo de individuação (Lilith, Eva, Pandora) é reconhecido em diversos mitos de diferentes povos.Jung segue ainda as idéias de um filósofo medieval, Joachim dei Fiori, que falava de uma Era do Pai, uma Era do Filho e uma Era do Espírito Santo. Em seu livro “Resposta a Jó”, Jung retoma essas idéias com seu mito de encarnação contínua de Deus e da redenção mútua do homem e de Deus.

Do ponto de vista religioso, aceitam os gnósticos de Alexandria, nesses primeiros séculos da Era de Peixes, a figura de Jesus - o homem perfeito - que encarna o CRISTO, o ungido, o Messias, emanação do Deus perfeito, para a redenção do Homem e da Humanidade. Jung, no entanto, criticará a unilateralidade da concepção cristã, com a ausência da sombra divina, o Leviatã. Ele fala, também, da sombra de Deus e do Cristo, ainda que não aceita oficialmente pelo cânones da Igreja. Ele se refere à figura do Anticristo, que surgiu no fim do primeiro milênio cristão, como uma enantiodromia à perfeição imaculada do Cristo. Aconselha ele que devemos temer a Deus e ensina que a idéia do anticristo é arquetípica, para completar o quatérnio: MAL X BEM; ESPÍRITO X MATÉRIA..



Salvação...........

Em suma, a salvação ou redenção do Homem não se faz pela fé, mas pelo conhecimento - GNOSE (do grego = conhecimento). Mais precisamente, pelo autoconhecimento. Coincide assim o esforço gnóstico com o processo de individuação junguiano, a partir dos seguintes pressupostos:

1) - se há um Deus supremo, transcendente; por outro lado, há um Deus imanente, em cada ser humano, que cumpre libertar e contactar, pela experiência direta do divino em nós;

2) - o caminho para isso é o da transformação da alma, cadinho onde as experiências místicas ocorrem, e onde se cumpre (ou não) o casamento alquímico do Rei e da Rainha, do divino e do humano, em nossos corações: é o Caminho da Individuação;

3) - a meta e o propósito da vida são, portanto, o atingimento desse estado de consciência, a partir da inconsciência - da agnoia - anterior, sombra que sustenta o desabrochar da consciência divina no Homem;

4) - o grande pecado da alma é a ignorância (avidya, em sânscrito) que a mantém nas trevas, afastada de sua divina origem.

5) - a possibilidade de se realizar a transmutação da alma é sustentada pelos arquétipos, elementos estruturantes da psiqué, padrões e formas dominantes que organizam o ego, complexo do nível consciente, assim como as demais partes que se confrontam na arena psíquica: a sombra - geralmente identificada pelos aspectos rejeitados, não assimilados que permanecem subliminares na inconsciência; a persona - cuja base arquetípica permite a adaptação ao mundo exterior, de relação, integrando a consciência coletiva no indivíduo etc.

6) - dos arquétipos - do pai, da mãe, do puer, da puella, do senex, do animus, da anima e outros - o principal, é o SELF (Si-mesmo), o que coordena, estrutura e corrige compensatoriamente os desvios das ações conscientes. Representa a imagem de Deus em nossa alma, o Deus interior, o Cristo imanente, objeto constante da busca gnóstica pelo conhecimento e pela devoção.

7) - por último, a relação dual entre matéria e espírito, se é resolvida por alguns gnósticos pela negação da primeira e até por sua tentativa de supressão, por outros, mantido embora o dualismo, a matéria é considerada divina, por ser o Templo que abriga o espírito e, assim, é considerada e respeitada. Alguns gnósticos chegaram ao extremo de supor que nada do que fosse materialmente feito poderia afetar o espírito, razão pela qual permitiam-se até exageros e licenciosidades, condenados pelos demais (Carpócrates).

8) - ABRAXAS é a energia psíquica, a vida criativa que confere significado a partir da ilha da consciência que emerge do inconsciente. O mergulho neste, no entanto, exige o afastamento do espetáculo feérico da vida ativa sustentada por ABRAXAS.


Por God Anubys

A psique e o mundo



"A psique e o mundo" é uma outra expressão que indica a relação do indivíduo com o mundo. Mas que mundo? O mundo de dentro e o mundo de fora. Porque o que acontece no interno reflete no externo e vice-versa. Daí a possibilidade de se adaptar externamente, embora também exista uma adaptação interna... Conflitos: externos ou internos? Independente da forma, o autoconhecimento pode trazer a paz esperada. E os sonhos e a imaginação podem ajudar nisso.







Os conceitos abaixo baseiam-se principalmente no livro "Tipos Psicológicos", de Carl G. Jung, Ed. Vozes (Vol. VI).

ARQUÉTIPOS

São as tendências estruturais imperceptíveis dos símbolos. Os arquétipos criam imagens ou visões que correspondem a alguns aspectos da situação consciente. Jung deduz que as "imagens primordiais", um outro nome para arquétipos, se originam de uma constante repetição de uma mesma experiência, durante muitas gerações. Funcionam como centros autônomos que tendem a produzir, em cada geração, a repetição e a elaboração dessas mesmas experiências.
O núcleo de um complexo é um arquétipo que atrai experiências relacionadas ao seu tema. Ele poderá, então, tornar-se consciente por meio destas experiências associadas. Os arquétipos da Morte, do Herói, do Si-mesmo, da Grande Mãe e do Velho Sábio são exemplos de algumas das numerosas imagens primordiais existentes no inconsciente coletivo. Embora todos os arquétipos possam ser considerados sistemas dinâmicos autônomos, alguns deles evoluíram tão profundamente que se pode justificar seu tratamento como sistemas separados da personalidade. São eles: a persona, a anima (lê-se "ânima"), e o animus (lê-se "ânimus") e a sombra.
Chamamos de instinto aos impulsos fisiológicos percebidos pelos sentidos. Mas, ao mesmo tempo, estes instintos podem também manifestar-se como fantasias e revelar, muitas vezes, a sua presença apenas através de imagens simbólicas. São estas manifestações que revelam a presença dos arquétipos, os quais as dirigem. A sua origem não é conhecida; e eles se repetem em qualquer época e em qualquer lugar do mundo - mesmo onde não é possível explicar a sua transmissão por descendência direta ou por "fecundações cruzadas" resultantes da migração.
Não existe uma definição precisa para eles. Isso porque, assim como os símbolos, não têm um contorno definido e nítido. Para tentar explicá-los tendemos sempre a introduzir as frases com comparações metafóricas. É como se usássemos a linguagem poética para descrever o que somente metáforas podem mostrar. Primeiro porque não existe a atuação pura de um arquétipo somente. Segundo porque muitas das funções de um arquétipo são também funções de outro. Terceiro, vou explanar com uma analogia.


Ao se colocar um ímã debaixo de uma folha de papel e se distribuir limalha de ferro sobre esta, pode-se perceber uma imagem das linhas magnéticas (influência) do campo magnético do ímã representadas na folha de papel (símbolos). Passando o ímã sobre pregos, nota-se uma ação invisível (arquetípica) só percebida pelo efeito nos pregos (símbolos). Os ímãs têm essa propriedade pelo alinhamento de suas cargas atômicas (arquétipos). Os arquétipos determinam as diferentes personalidades pelo arranjo distinto que formam em cada pessoa. E a sua influência se faz perceber por determinado "alinhamento" deles em nossa psique, o que provoca atrações e repulsões em outros campos psíquicos (influência inconsciente nas pessoas), além de acontecimentos sincronísticos (influência invisível na matéria e nos acontecimentos).


AMPLIFICAÇÃO (ARQUETÍPICA)


Um poema é composto recorrendo o poeta a várias figuras de estilo e metáforas, só para transmitir algo indizível, que persiste em ser limitadamente captado por esses recursos. A mesma técnica pode ser usada com os sonhos e com os símbolos arquetípicos contidos neles. É muito revelador num trabalho com sonhos conseguir material semelhante em outro lugar (mitos, lendas, livros, conceitos, etc.) e usá-los como lentes para ampliar os temas arquetípicos de um sonho. Certos cientistas usam a técnica de multiplicar as células ou bactérias para que se tornem visíveis como conjunto a olho nu. A essa mesma técnica aplicada psicologicamente Jung chamou de amplificação. Um amplificador de som faz com que um sinal invisível, fraco, seja convertido e amplificado até ficar audível. Em outra analogia, usa-se amplificadores (os símbolos contidos em outros textos, mitos, histórias, etc.) para intensificar o sinal, a princípio invisível e fraco, à nossa compreensão. Então eles são convertidos em sinais captáveis aos nossos sentidos (usando frequências, isto é, conceitos, tais como anima, animus, Si-mesmo, etc.) - dentro da faixa audível de som. Dessa maneira pode-se captar, mesmo na falta de alguns canais, pois nunca se consegue apreender todos, a sinfonia (o sentido) do sonho e de outros materiais simbólicos.

ANIMA E ANIMUS

Jung atribui a arquétipos o lado feminino da personalidade do homem e o lado masculino da personalidade da mulher. O arquétipo feminino no homem é chamado anima, e o masculino na mulher, animus. Eles seriam supostamente o produto de experiências culturais do homem com a mulher e vice-versa. Constituem a "alma" dos respectivos gêneros. No que se refere ao caráter dessa "alma" ela costuma ter todas aquelas qualidades humanas comuns que faltam à atitude consciente. O tirano atormentado por maus sonhos, pressentimentos sombrios e receios interiores, é uma figura típica. Exteriormente cruel, é porém sujeito a qualquer humor, como se fosse um ser menos autônomo e mais maleável. Sua alma contém, pois, aquelas qualidades humanas de fraqueza e determinabilidade que faltam completamente à sua atitude exterior, à sua persona. Se a persona for intelectual, a alma será sentimental com toda certeza. O caráter complementar da alma atinge também o caráter sexual, conforme se pode constatar muitas vezes. Mulher muito feminina tem alma acentuadamente masculina; homem muito masculino tem alma feminina. A anima e o animus têm um papel importante nas relações amorosas, onde as pessoas, inconscientes desses arquétipos, são levadas a projetá-los no sexo oposto. O desenvolvimento consciente da anima e do animus acarreta uma ampliação da personalidade e num relacionamento mais rico com o outro.

COMPENSAÇÃO

Jung entende a psique como um sistema que procura manter-se em equilíbrio. A compensação é uma tentativa de equilíbrio. A consciência constantemente está a selecionar pensamentos, sentimentos e sensações. Esta seleção requer direcionamento da atenção, que por sua vez exige exclusão de tudo o que não tiver importância. Disso resulta certa unilateralidade da consciência. Os conteúdos excluídos e inibidos pela direção escolhida caem no inconsciente. Sua existência é um contrapeso à orientação consciente que é tanto maior quanto mais intensa e determinada for esta. Quanto maior a unilateralidade da atitude consciente, maior a oposição dos conteúdos que provém do inconsciente. A força de oposição compensatória do inconsciente cresce e conduz finalmente a uma grande tensão. Com o tempo, a tensão aumenta de tal forma que os conteúdos inconscientes inibidos se comunicam com a consciência, sobretudo por meio de sonhos (pesadelos), de imagens surgidas na imaginação espontaneamente, de pensamentos, sentimentos, esquecimentos ou trocas de palavras involuntárias, ou de "acidentes", para citar apenas algumas ocorrências.

COMPLEXOS

São conjuntos coesos de sentimentos, pensamentos, percepções e memórias reprimidos, e por isso existentes no inconsciente individual. Por encontrarem-se ocultos e fora de alcance do ego, podem causar distúrbios psicológicos de graus leves até muito graves, como ocorre nas neuroses. Enquanto permanecem inconscientes, eles entram em conflito com a nossa vontade, dificultando-a ou modificando-a de maneira preocupante. O indivíduo, se o grau de tensão de sua consciência com o inconsciente for muito grande (vide o termo COMPENSAÇÃO), pode sentir que não tem mais controle de seus próprios atos. Por isso constituem compensações de atitudes unilaterais e condenáveis da consciência. Eles são pontos sensíveis da psique que reagem mais intensa e rapidamente a determinados estímulos externos com os quais estão associados no indivíduo.

EGO (EU)

Antes de tudo o ego é um complexo formado por representações e que constitui o centro do campo da consciência. Suas características são um grande sentido de continuidade e de identidade consigo mesmo. O complexo do eu é tanto um conteúdo quanto uma condição da consciência, uma qualidade desta, pois um elemento psíquico é consciente enquanto estiver relacionado com o complexo do eu. Porém, o eu enquanto centro do campo da consciência não é idêntico ao todo da psique, mas apenas um complexo entre outros complexos. Por isso se distingue o ego (eu) do Si-mesmo. O eu é o sujeito apenas da consciência, mas o Si-mesmo é o sujeito do todo da personalidade, também da psique inconsciente. O ego, enquanto representante da consciência na psique, costuma ser representado nos mitos e lendas na figura de um herói.

EXTROVERSÃO

É uma atitude de abertura em relação ao mundo exterior, de interesse por ele e tudo o que contém, contrariamente à atitude oposta - a introversão. Não existe uma atitude puramente introvertida ou extrovertida, embora os indivíduos em geral tenham uma tendência para uma ou outra atitude de forma predominante. O extrovertido pensa, sente e age em relação ao objeto (isto é, pessoas, animais, plantas, organizações, coisas, etc.) de forma direta, positiva e facilmente observável. Tende a agir sem hesitação alguma. Conforme a orientação de sua função psíquica, se a extroversão for intelectual, a pessoa pensará no objeto; se for sentimental, ela sentirá no objeto; se for sensual, usará os sentidos em geral para relacionar-se com o mundo; e se for sensitivo, a intuição, para saber das possibilidades das coisas.

FANTASIA

É uma representação imaginativa dos complexos do sujeito, que ocorre com ou sem controle. Pode ser ativa (um bom exemplo é a imaginação ativa – ver no vocabulário) ou passiva (nos casos em que não se tem controle). Johnson (1989), o termo “fantasia” deriva do grego “phantasía”, que significa “o fazer visível”. Procede de um verbo que quer dizer “tornar visível, revelar”. A correspondência é óbvia: a função da fantasia é tornar visível a dinâmica do inconsciente, o processo psíquico que ocorre sem o conhecimento do indivíduo.
Parece, portanto, que os gregos conheciam essa capacidade da imaginação de transformar em formas visíveis o aspecto inconsciente da personalidade. E isso apenas recentemente foi redescoberto pela psicologia moderna. Daí a importância de certos testes psicológicos que requerem o desenho, a pintura, e outras formas de expressão. Johnson (1989) chama a essa região da personalidade simplesmente de “reino invisível”, e afirma que para Platão ele correspondia ao mundo das formas ideais e para outros antigos à esfera dos deuses, como o Olimpo. A realidade do mundo interior era expresso nas formas ideais ou nas qualidades universais, que se revestiam nas imagens dos deuses gregos. “Para eles, phantasía era o órgão pelo qual o mundo divino falava à mente humana”, conclui Johnson (1989, p. 32).


FUNÇÃO DA CONSCIÊNCIA

São as quatro ferramentas, ou aspectos, que a nossa consciência usa para funcionar. Representam o modo como se funciona na interação com o mundo e com o próprio indivíduo. Há uma predisposição ao maior desenvolvimento de uma função do que de outras e a educação pode ou não reforçar ainda mais essa tendência. Deste modo, embora todas as pessoas possuam as quatro funções, elas não se desenvolvem de modo igual. Daí a possibilidade de se classificar em geral as pessoas que tendem a usar mais certas funções do que outras de acordo o nome dessa função, o que forma, junto com a atitude extrovertida ou introvertida, os tipos psicológicos. A mais desenvolvida é chamada de "função principal" e a menos evoluída de "função inferior".
A sensação informa que alguma coisa existe e trabalha com os cinco sentidos e com as percepções do corpo em geral.
O pensamento esclarece o que é esta coisa, a define e identifica, forma conceitos e trabalha com as ideias.
O sentimento revela se é agradável ou não para o sujeito. A função sentimento trabalha com seus conteúdos, que são os sentimentos, os quais a ajudam no trabalho de atribuir valor às coisas. É também uma espécie de julgamento que visa a uma aceitação ou rejeição subjetivas, e distingue-se do julgamento intelectual (função pensamento), o qual visa ao estabelecimento de relações conceituais. Provoca repulsa ou atração em diversos níveis. Jung (1991) difere os conteúdos da função sentimento – os sentimentos – das emoções.
A intuição expõe as diferentes possibilidades de relação do objeto com outras coisas e pode, dessa forma, relatar de onde ele veio e para onde vai. Transmite a percepção por via inconsciente do que é possível acontecer ou fazer. Tudo pode ser objeto dessa percepção, coisas internas ou externas e suas relações. Por ela pode-se vislumbrar o mundo interior. A intuição vai além dos fatos, sentimentos e ideias, e constrói modelos elaborados da realidade.
Jung (1991) classificou as funções da consciência em irracionais e racionais. Funções irracionais são aquelas que não operam com a razão, que não dependem do raciocínio nem do juízo para funcionarem. A intuição e a sensação são funções psicológicas que devem estar abertas à casualidade e a qualquer possibilidade; por isso não devem ter qualquer direção racional. Já as racionais fazem uso da razão, do juízo, da abstração e da generalização. São elas o pensamento e o sentimento.

FUNÇÃO INFERIOR (OU QUARTA FUNÇÃO)

As funções da consciência foram classificadas por Jung (1991) de acordo com o grau de consciência com o qual o indivíduo as opera. Assim, a função superior consiste naquela em que o indivíduo tem maior perícia no seu domínio. As auxiliares são governadas de forma apenas relativa, pois se encontram parcialmente inconscientes. A inferior não se desenvolve durante o processo de maturação. É considerado dificílimo o desenvolvimento simultâneo de todas as funções psicológicas. As exigências sociais podem forçar o desabrochar daquela que servirá melhor ao sucesso social ou a seguir a própria natureza. Da identificação mais ou menos plena com a função privilegiada combinada com as atitudes de extroversão e introversão, é que surgem os oito tipos psicológicos junguianos. A unilateralidade desse desenvolvimento acaba relegando uma ou mais funções à precariedade, à escuridão, ao subdesenvolvimento. Normalmente ocorre a percepção de certos sinais de sua presença, daí ser conhecida pelo menos "de vista". Nas neuroses, porém, o caso é mais grave, podendo ocorrer forte incompatibilidade da função inferior com a função principal, o que perturba seriamente o equilíbrio psíquico. Com a função inferior no inconsciente, a energia de que está naturalmente investida acaba ativando fantasias correspondentes à função em questão. A conscientização dessas fantasias e sua integração através de trabalhos interiores favorecem o seu progresso até uma realização mais ou menos completa da pessoa.

IMAGINAÇÃO ATIVA

É um método de interação com o inconsciente há muito tempo conhecido dos antigos alquimistas e presente com algumas variações na meditação oriental. Sucintamente, "(...) é um diálogo que travamos com as diferentes partes de nós mesmos que vivem no inconsciente" (JOHNSON, 1989, p. 154). Consiste no relacionamento com os sentimentos, pensamentos, atitudes e emoções através dos vários personagens que aparecem em nossos sonhos e fantasias, ou através de sua representação mental. Na imaginação ativa (IA) interage-se ativamente com esses personagens, isto é, discordando, quando for o caso, opinando, questionando e até tomando providências com relação ao que é tratado, isso tudo pela imaginação. Quando não se sabe, p. ex., porque uma figura agiu de forma violenta em um sonho, pode-se fazer uma IA, recordar o sonho até esta parte em particular e a partir daí questionar o personagem das razões do seu comportamento violento. Nesse momento deve-se ter o cuidado de deixar que a figura "diga" o que vier à sua cabeça. Pode haver a sensação de que se está inventando tudo, mas isso não importa e nem altera o efeito real da prática da IA, o que pode ser verificado por seu efeito emocional após sua conclusão.
Difere da fantasia passiva porque nesta não há atuação do ego no quadro mental, de forma a participar do drama vivenciado. O indivíduo apenas observa o desenrolar do roteiro, muitas vezes com sofrimento involuntário, sem proveito algum, e o que é pior, sem que venha a conhecer o sentido que há por trás.
A técnica pode ser aplicada também quando se está fortemente influenciado por uma emoção. Neste caso, personifica-se a emoção vivenciada para interação do modo como descrito acima.

IMAGINAÇÃO CORPO-ATIVA

Consiste numa aplicação semelhante à imaginação ativa, porém com o acréscimo da vivência e identificação corporal/material com o cenário, os personagens e a dinâmica do sonho. A partir dessa identificação, ocorre uma conscientização das impressões com o elemento identificado e com os outros elementos do sonho através desse ponto de vista. Essa percepção interior ocorre através do reconhecimento do sentimento, emoção, ação, ideia, pensamento e sensação e através de contemplação em estado de relaxamento emergentes dessa apropriação. Esta técnica, criada por Gallbach,(2000) visa favorecer o contato com o conteúdo emocional das imagens oníricas. Isto relativizaria o trabalho exclusivamente mental que várias outras técnicas enfatizam. "Frequentemente, afecções corporais parecem constituir a dramatização de conflitos psíquicos. Corpo e psique estão interligados" (GALLBACH, 2000, p. 36). Esta técnica pretende fazer justiça à totalidade do sonhador, recorrendo ao uso das várias outras funções psíquicas.


INCONSCIENTE COLETIVO

É o mais poderoso e influente sistema da psique. Parece constituir o depósito de traços de memória herdados do passado ancestral do homem. É parte importante do desenvolvimento psíquico evolutivo do homem que se acumulou em consequência de experiências repetidas durante várias gerações. Aparentemente é universal; todos os seres humanos têm, mais ou menos, o mesmo inconsciente coletivo. Sobre ele estão erigidos o ego, o inconsciente pessoal e todas as outras aquisições individuais. Tudo o que uma pessoa aprende como resultado de experiências é influenciado pelo inconsciente coletivo, que exerce uma ação orientadora ou seletiva sobre o comportamento da pessoa, desde o início da vida. A experiência de mundo dos indivíduos está moldada pelo inconsciente coletivo, embora não completamente, pois, se assim fosse, não poderia haver variação e desenvolvimento.

INCONSCIENTE INDIVIDUAL

É a região da personalidade mais próxima ao ego. Consiste de experiências que foram suprimidas, reprimidas, esquecidas ou ignoradas. Os conteúdos do inconsciente individual são acessíveis à consciência, havendo muitas permutas entre o inconsciente individual e o ego.

INDIVIDUAÇÃO

É o processo de desenvolvimento da individualidade da pessoa que tem como consequência sua diferenciação da coletividade, do conjunto, sem opor-se necessariamente à norma. A individuação não leva ao isolamento do indivíduo, mas à sua integração mais consciente, intensa e abrangente com o coletivo, seja na forma do inconsciente coletivo ou na forma da sociedade como conhecemos.
Pode conduzir-se consciente ou inconscientemente. O primeiro caso tende a ocorrer quando alguém se envolve com trabalhos interiores, como a interpretação dos sonhos, a imaginação ativa, a análise, etc. O segundo é uma ocorrência natural e geralmente muito mais lenta, que tem a desvantagem de deixar o individuado mais ou menos às cegas quanto ao processo em geral. Geralmente a individuação ocorre na segunda metade da vida. Pode ser detectada através dos sonhos pela repetição cíclica, espiral e temática das imagens dos sonhos, num ciclo de desenvolvimento que tende a resolver os conflitos expressos em um nível mais avançado.

INTROVERSÃO

Consiste na atitude de voltar-se para dentro de si próprio, isto é, envolve uma relação negativa com o objeto. O interesse do indivíduo se retrai do mundo exterior para se voltar a ele mesmo, ao contrário da atitude oposta, a extroversão. O introvertido pensa, sente e age de modo a deixar perceber que o mais importante é ponto de vista do indivíduo, enquanto o exterior torna-se secundário. O sujeito pensa, sente, percebe e intui de acordo com a(s) função(ões) predominante(s) em sua psicologia.

PERSONA

Forma a máscara usada pelo indivíduo em resposta às solicitações da convenção e da tradição sociais e às suas próprias necessidades arquetípicas internas. É a personalidade pública, aqueles aspectos que ostentamos ao mundo ou que a opinião pública fixa no indivíduo. Constitui o estilo de relação e de adaptação do indivíduo ao mundo. Frequentemente o ego se identifica com a persona, originando o que se chama de "inflação do ego".

SI-MESMO (SELF)

Representa o ponto central da personalidade, em torno do qual todos os outros sistemas se organizam, formando constelações. Sustenta a união desses sistemas, e fornece unidade, equilíbrio e estabilidade à personalidade. Como todos os arquétipos, motiva o comportamento do homem e faz com que procure a integração, especialmente pelos caminhos fornecidos pela religião. O Si-mesmo como totalidade psíquica tem um aspecto consciente e um inconsciente. Aparece em sonhos, mitos e contos de fadas, na figura de personalidades "superiores" como reis, heróis, profetas, salvadores, etc. ou na figura de símbolos de totalidade como o círculo, o quadrilátero, a cruz, etc.

SÍMBOLO

Representa a melhor formulação possível, de algo relativamente desconhecido (que se encontra no inconsciente), não podendo ser mais clara ou definida. Distingue-se do sinal, que é uma analogia ou representação sucinta de algo conhecido. Desta forma, explicar a cruz como símbolo do amor divino é reduzi-la a um sinal, pois "amor divino" designa o fato que se quer exprimir, bem melhor do que uma cruz que pode ter ainda muitos outros sentidos. Simbólica seria a explicação que considerasse a cruz além de qualquer explicação imaginável, como expressão de um fato místico ou transcendente (psicológico), até então desconhecido e incompreensível, que pudesse ser representado do modo mais condizente possível só pela cruz. O símbolo é sempre um produto de natureza altamente complexa, pois se compõe de dados de todas as funções psíquicas. Possui um lado que fala à razão e outro inacessível à razão.

SINCRONICIDADE

Acontecimento simultâneo, de dois ou vários eventos, onde pelo menos um é interno e o outro externo, sem relação de causa e efeito, mas que são ligados pelo mesmo significado. Uma explicação para as sincronicidades é que os arquétipos não se situam exclusivamente na esfera psíquica, mas também nas circunstâncias exteriores. Estamos acostumados a considerar o "sentido" das coisas como uma ocorrência na nossa psique e relutamos em admitir que ele possa existir também fora de nossa personalidade. É isso o que a sincronicidade parece indicar.
Em outras culturas, principalmente de caráter introvertido, tais como a chinesa, o sentido encontra seu lugar também nos eventos exteriores. É que, para eles, o sentido (Tao) se obscurece quando fixamos o olhar apenas nos detalhes das coisas, perdendo a visão do conjunto. Já para os ocidentais os detalhes são importantes por si mesmos e não encontram conexão com a totalidade da existência. Para estes, a psique é inteiramente dependente de um cérebro material. Esquece-se que o comportamento "significativo" ou "inteligente" de organismos inferiores nada tem a ver com a atividade cerebral.

SOMBRA

É o arquétipo responsável pelo aparecimento de pensamentos, sentimentos e ações desagradáveis e socialmente reprováveis. Nela encontram-se todos os aspectos reprováveis da personalidade. Daí a sombra fazer parte do inconsciente pessoal. Constitui o oposto do eu (ego). É normalmente retratada nas histórias em quadrinhos como o "alter-ego", o lado sombrio da personalidade. Aparece normalmente nos sonhos e na vida desperta projetada nas pessoas do mesmo sexo que detestamos. A profunda ofensa com certas críticas é um bom sinal da presença da sombra. Um ótimo exemplo literário da sombra é o conto “O estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde”.
Em 1886, mais de uma década antes de Freud sondar as profundezas da escuridão humana, Robert Louis Stevenson teve um sonho altamente revelador: um homem, perseguido por um crime, engolia um certo pó e passava por uma drástica mudança de caráter, tão drástica que ele se tornava irreconhecível. O amável e laborioso cientista Dr. Jekyll transformava-se no violento e implacável Mr. Hyde, cuja maldade ia assumindo proporções cada vez maiores à medida que o sonho se desenrolava.
Stevenson desenvolveu o sonho no seu famoso romance ‘The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde’ [O estranho caso de Dr. Jekyll e Sr. Hyde]. Seu tema integrou-se de tal modo na cultura popular que pensamos nele quando ouvimos alguém dizer, "Eu não era eu mesmo", ou "Ele parecia possuído por um demônio", ou "Ela virou uma megera". Como diz o analista junguiano John Sanford, quando uma história como essa nos toca tão a fundo e nos soa tão verdadeira, é porque ela contém uma qualidade arquetípica - ela fala a um ponto em nós que é universal.
Cada um de nós contém um Dr. Jekyll e um Mr. Hyde: uma persona agradável para o uso cotidiano e um eu oculto e noturnal que permanece amordaçado a maior parte do tempo. Emoções e comportamentos negativos - raiva, inveja, vergonha, falsidade, ressentimento, lascívia, cobiça, tendências suicidas e homicidas - ficam escondidos logo abaixo da superfície, mascarados pelo nosso eu mais apropriado às conveniências. Em seu conjunto, são conhecidos na psicologia como a sombra pessoal, que continua a ser um território indomado e inexplorado para a maioria de nós.

Charles A. Resende

sábado, 13 de novembro de 2010

Aula de Administração - Adrian Rogers, 1931

”se voce pegar o dinheiro do mundo e dividir iqualmente para cada pessoa,daqui ha algum tempo haverá ricos e pobres novamente....toda mudança é na atitude.... “

LEIAM e MEDITEM ...

Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que ele nunca reprovou um só aluno antes, mas tinha, uma vez, reprovado uma classe inteira.



Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e 'justo. '



O professor então disse, "Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas nas provas."



Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e portanto seriam justas. Isso quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém seria reprovado. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia um "A"...



Depois que a média das primeiras provas foram tiradas, todos receberam "B". Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.



Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto, agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos. Como um resultado, a segunda média das provas foi "D".



Ninguém gostou.



Depois da terceira prova, a média geral foi um "F".



As notas não voltaram a patamares mais altos mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por 'justiça' dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Portanto, todos os alunos repetiram o ano... Para sua total surpresa.



O professor explicou que o experimento socialista tinha falhado porque ele foi baseado no menor esforço possível da parte de seus participantes.

Preguiça e mágoas foi seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual o experimento tinha começado.



"Quando a recompensa é grande", ele disse, "o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável."



É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade. Para cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber. O governo não pode dar para alguém aquilo que não tira de outro alguém.



Quando metade da população entende a idéia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação.





É impossível multiplicar riqueza dividindo-a.

Retorno ao Aeon Eterno




"Nós viemos de cima deles todos, dos deuses, dos anjos da pobreza e os monstros deles. Muitas pessoas aqui são imortais, mas eles não sabem disso, então eles vivem como se fossem escravos. Eles acreditam que eles são parte do mundo, não sabem que o mundo é curral deles, e seus corpos suas prisões, porque eles estão iludidos. Eles não confiam em sua natureza espiritual, eles confiam na carne que irá perecer, então colocam suas esperanças nesta vida, e não encontram nenhuma verdade.

Mesmo aqueles que possuem certa percepção espiritual não percebem que precisam encontrar a verdade enquanto estão vivos, de outro modo, quando o corpo morre e eles estão nas mãos das autoridades, terão que passar por uma revisão, em seguida um julgamento, e serão jogados em outra servidão.

Há sempre muita dor quando eles descobrem que desperdiçaram suas vidas. Mas cada vida nova é uma chance nova. Quando eles alcançam a palavra doadora-de-vida, eles permanecem com ela até a hora chegar. E fazendo isso, eles passarão pelos portões de todas as autoridades sem medo. E eles se despirão do fardo da escuridão, que é o corpo, e serão batizados três vezes. Eles serão recebidos por aqueles que entregam as vestimentas eternas, a luz perfeita do espírito, porque eles não são estranhos a eles. E eles se dirigirão para o lugar mais alto, já que se tornaram dignos das glórias indescritíveis, pois eles rejeitaram o mundo e os poderes para serem livres da escravidão do esquecimento.

Eles habitarão lá para sempre, com os Grandiosos, os Imortais, na Luz do Pai Eterno. E eles aprenderão da sabedoria imperecível perfeita, e eles viverão e nunca mais morrerão.

Quem tiver ouvidos para ouvir que ouça! "

"Se manifestarem aquilo que têm em si, isso que manifestarem os salvará. Se não manifestarem o que têm em si, isso que não manifestarem os destruirá".
Mestre Jesus, o Cristo
Evangelho Gnóstico de Tomé

"O que vencer não receberá o dano da segunda morte"
(Apocalipse 2:11)

Ausência de Desejos




"... Há muitas pessoas para quem a Qualificação de Ausência de Desejos (Desapego, Desprendimento, Abnegação) é difícil, pois elas sentem que elas são os seus próprios desejos (apegos) - que se os seus desejos (apegos) peculiares, suas simpatias e antipatias, lhes forem tirados, não lhes restará mais individualidade alguma. Essas, porém, são somente aquelas que ainda não viram o Mestre; pois na luz de Sua santa Presença todo o desejo sucumbe, exceto o de ser semelhante a Ele. No entanto, antes mesmo de teres a felicidade de encontrá-lo face a face, podes alcançar a ausência de desejos (desapego), se quiseres. O Discernimento já te mostrou que as coisas que a maioria dos homens deseja, tais como riqueza e poder, não são coisas merecedoras de aquisição; quando isto é realmente sentido, e não meramente dito, todo o desejo (apego) por elas cessa.

Tudo isso é simples; é necessário somente que compreendas. Há, porém, algumas pessoas que renunciam à busca de objetivos terrenos somente com o intuito de alcançar o céu, ou para atingir a libertação pessoal dos renascimentos; neste erro não deves cair. Se esqueceste completamente de ti mesmo, não podes ficar pensando quando será a tua libertação, ou que tipo de céu deverás ter. Lembra-te que todo desejo egoísta prende, por mais elevado que possa ser seu objetivo, e enquanto não te desprenderes dele, não estarás completamente livre para te dedicares à obra do Mestre.

Quando todos os desejos pessoais tiverem desaparecido, poderá ainda restar um desejo de ver o resultado do teu trabalho. Se auxiliares alguém, quererás ver quanto o ajudaste; talvez até queiras que ele o veja também, e que te seja grato. Mas isto ainda é desejo, e também falta de confiança. Quando vertes tua energia para auxiliar, tem de haver um resultado, quer possas vê-lo, quer não; se conheces a Lei sabes que deve ser assim. Portanto, deves agir certo por amor ao certo, não pela esperança de recompensa; deves trabalhar por amor ao trabalho, não pela esperança de ver o resultado; deves entregar-te ao serviço do mundo porque o amas e não podes deixar de entregar-te a ele.

Não desejes os poderes psíquicos; eles virão quando o Mestre entender ser melhor para ti possuí-los. Forçá-los muito cedo traz em seu treinamento, freqüentemente, muitas perturbações; e seu possuidor muitas vezes é desorientado por enganosos espíritos da Natureza, ou torna-se vaidoso e julga-se isento de cometer erros; em qualquer caso, o tempo e a energia despendidos em adquiri-los poderiam ser utilizados em trabalho para os outros. Eles virão no decurso do teu desenvolvimento - eles têm de vir; e se o Mestre entender que seria útil para ti possuí-los mais cedo, Ele te ensinará como desenvolvê-los com segurança. Até então, estarás melhor sem eles.

Deves resguardar-te, também, de alguns pequenos desejos que são comuns na vida diária. Nunca desejes brilhar ou parecer inteligente; não tenhas desejo de falar. É bom falar pouco; melhor ainda é nada dizer, a menos que tenhas plena certeza de que o que desejas dizer é verdadeiro, amável e útil. Antes de falar, pensa cuidadosamente se o que vais dizer tem essas três qualidades; se assim não for, não o digas.

É bom que te habitues desde agora a pensar cuidadosamente antes de falar; pois quando alcançares a Iniciação, terás de vigiar cada palavra, a fim de não dizeres o que não deve ser dito. Muitas das conversações ordinárias são desnecessárias e insensatas; quando descem à maledicência tornam-se perversas. Assim, acostuma-te antes a ouvir do que a falar; não dês opiniões a menos que te sejam diretamente solicitadas. Um enunciado das qualificações é assim dado: saber, ousar, querer e calar, e a última das quatro é a mais difícil de todas..."

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Tao Te Ching

Autoria de Janine Milward sobre a tradução do chinès para o português realizada por Wu Jyh Cherng e publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil.

Capítulo 3

Não valorizando os tesouros, mantém-se o povo alheio à disputa
Não enobrecendo a matéria de difícil aquisição, mantém-se o povo alheio à cobiça
Não admirando o que é desejável, mantém-se o coração alheio à desordem

O Homem Sagrado governa
Esvazia seu coração
Enche seu ventre
Enfraquece suas vontades
Robustece seus ossos

Mantém permanentemente o povo sem conhecimentos e desejos
Faz com que os de conhecimento não se encorajem e não ajam
Sendo assim
Nada fica sem governo


Interpretação

O Capítulo 3 nos fala do Te, A Virtude. Te, A Virtude, é a qualidade de se vivenciar a vida, de trilhar o Caminho do Tao, enquanto Caminhante em busca da consciência infinita e posterior vida infinita. Te, A Virtude, nos vai revelando a melhor e mais pura forma de vivenciarmos nossa vida, de vivenciarmos nossos cotidianos, através de nossos atos, pensamentos, palavras, trabalhos de uma forma geral.

O Tao é O Caminho e o Te, A Virtude, é a forma como devemos Caminhar nosso Caminho.... são as leis ou normas ou conselhos que Lao Tse nos presenteia com sua singeleza e singularidade de palavras e conceitos.
..
Não valorizando os tesouros, mantém-se o povo alheio à disputa
Não enobrecendo a matéria de difícil aquisição, mantém-se o povo alheio à cobiça
Não admirando o que é desejável, mantém-se o coração alheio à desordem

A primeira estrofe já nos revela conceitos que tratam da não-valorização demasiada da matéria para que todos, de uma maneira geral, contentem-se com aquilo que precisam para manter suas vidas em dignidade, sem precisarem ou sentirem a necessidade de competição em qualquer nível. Numa sociedade justa e ideal, onde existe o básico essencial para a vida digna das pessoas, não haverá espaço para "a matéria de difícil aquisição" desde que, certamente, não haverão desigualdades sociais - todos terão de tudo, ou seja, o tudo é o essencial para a vida.

Dessa forma, a cobiça também não terá espaço, desde que não se terá o objeto a ser cobiçado. Por que haverei de cobiçar a jabuticabeira do vizinho, se no jardim de minha casa existe uma pitangueira? Assim, quando for tempo de jabuticabas, o vizinho haverá de me chamar para, em conjunto, nos saciarmos com a frutinha de casca preta e caldinho branco, meloso, saboroso.. O mesmo acontecerá quando o tempo das pitangas chegar!.... Eu estarei chamando o vizinho, para, em conjunto, nos deliciarmos com a frutinha vermelhinha e saborosa! Assim, o vizinho e eu estaremos seguros que seremos saciados em nosso sabor de vida e nosso coração permanecerá estável, "alheio à desordem" porque a singeleza do desejo foi plenamente atendida.

Quando Lao Tse nos fala do "povo", certamente ele está falando do povo, sim, do homem e seu conjunto da sociedade onde vive e se integra..... mas também Lao Tse está nos falando de nós mesmos, Caminhantes Caminhando nosso Caminho e tudo aquilo que faz parte de nós, nosso ser essencial e nosso ser não-essencial, ou seja, aquilo que é imutável, o Espírito, e aquilo que é mutável, a matéria.
...
Dessa forma, o "povo" seriam todas as formas de realização da matéria que, fundamentalmente, precisa ser controlada assim como um cavalo selvagem é domado para realizar seu trabalho de Dharma entre os homens.

Assim, Lao Tse continua seu Poema, trazendo à baila o Homem Sagrado - aquele que já possui ou está a Caminho de possuir a consciência infinita e iluminada e sua posterior vida infinita - e coloca esse Homem tanto na governança de seu povo - em forma de sociedade organizada - como na governança de seu próprio corpo, de sua matéria.

O Homem Sagrado governa
Esvazia seu coração
Enche seu ventre
Enfraquece suas vontades
Robustece seus ossos

Ao dizer que "o Homem Sagrado governa", Lao Tse nos afirma que, sem dúvida, saberemos controlar nosso corpo físico e suas emoções e desejos ao obtermos a infinitude e iluminação de nossa consciência. A partir disso, "Esvazia seu coração", ou seja, mantém sob firme controle suas emoções; "Enche seu ventre", traz para si toda a energia e vitalidade possíveis para bem trilhar seu Caminho; "Enfraquece suas vontades", domina seus desejos e intenções e ações, praticando a não-ação, o não-desejo, a não-intenção. "Robustece seus ossos", robustece seu corpo físico para a realização da Alquimia do Caldeirão, ou seja, a mutação plena do corpo físico em Corpo de Luz, atingindo assim, o Caminho da Imortalidade.

Mantém permanentemente o povo sem conhecimentos e desejos
Faz com que os de conhecimento não se encorajem e não ajam
Sendo assim
Nada fica sem governo

Novamente, Lao Tse nos fala da relação do Homem Sagrado, como governante, e o povo, como governado. Novamente podemos, então, inferir que não apenas estamos falando a governança ideal da sociedade ideal, como também, fundamentalmente, da relação de governança entre o Espírito e a matéria, o corpo, o Caldeirão.
...
"sem conhecimentos e desejos" significaria, então, o não-desvio do Caminhante que Caminha seu Caminho, tergiversando, procurando satisfazer curiosidades superficiais que a nenhum conhecimento verdadeiro levam a não ser a bobagens passageiras e vazias; ou desejos que a nada levam a não ser a mais desejos inócuos. Ao mesmo tempo, adverte que existe uma luta - visível ou invisível - entre o não-desvio do Caminho correto e os possíveis desvios em trilhas que a nenhum lugar levam....

E Lao Tse termina seu Poema, nos dizendo: "Sendo assim, nada fica sem governo", ou seja, tomando essas precauções em relação à vivência de nosso cotidiano e em como nos comportarmos na realização de nossa Caminhada em nosso Caminho, o controle total é obtido para alcançarmos o sucesso em nossa empreitada de vida, ou seja, atingirmos a consciência infinita e iluminada e nos bem posicionarmos no Caminho da verdadeira Alquimia do Caldeirão - a mutação de nosso corpo físico em Corpo de "Lua", a Imortalidade, a Liberação.

................................

Uma interpretação do capítulo 3, de Janine Milward sobre a tradução de Wu Jyh Cherng

terça-feira, 2 de novembro de 2010

FERNANDO PESSOA GNÓSTICO




A filosofia hermética assume-se como uma das facetas mais importantes do pensamento de Fernando Pessoa. Se é verdade que é na obra poética que se dá a grande realização de Fernando Pessoa, não é menos verdade que a contínua reflexão filosófica e mistica- religiosa, é uma faceta igualmente importante que convém revelar.
Em Essay of Initiation ele identifica transcendência com a fusão de toda a poesia lírica, épica e dramática:

"O meu destino pertence a outra lei...", escreve numa carta a Ofélia

Este gnosticismo, explica talvez parte da dificilmente explicável filosofia de Pessoa, que é hermética, mas numa multiplicidade de sentidos, apenas comparáveis aos múltiplos da heteronímia.

Mais adiante escreve: "O mistério (que é tudo) não é comprehensível se não há emoção. A inteligência não pode compreender o mistério".
Ao adepto são pedidas várias vitórias: a vitória sobre o Mundo, a vitória sobre a Carne, a vitória sobre o Diabo. Mas no fim do caminho, descobre que "terá o que sempre teve", isto é, que nada lhe é dado exteriormente que ele já não possua primeiro interiormente.
Este é o sentido místico de toda a iniciação. Dá-se "no Ego Íntimo", em quem morrer o mundo, a carne, o diabo (a tentação de ambos) e que ressurge para uma vida nova, esclarecida, iluminada.
Para Pessoa "a vida é uma symbolologia confusa", e nada deve ser tomado como definitivamente conhecido. Existe sempre o perigo do erro e da ilusão.
Desenvolve ainda a ideia de que a iniciação tem a ver com alma, sendo "uma espécie de nova região por onde a alma se transforma".
Ao filósofo ele aconselha como regra o silêncio, o estudo e o trabalho. E que organize a sua vida "como uma obra literária pondo nela a maior unidade possível" .
Diz contudo que "o significado real da iniciação é, para este mundo em que vivemos um símbolo e uma sombra, que esta vida que conhecemos pelos sentido é uma morte e um sono, ou, por outras palavras, que o que vemos é uma ilusão" . A iniciação é o dispersar dessa ilusão.
Confia-se sobretudo no estudo e na intuição. A intuição é reveladora de conteúdos profundos e espirituais. Permite "a união com deus" de que se fala.
Fernando Pessoa encontra na poesia hermética uma via para o instruir sobre a natureza do homem (e da arte, como sua mais elevada dimensão), a natureza do Universo e Deus.

O Cristo Interior - "Porque o reino está dentro de vós" (Lucas 17:21)



“É realmente de sabedoria que falamos entre os perfeitos, sabedoria que não é deste mundo nem dos príncipes deste mundo, votados à destruição. Ensinamos a sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que Deus, antes dos séculos, de antemão destinou para a nossa glória” (1 Co 2:6-7).

Aproximadamente um século depois, alguns discípulos de Valentino diziam ter recebido de seu mestre os ensinamentos secretos do Irmão Paulo.

No Evangelho de Felipe, texto encontrado na Biblioteca de Nag Hammadi, descoberta no Egito em 1945, existem várias passagens relacionadas com os sacramentos ou mistérios do Mestre Jesus. É interessante notar que Ele teria instituído cinco e não os sete sacramentos usados pela Igreja: “O Senhor fez tudo num mistério, um batismo, uma crisma, uma eucaristia, uma redenção e uma câmara nupcial”. Esses sacramentos pareciam ter um caráter iniciático, e cada um era ministrado somente uma vez na vida do indivíduo.

No sacramento da câmara nupcial, que só estava ao alcance dos discípulos mais avançados, era conferida a suprema iluminação. A igreja romana transformou esse sacramento no matrimônio, visando santificar a união exterior entre homem e mulher. O sacramento da câmara nupcial visava promover a união interior. Nele, a alma totalmente purificada, referida como virgem, unia-se ao divino esposo, o Cristo interior.

Esse sacramento é referido na Bíblia, de forma velada, nas parábolas do banquete nupcial (Mt 22:1-14) e das dez virgens (Mt 25:1-13). Vários místicos referem-se a experiências interiores semelhantes. Vale a pena mencionar Jan van Ruysbroeck, um dos maiores místicos católicos, que escreveu no século XIV, em Adornos do Casamento Espiritual, que Cristo é o nosso noivo que nos convida a ir a Ele.

Nossos anseios espirituais podem ser perfeitamente atendidos pela herança que o Mestre nos legou. O Evangelho do Reino, mencionado tantas vezes na Bíblia, era exatamente a Boa Nova de que o Pai Amoroso nos aguarda ansiosamente em Seu Reino. Esse Reino está ao nosso alcance aqui e agora. Se perguntássemos como podemos conhecer o caminho para o Reino, provavelmente Cristo nos responderia hoje, como o fez a Tomé:

“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (Jo 14:6).

Com muita propriedade, o Cristo interior é o Caminho, a Verdade e a Vida. Em primeiro lugar, Cristo é o Caminho: somente quando o despertamos interiormente é que de fato entramos no Caminho da Perfeição. Cristo é Luz, portanto, ao trilharmos o Caminho alcançamos a Verdade. E o conhecimento da Verdade nos concede a Vida Eterna, que é outra forma de expressar a realização do Reino, o estado de continuidade de consciência da união com o Pai. Portanto, verdadeiramente, ninguém vem ao Pai a não ser por intermédio do Cristo interior.

Vale a pena lembrar que o Filho é Deus em seu aspecto imanente, em todos os seres e todas as coisas, enquanto o Pai é Deus em seu aspecto transcendente. Portanto, só podemos alcançar Deus Pai que está além deste mundo, por intermédio de Deus em nós, o Cristo interior.

Os Sufis



Os Sufis

Ibn El-Arabi:

"Sigo a religião do Amor.Ora, às vezes, me chamam Pastor de gazelas [divina sabedoria]. Ora monge cristão,Ora sábio persa.Minha amada são três -Três, e no entanto, apenas uma;Muitas coisas, que parecem três,Não são mais do que uma.Não lhe dêem nome algum,Como se tentassem limitar alguémA cuja vistaToda limitação se confunde"

Se chamam ao islamismo a "casca" do sufismo, é porque o sufismo, para eles, constitui o ensino secreto dentro de todas as religiões. Não obstante, segundo Ali el-Hujwiri, escritor sufista primitivo e autorizado, o próprio profeta Maomé disse: "Aquele que ouve a voz do povo sufista e não diz aamin (amém) é lembrado na presença de Deus como um dos insensatos". Numerosas outras tradições o associam aos sufis, e foi em estilo sufista que ele ordenou a seus seguidores que respeitassem todos os "Povos do Livro", referindo-se dessa maneira aos povos que respeitavam as próprias escrituras sagradas - expressão usada mais tarde para incluir os zoroastrianos.

Tampouco são os sufis uma seita, visto que não acatam nenhum dogma religioso, por mais insignificante que seja, nem se utilizam de nenhum local regular de culto.

Não têm nenhuma cidade sagrada, nenhuma organização monástica, nenhum instrumento religioso. Não gostam sequer que lhes atribuam alguma designação genérica que possa constrangê-los à conformidade doutrinária.

"Sufi" não passa de um apelido, como "quacre", que eles aceitam com bom humor. Referem-se a si mesmos como "nós amigos" ou "gente como nós", e reconhecem-se uns aos outros por certos talentos, hábitos ou qualidades de pensamento naturais.

As escolas sufistas reuniram-se, com efeito, à volta de professores particulares, mas não há graduação, e elas existem apenas para a conveniência dos que trabalham com a intenção de aprimorar os estudos pela estreita associação com outros sufis. A assinatura sufista característica encontra-se numa literatura amplamente dispersa desde, pelo menos, o segundo milênio antes de Cristo, e se bem o impacto óbvio dos sufis sobre a civilização tenha ocorrido entre o oitavo e o décimo oitavo séculos, eles continuam ativos como sempre

A absorção no tema do amor conduz ao êxtase, sabem-no todos os sufis. Mas enquanto os místicos cristãos consideram o êxtase como a união com Deus e, portanto, o ponto culminante da consecução religiosa, os sufis, só lhe admitem o valor se ao devoto for facultado, depois do êxtase, voltar ao mundo e viver de forma que se harmonize com sua experiência.

Os sufis respeitam os rituais da religião na medida em que estes concorrem para a harmonia social, mas ampliam a base doutrinária da religião onde quer que seja possível e definem-lhe os mitos num sentido mais elevado

Talvez seja mais importante o fato de que toda a arte e a arquitetura islâmicas mais nobres são sufistas, e que a cura, sobretudo dos distúrbios psicossomáticos, é diariamente praticada pelos sufis hoje em dia como um dever natural de amor, conquanto só o façam depois de haverem estudado, pelo menos, doze anos. Os ollamhs, também curadores, estudavam doze anos em suas escolas das florestas. O médico sufista não pode aceitar nenhum pagamento mais valioso do que um punhado de cevada, nem impor sua própria vontade ao paciente, como faz a maioria dos psiquiatras modernos; mas, tendo-o submetido a uma hipnose profunda, ele o induz a diagnosticar o próprio mal e prescrever o tratamento. Em seguida, recomenda o que se há de fazer para impedir uma recorrência dos sintomas, visto que o pedido de cura há de provir diretamente do paciente e não da família nem dos que lhe querem bem.

Depois de conquistadas pelos sarracenos, a partir do século VIII d.C, a Espanha e a Sicília tornaram-se centros de civilização muçulmana renomados pela austeridade religiosa.

Os sufis insistiram sempre na praticabilidade do seu ponto de vista. A metafísica, para eles, é inútil sem as ilustrações práticas do comportamento humano prudente, fornecidas pelas lendas e fábulas populares. Os cristãos se contentam em usar Mestre Jesus como o exemplar perfeito e final do comportamento humano. Os sufis, contudo, ao mesmo tempo que o reconhecem como profeta divinamente inspirado, citam o texto do quarto Evangelho: "Eu disse: Não está escrito na vossa Lei que sois deuses?" - o que significa que juizes e profetas estão autorizados a interpretar a lei de Deus e sustenta que essa quase divindade deveria bastar a qualquer homem ou mulher, pois não há deus senão Deus.

Da mesma forma, eles recusaram o lamaísmo do Tibete e as teorias indianas da divina encarnação; e posto que acusados pelos muçulmanos ortodoxos de terem sofrido a influência do cristianismo, aceitam o Natal apenas como parábola dos poderes latentes no homem, capazes de apartá-lo dos seus irmãos não-iluminados.

De idêntica maneira, consideram metafóricas as tradições sobrenaturais do Corão, nas quais só acreditam literalmente os não-iluminados. O Paraíso, por exemplo, não foi, dizem eles, experimentado por nenhum homem vivo; suas huris (criaturas de luz) não oferecem analogia com nenhum ser humano e não se deviam imputar-lhes atributos físicos, como acontece na fábula vulgar.

Abundam exemplos, em toda a literatura européia, da dívida para com os sufis. A lenda de Guilherme Tell já se encontrava em "A conferência dos pássaros", de Attar (séc. XII), muito antes do seu aparecimento na Suíça. E, embora dom Quixote pareça o mais espanhol de todos os espanhóis, o próprio Cervantes reconhece sua dívida para com uma fonte árabe. Essa imputação foi posta de lado, como quixotesca, por eruditos; mas as histórias de Cervantes seguem, não raro, as de Sidi Kishar, lendário mestre sufista às vezes equiparado a Nasrudin, incluindo o famoso incidente dos moinhos (aliás de água, e não de vento) tomados equivocadamente por gigantes. A palavra espanhola Quijada (verdadeiro nome do Quixote, de acordo com Cervantes) deriva da mesma raiz árabe KSHR de Kishar, e conserva o sentido de "caretas ameaçadoras".

Os sufis muçulmanos tiveram a sorte de proteger-se das acusações de heresia graças aos esforços de El-Ghazali (1051-1111), conhecido na Europa por Algazel, que se tornou a mais alta autoridade doutrinária do islamismo e conciliou o mito religioso corânico com a filosofia racionalista, o que lhe valeu o título de "Prova do Islamismo". Entretanto, eram freqüentemente vítimas de movimentos populares violentos em regiões menos esclarecidas, e viram-se obrigados a adotar senhas e apertos de mão secretos, além de outros artifícios para se defenderem.

Gnósticos, Gnosticismo e Auto-Realização



Por: God Anubys


Gnósticos: Foram assim chamados os seguidores desta busca que foi incentivada por Mestre Jesus, o Cristo. Os primeiros gnósticos foram os discípulos mais internos, próximos, avançados de Jesus também chamados Ophitas: Simão (o Mago), Madalena, João, Tiago, Mateus, Marta, Tomé, Filipe, Salomé. Entre os gnósticos havia a participação ativa e não discriminada de mulheres. Outros que seguiram essa linhagem de ensinamento: Cerintho, Paulo, Menander, Saturnilo, Silas/Silvanus, Priscila, Euphrates, Marcion, Basílides, Valentino, Carpócrates, Bardesanes, Monoimus, Cerdo, Theodotus/Panteno, Ptolomeu, Heracleon, Clemente, Mani.

Gnosticismo:Movimento que, utilizando-se dos ensinamentos mais avançados e internos de Mestre Jesus,o Cristo, através do uso dos Evangelhos (alguns considerados apócrifos) e escritos de seus discípulos, espalhou-se entre os séculos I a.C. e III d.C., especialmente pela Galiléia, Síria (Antioquia), Egito, Armênia e regiões da Grécia e Palestina. Havia uma ampla difusão destes textos (alguns secretos) naquelas regiões e essa visão de mundo era bastante disseminada. Possuíam uma linguagem técnica característica e ênfase na busca da sintonia interior com essa Gnosis, essa Sabedoria Divina, sem intermediários, um conhecimento do Divino por experiência própria.

Auto-Realização:

“Homo, gnoscete ipsum”
"Te advirto, quem quer que sejas,
Oh, tú! Que desejas sondar os Mistérios da Natureza.
Como esperas encontrar outras excelências,
Se ignoras as de tua própria casa?
Em ti, está oculto o tesouro dos tesouros.
Oh, homem! Conhece a Ti mesmo
E conhecerás o Universo e os Deuses"
(Templo de Apollo em Delfos)

Auto-realização, sendo definida (dentro da Gnosis) como "o desenvolvimento completo e harmonioso de todas as infinitas possibilidades no interior do ser humano". A importância da auto-realização consta da antiga advertência, colocada na entrada do oráculo de Delfos.

Auto-realização não é algo que se aprende em livros; alcança-se apenas pela experiência pessoal, que leva a um conhecimento profundo e superior do mundo e do homem, que dá sentido à vida humana, que a torna plena de significado porque permite o encontro do homem com sua Essência Eterna, maravilhosa e Crística, pela via do coração. É uma realidade vivente sempre ativa, que apenas é compreendida quando experimentada e vivenciada. Assim sendo jamais pode ser assimilada de forma abstrata, intelectual e discursiva.

"Mas, o Reino está dentro de vós, e também fora de vós. Se vos conhecerdes, sereis conhecidos e sabereis que sois filhos do Pai Vivo. Mas, se não vos conhecerdes, vivereis em pobreza, e vós mesmos sereis essa pobreza". Master Jesus, o Cristo - Evangelho Gnóstico de Tomé

O que toda religião deveria dar a seus seguidores é a percepção da Verdade, a experiência de Deus e não meros dogmas...O que Mestre Jesus, o Cristo percebeu, nós também devemos experimentar. Ele não ensinou que deveríamos adorá-lo como uma personalidade mas, sim, experimentar o que ele vivenciou em sua união com Deus. Isso só pode ser alcançado pela meditação e pela obediência às leis de Deus. Adorar a Jesus, porque é Jesus não basta.Temos que abraçar os ideais universais que pregou e lutar para sermos iguais a ele.

O Infinito



Por: Gary L. Stewart

Se fossemos consolidar a essência da filosofia mística em um ponto específico que todos os estudantes de misticismo pudessem utilizar como uma base para obter compreensão, qual seria ele? Poderia possivelmente ser os passos requeridos para se desenvolver psiquicamente? Ou uma visão geral sistemática do processo do pensamento? Ou… ad infinitum?


Eis precisamente o ponto, quando dizemos “ad infinitum”. Podemos verdadeiramente dizer que há, de fato, uma base essencial a partir da qual todos os estudantes devem começar?



Se disséssemos, sempre haveria alguém que discordaria, principalmente porque cada indivíduo possui uma perspectiva única baseada em suas próprias experiências e o que é importante para um é irrelevante para o outro. Nós no caminho Rosa-Cruz não podemos de forma precisa dizer que ensinamos, mas preferivelmente que auxiliamos o indivíduo a aprender por si mesmo.



Estamos bastante cientes do fato de que todo aprendizado deve necessariamente vir de dentro de cada estudante individual e, portanto, não pode ser discernido por ele a partir do exterior. Qualquer escola de pensamento ou filosofia, qualquer definição de termos, deve ser interpretada individualmente pelo estudante e aplicada à vida de sua própria e exclusiva maneira. Somente então pode o verdadeiro aprendizado ocorrer.



Independentemente do que seja compreendido pelo estudante ou de como ele interpreta um pensamento, realmente existem certos assuntos que ele deve considerar.



O Rosacrucianismo freqüentemente se aprofunda em assuntos que podem ser relegados à categoria de “especulação mística”, mas independentemente de se são meras especulações ou não, em algum momento o estudante deve chegar a uma interpretação deles de forma a continuar a adquirir uma compreensão mais completa.



Essencialmente, a “verdadeira” compreensão deve suplantar a intelectual. Isto é, deve ser desenvolvida a partir das qualidades inatas dentro do ser do indivíduo. Ela pode ser “disparada” a partir do exterior, mas deve ser compreendida a partir do interior.



O infinito é um de tais assuntos que todo estudante terminará por tentar entender. Definido de forma simples, o infinito é aquilo que é sem começo ou fim. Isso, em si mesmo, é fácil o suficiente para se compreender, mas quantos de nós já se perguntaram: “Mas onde tudo começou?”



Ao mesmo tempo, muitos de nós estão procurando pela verdade absoluta ou pela percepção final. Antes que sejamos capazes de responder tais perguntas, precisamos chegar a alguma percepção com relação à natureza daquilo que é infinito.



Há diversas maneiras de se abordar o assunto, a mais comum sendo a partir de uma perspective linear. Isto é, a partir de uma perspectiva que é realmente intelectual em natureza.



Como exemplo, todos que estudaram matemática estão cientes de que entre dois pontos de um segmento de reta existe um número “infinito” de pontos adicionais. Podemos conceber uma situação onde tal existência seja possível porque podemos visualizar que entre dois pontos pode sempre existir um ponto médio entre os dois.



Para ilustrar esta afirmação, se nos referirmos aos paradoxos do antigo filósofo grego Zeno, encontraremos um ou dois exemplos que podem nos dar uma explicação muito boa de um conceito extremamente profundo.



Primeiro, Zeno ilustra uma corrida na qual a um dos participantes é dada uma vantagem. Ele então faz a pergunta: “Quem ganhará a corrida?” Essencialmente, Zeno conclui que nenhum dos participantes poderia logicamente ganhar porque para a segunda pessoa alcançar a outra, teria primeiro que percorrer metade da distância.



Mas, antes que pudesse percorrer metade da distância, teria também que percorrer metade daquela distância, uma situação que concebivelmente necessita de um processo infinito em que nenhum participante poderia se mover de forma perceptível, quanto mais ganhar a corrida. Esta noção, conclui Zeno, é absurda, porque na verdade as pessoas ganham e perdem corridas.



Em um outro dos paradoxos de Zeno, ele cita o exemplo de uma pessoa atirando uma flecha no ar. Ele salienta que a qualquer dado instante, a flecha não seria possivelmente capaz de se mover. Novamente, conclui, esta noção é absurda.



A implicação que Zeno está fazendo nas ilustrações acima é de que nossas noções do que percebemos como sendo a natureza daquilo que é infinito, e daquilo que constitui o tempo e o espaço, são na verdade muito mais do que é normalmente percebido intelectualmente.



E, de fato, há certamente a implicação de que o que constitui nossa realidade objetiva é somente uma expressão limitada de uma compreensão do que realmente existe que é limitada por nossa perspectiva de como observamos o mundo.



Desde a época de Zeno, a história da ciência e da filosofia tem sido essencialmente limitada à perspectiva linear do infinito. Não foi senão até que a evolução da matemática permitisse a certas grandes mentes, como exemplificado por Albert Einstein, desenvolver uma perspectiva diferente da realidade objetiva, que os interesses ontológicos do misticismo realmente começaram a ser compreendidos. Naturalmente, a teoria da relatividade trouxe uma perspectiva diferente de como a humanidade via nosso mundo.



Como exemplo, nos últimos dez anos uma nova teoria revolucionária chamada “Supergravidade” desafia nosso conceito de infinito linear. De forma bastante simples, esta teoria requer uma unificação das leis da gravitação na qual duas aparentemente diferentes leis são unificadas em uma.



A implicação aqui é que existe um fator unificador no universo que, misticamente, pode ser descrito como uma Unidade que a tudo permeia. Contudo, esta “nova” teoria também requer a subdivisão de partículas subatômicas, tais como nêutrons, fótons, múons, glúons e outros tantos ons... o que é essencialmente um retorno à maneira “linear” de pensar.



O ponto desta questão é que reconhecemos a existência de algo que é entendido como estando “além” de nossa compreensão e não obstante tentamos descrevê-lo utilizando nossos padrões de definição aceitos. Como resultado, freqüentemente colidimos com muitos paradoxos e contradições que são realmente desnecessários.



Por outro lado, a filosofia mística permite “novas” interpretações das “velhas” alegações científicas e filosóficas em que não tentamos limitar nosso método de pensar. Em vez disso, incorporamos uma mudança de atitude e de perspectiva ao nosso sistema de crença. Em outras palavras, examinamos todos os ângulos possíveis para um dado problema e incorporamos certos atributos humanos como a intuição e o discernimento interior ao nosso sistema de estudo.



Se aplicarmos a metodologia ou a lógica que resulta do misticismo, poderemos ver e compreender o assunto do infinito sob uma luz diferente. Em vez de considerá-lo a partir de uma expressão linear ou quantitativa, vamos vê-lo a partir de um ângulo qualitativo no qual a interpretação quantitativa daquilo que é infinito torna-se meramente uma “parte” do todo maior. Em outras palavras, a essência que a tudo permeia aludida nos escritos místicos não é descrita ou definida como sendo infinita em natureza, mas é entendida como sendo a fonte daquilo que é infinito.



Na tentativa de tornar este difícil conceito mais fácil de ser compreendido, se olharmos para o tempo a partir de uma perspectiva de passado, presente e futuro, teremos uma expressão quantitativa. A filosofia mística afirma que realmente não há nenhum passado ou futuro, mas, mais propriamente, que tudo ocorre no presente, existindo no “agora”.



Se formos um passo além disso e dissermos que também não há nenhum presente, imediatamente atribuímos à existência um estado qualitativo de ser que transcende a noção comum de infinito, de tempo e de espaço. Tais atributos tornam-se então uma parte do todo em vez de uma descrição do todo.



Podemos multiplicar o infinito por dois e chegar a infinito como resposta. Contudo, se dividirmos qualquer dado número no infinito por si mesmo, nossa resposta será um. Ou, se dividirmos o infinito por dois, o que temos? Talvez uma indicação sutil de uma qualidade ilimitada e interminável que não pode ser definida pelo termo “infinito”.




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