quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Einstein e Tagore - Diálogo sobre a Beleza e a Verdade


1 ) Einstein: Crê o senhor no Divino como isolado do mundo? 


1.1 ) Tagore: Isolado, não. A infinita personalidade do homem compreende o Uni-

verso. Nada pode haver que se não possa resolver na humana persona-

lidade, e isto prova que a verdade do Universo é uma verdade humana.

Exporei um fato científico para ilustrar minhas palavras. A matéria está

composta de prótons e elétrons, com abismos entre eles, e, no entanto, a

matéria pode parecer-nos sólida. Analogamente, a humanidade está com-

posta de indivíduos; não obstante, porém, estes guardam entre si uma

interconexão de relacionabilidade humana, que dota o mundo do homem

de viva solidariedade. Pois todo o Universo se acha entrelaçado a nós

de um modo semelhante; é um Universo humano. Eu tenho seguido este

pensamento através da arte, da literatura e da consciência religiosa do

homem. 



2 ) Einstein: Há dois conceitos diferentes acerca da natureza do Universo:

(i ) o mundo como universo dependente da humanidade;

(ii ) o mundo como realidade independente do fator humano. 



2.1 ) Tagore: Quando o nosso Universo se acha em harmonia com o Homem Eterno,

conhecemo-lo como verdade, sentimo-lo como beleza. 



3 ) Einstein: Isto é um conceito puramente humano do Universo.


3.1 ) Tagore: Nenhum outro conceito pode haver. Este mundo é um mundo humano;

seu ponto de vista científico é também o do homem de ciência. Há certo

tipo de razão e de gozo que lhe confere verdade: o tipo do Homem Eterno,

cujas experiências se realizam através das nossas. 



4 ) Einstein: Essa é uma compreensão da entidade humana.


4.1 ) T: Sim, uma entidade eterna. Temos de compreendê-la mediante nossas

emoções e atividades. Nós realizamos o Homem supremo que carece de

limitações individuais, mediante nossas limitações. A cência ocupa-se

naquilo que não está limitado aos indivíduos; é o mundo humano impessoal

das verdades. A religião compreende essas verdades e as encadeia com

as nossas necessidades mais profundas; a nossa consciência individual de

verdade adquire sentido universal. A religão aplica valores à verdade e

conhecemos como boa a verdade em virtude de nossa harmonia com ela. 



5 ) E: De modo que a verdade ou a beleza não são segundo isso, indepen-

dentes do homem? 



5.1 ) T: Não.


6 ) E: Se se extinguisse a espécie humana, deixaria, pois, de ser belo o Apolo

de Belvedere? 



6.1 ) T: Assim o creio.


7 ) E: Estou de acordo com sua concepção de beleza, mas não com a que

sustenta acerca da verdade. 



7.1 ) T: Por que não? A verdade realiza-se mediante o homem.


8 ) E: Eu não posso demonstrar que a minha concepção seja a certa, porém

essa é a minha religião. 



8.1 ) T: A beleza cifra-se no ideal de perfeita harmonia que reside no ser Uni-

versal. Nós, os indivíduos, achegamo-nos a ela mediante nossos erros

e equívocos, mediante nossa experiencia acumulada, a nossa iluminada


consciência. . . Como, se não fosse assim, poderíamos conhecer a verdade?



9 ) E: Não posso comprovar cientificamente que a verdade deva conceber-

se como uma verdade de valor, com independência da humanidade; mas

creio-o assim firmemente. Creio, por exemplo, que o teorema de Pitágoras

em geometria afirma alguma coisa aproximadamente certa, com

independência da existência dos homens. Seja como for, se há uma realidade

independente do homem, há também uma verdade relativa a essa reali-

dade; e de igual modo a negação do primeiro traz consigo a negação da

segunda. 



9.1 ) T: A verdade que é unacom o Ser Universal deve ser essencialmente

humana; pois, de outro modo, tudo quanto nós indivíduos consideramos

como verdade não poderia merecer tal nome - pelo menos na acepção

científica da palavra, como verdade que só se pode alcançar mediante o

processo da lógica, ou, dito em outros termos, por um orgão humano de

pensamentos. Segundo a filosofia indiana, existe Brama, a verdade abso-

luta, que não pode ser concebida pela inteligência humana isolada, nem

tampoucodescrita com palavras, senão unicamente abismando o indivi-

dual em sua finitude. Porém, tal verdade não pode pertencer à ciência.

A natureza da verdade que tratamos é uma aparência; quer dizer; aquilo

que aparece como verdade à inteligência humana, e é, portanto, humano,

podendo-se-lhe chamar maia ou ilusão.



10 ) E: Segundo sua concepção, pois, que pode ser a concepção indiana, não é a ilusão do indivíduo, mas da 


humanidade inteira.


10.1 ) T: Na ciência procedemos seguindo a disciplina de eliminar as limitações pessoais de nossas 


inteligências individuais, para alcançar¸ assim essa compreensão da verdade que reside na mente do homem 


universal. 

11 ) E: O problema começa quando consideramos a verdade independente de nossa consciência.

11.1 ) T: O que chamamos verdade apóia na racional harmonia entre os aspectos subjetivos e objetivos da 



realidade, que pertencem ao homem superpersonal. 


12 ) E: Inclusive em nossa vida cotidiana, sentimo-nos obrigados a atribuir- lhe uma realidade independente 


do homem ao objeto que empregamos.

Agimos assim para coordenar as experiências de nossos sentidos em uma forma razoável. Por exemplo, se 


não estivesse ninguém nesta casa, nem por isso deixaria de estar aqui esta mesa.

12.1 ) T: Sim estaria fora da mente individual; porem, não fora da mente universal. A mesa que eu percebo é 


perceptível pela mesma classe de consciência que eu possuo.


13 ) E: Nosso natural ponto de vista com relação à verdade independente da humanidade, não pode ser 


explicada nem provada; mas é uma crença que a ninguém pode faltar. . . nem mesmo aos primitivos. 


Atribuímos à verdade uma objetividade super-humana. E indispensável para nós esta realidade a que me 


refiro, que é independente de nossa existência, de nossa inteligência. . . ainda mesmo que não possamos 


dizer o que significa.


13.1 ) T: A ciência demonstrou que a mesa, como objeto sólido, é uma aparência, e, por conseguinte, isso 


que a mente humana percebe como tal mesa não existiria se não existisse a mente humana. Deve 


reconhecer-se, ao mesmo tempo, que o fato de que a ultima realidade física da mesa não seja outra coisa 


que uma multidão de centros isolados de forças elétricas em revolução, pertence também à mente humana. 


14 ) E: Na apreensão da verdade, há um conflito eterno entre a mente humana universal e a mesma mente 


confinada no indivíduo. Nossa ciência, nossa filosofia e nossa ética andam sempre ocupadas no processo de 


reconciliação. Em resumidas contas, posto que houvesse alguma verdade que se não refira em absoluto à 


humanidade, tal verdade seria em absoluto para nós como não existente.


14.1 ) T: Não é difícil imaginar uma inteligência à qual a seqüência das coisas não se lhe mostre no espaço, 


senão no tempo, tal como a seqüência das notas em música. Para semelhante inteligência, a percepção da 


realidade seria parecida à da realidade musical, em o que carece de todo sentido a geometria de Pitágoras. 


Existe a realidade do papel, totalmente distinta da realidade da literatura. Pois a classe de inteligência que 


possui a traça que engole essa literatura de papel é, em absoluto, inexistente, e, sem embargo, para a 


inteligência do homem possui a literatura um valor de verdade maior que o próprio papel. De modo análogo, 


se alguma verdade existe que não guarde nenhuma relação sensitiva ou racional com a inteligência humana, 


será igual a zero, enquanto formos nós seres humanos. 


15 ) Einstein: Então sou mais religioso que o senhor.
15.1 ) Tagore: Minha religião resume-se na reconciliação do Homem superpersonal, o Espírito humano 



universal, em meu ser individual. Este foi o assunto de minhas conferências, às quais dei o título de - A Religião do Homem*.

Um comentário:

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