quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Tao Te Ching

Autoria de Janine Milward sobre a tradução do chinès para o português realizada por Wu Jyh Cherng e publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil.

Capítulo 3

Não valorizando os tesouros, mantém-se o povo alheio à disputa
Não enobrecendo a matéria de difícil aquisição, mantém-se o povo alheio à cobiça
Não admirando o que é desejável, mantém-se o coração alheio à desordem

O Homem Sagrado governa
Esvazia seu coração
Enche seu ventre
Enfraquece suas vontades
Robustece seus ossos

Mantém permanentemente o povo sem conhecimentos e desejos
Faz com que os de conhecimento não se encorajem e não ajam
Sendo assim
Nada fica sem governo


Interpretação

O Capítulo 3 nos fala do Te, A Virtude. Te, A Virtude, é a qualidade de se vivenciar a vida, de trilhar o Caminho do Tao, enquanto Caminhante em busca da consciência infinita e posterior vida infinita. Te, A Virtude, nos vai revelando a melhor e mais pura forma de vivenciarmos nossa vida, de vivenciarmos nossos cotidianos, através de nossos atos, pensamentos, palavras, trabalhos de uma forma geral.

O Tao é O Caminho e o Te, A Virtude, é a forma como devemos Caminhar nosso Caminho.... são as leis ou normas ou conselhos que Lao Tse nos presenteia com sua singeleza e singularidade de palavras e conceitos.
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Não valorizando os tesouros, mantém-se o povo alheio à disputa
Não enobrecendo a matéria de difícil aquisição, mantém-se o povo alheio à cobiça
Não admirando o que é desejável, mantém-se o coração alheio à desordem

A primeira estrofe já nos revela conceitos que tratam da não-valorização demasiada da matéria para que todos, de uma maneira geral, contentem-se com aquilo que precisam para manter suas vidas em dignidade, sem precisarem ou sentirem a necessidade de competição em qualquer nível. Numa sociedade justa e ideal, onde existe o básico essencial para a vida digna das pessoas, não haverá espaço para "a matéria de difícil aquisição" desde que, certamente, não haverão desigualdades sociais - todos terão de tudo, ou seja, o tudo é o essencial para a vida.

Dessa forma, a cobiça também não terá espaço, desde que não se terá o objeto a ser cobiçado. Por que haverei de cobiçar a jabuticabeira do vizinho, se no jardim de minha casa existe uma pitangueira? Assim, quando for tempo de jabuticabas, o vizinho haverá de me chamar para, em conjunto, nos saciarmos com a frutinha de casca preta e caldinho branco, meloso, saboroso.. O mesmo acontecerá quando o tempo das pitangas chegar!.... Eu estarei chamando o vizinho, para, em conjunto, nos deliciarmos com a frutinha vermelhinha e saborosa! Assim, o vizinho e eu estaremos seguros que seremos saciados em nosso sabor de vida e nosso coração permanecerá estável, "alheio à desordem" porque a singeleza do desejo foi plenamente atendida.

Quando Lao Tse nos fala do "povo", certamente ele está falando do povo, sim, do homem e seu conjunto da sociedade onde vive e se integra..... mas também Lao Tse está nos falando de nós mesmos, Caminhantes Caminhando nosso Caminho e tudo aquilo que faz parte de nós, nosso ser essencial e nosso ser não-essencial, ou seja, aquilo que é imutável, o Espírito, e aquilo que é mutável, a matéria.
...
Dessa forma, o "povo" seriam todas as formas de realização da matéria que, fundamentalmente, precisa ser controlada assim como um cavalo selvagem é domado para realizar seu trabalho de Dharma entre os homens.

Assim, Lao Tse continua seu Poema, trazendo à baila o Homem Sagrado - aquele que já possui ou está a Caminho de possuir a consciência infinita e iluminada e sua posterior vida infinita - e coloca esse Homem tanto na governança de seu povo - em forma de sociedade organizada - como na governança de seu próprio corpo, de sua matéria.

O Homem Sagrado governa
Esvazia seu coração
Enche seu ventre
Enfraquece suas vontades
Robustece seus ossos

Ao dizer que "o Homem Sagrado governa", Lao Tse nos afirma que, sem dúvida, saberemos controlar nosso corpo físico e suas emoções e desejos ao obtermos a infinitude e iluminação de nossa consciência. A partir disso, "Esvazia seu coração", ou seja, mantém sob firme controle suas emoções; "Enche seu ventre", traz para si toda a energia e vitalidade possíveis para bem trilhar seu Caminho; "Enfraquece suas vontades", domina seus desejos e intenções e ações, praticando a não-ação, o não-desejo, a não-intenção. "Robustece seus ossos", robustece seu corpo físico para a realização da Alquimia do Caldeirão, ou seja, a mutação plena do corpo físico em Corpo de Luz, atingindo assim, o Caminho da Imortalidade.

Mantém permanentemente o povo sem conhecimentos e desejos
Faz com que os de conhecimento não se encorajem e não ajam
Sendo assim
Nada fica sem governo

Novamente, Lao Tse nos fala da relação do Homem Sagrado, como governante, e o povo, como governado. Novamente podemos, então, inferir que não apenas estamos falando a governança ideal da sociedade ideal, como também, fundamentalmente, da relação de governança entre o Espírito e a matéria, o corpo, o Caldeirão.
...
"sem conhecimentos e desejos" significaria, então, o não-desvio do Caminhante que Caminha seu Caminho, tergiversando, procurando satisfazer curiosidades superficiais que a nenhum conhecimento verdadeiro levam a não ser a bobagens passageiras e vazias; ou desejos que a nada levam a não ser a mais desejos inócuos. Ao mesmo tempo, adverte que existe uma luta - visível ou invisível - entre o não-desvio do Caminho correto e os possíveis desvios em trilhas que a nenhum lugar levam....

E Lao Tse termina seu Poema, nos dizendo: "Sendo assim, nada fica sem governo", ou seja, tomando essas precauções em relação à vivência de nosso cotidiano e em como nos comportarmos na realização de nossa Caminhada em nosso Caminho, o controle total é obtido para alcançarmos o sucesso em nossa empreitada de vida, ou seja, atingirmos a consciência infinita e iluminada e nos bem posicionarmos no Caminho da verdadeira Alquimia do Caldeirão - a mutação de nosso corpo físico em Corpo de "Lua", a Imortalidade, a Liberação.

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Uma interpretação do capítulo 3, de Janine Milward sobre a tradução de Wu Jyh Cherng

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