domingo, 14 de novembro de 2010

Jung Gnóstico




Quando indagado se acreditava em Deus, ele responde:
“Eu não creio em: eu sei!”.


"Senti ao conhecê-los (Gnósticos) como se finalmente, tivesse encontrado um círculo de amigos que me entendiam" Jung.


A definição léxica de gnóstico é conhecedor, e não seguidor de alguém que pode ser um conhecedor.
Jung sem dúvida era um conhecedor, se é que já houve algum.


Jung é um gnóstico, na medida em que vivencia a experiência direta e interior (1914-19) com as imagens arquetípicas: sombra, trevas etc., como o caminho do auto-conhecimento e da individuação.O processo junguiano de individuação é a contrapartida moderna da luta pela aquisição gnóstica do autoconhecimento. Assim, salvar o Homem do mundo é para um gnóstico o que Jung denomina de desidentificação em relação ao Outro exterior e ao Outro interior, inclusive de sua Sombra, já que o Bem e o mal estariam contidos no Pleroma, a realidade indivisa primitiva, indiferenciada, para Jung, o inconsciente de Deus, contendo em potencial o caos e o cosmos.

Os Sermões representam a expressão metafórica de uma experiência interna. Assim, alguns paralelos podem ser traçados entre os princípios gnósticos e a psicologia junguiana. São em número de oito:

1- o elemento pneumatológico = Si-mesmo;

2- diálogo consciência/inconsciente, como a tentativa de experiência direta com a realidade arquetípica;

3- processo de individuação como o percurso da alma para retornar à sua verdadeira morada, a seu hthos, pelo processo de autoconhecimento;

4- a aceitação do mal, da dor e do sofrimento como ontologicamente substantes e não apenas como ausência do Bem;

5- a vivência da alienação da consciência para atingir a plenitude;

6- o Pleroma, o Anthropos e o Si-mesmo, como a experiência dos opostos;

7- a plenitude do Si-mesmo como aspiração substitutiva à da santidade de Deus e dos santos;

8- a plenitude e não a perfeição moral como escolhas emocionalmente auto-sustentadas.


A teogonia de Jung
é a projeção no macrocosmo da psiqué humana e os mitos de criação (cosmogônicos) descrevem o despertar da consciência a partir do inconsciente. Para ele, o Demiurgo é o ego ou o pequeno Si-mesmo. Nossos relacionamentos projetam nossos fracassos e inadequações interiores: é o reino da sombra, o vilão interior. Além disso, ele escolhe Sophia como a mais elevada entre as figuras de anima: Barbelo, Eva, Helena e Maria. Estas são representantes de fases anteriores do processo de autoconhecimento masculino, que é acionado quando a anima, ativada, conduz a alma para dentro do interior psíquico e produz a totalidade indispensável. Para ele, salvar o homem do mundo é um processo de desidentificação em relação ao Outro externo e ao Outro interno.Jung diz mais: mudança sem transformação é um desastre: os elementos naturais apenas mudam, mas não se transformam, por isso é necessário realizar a opus contra naturam, para que haja real transformação e diminuam as projeções, preparando o homem para encarar sua própria luz interior, quando o Self retorna a si-mesmo, dando a quintessência do que foi e do que será.

Sobre a questão do mal, Jung pronuncia-se contra a teoria platônica, retomada por Agostinho, de que o mal é a ignorância ou privação do Bem; para ele, o mal existe como pólo antinômico do Bem, atributos que se anulam no Pleroma. Isso ele afirma em seu Primeiro Sermão. Nessa questão, Jung coloca-se contra a teoria agostiniana da privatio boni, de origem platônica.Jung levanta a hipótese da inconsciência de Deus, a partir do caos da indiferenciação ao cosmos, da lei, da ordem e da diferenciação. Para ele, não existem seres irreligiosos, apenas há os que não reconhecem o nível importante do inconsciente, o poder da imaginação e a dialética de compensação que efetiva, por meio dos símbolos, os conteúdos inconscientes. Mas acrescenta ele: a necessidade não é de uma crença e sim de uma experiência religiosa que integra a alma numa totalidade. Deus é para ser vivenciado, pois só o que experimenta está vivo, o que crê está morto. Daí a importância do controle da consciência que enriquece e beneficia a alquimia e a magia do inconsciente em suas projeções.É assim que Jung dá grande importância à subida do nível de consciência, a partir do inconsciente urobórico e indiferenciado. Disso dão conta os mitos luciferinos e prometeicos, bem como os papéis de Lilith e Eva.

Na verdade, Jung acha que não somos nós que fazemos as imagens de Deus: “Elas é que se fazem”, constituindo-se a imago Dei num complexo autônomo de grande força e intensidade, arraigado na plenitude do Ser, na psiqué como um todo, cabendo apenas ao ego pessoal confiar nesse poder transcendente, que é o Deus que está na alma, como uma realidade viva, dando-nos o esplendor dos recursos suprapessoais, da criatividade e da auto-renúncia.Tais idéias conduzem diretamente à relatividade da concepção de Deus, sendo a prece apenas o prazer que se extrai da experiência divina, como doação de si-mesmo a seu Deus interior: a gnosis kardia, já mencionada. Por via de conseqüência, o mito da encarnação contínua de Deus nos seres criados e a redenção mútua do homem e de Deus, idéias que Jung retomará na década dos 50, com seu “Resposta a Jó”.No campo da moral, Jung aceita o antinomianismo dos gnósticos (não reconhecimento das leis ditadas pela moral convencional dos homens em sociedade) e propõe a ética da convicção pessoal, ditada pelo núcleo arquetípico da sabedoria interior que cada homem possui. Para ele, a meta da plenitude não deve ser confundida com os ideais da perfeição, pela via da imitação do Cristo.

Hoeller acha mesmo que a individuação pode implicar em ir-se contra os critérios estabelecidos pela sociedade, evidenciando um conflito entre a lei e a liberdade do indivíduo, único verdadeiro portador de consciência.Como Deus é uma união de opostos no Pleroma, a plenitude do Ser só ocorre no inconsciente coletivo: bem e mal, belo e feio, verdade e erro etc. Daí, a importância da integração da sombra, para compor a totalidade do indivíduo, incluindo seu lado negativo ou rejeitado no processo de individuação.

Acompanhando Hartmann e Schopenhauer, Jung concebe Deus como inconsciente, representado pelo caos e sua indiferenciação, tanto no inconsciente, como no cosmos. Resulta, então que a missão do homem é o resgate da diferenciação pela consciência, inclusive pela consciência do mal.A subida do nível de consciência, cujos mitos principais, já apontados, são os de Lúcifer e de Prometeu é a verdadeira missão do homem na terra e o papel do feminino no processo de individuação (Lilith, Eva, Pandora) é reconhecido em diversos mitos de diferentes povos.Jung segue ainda as idéias de um filósofo medieval, Joachim dei Fiori, que falava de uma Era do Pai, uma Era do Filho e uma Era do Espírito Santo. Em seu livro “Resposta a Jó”, Jung retoma essas idéias com seu mito de encarnação contínua de Deus e da redenção mútua do homem e de Deus.

Do ponto de vista religioso, aceitam os gnósticos de Alexandria, nesses primeiros séculos da Era de Peixes, a figura de Jesus - o homem perfeito - que encarna o CRISTO, o ungido, o Messias, emanação do Deus perfeito, para a redenção do Homem e da Humanidade. Jung, no entanto, criticará a unilateralidade da concepção cristã, com a ausência da sombra divina, o Leviatã. Ele fala, também, da sombra de Deus e do Cristo, ainda que não aceita oficialmente pelo cânones da Igreja. Ele se refere à figura do Anticristo, que surgiu no fim do primeiro milênio cristão, como uma enantiodromia à perfeição imaculada do Cristo. Aconselha ele que devemos temer a Deus e ensina que a idéia do anticristo é arquetípica, para completar o quatérnio: MAL X BEM; ESPÍRITO X MATÉRIA..



Salvação...........

Em suma, a salvação ou redenção do Homem não se faz pela fé, mas pelo conhecimento - GNOSE (do grego = conhecimento). Mais precisamente, pelo autoconhecimento. Coincide assim o esforço gnóstico com o processo de individuação junguiano, a partir dos seguintes pressupostos:

1) - se há um Deus supremo, transcendente; por outro lado, há um Deus imanente, em cada ser humano, que cumpre libertar e contactar, pela experiência direta do divino em nós;

2) - o caminho para isso é o da transformação da alma, cadinho onde as experiências místicas ocorrem, e onde se cumpre (ou não) o casamento alquímico do Rei e da Rainha, do divino e do humano, em nossos corações: é o Caminho da Individuação;

3) - a meta e o propósito da vida são, portanto, o atingimento desse estado de consciência, a partir da inconsciência - da agnoia - anterior, sombra que sustenta o desabrochar da consciência divina no Homem;

4) - o grande pecado da alma é a ignorância (avidya, em sânscrito) que a mantém nas trevas, afastada de sua divina origem.

5) - a possibilidade de se realizar a transmutação da alma é sustentada pelos arquétipos, elementos estruturantes da psiqué, padrões e formas dominantes que organizam o ego, complexo do nível consciente, assim como as demais partes que se confrontam na arena psíquica: a sombra - geralmente identificada pelos aspectos rejeitados, não assimilados que permanecem subliminares na inconsciência; a persona - cuja base arquetípica permite a adaptação ao mundo exterior, de relação, integrando a consciência coletiva no indivíduo etc.

6) - dos arquétipos - do pai, da mãe, do puer, da puella, do senex, do animus, da anima e outros - o principal, é o SELF (Si-mesmo), o que coordena, estrutura e corrige compensatoriamente os desvios das ações conscientes. Representa a imagem de Deus em nossa alma, o Deus interior, o Cristo imanente, objeto constante da busca gnóstica pelo conhecimento e pela devoção.

7) - por último, a relação dual entre matéria e espírito, se é resolvida por alguns gnósticos pela negação da primeira e até por sua tentativa de supressão, por outros, mantido embora o dualismo, a matéria é considerada divina, por ser o Templo que abriga o espírito e, assim, é considerada e respeitada. Alguns gnósticos chegaram ao extremo de supor que nada do que fosse materialmente feito poderia afetar o espírito, razão pela qual permitiam-se até exageros e licenciosidades, condenados pelos demais (Carpócrates).

8) - ABRAXAS é a energia psíquica, a vida criativa que confere significado a partir da ilha da consciência que emerge do inconsciente. O mergulho neste, no entanto, exige o afastamento do espetáculo feérico da vida ativa sustentada por ABRAXAS.


Por God Anubys

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Ou seja: Eu sou Deus, Eu sou gostosão, Eu sei de tudo (apesar de ser mortal e limitado). Eu sou nazista e vou matar os fracos... Eu já vi esta estória, obrigado. Deus só é conhecido se eu Ele quiser se deixar conhecer.

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  3. Não querido Ruy, este que falou foi o seu ego e não a sua essência-alma...

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