quarta-feira, 16 de março de 2011

Rumi


O conhecimento de Deus não é obtido pelo intelecto ou pelo conhecimento discursivo, mas unicamente pela iluminação divina. E o órgão essencial que faculta esta acolhida é o coração. Não o órgão de carne e sangue, mas o órgão espiritual e sutil da percepção mística. O coração é o “receptáculo cristalino e proteico capaz de refletir todas as epifanias ou atributos de Deus: a inesgotável, infinita manifestação da Divindade na morada da união.” Na gota de sangue do coração encontra-se o dom de uma jóia que Deus não destinou nem aos mares nem aos céus. O coração é o lugar onde se alçam os raios da lua e a abertura das portas (da Realidade) para o místico. O coração físico, purificado e iluminado pelo amor, deixa de ser um simples órgão de carne e sangue para transformar-se em órgão espiritual que percebe o invisível. Assim como o coração é a luz que confere brilho ao olhar, é a luz de Deus que confere brilho ao coração. A contemplação do mistério de Deus possibilitada pela dinâmica do coração exige, antes, a purificação e dilatação deste órgão. Não há como contemplar a morada do totalmente outro quando o coração está obstruído. Só depois de purificado de toda imperfeição é que este órgão passa a refletir o conteúdo profundo do mistério divino. Trata-se de um processo longo e complexo. Um passo importante para esta purificação é a busca da humildade e do desapego, o constante trabalho de retirada da ferrugem que impede ao coração refletir de forma viva o mistério que nele habita:

“Sabes por que teu espelho não reflete?
Porque a ferrugem não foi retirada de sua face.
Fosse ele purificado de toda ferrugem e mácula,
refletiria o brilho do Sol de Deus.”

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