terça-feira, 2 de abril de 2013

REVISTA THEOSOFIA- DALAI LAMA- TOLERÂNCIA




Quando eu era menino, sentia que minha religião, o Budismo, devia ser a melhor - e que de algum modo as outras eram inferiores. Agora vejo como era ingênuo e como podem ser perigosos os extremos da intolerância. 

Embora ela possa ser tão velha quanto a própria religião, ainda vemos sinais vigorosos de sua virulência. Na Europa há episódios de violência contra imigrantes muçulmanos. Ativistas radicais condenam coletivamente aqueles que se mantém fiéis a crenças religiosas. No Oriente Médio, as chamas da guerra são insufladas pelo ódio daqueles que aderem a diferentes crenças. 

O mundo está tornando cada vez mais interconectado e as culturas, os povos e as religiões se entrelaçam cada vez mais. A tensão que isso cria testa mais do que nossa tolerância - exige que promovamos a co- existência pacífica e a compreensão através das fronteiras . Admite-se que toda religião tenha um senso de exclusividade, como parte de sua identidade. Mesmo assim, existe potencial para a compreensão mútua. Equanto se preserva a fé, pode-se respeitar e apreciar outras crenças.

Algo que me abriu os olhos foi um encontro com o monge trapista Thomas Merton, Índia, em 1968. Merton disse que conseguia ser perfeitamente fiel ao Crisitianismo e aprender em profundidade o que ensinavam outras religiões, como o Budismo. Hoje, como budista, eu também aprendo o que ensinavam as outras grandes religiões do mundo. Um importante pormenor na minha discussão com Merton foi como a compaixão era a mensagem central tanto no Cristianismo quanto no Budismo. Nas leituras do Novo Testamento, descubro- me inspirado pelos atos de compaixão de Jesus. Seus ensinamentos são motivados pelo desejo de aliviar o sofrimento. Acredito firmemente no poder do contato pessoal para resolver diferenças; por isso, há muito tempo pratico o diálogo com pessoas de outras perspectivas religiosas. O foco sobre a compaixão impressionou-me como um forte fio unificador entre todas as grandes crenças. Atualmente precisamos relaçar o que nos unifica. Aprendi como o Talmude e a Bíblia repetem o tema da compaixão, como nesta passagem em Levítico: "Ama teu próximo como a ti mesmo". Na Índia, consegui ver a centralidade da compaixão também no Hinduísmo. - como está expressa , por exemplo no BHAGAVAD -GITA, que louva aquele que se delicia no Bem Estar de todos os Seres. Esse valor tem sido expresso na vida de grandes seres, como GANDHI ou o menos conhecido BABA Amte, que fundou uma colônia para leprosos próxima a um assentamento Tibetano na Índia. 

O Islâ consagra a compaixão como um profundo princípio espiritual , refletido no próprio nome de DEUS, " o compassivo e misericordioso", que aparece no início de cada capítulo do ALCORÃO. Encontrar terreno comum entre as diferentes crenças pode ajudar a dar fim a divisões desnecessárias. 

Hoje a ação unificada é mais crucial do que nunca. Devemos abraçar a unidade da humanidade à medida que enfrentamos questões globais como pandemias, crises econômicas e desastres ecológicos. Nessa escala, nossa resposta deve ser uma só. 
A harmonia entre as religiões tornou-se um ingrediente essencial para a coexistência pacífica em nosso mundo. A partir dessa perspectiva, a compreensão mútua entre essas tradições é não apenas dever dos religiosos - tem importância para o bem estar de todas as pessoas.


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