terça-feira, 26 de julho de 2011

ORAÇÃO E MEDITAÇÃO



A oração sempre foi a prática básica de todas as tradições religiosas e espirituais. Quanto à forma, Mestre Jesus pontifica que o verdadeiro aspirante deve evitar a oração mecânica, repetitiva, sem o engajamento do coração: “Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos” (Mt 6:7).

Aos seus discípulos ensinou o “Pai Nosso” como forma de expressão de devoção e compromisso de vida. Muito aproveitaria ao fiel a leitura do livro inspirado de Teresa de Ávila, Castelo Interior ou Moradas, em que essa grande mística carmelita discorre sobre os sete tipos de oração com seus respectivos níveis de realização espiritual.

A prática da meditação é apresentada na Bíblia de forma velada. Mestre Jesus, contrastando a postura daqueles que chama de hipócritas por fazerem suas orações nas sinagogas e em lugares públicos para serem vistos, exorta seus seguidores a fazerem suas orações em recolhimento. “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá, no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará” (Mt 6:6).

O que é apresentado como sendo externo, o quarto, refere-se a algo interno, o coração. Mestre Jesus nos exorta a retirarmos nossa consciência para o âmago de nosso ser, simbolizado por aquele órgão. Fechar a porta, significa fecharmos a entrada das percepções do mundo exterior para a nossa consciência, inclusive o fluxo de pensamentos. Isso eqüivale à quinta etapa da ioga de oito passos de Patanjali, o recolhimento interior (pratyahara).

Orar em segredo ao Pai significa permanecer em absoluto silêncio, sem palavras e pensamentos, no que é conhecido na tradição monástica como sendo o estado de contemplação. Com essa total aquietação da mente criamos as condições para que a pura luz da intuição possa atravessar a mente e gravar no cérebro o conhecimento superior, a maravilhosa recompensa do Pai.

Os místicos de todos os tempos praticaram a meditação contemplativa. As descrições de Teresa de Ávila são extremamente reveladoras. João da Cruz, em sua obra, A Chama Viva do Amor, descreve a transição das práticas de devoção sentimental para a intimidade com Deus. Quando a alma não mais se compraz com suas práticas devocionais tradicionais, ela passa a ansiar por algo mais. Esse é o ponto de partida para um novo relacionamento com o Pai.

A alma abandona, então, as antigas práticas e entregar-se a Deus sem demandas e em silêncio. Inicia-se um período de descanso em Deus, em que nada parece acontecer. A alma entrega-se a Deus sentindo uma profunda paz. Ainda que esse período de relativa aridez possa durar semanas, meses ou mesmo anos, se o praticante realmente se entregar a Deus, mais cedo ou mais tarde encontrará o Bem Amado, não como imaginava que Ele fosse, mas como Ele é na realidade.

A oração e a meditação devem ser praticadas diariamente, para que seus efeitos de elevação de consciência possam ocorrer.

Mas, para entrar no Reino não basta alcançarmos esporadicamente alguns instantes de elevação espiritual. O Reino foi descrito como um estado de crescente sintonia com Deus. Essa sintonia deve ser estabelecida e mantida durante todo o dia. Paulo provavelmente referia-se a isso quando disse, na linguagem de seu tempo, que devemos orar sem cessar (1 Ts 5:17).

Não devemos imaginar que Paulo, o grande ativista, estivesse exortando seus discípulos a abandonarem seus deveres para ficar orando dia e noite.

O que estava sendo recomendado era o que veio a ser conhecido mais tarde, na tradição cristã, como a prática da lembrança de Deus. Devemos procurar voltar o nosso coração, a nossa lembrança, para Deus durante todo o dia, exatamente como fazemos quando estamos apaixonados por uma pessoa.

Por isso foi dito: “Permanecei em mim como eu em vós” (Jo 15:4). O Cristo interior está sempre conosco, o que falta é nos voltarmos para Ele também. Essa sintonia é tão importante que o Divino Instrutor nos prometeu: “Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vós o tereis” (Jo 15:7).

Quando o praticante se engaja no processo de lembrança de Deus, ainda que inicialmente de forma imperfeita e com lapsos freqüentes durante o dia, ele inicia uma nova etapa no caminho.

Antes ele lutava contra seus demônios interiores sozinho. Agora terá um aliado permanente a seu lado, o próprio Senhor do universo, a luz infinita que automaticamente repele a escuridão, a onisciência divina que vence toda ignorância.

A partir de então o progresso será muito mais rápido, porque a verdade é incompatível com a falsidade do mundo, e o Amor, com o egoísmo da personalidade. Como Deus é verdade e amor, enquanto estivermos sintonizados com ele, as vibrações distorcidas do mundo material não terão lugar em nosso coração. Estaremos vivendo, então, numa vibração elevada, praticando naturalmente as virtudes divinas e avançando no Caminho da Perfeição.

Além das práticas da oração, meditação e lembrança de Deus, encontramos nos evangelhos referências a certos rituais. A tradição esotérica sustenta que Mestre Jesus usava dois tipos de rituais, aqueles realizados com a participação de um grupo de discípulos e os de caráter iniciatório, que eram conferidos individualmente na medida em que o discípulo tornava-se capacitado para aquela expansão de consciência transformadora.

Por G.A.

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