terça-feira, 20 de outubro de 2009

Osho



Livro: CORAGEM – O prazer de viver perigosamente

PREFÁCIO

Não chame de incerteza – chame de assombro.
Não chame de insegurança – chame de liberdade

Não estou aqui para dar a você um dogma –
o dogma faz com que se tenha certeza. Não estou aqui para dar a você nenhuma promessa para o futuro – nenhuma promessa para o futuro transmite segurança. Estou aqui simplesmente para deixá-lo alerta e consciente – isto é, para ficar aqui e agora, com toda a insegurança que existe na vida, com toda a incerteza que existe na vida, com todo o perigo que existe na vida.

Sei que você veio em busca de certeza, de algum doutrina, algum “ismo”, algum lugar ao qual pertencer, alguém em quem confiar. Você está aqui por causa do medo que sente.
Está procurando uma espécie de prisão bonita – de forma que possa viver sem nenhuma consciência.

Eu gostaria de fazer com que você se sentisse ainda mais inseguro, mais incerto – porque é assim que a vida é, é assim que Deus é. Quando há mais insegurança e mais perigo, o único jeito de reagir a isso é apelar para a consciência.

São duas as possibilidades. Ou você fecha os olhos e passa a ser dogmático, vira cristão, hindu, ou muçulmamo... e aí fica como se fosse um avetruz. Isso não muda a vida; é simplesmente fechar os olhos.
Simplesmente faz de você um estúpido, alguém sem inteligência. E nessa sua falta de inteligência, você se sente seguro – todo idiota se sente seguro. Na verdade, só os idiotas se sentem seguros. O homem que está verdadeiramente vivo sempre se sentirá inseguro. Que segurança pode existir?

A vida não é um processo mecânico; não pode ser predeterminada. Ela é um mistério imprevisível. Ninguém sabe o que acontecerá em seguida. Nem Deus, que você acha que mora em algum lugar no sétimo céu; nem mesmo ele – se estiver lá –, sabe o que vai acontecer!... porque, se ele sabe o que vai acontecer, então a vida é só tapeação, tudo é escrito de antemão. Como ele pode saber o que vai acontecer se o futuro está em aberto? Se Deus sabe o que vai acontecer daqui a pouco, então a vida é só um processo mecânico, morto. Então não existe liberdade, e como pode existir vida sem liberdade? Então não há possibilidade de crescer ou não crescer. Se tudo é predestinado, não existe glória nem grandeza. Você é apenas um robô.
Não, nada é seguro. Essa é minha mensagem. Nada pode ser seguro, porque uma vida segura seria pior do que a morte. Nada é certo. A vida é cheia de incertezas, cheia de surpresas – é aí que está a beleza dela! Você nunca chegará ao ponto em que poderá dizer, “Agora estou certo disso.”
Quando disser que está certo de alguma coisa, estará simplesmente declarando a própria morte; terá se suicidado.

A vida continua em marcha, com mil e uma incertezas. É aí que está a liberdade dela. Não chame a isso de insegurança.

Eu posso entender por que a mente chama a liberdade de “insegurança”... Você já ficou preso numa cela por alguns meses ou anos? Se já ficou numa cela por alguns anos, você sabe que, no dia de ser solto, o prisioneiro começa a sentir uma incerteza quanto ao futuro. Tudo era garantido na cela: tudo não passava de pura rotina. Ele tinha comida, tinha proteção, não tinha medo de ficar com fome no dia seguinte e de não haver comida – nada disso, tudo era certo. Agora, de repente, depois de muitos anos, o carcereiro vem e diza ele, “Agora você vai ser solto”. Ele começa a tremer. Fora dos muros da prisão, mais uma vez haverá incertezas; mais uma vez ele terá que buscar, procurar; mais uma vez terpa que viver em liberdade.

A liberdade dá medo. As pessoas falam sobre a liberdade, mas elas têm medo. E um homem não é homem ainda se ele tem medo da liberdade. Dou a você liberdade; não dou segurança. Dou a você entendimento; não dou conhecimento. O conhecimento lhe traz certezas. Se posso dar a você a fórmula, uma fórmula pronta, de que existe um Deus, existe um Espírito Santo e existe um filho bem-amado, Jesus; exise um inferno e um céu e existem boas ações e más ações; cometa um pecado e você irá para o inferno, pratique o que eu chamo de atos virtuosos e você irá para o céu – acabou! – então você tem certezas. É por isso que tantas pessoas optaram por ser cristãos, hindus, muçulmanos, jainistas – elas não querem liberdade, querem fórmulas fixas.

Um home estava morrendo – de repente, num acidente de estrada. Ninguém sabia que ele era judeu, então chamaram um padre, um padre católico. Ele se curvou bem próximo ao homem – e o homem estava morrendo, nos últimos estertores da morte – e disse:
- Você acredita na Trindade do Pai, do Filho e do Espírito Santoe em seu filho Jesus?
- Veja só! – respondeu o homem, abrindo os olhos – eu aqui morrendo e ele fazendo charadas!

Quando a morte bater à sua porta, todas as certezas serão simplesmente charadas e tolices. Não se apegue a nenhuma certeza. A vida é incerteza – sua própria natureza é incerta. E um homem inteligente nunca tem certeza de nada.

A própria disposição para permanecer na incerteza é coragem. A própria disposição para ficar na incerteza é confiança. A pessoa inteligente é aquela que está sempre alerta, não importa a situação –
e a enfrenta com todo o seu coração. Não que ela saiba o que vai acontecer, não que ela saiba, “Faça isso e acontecerá aquilo.” A vida não é uma ciência; não é uma cadeia de causas e efeitos. Aqueça a água a cem graus e ela evapora – isso é uma certeza. Mas na vida real, nada é certo como isso.

Cada pessoa é uma liberdade, uma liberdade desconhecida. É impossível predizer, impossível fazer conjecturas.
É preciso viver na consciência e no entendimento.

Você vem até mim em busca de conhecimento; quer fórmulas prontas para que possa se agarrar a elas. Eu não dou nenhuma. Na verdade, se você tiver alguma, eu a tiro de você! Pouco a pouco, destruo sua certeza; pouco a pouco, faço com que fique cada vez mais hesitante; pouco a pouco, deixo-o cada vez mais inseguro. Essa é a única coisa que tem de ser feita. Essa é a única coisa que um Mestre precisa fazer! – deixá-lo em total liberdade. Em total liberdade, com todas as possibilidades em aberto, com nada pré-fixado... você terá que ficar consciente – não existe outra possibilidade.

Isso é o que eu chamo de entendimento.
Se você entender isso, a insegurança passa a ser uma parte intrínseca da vida – e é bom que seja assim, porque faz da vida uma liberdade, faz da vida uma contínua surpresa. Nunca se sabe o que vai acontecer. Isso faz com que você viva em constante assombro. Não chame de incerteza – chame de assombro. Não chame de insegurança – chame de liberdade.


O QUE É CORAGEM?

De início, não existe muita diferença entre o covarde e o corajoso. A única diferença é que o covarde dá ouvidos aos seus medos e os segue, enquanto o corajoso os põe de lado e segue em frente. O corajoso enfrenta o desconhecido apesar de todos os medos.

Coragem significa enfrentar o desconhecido apesar de todos os medos.
Coragem não significa ausência de medo. A ausência de medo acontece se você passa a ser cada mais corajoso. Essa é a experiência máxima de coragem – a ausência de medo: é esse o sabor quando a coragem tornou-se absoluta. Mas, de início, não há muita diferença entre o covarde e o corajoso. A única diferença é que o covarde dá ouvidos aos seus medos e os segue, enquanto o corajoso os põe de lado e segue em frente. O corajoso enfrenta o desconhecido apesar de todos os medos. Ele conhece os medos, eles estão ali.

Quando você explora mares desconhecidos, como Colombo fez, o medo existe, um medo imenso, porque ninguém sabe o que vai acontecer. Você está deixando a praia da segurança. Você está perfeitamente bem, em certo sentido; só uma coisa está faltando – aventura. Enfrentar o desconhecido dá a você certa excitação. O coração começa a pulsar novamente; volta a se sentir vivo, totalmente vivo. Cada fibra do seu ser está vibrando porque você aceitou o desafio do desconhecido.

Aceitar o desafio do desconhecido, apesar de todo o medo, é coragem. Os medos estão ali, mas se você aceita o desafio várias vezes seguidas, devagarinho os medos desaparecem. A experiência de alegria que o desconhecido traz, o grande êxtase que começa a acontecer com o desconhecido, torna você forte o bastante, lhe dá uma certa integridade, aguça sua inteligência. Pela primeira vez, você começa a sentir que a vida não é só um tédio, mas uma aventura. Então devagar os medos desaparecem; e aí você não pára mais de ir atrás de uma aventura.

Mas, basicamente, coragem é pôr em risco o conhecido em favor do desconhecido, o familiar em favor do estranho, o confortável em favor do desconfortável – árdua peregrinação rumo a algum destino desconhecido. Nunca se sabe se você será capaz de fazer isso ou não. É um jogo arriscado, mas só os jogadores sabem o que é a vida.


O TAO DA CORAGEM

A vida não dá ouvidos à nossa lógica; ela segue à sua própria moda, imperturbável. Você tem de ouvir a vida; a vida não ouvirá a sua lógica, ela não se incomoda com ela.

Enquanto segue pela vida, o que você vê? Cai uma grande tempestade e árvores frondosas vêm abaixo. De acordo com Charles Darwin, elas deveriam sobreviver, pois são as mais qualificadas, as mais fortes, as mais poderosas. Olhem para uma árvore antiga, 90 metros de altura, 300 anos de idade. Só a presença da árvore já transmite força, um sentimento de força e poder. Milhões de raízes espalhadas dentro da terra, nas profundezas, e a árvore mantém-se firme em seu poder. Claro que a árvore luta – ela não quer sucumbir, se render – mas, depois da tempestade, ela caiu, está morta, não tem mais vida, e toda a força se foi.
A tempestade foi além da conta – as tempestades sempre são além da conta, porque a tempestade vem do todo e a árvore é a apenas um indivíduo.

Então há o mato e o capim – quando a tempestade cai, o capim cresce e a tempestade não pode causar nenhum dano a ele. No máximo pode lhe fazer uma boa limpeza, isso é tudo; toda a sujeira que se acumulara é levada. A tempestade lhe dá um bom banho e, quando se vai, o mato e o capim estão novamene dançando felizes. O capim quase não tem raízes, pode ser arrancado por uma criança pequena, mas a tempestade foi vencida. O que aconteceu?

O capim seguiu o caminho do Tao, o caminho de Lao-Tsé. E a árvore frondosa seguiu Charles Darwin. A árvore frondosa era muito lógica: tentou resistir, tentou mostrar sua força. Se você tentar mostrar sua força, será vencido. Todos os Hitlers, todos os Napoleões, todos os Alexandres são árvores frondosas, árvores fortes. Eles todos foram vencidos. Lao-Tsé é assim como o mato: ninguém pode vencê-lo porque ele está sempre pronto para se render. Como você pode vencer uma pessoa que se rende, que diz, “Já fui derrotado”, que diz, “Senhor, goze sua vitória, não há por que causar nenhum problema. Fui derrotado”. Até um Alexandre se sentiria fútil diante de um Lao-Tsé; ele não pode fazer nada.

É o seu medo que faz de você um escravo – é o seu medo. Quando você não tem medo, deixa de ser um escravo; na verdade, é o seu medo que o força a fazer os outros de escravos antes que eles possam escravizá-lo.

O homem que é destemido nem tem medo de ninguém, nem faz com que ninguém tenha medo dele. O medo desaparece totalmente.

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