terça-feira, 15 de maio de 2012

O livro da pureza



1. Lao Tsé, o sublime, disse: “O grande Tao não tem forma, mas gera o céu e a terra e os alimenta. O grande Tao não tem desejos, mas ele faz girar o sol e a lua. O grande Tao não tem nome, mas ele assegura o crescimento e a manutenção de
todas as coisas. Não conheço seu nome, mas chamo-o de Tao.

2. Tao se manifesta no puro e no impuro, no movimento e na imobilidade. O céu é puro, e a terra, impura. O masculino é puro, o feminino, impuro; o masculino é móvel, o feminino, imóvel. O que é genuinamente puro desce, ao passo que o impuro é fluido e se espalha; assim tudo foi gerado. O puro é a fonte do impuro, e o movimento, o fundamento do repouso. Se o homem permanecesse sempre
puro, calmo e silencioso, o céu e a terra retornariam ambos ao não-ser.

3. O espírito humano ama a pureza, mas o intelecto a corrompe.
A razão ama a calma e o silêncio, as cobiças os fazem cessar. Se o espírito é capaz de sempre rejeitar as cobiças, o intelecto fará de si mesmo silêncio. Se a inteligência for depurada, o próprio espírito se tornará puro; os seis desejos (os dos cinco sentidos e o da imaginação) não aparecerão, e os três defeitos
(cobiça, cólera e estupidez) se aniquilarão, desaparecendo por si mesmos.

4. Se os seres humanos não podem ter acesso à razão, é porque seu mental não é puro e seus desejos persistem. Quem consegue rejeitar suas cobiças verá que sua razão já não lhe pertence; se considerar seu corpo, verá que ele já não lhe pertence; se considerar as coisas exteriores, verá que já não se interessa por
elas. 

Se compreender esses três pontos, ele estará simplesmente vazio. Esse vazio despertará seu pensamento à contemplação do “nada”. Sem esse “nada”, não
existe vazio. Quando o pensamento do vazio desaparece, o “nada” desaparece também, e quando o pensamento do “nada” desaparece, segue-se nitidamente um estado de repouso e de silêncio contínuos. Como, nesse repouso, independentemente do lugar que ocupamos, poderia nascer um desejo sequer?

Então, quando já nenhum desejo aparece, reinam o verdadeiro silêncio e o
verdadeiro repouso. O verdadeiro silêncio é uma qualidade constante e, nessa disposição, percebemos todas as coisas no interior do ser; sim, essa verdadeira
e constante qualidade torna-nos mestre da natureza humana. E essa entrega e esse calmo silêncio proporcionam pureza e repouso contínuos. 

Quem possui a pureza perfeita chega progressivamente ao verdadeiro Tao. E, quando chegar a isso, ele será chamado mestre do Tao. Embora chamado mestre do Tao, ele não pensa ter na verdade melhorado o que quer que seja. Por proceder à transmutação de todas as coisas vivas ele é chamado de mestre.do Tao. Quem está em condição de compreender isso tem o poder de transmitir a outros o Tao sagrado”.

5. Lao Tsé disse: “Os superiores, os que sabem, não fazem esforço; as pessoas de condição inferior se esforçam com prazer. Quem possui uma grande qualidade não a mostra; quem só tem uma pequena se contenta com ela. Quem se contenta com
ela e a mostra não é contado como participante “do Tao e de suas qualidades”.

6. A razão pela qual todos os homens não recebem o verdadeiro Tao é porque seu mental está corrompido. Se seu mental está corrompido, seu espírito está perturbado. Se seu espírito está perturbado, eles se deixam atrair pelas coisas exteriores. E, neste caso, eles as buscam com avidez. Ora, essa avidez causa embaraço e tormentos, provocando a confusão do pensamento e lançando o corpo e o espírito na angústia e na aflição. A pessoa experimenta tristeza e humilhação,
ela atravessa de forma selvagem e precipitada as conseqüências dos estados de vida que levam à morte, continuamente arriscada a soçobrar no oceano da amargura e a perder o verdadeiro Tao pela eternidade.

7. O verdadeiro e eterno Tao! Os que o compreendem recebem-no por si mesmos. E os que chegam a compreender o Tao permanecem na pureza e no repouso”.

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