quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Caminho Místico



"Esse é o caminho que vem sendo trilhado por milhares de místicos ao longo dos séculos. Esses incansáveis buscadores trilharam arduamente o caminho da perfeição, recebendo em seu coração, provavelmente de forma inconsciente, os sacramentos do Mestre Jesus, à medida que progrediam no caminho espiritual. Ao analisarmos a vida dos místicos torna-se óbvio a correlação dos estágios da via mística com as iniciações e os sacramentos do Mestre Jesus.

O despertar. A primeira etapa é caracterizada pelo despertar da consciência para a Realidade Divina. Ela é abrupta e bem marcante em muitos casos, mas também pode ser gradual. Geralmente, é acompanhada de sentimentos intensos de contentamento e até mesmo de arrebatamento espiritual, que proporcionam incentivo ao indivíduo a se dedicar integralmente a “seguir a Deus.”

Purgação. Na segunda etapa, o místico torna-se consciente da disparidade entre a beleza e a pureza divina que foram experimentadas em seu interior frente à realidade do seu estado exterior, caracterizado por imperfeições, apegos, ilusões e impurezas. Inicia-se, então, a penosa etapa de purificação em que ele procura eliminar, pela disciplina e mortificação, tudo aquilo que julga ser uma barreira ou elemento impeditivo para seu progresso rumo ao ideal de união com Deus. São geralmente longos anos de esforço e sofrimento, na luta ingente contra a natureza inferior.

Iluminação. Depois do sofrimento da purgação vem a intensa felicidade da iluminação, ou comunhão com Deus. Tendo se libertado em grau considerável das ‘coisas do mundo,’ a custo de muito suor e lágrimas, o místico pode agora colher os frutos da realidade espiritual que em nada se parecem com a gratificação dos sentidos. Ocorrem visões da Unidade, da Luz Divina, percepções intuitivas da natureza humana e da realidade das coisas, vozes angélicas e celestiais que o instruem, arrebatamentos e viagens fora do corpo. O místico entra numa nova dimensão e passa a contribuir de forma mais capaz e dedicada às necessidades dos que o cercam.

A noite escura da alma. Prossegue a alternância entre luz e sombra das três primeiras etapas. Depois de ter metaforicamente visto o Sol, o místico agora penetra nas profundezas das trevas. Tendo se deleitado com a experiência da presença de Deus, agora ele sofre com a ausência divina. Ele enfrenta a mais terrível de todas as experiências do caminho místico, descrita por João da Cruz como a noite escura da alma e, por outros, como a ‘dor mística,’ a ‘morte mística,’ a ‘purificação do Espírito.’ É uma verdadeira ‘crucificação espiritual’ a que o buscador deve submeter-se para alcançar a glorificação subseqüente da ascensão às alturas da união com Deus. Enquanto estava na etapa da purgação, o místico buscava extirpar o interesse pelas coisas do mundo e pela gratificação dos sentidos, agora ele deve estender o processo de purificação ao âmago de sua natureza inferior, eliminar o sentido de ser um ‘eu separado.’ Somente quando a personalidade entrega-se inteiramente a Deus, com fé inquebrantável, apesar de sofrer com o que lhe parece ser o abandono da Divina Presença, quando não mais espera nada para o eu pessoal, cortam-se os últimos laços com a consciência egoísta, capacitando a alma a unir-se com o Supremo Bem.

A União. A bem-aventurança experimentada nesse estágio é inteiramente diferente de qualquer experiência de felicidade até então, pois agora o místico não experimenta algo fora de si como um observador ou mesmo como participante, como acontece na etapa da Iluminação. Nessa etapa ele une-se a Deus e tem a experiência absolutamente indescritível de ser divino. Essa é a meta final do caminho místico e da vida espiritual.

É geralmente alcançada em estado de profunda contemplação, quando cessam todas as imagens do mundo das formas e dos conceitos, e o místico identifica-se com o Vazio, o estado contemplativo sem formas e conceitos, que é simultaneamente a plenitude da Vida e do Ser.

A rica tradição esotérica cristã sempre esteve voltada para a transformação do homem velho num homem novo. O objetivo dessa tradição não é formar meros devotos, ou cristãos tradicionais, mas sim verdadeiros Cristos, nascidos na gruta do coração, sendo batizados, transfigurados, mortos e sepultados, ressurgindo dos mortos e, finalmente, ascendendo em glória aos céus, para permanecerem à direita do Pai.

Essa é a via mística, trilhada por tantos milhares de buscadores sinceros ao longo dos séculos. Nela todos os ensinamentos e passagens da vida do Cristo retratam a vida de sua própria alma."

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