domingo, 31 de outubro de 2010

O Valor da Tradição



Por: Gary L. Stewart

Em que o Rosacrucianismo contribuiu para a sociedade e subseqüentemente para a humanidade? Em que o Rosacrucianismo está contribuindo agora?

Perguntas como estas são freqüentemente feitas tanto por membros como por não membros de nossa Ordem que estão seriamente tentando estimar o valor de nossa organização no mundo de hoje. Mas antes que possamos adequadamente responder tais perguntas, devemos compreender a perspectiva a partir da qual elas são feitas. Isto é, devemos compreender as razões para tais perguntas.

Bastante freqüentemente tais perguntas estão baseadas em uma preocupação material. Em outras palavras, espera-se que resposta buscada inclua informação relativa à evidência tangível do estabelecimento de nossa organização da mesma maneira que as empresas freqüentemente estabelecem filiais que produzirão bens e empregos para uma dada sociedade.

É aparente, contudo, que a natureza do Rosacrucianismo é tal que não podemos sempre dar o mesmo tipo de resposta que uma empresa pode dar. Devemos compreender que nossa Ordem é uma organização cultural, educacional e mística dedicada ao progresso da humanidade através da iluminação do indivíduo.

Portanto, nossas respostas a tais perguntas aparentemente simples em muito ultrapassam a simplicidade de sua natureza, porque nossas respostas devem necessariamente derivar de nosso mais elevado idealismo, de nosso misticismo, e da essência que ele representa. Além disso, tais respostas devem necessariamente estar ancoradas no compromisso, dedicação e sinceridade de nossos membros de acordo com sua compreensão dos ideais de nossos ensinamentos.

Talvez a melhor maneira de compreender a verdadeira essência de nossas contribuições seja compreender nossa tradição. Somos uma Ordem tradicional. À primeira vista, a importância desta afirmação pode ser negligenciada por algumas pessoas, pois o valor da tradição é freqüentemente mal-compreendido.

Não obstante, ela possui um profundo significado místico e filosófico. O problema em compreender a importância de tal afirmação poderia se encontrar na crença de que a tradição é antiquada, limitadora e restritiva ao crescimento criativo em que se considera que ela é conducente à criação de crenças dogmáticas.

Isto pode bem ser verdade de qualquer tradição se ela se tornar estagnada em seu modo de operação. Contudo, o verdadeiro propósito e intento de qualquer tradição é perpetuar e preservar uma herança cultural e sua sabedoria inerente através das eras, de forma a torná-la disponível para todas as pessoas.

A partir desta afirmação, podemos prontamente ver que a tradição não é algo em si, mas deve necessariamente estar relacionada a uma fonte de um intento mais profundo. A tradição, então, torna-se uma condição que não é nem restritiva nem criativa, mas antes, um instrumento ou um meio que assume o atributo da neutralidade.

Em outras palavras, ela se tornará somente o que representa. A tradição muitíssimo adequadamente representa uma herança cultural. A cultura, em si, não pode nunca ser restritiva ou dogmática, uma vez que a herança cultural é a base e a força de qualquer sociedade em particular.

Em outras palavras, qualquer sociedade que exista hoje, e mesmo a humanidade em geral, está construída sobre fundações assentadas no passado. Se tais fundações são ou não consideradas limitadoras ou criativas dependerá de como tais fundações são compreendidas ou interpretadas pelo indivíduo.

Quais são, então, os atributos da cultura? A cultura representa as crenças e os esforços das pessoas que constituem uma sociedade. Inerentes a estas crenças são encontradas uma filosofia, uma arte, uma música e uma sabedoria arcana que são tradicionalmente passadas de uma geração para a próxima e por meio disto preservadas como uma fonte ou uma base para aquela sociedade específica.

Podemos também observar o aparecimento de qualidades degenerativas que assumem um aspecto negativo. Mas se ficarmos fora daquela sociedade e observarmos como ela progride, constataremos um fator crucial, a saber: que todos os aspectos de qualidades generativas e degenerativas são essenciais na produção de mudanças e de adaptação a novas situações para cada geração sucessiva.

Se olharmos para estas qualidades “negativas” a partir desta perspectiva, e as vermos como sendo às vezes elementos necessários para iniciar uma mudança e um crescimento, podemos alterar nossa perspectiva de uma perspectiva que seja negativa, para uma que seja positiva. Com uma perspectiva positiva, torna-se mais fácil reconhecermos um elemento distintivo que permeia e sobrevive a todas as mudanças e que identifica uma sociedade específica. Esse elemento é o que chamamos de costume ou tradição.

Se nos tornarmos ainda mais objetivos em nossa avaliação e observarmos não uma sociedade, mas todas as sociedades ou a humanidade como um todo, poderemos nos surpreender com o que descobriremos. Descobriremos um denominador comum unificador que une toda a humanidade — e uma vez mais, a cultura e a tradição. Diferentes culturas e tradições modificaram, adaptaram, alteraram e infundiram todas as sociedades.

Em casos extremos, quando uma sociedade e uma cultura específicas foram conquistadas por uma outra, logo torna-se evidente que a cultura nativa também altera e modifica a nova cultura — talvez muito lenta e sutilmente, mas não obstante ela a altera.

Como resultado, com o correr do tempo, cada sociedade sucessiva cresceu e evoluiu porque a verdadeira essência, a sabedoria, a verdadeira base de toda humanidade a tudo permeia e permanece criativa em potencial. Este elemento criativo nunca pode realmente ser destruído. É a partir desta condição favorável que podemos perceber o verdadeiro valor criativo da tradição. As verdadeiras tradições não são ações, elas são a essência que une todas as pessoas embora sejam expressas de muitas diferentes maneiras.

Em que então o Rosacrucianismo tem contribuído para a sociedade? Se percebermos que nossa tradição está baseada na tolerância, na compreensão, na instrução e na elevação de toda humanidade, perceberemos que nossa tradição é o potencial criativo unificador que é a essência de toda tradição e de todas as culturas. Isto é, nossa tradição perpetua a própria essência do potencial cósmico e humano que é conhecido como sabedoria arcana.

Reconhecemos o cordel comum que une toda a humanidade em uma unidade — um fator que foi percebido por nossos fundadores tradicionais milhares de anos atrás e que ainda hoje é preservado em nossa filosofia mística, rituais e atitude. De fato, não seríamos Rosa-Cruzes se não fosse pela preservação de nossa tradição. Pela percepção de que todas as culturas e sociedades possuem as mesmas bases, buscamos então preservar e perpetuar aqueles aspectos dos costumes que representam os mais elevados ideais da Verdade e do aperfeiçoamento de todos.

Fazemos isto não suplantando uma dada cultura por outra, mas encorajando seu crescimento e seu desenvolvimento a partir de dentro por meio de nossos membros em cada sociedade, que são ensinados a expressar a verdade e a compreensão ao máximo de sua habilidade e a trabalhar com a estrutura de cada sociedade. Encorajamos uma preservação e um crescimento da sociedade exemplificando o elo comum, a irmandade comum.

O Rosacrucianismo existe na maioria das sociedades e das culturas do mundo. Nossos ensinamentos descrevem as leis e os princípios fundamentais da essência que a tudo permeia que chamamos de Cósmico, e são planejados para auxiliar nossos estudantes em sua descoberta da verdade. Não forçamos as pessoas a acreditar ou lhes dizemos em que acreditar, mas, antes, as encorajamos a desenvolver suas próprias crenças.

O que nossa Ordem contribui para a sociedade é relativo a como nossos membros reagem aos nossos ensinamentos. Em algumas sociedades, encontraremos o estabelecimento de museus e de centros culturais que são para o benefício de todas as pessoas. Encontraremos nossa Ordem auxiliando qualquer pessoa que esteja em necessidade. Mas, mais importante, nossa Ordem contribui para a cultura, para a educação e com serviço para toda a humanidade.


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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Confessio Fraternitatis R+C 1615



E por isto, o mortais, que devemos declarar aqui:
Deus decidiu devolver ao mundo, que desaparecerá pouco depois, a verdade, a luz e a dignidade, as quais Ele ordenou deixarem o paraiso com Adão, a fim de suavizar a miséria hurnana.

E por isto que agora é necessario que abandonem todo
o erro, toda a treva e toda a servidão que se apoderaram,
progressivamente, das ciências, das obras e dos governos
dos humanos, no curso progressivo da revolucão
do grande globo, de maneira que a maioria dos homens se
obscureceu.

Dai nasceu uma infinita diversidade de opiniôes, alterações e erros que tornam a escolha difícil, mesmo aos
homens sábios, que o renome dos filósofos de um lado e a
verdade da sua experiência, de outro, mergulham na confusão.

Ouando, como temos a certeza, todas essas coisas
tiverem desaparecido, teremos, em seu lugar, uma linha
de conduta que permanecera sempre a mesma. Ainda que
ela se realize, graças aos obreiros, a grande obra e devida,
em toda a sua amplitude, ao instante específico da nossa
época bendita; e embora reconheçamos que muitos espíritos eminentes têm contribuido, com sua reflexão, para a futura reforma, não nos apropriamos, absolutamente, da glória daquilo que tal tarefa incumbe, unicamente, a nós, mas testemunhamos, pelo espírito de Cristo, nosso Salvador, que as pedras se apresentariam, se ao Seu divino plano faltassem executores.

Mistérios do Cristianismo



Tendo visto que as religiões do passado reivindicaram uníssonas ter um lado oculto, ser custódias de "Mistérios", e que esta reivindicação foi endossada pela busca de Iniciação pelos homens mais eminentes, devemos agora averiguar se o Cristianismo fica fora deste círculo de religiões, sozinho sem uma Gnose, oferecendo ao mundo uma fé simples e não um conhecimento profundo. Se for assim, seria em verdade um fato triste e lamentável, provando ser o Cristianismo apenas destinado a uma só classe, e não a todos os tipos de seres humanos. Mas que isto não é assim, seremos capazes de provar além da possibilidade de dúvida racional.

E esta prova é a coisa que a Cristandade mais urgentemente necessita nestes tempos, pois até a própria flor da Cristandade está perecendo por falta de conhecimento. Se o ensino esotérico puder ser restabelecido e angariar estudantes pacientes e dedicados, não demorará muito para que o lado oculto também seja restaurado.

Discípulos dos Mistérios Menores se tornarão candidatos aos Maiores, e com a obtenção do conhecimento voltará também a autoridade do ensinamento. E de fato a necessidade é grande. Pois, olhando para o mundo em volta de nós, descobrimos que o Cristianismo está sofrendo da mesma dificuldade que teoricamente nós deveríamos esperar encontrar.

O Cristianismo, tendo perdido seu ensino místico e esotérico, está perdendo terreno entre grande número das pessoas mais altamente educadas, e a revivescência parcial durante os últimos anos é coincidente com a reintrodução de alguns ensinamentos místicos. É patente para todo estudante nos últimos 40 anos do século passado (o século XIX), que multidões de pessoas inteligentes, sensíveis e de alta moralidade tenham se desviado para fora das igrejas, porque os ensinamentos que recebiam lá ultrajavam sua inteligência e chocavam seu senso moral e interior.

É inútil pretender que o agnosticismo disseminado deste período tenha suas raízes seja na falta de moralidade ou na deliberada perversidade de mente. Qualquer um que estudar com cuidado o fenômeno logo admitirá que homens sinceros na busca foram levados para fora do Cristianismo pela crueza das idéias religiosas apresentadas, as contradições nos ensinamentos das autoridades, nas concepções sobre Deus, o homem e o universo, que nenhuma inteligência treinada poderia chegar a admitir.

Nem pode ser dito que qualquer tipo de degradação moral esteja na raiz da revolta contra os dogmas da Igreja. Os rebeldes não eram ruins demais para a sua religião. Ao contrário, foi a religião que ficou ruim demais para eles.

A rebelião contra o Cristianismo popular foi devida ao despertar e crescimento da consciência; foi a consciência que se revoltou, assim como a inteligência, contra ensinamentos desonrosos tanto para Deus quanto para o homem. A razão para esta revolta jaz no gradual rebaixamento do ensinamento Cristão para uma alegada simplicidade, para que o mais ignorante pudesse ser capaz de compreendê-lo.

Os religiosos assertaram sonoramente que nada deveria ser pregado exceto aquilo que pudesse ser compreendido, que a glória do Evangelho está em sua simplicidade, e que a criança e o inculto deveriam ser capazes de entendê-lo e aplicá-lo à vida.

Bastante verdadeiro, se com isto se quisesse dizer que existem algumas verdades religiosas que todos podem entender, e que a religião falha se deixa o mais inferior, o mais ignorante, o mais estúpido, de fora de sua influência elevadora.

Mas falso, completamente falso, se com isso se quiser dizer que o Cristianismo não tem verdades que o ignorante não possa compreender, que é uma coisa tão pobre e limitado a ponto de não ter nada para ensinar que esteja acima do pensamento do não inteligente ou acima do nível moral do degradado. Falso, fatalmente falso, se este for seu sentido; pois à medida que esta visão se espalha, ocupando os púlpitos e sendo proclamada nas igrejas, muitos homens e mulheres nobres, cujos corações quase se partem quando rompem sua ligação que os une à sua antiga fé, saem das igrejas, e deixam seus lugares ser preenchidos pelos hipócrita e pelo ignorante.

Eles ou passam para um estado de agnosticismo passivo, ou se são jovens e entusiastas para uma condição de agressão ativa, não acreditando que aquilo que poderia ser a coisa mais elevada ultraje tanto o intelecto como a consciência, e preferem a honestidade de uma descrença aberta ao embotamento do intelecto e da consciência sob imposição de uma autoridade em quem não reconhecem nada que seja divino.

Neste estudo do pensamento de nosso tempo vemos que a questão de um ensinamento oculto em conexão com o Cristianismo se torna de importância vital. O Cristianismo há de sobreviver como caminho do Ocidente? Viverá através dos séculos futuros, e continuará a ter uma parte na formação do pensamento das raças ocidentais em evolução? Se há de viver, deve recuperar o conhecimento que perdeu, e ter de novo seus místicos e seus ensinamentos ocultos; deve mais uma vez colocar-se como uma autoridade ensinando as verdades espirituais, revestido da única autoridade que vale alguma coisa, a autoridade do conhecimento.

Se estes ensinamentos forem recuperados, sua influência logo será vista nas novas e mais amplas concepções da verdade. Em primeiro lugar, o Cristianismo reaparecerá no "Lugar Santo", no Templo, de modo que todos que sejam capazes de receber suas linhas de pensamento divulgado em público; e em segundo lugar, o Cristianismo Oculto descerá outra vez ao Ádito, residindo detrás do véu que guarda o "Santo dos Santos", para dentro do qual só os Iniciados podem passar.

Então novamente o ensinamento oculto estará ao alcance daqueles que se qualificarem para recebê-lo, de acordo com as antigas regras, aqueles que desejam nos dias de hoje enfrentar as antigas exigências, feitas a todos os que hão de alegrar-se em conhecer a realidade e a verdade das coisas espirituais.

Mais uma vez voltemos nossos olhos para a história, para vermos se o Cristianismo foi único entre as religiões em não possuir nenhum conhecimento interno? Ou se assemelhou-se a todas as outras possuindo este tesouro oculto. Este problema é uma questão de evidência, não de teoria, e deve ser decidido pela autoridade dos documentos existentes e não pelo mero "assim se diz" dos Cristãos modernos.

É fato que tanto o Novo Testamento e os escritos da Igreja Primitiva fazem as mesmas declarações sobre a posse de tais ensinamentos pela Igreja, e sabemos a partir deles do fato da existência dos Mistérios chamados Mistérios de Jesus, ou Mistério do Reino, das condições impostas aos candidatos, algo da natureza geral dos ensinamentos dados, e outros detalhes.

Teria na verdade sido estranho se fosse diferente, quando consideramos as linhas do pensamento religioso que influenciaram o Cristianismo primitivo. Aliado aos hebreus, os persas, os gregos, tinto pelos antigos credos da Índia, profundamente colorido pelo pensamento sírio e egípcio, este último ramo do grande tronco religioso não poderia fazer outra coisa senão reafirmar as antigas tradições, colocando ao alcance das raças ocidentais todo o tesouro das tradições antigas. "A fé antigamente confiada aos Santos" teria na verdade sido esvaziada deste valor principal se, quando transmitida para o Ocidente, a pérola do ensinamento esotérico tivesse sido escamoteada.

A primeira evidência a ser examinada é a do Novo Testamento. Para nossos propósitos podemos colocar de lado todas as enfadonhas questões das diferentes redações e dos diferentes autores, que só podem ser julgadas por eruditos.

A erudição crítica tem muito a dizer sobre a idade dos manuscritos, sobre a autenticidade dos documentos, e assim por diante. Podemos aceitar as Escrituras canônicas como demonstração do que era acreditado na Igreja romana a respeito do ensino de Cristo e de Seus seguidores imediatos, e ver o que elas dizem sobre a existência de um ensinamento secreto transmitido somente a uns poucos.

Tendo visto as palavras postas na boca do próprio Jesus, e consideradas pela Igreja como de suprema autoridade, olharemos para os escritos do grande apóstolo Paulo; então consideraremos as declarações feitas por aqueles que herdaram a tradição apostólica e guiaram a Igreja durante os primeiros séculos. Ao longo desta ininterrupta linha de tradição e testemunho escrito pode ser estabelecida a proposição de que o Cristianismo tinha um lado oculto.

Veremos ainda que os Mistérios Menores de interpretação mística podem ser acompanhados através dos séculos até o início do século XIX, e que embora já não houvesse Escolas de Misticismo reconhecidas como preparatórias para a iniciação depois do desaparecimento dos Mistérios, ainda assim grandes Místicos, de tempos em tempos, alcançaram os degraus inferiores do êxtase por seus próprios esforços contínuos.

As palavras do próprio Mestre são claras e definidas, e foram, como veremos, citadas por Orígenes como referentes ao ensinamento secreto preservado na Igreja. "E quando estava sozinho, aqueles que estavam com Ele, os doze, faziam-Lhe perguntas sobre as parábolas. E Ele lhes disse: 'A vós é dado conhecer o mistério do Reino de Deus, mas a eles que estão de fora, todas estas coisas são dadas em parábolas' ". E mais adiante:

"Com muitas parábolas semelhantes Ele pregava a palavra à multidão, pois só assim podiam ouvir. Mas sem parábolas Ele não lhes falava; e quando eles estavam sozinhos Ele explicava todas as coisas aos Seus discípulos" (Marcos, IV, 10, 11, 33, 34. Vide também Mateus, XIII, 11, 34, 36, e Lucas, VIII, 10).

Percebam as significativas palavras "quando estavam sozinhos", e a frase "aqueles que estão de fora". Também na versão de Mateus:

"Jesus despediu a multidão, e entrou na casa; e Seus discípulos foram com Ele". Estes ensinamentos dados "na casa", os significados mais recônditos de suas instruções, considera-se que eram transmitidos de instrutor a instrutor. O Evangelho dá, note-se, as explicações místicas alegóricas, aquilo que chamamos Os Mistérios Menores, mas o significado mais profundo diz-se ter sido dado somente aos iniciados.

Novamente, Mestre Jesus diz até mesmo aos Seus apóstolos:

"Eu ainda tenho muitas coisas para vos dizer, mas ainda não sois capazes de as receber" (João, XVI, 12).

Algumas delas provavelmente foram ditas depois de Sua morte, quando Ele foi visto pelos discípulos "falando das coisas pertencentes ao Reino de Deus" (Atos, 1, 3).

Nenhuma delas foi registrada publicamente, mas quem pode acreditar que foram deixadas de lado ou esquecidas, e não preservadas como algo inestimável?

Havia uma tradição na igreja que Ele visitou Seus apóstolos durante um considerável período após sua morte, para dar-lhes instrução um fato a que faremos menção mais tarde e no famoso tratado Gnóstico Pistis Sophia, lemos: "chegou-se a dizer que, depois de ressuscitar dos mortos, Jesus passou onze anos falando com Seus discípulos e instruindo-os" (loc. cit., trad. G.R.S. Mead, I, I, 1).

Então vem a frase, que muitos gostam de amenizar e explicar evasivamente:

"Não deis o que é santo aos cães, nem lanceis vossas pérolas ao porcos" (Mateus, VII, 6)

Um preceito que é de aplicação geral, na verdade, mas foi considerado pela Igreja Primitiva referir-se aos ensinamentos secretos. Deveria ser lembrado que as palavras não tinham a mesma dureza naqueles dias como têm agora, pois a palavra "cães" significando o vulgo, o profano era aplicada por aqueles de um determinado círculo a todos os que eram de fora de seu grupo, seja por uma sociedade ou associação, ou por uma nação como pelos Judeus a respeito dos Gentios .

"Não é lícito tirar o pão das crianças e jogá-lo para os cães" - Marcos, VII, 27).

Algumas vezes era usada para designar aqueles que estavam fora do círculo dos Iniciados, e a encontramos aplicada neste sentido na Igreja; aqueles que, não tendo sido iniciados nos Mistérios, eram considerados como fora do "Reino de Deus", ou da "Israel espiritual", e tinham este nome aplicado a eles.

Havia diversos nomes, além do termo "O Mistério", ou "Os Mistérios", usados para designar o círculo sagrado de Iniciados ou ligados à Iniciação: "O Reino". "O Reino de Deus", O Reino dos Céus", A Vereda Estreita", "A Porta Estreita", "O Perfeito", "O Salvo", "Vida Eterna", "Vida", "O Segundo Nascimento", "O Pequenino", "A Criancinha".
O significado é tornado claro pelo uso destas palavras nos primeiros escritos Cristãos, e em alguns casos fora do círculo Cristão.

Assim, o termo "O Perfeito" era usado pelos Essênios, que tinham três graus em suas comunidades: os Neófitos, os Irmãos, e os Perfeitos, sendo estes os Iniciados; e é empregado geralmente neste sentido nos antigos escritos. "A Criancinha" era o nome comum para um candidato recém iniciado, isto é, aquele que recém teve seu "segundo nascimento".

Quando passamos a conhecer este uso, muitas passagens de outro modo obscuras e rudes se tornam inteligíveis.

"Então um disse-lhe: Senhor, serão poucos os salvos? E Ele respondeu-lhes:
Esforçai-vos para entrar pela porta estreita; pois digo-vos, muitos procurarão entrar e não serão capazes" (Lucas, XIII, 23, 24).

Se isto for aplicado, do modo Protestante usual, à salvação do fogo eterno do inferno, a afirmação se torna incrível, chocante. Não se pode supor que nenhum Salvador do mundo possa afirmar que muitos procurarão evitar o inferno e entrar no céu, mas não serão capazes de fazê-lo.

Mas se aplicado à estreita porta de entrada na Iniciação e sua conseqüente salvação do renascimento, é perfeitamente verdadeiro e natural. E novamente:

"Entrai pela porta estreita; pois larga é a porta e amplo é o caminho que conduz à destruição, e muitos serão os que andarão neles; porque estreita é a porta e apertado é o caminho que conduz à vida; e poucos o encontrarão" (Mateus, VII, 13, 14).

A advertência que se segue imediatamente contra os falsos profetas, os mestres dos Mistérios tenebrosos, é muito própria em relação a aquilo. Nenhum estudante pode esquecer o som familiar destas palavras usadas no mesmo sentido em outras passagens.

A "antiga vereda estreita" é familiar a todos; a senda "tão difícil de trilhar como se fosse o fio de uma navalha" (Kathopanishad, II, IV, 10, 11) já mencionado; a perambulação "de morte em morte" daqueles que seguem o florido caminho dos desejos, daqueles que não conhecem Deus; pois só se tornam imortais e escapam da bocarra da morte, da repetida destruição, aqueles homens que eliminaram todos os desejos (Brhadâranyakopanishad, IV, IV, 7).

A alusão á morte, é claro, é feita aos repetidos nascimentos da alma na existência material grosseira, considerada sempre como "morte" quando comparada à "vida" dos mundos mais elevados e sutis.

Esta "Porta Estreita" era o portal da Iniciação, através dele o candidato entrava no "Reino". E sempre foi e deve ser verdadeiro que somente uns poucos podem passar por aquele portal, embora miríades uma excepcionalmente "grande multidão, que ninguém poderia contar" (Apocalipse, VII, 9), e não uns poucos adentrem a felicidade do mundo celeste.

Assim também falou um outro grande Instrutor, há quase três mil anos atrás: "Dentre milhares de homens talvez só um se esforce pela perfeição; dentre os milhares que a obtém talvez só um Me conheça em essência" (Bhagavad Gita, VII, 3).

Pois são poucos os Iniciados em cada geração, são a flor da humanidade; mas nenhuma frase terrível de condenação eterna é pronunciada nesta declaração sobre a vasta maioria da raça humana. Como Proclo ensinou (vide ante, p. 23), os salvos são os que escapam do ciclo da geração, ao qual está atada a humanidade.

Em conexão a isto podemos lembrar da história do jovem que veio a Jesus, e chamando-lhe de "Bom Mestre", perguntou como ele poderia obter a vida eterna a bem reconhecida liberação dos renascimentos através do conhecimento de Deus (deve ser lembrado que os Judeus acreditavam que todas as almas imperfeitas voltavam para viver novamente na Terra).

Sua primeira resposta foi o preceito exotérico usual: "Observa os mandamentos". Mas quando o jovem respondeu: "Todas estas coisas eu tenho observado desde minha juventude", então, para aquela consciência livre de toda a transgressão, veio a resposta do verdadeiro Mestre:


"Se queres ser perfeito, vai e vende tudo o que tens, e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus, depois vem e segue-me". "Se queres ser perfeito", ser um membro do reino, devem ser abraçadas a pobreza e a obediência. E então para os seus próprios discípulos Mestre Jesus explica que dificilmente um homem rico pode entrar no Reino dos Céus, sendo tal entrada mais difícil que um camelo passar pelo buraco de uma agulha; pelos homens esta entrada não poderia ocorrer, por Deus todas as coisas são possíveis (Mateus, XIX, 16-26).

Somente Deus no homem pode ultrapassar aquela barreira. Este texto tem sido explicado de várias maneiras, sendo obviamente impossível conseguí-lo tomando seu significado superficial, que um homem rico não pode entrar em um estado de felicidade pós-morte.
Neste estado entram tanto o rico como o pobre, e as práticas universais dos Cristãos mostram que eles nem por um momento acreditam que a riqueza impeça sua felicidade após a morte. Mas se o significado real de "Reino dos Céus" for aplicado, temos a expressão de um fato simples e direto.

Pois aquele conhecimento de Deus que é Vida Eterna (João, XVII, 3) não pode ser obtido até que tudo o que for terreno seja abandonado, não pode ser aprendido até que tudo tenha sido sacrificado. O homem deve desistir não só da riqueza terrena, que daí em diante pode passa por suas mãos só para administrá-la, mas ele deve desistir também de sua riqueza interna, até onde ele a guardar como sua contra o mundo; antes que ele seja desnudado não poderá passar pela porta estreita. Este tem sido sempre um requisito para a Iniciação, e o voto do candidato tem sido sempre "pobreza, obediência, castidade".

O "segundo nascimento" é um outro termo bem conhecido para Iniciação; mesmo hoje na Índia as castas mais elevadas são chamadas "duas vezes nascidas", e a cerimônia que os torna duas vezes nascidos é uma cerimônia de Iniciação na verdade mera simulação, nos dias de hoje, mas segue "o padrão das coisas que está no céu" (Hebreus, IX, 23).

Quando Mestre Jesus está se dirigindo a Nicodemos, Ele fala que "a não ser que um homem nasça duas vezes, não pode ver o Reino de Deus", e este nascimento é dito como sendo aquele "da água do Espírito" (João, III, 3, 5); esta é a primeira Iniciação; uma ulterior é a "do Espirito Santo e do fogo" (Mateus, III, 11), o batismo do Iniciado em sua maturidade, assim como a primeira é a do nascimento, que o recebe como "uma Criancinha" que entra no Reino (ibid., XVIII, 3).

Quão totalmente familiares eram estas imagens entre os místicos dos Judeus é indicado pela surpresa demonstrada por Jesus quando Nicodemos se embaraçava com Sua fraseologia mística:

"Tu és um mestre de Israel e não conheces estas coisas?" (João, III, 10).

Um outro preceito do Mestre Jesus que permanece como "um ditado rude" para seus seguidores é:

"Sêde perfeitos, assim como vosso Pai no céu é perfeito" (Mateus, V, 48).

O Cristão comum sabe que possivelmente não conseguirá obedecer a este mandamento; cheio como está com as fragilidades e fraquezas humanas, como poderá ser perfeito como Deus é perfeito? Vendo a impossibilidade da meta posta diante dele, ele discretamente a põe de lado, e não pensa mais nisso. Mas vista como o esforço coroador, como o triunfo do Deus interno sobre a natureza inferior, a meta parece então dentro do alcance, e lembramos as palavras de Porfírio, sobre como o homem que atinge as "virtudes paradigmáticas é o Pai dos Deuses" e que nos Mistérios aquelas virtudes são adquiridas.

Paulo segue nas pegadas de seu Mestre, e fala exatamente do mesmo sentido, mas com uma explicitude e clareza maiores, como poderia ser esperado a partir de seu trabalho organizador na Igreja. O estudante deveria ler com atenção os capítulos II e III, e o versículo 1 do capítulo V da Primeira Epístola aos Coríntios, lembrando, à medida que lê, que as palavras são endereçadas aos membros batizados e comungantes da Igreja, membros plenos no sentido moderno, embora, descritos como bebês e carnais pelo Apóstolo.

Eles não eram catecúmenos ou neófitos, mas homens e mulheres que estava em plena posse de todos os privilégios e responsabilidades como membros da Igreja, reconhecidos pelo Apóstolo como estando apartados do mundo, e dos quais não esperava que se portassem como homens do mundo. Eles estavam, de fato, de posse de tudo o que a Igreja moderna dá aos seus membros. Resumamos as palavras do Apóstolo:

"Eu venho a vós trazendo o testemunho divino, e não vos enganando com sabedoria humana, mas venho com o poder do Espírito".

Em verdade 'falamos sabedoria entre os que são perfeitos, mas não é sabedoria humana'. Falamos da sabedoria de Deus em mistério, mesmo a sabedoria oculta, que Deus ordenou antes que o mundo existisse, a qual nem os príncipes deste mundo conhecem. As coisas daquela sabedoria estão além do entendimento dos homens, 'mas Deus as revela a eles por Seu Espírito... as coisas íntimas de Deus', 'ensinadas pelo Espírito Santo'
(Note-se como isto se alinha com a promessa do Mestre Jesus em João, XVI, 12-14:

"Eu tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas ainda não as podeis suportar. Porém quando Ele, o Espírito da Verdade, vier, Ele vos guiará em toda a verdade... Ele vos mostrará as coisas do porvir... Ele as receberá de mim e as mostrará a vós".

Estas são coisas espirituais, a serem discernidas somente pelos homens espirituais, em quem está a mente de Cristo. 'E Eu, irmãos, não vos poderia falar como falo aos espirituais, mas falo como aos carnais até mesmo para os bebês em Cristo... Eles não eram capazes de o suportar, como vós não o suportaríeis ainda. Pois sois ainda carnais'. Como um mestre-construtor [um outro termo técnico nos Mistérios] Eu deixei as fundações' e 'vós sois o Templo de Deus, e o Espírito de Deus habita em vós'. 'Que um homem nos considere assim, como ministros de Cristo, e guardiães dos Mistérios de Deus' ".

Alguém pode ler esta passagem e tudo o que foi dito no resumo é para enfatizar os pontos importantes sem reconhecer o fato de que o Apóstolo possuía uma sabedoria divina dada nos Mistérios, que seus seguidores coríntios ainda não eram capazes de receber? E notem a recorrência de termos técnicos: a "sabedoria", a "sabedoria de Deus em mistério", a "sabedoria oculta", conhecida somente pelos homens "espirituais", falada somente entre os "perfeitos", sabedoria da qual eram excluídos os não-"espirituais", os "bebês em Cristo", e só conhecida dos "mestres construtores", os "guardiães dos Mistérios de Deus".

Repetidas vezes ele se refere a estes Mistérios. Escrevendo aos Cristãos de Éfeso ele diz que "pela revelação", pelo desvelamento, tinha sido feito "sabedor dos Mistérios", e daí seu "conhecimento dos mistérios de Cristo"; todos podiam saber sobre a "irmandade dos Mistérios" (Efésios, III, 3, 4, 9).

Sobre este Mistério, ele repete aos colossenses que foi "feito ministro", "o Mistério que esteve ocultos das idades e das gerações, mas que agora era tornado manifesto aos Seus santos"; não ao mundo, nem mesmo aos Cristãos, mas somente aos Santos. Para eles era revelada "a glória deste Mistério"; e o que era isso?

"Cristo em vós" uma frase significativa, que veremos, logo, pertencer à vida do Iniciado; assim finalmente todo homem deve aprender a sabedoria, e se tornar "perfeito em Cristo Jesus" (Colossenses, i, 23, 25-28. Mas Clemente, em seu Stromata, traduz "todo homem" como "o homem todo". Vide o Livro V, cap. X). A estes Colossenses ele ordena orar "para que Deus nos abra a porta da profecia, para falar o Mistério de Cristo" (Colossenses, IV, 3), uma passagem à qual Clemente se refere como sendo uma em que o Apóstolo "revela claramente que o conhecimento não pertence a todos" (Clemente de Alexandria, Stromata, Livro V, cap. X; A.-N.C.L.

Alguns ditos adicionais dos Apóstolos serão encontrados nas citações de Clemente, mostrando qual significado tinham para as mentes daqueles que sucederam os Apóstolos, e que viviam na mesma atmosfera de pensamento). Da mesma forma também escreve ao seu bem-amado Timóteo, ordenando-lhe selecionar seus diáconos dentre aqueles que "mantinham o Mistério da fé em uma consciência pura", aquele "grande Mistério da Piedade", que ele havia aprendido (I Timóteo, III, 9, 16), cujo conhecimento era necessário para os instrutores da Igreja.

Porém Timóteo está em uma posição importante como representante da geração seguinte de instrutores Cristãos. Ele foi discípulo de Paulo, e foi indicado por ele para guiar e dirigir uma porção da Igreja. Ele havia sido, sabemos, iniciado nos Mistérios pelo próprio Paulo, e é feita referência a isto, e os termos técnicos mais uma vez servem como chave. "Esta função te delego, meu filho Timóteo, de acordo com as profecias que foram feitas sobre ti" (I Timóteo, I, 18), a bênção solene do Iniciador, que admitia o candidato; mas o Iniciador não estava sozinho: "Não descureis o dom que está em vós, o qual vos foi dado pela profecia, abandonando o Presbitério" (ibid., IV, 14) dos Irmãos Maiores.

E ele lhe adverte preservar aquela "vida eterna, à qual também fostes chamado, e professastes um bom voto diante de muitas testemunhas" (ibid., VI, 13) o voto do novo Iniciado prestado na presença dos Irmãos Maiores e da assembléia dos Iniciados. O conhecimento dado então era a incumbência sagrada sobre a qual Paulo fazia tanta ênfase: "Oh Timóteo, preserva aquilo que te foi confiado" e não o conhecimento comumente possuído pelos Cristãos, a respeito do qual não havia obrigação nenhuma sobre Timóteo, mas o depósito sagrado confiado a ele como Iniciado, e essencial ao bem da Igreja.

Paulo mais tarde volta a isto, enfatizando a suprema importância do assunto de um modo que teria sido exagerado se o conhecimento fosse a propriedade comum dos homens Cristãos:

"Guarda bem a forma das sérias palavras que ouvistes de mim... Aquela boa coisa que te foi confiada, guarda-a pelo Espírito Santo que reside em nós" (II Timóteo, I, 13,14) uma advertência tão séria quanto seria possível por lábios humanos. Mais ainda, era seu dever prover a devida transmissão deste depósito sagrado, para que pudesse transmitido ao futuro, e a Igreja nunca fosse deixada sem Instrutores: "As coisas que ouvistes de mim entre muitas testemunhas" os ensinamentos orais sagrados dados na assembléia dos Iniciados, que testemunhava a precisão da transmissão, "confia o mesmo a homens dignos, que sejam também capazes de ensinar aos outros" .

O conhecimento ou, se preferirmos o termo, a suposição de que a Igreja possuía estes ensinamentos ocultos lança uma torrente de luz sobre estas diversas passagens de Paulo sobre si mesmo, e quando as reunimos, temos um perfil da evolução do Iniciado. Paulo diz que embora ele já estivesse entre os perfeitos, os Iniciados, pois ele diz:

"Que nós, portanto, que somos perfeitos, tenhamos esta mentalidade" - ele ainda não tinha "atingido", ainda não era em verdade inteiramente "perfeito", pois ainda não havia recebido Cristo, ele ainda não havia atingido o "alto chamado de Deus em Cristo", "o poder de sua ressurreição, e a companhia de seus sofrimentos, sendo tornado conforme à sua morte"; e ele estava tentando, diz, "se por algum meio puder alcançar a ressurreição dos mortos" (Filipenses, III, 8, 10-12, 14, 15).

Pois esta era a Iniciação que libertava, que fazia do Iniciado um Mestre perfeito, o Cristo Ressurrecto, libertando-o finalmente dos "mortos", da humanidade presa ao ciclo da geração, dos laços que atavam a alma à matéria grosseira. Novamente aqui temos um número de termos técnicos, e mesmo o leitor superficial deveria perceber que a "ressurreição dos mortos" mencionada aqui não poderia ser a ressurreição comum dos modernos Cristãos, suposta ser inevitável para todos os homens, e portanto não requerendo obviamente nenhuma luta especial da parte de ninguém para conseguí-la.

De fato a própria palavra "conseguir" estaria fora de lugar ao referir-se a uma experiência humana universal e inevitável. Paulo não poderia evitar esta ressurreição, de acordo com o ponto de vista dos Cristãos modernos.

Qual seria então a ressurreição a ser conseguida para a qual ele estava fazendo tantos esforços? Uma vez mais a única resposta vem dos Mistérios. Neles o Iniciado se aproximava da Iniciação que libertava do ciclo do renascimento, o ciclo da geração, era chamado de "o Cristo sofredor", ele compartilhava dos sofrimentos do Salvador do mundo, era crucificado misticamente, "tornado conforme à Sua morte", e então conseguia a ressurreição, a companhia do Cristo glorificado, e, depois, a morte já não tinha poder sobre ele
Apocalipse,

"Eu sou Aquele que vive, esteve morto e ressurgiu, e vive eternamente. Amen").

Este era o "prêmio" em direção ao qual o Apóstolo estava se esforçando, e ele urge "todos os que são perfeitos", não o crente comum, para que também se esforcem deste modo. Que não se contentem com o que já obtiveram até então, mas que se esforcem por mais.

Esta semelhança com Cristo do Iniciado, de fato, é o próprio trabalho dos Mistérios Maiores, como veremos em maior detalhe quando estudarmos "O Cristo Místico". O Iniciado já não devia ver o Cristo como fora de si mesmo. "Embora tenhamos conhecido o Cristo na carne, deste modo já não o conhecemos" (II Coríntios, V, 16).

O crente comum havia sido "revestido de Cristo, assim como todos de vós que fostes batizados em Cristo se revestiram de Cristo" (Gálatas, III, 27). Então eles se tornavam os "bebês em Cristo", a quem já se fez referência, e Cristo era o Salvador de quem eles buscavam ajuda, conhecendo-o "na carne". Mas quando eles haviam vencido a natureza inferior e já não eram "carnais", então eles entrariam em um caminho mais elevado, e se tornariam eles mesmo Cristo.

Isto que ele mesmo já havia conseguido era o desejo do Apóstolo para os seus seguidores. "Meus filhos, de quem sofro as dores do parto até que Cristo seja formado em vós" (Gálatas, IV, 19). Ele já era seu pai espiritual, "tendo-vos gerado através do evangelho" (I Coríntios, IV, 15). Mas agora ele era como aquele que gera "novamente", como se fosse sua mãe para levá-los ao segundo nascimento.

Então o Cristo Infante, a Santa Criança, nascia na alma, "o homem oculto no coração" (I Pedro, III, 4), e o Iniciado se tornava assim "a Criancinha"; daí por diante ele devia viver em sua pessoa a vida do Cristo, até que se tornasse o "homem perfeito", crescendo "até a medida da plena estatura de Cristo" (Efésios, IV, 13). Então ele, como Paulo estava fazendo, repetia em sua própria carne os sofrimentos de Cristo (Colossenses, I, 24) e sempre tinha "junto a si a morte do Senhor Jesus", para que pudesse dizer com verdade "sou crucificado com Cristo; não obstante eu vivo; embora não seja eu, mas é Cristo que vive em mim" (Gálatas, II, 20).

Assim o Apóstolo estava ele mesmo sofrendo; assim ele descrevia si próprio. E quando a luta termina, quão diferente é o tom calmo de triunfo sobre árduos esforços dos primeiros anos:"Agora estou pronto para ser oferecido, e o tempo de minha partida está próximo. Eu lutei a boa luta, terminei minha carreira, guardei a fé; por isso me espera uma coroa de justiça"(II Timóteo, IV, 6-8).

Esta era a coroa dada " a ele que vencera", de quem é dito pelo Cristo Ressurrecto: "Eu farei dele um pilar no Templo de meu Deus; e dali não sairá mais" (Apocalipse, III, 12).

Pois após a "Ressurreição" o Iniciado se tornava o Homem Perfeito, o Mestre, e já não sai do Templo, mas dali serve e guia os mundos.

Pode ser bom assinalar, que o próprio Paulo sanciona o uso do ensinamento teórico místico na explicação dos eventos históricos registrados nas escrituras. A história escrita ali não é considerada por ele um mero registro de fatos, que ocorreram no plano físico.

Verdadeiro místico, ele via nos eventos físicos as sombras das verdades universais sempre ocorrendo nos mundos mais altos e internos, e sabia que os eventos escolhidos para serem preservados nos escritos ocultos eram aqueles mais típicos, cuja explicação serviria à instrução humana.

Assim ele toma a história de Abraão, Sarai, Hagar, Ismael e Isaac, e dizendo que "aquelas coisas são alegorias", ele passa a dar a interpretação mística (Gálatas, IV, 22-31). Referindo-se à fuga dos israelitas do Egito, ele fala do Mar Vermelho como um batismo, do maná e da água como comida e bebida espirituais, da rocha de onde a água fluiu como sendo o Cristo (I Coríntios, X, 1-4).

Nesta visão dos escritos sagrados não é alegado que os eventos registrados não tenham tido lugar, mas apenas que sua ocorrência física era coisa de menor importância. Uma explicação como esta é o desvelar dos Mistérios Menores, o ensinamento místico que é permitido dar ao mundo. Não é, como muitos imaginam, um mero jogo de imaginação, mas é a atividade de uma verdadeira intuição, vendo os protótipos nos céus, e não somente as sombras lançadas por eles na tela do tempo terreno.

De God Anubys

domingo, 24 de outubro de 2010

Trazendo Humanidade de volta ao Homem



Por Channing Brown

Ex-Senescal da OMCE)

O propósito da OMCE é produzir uma condição espiritual em um mundo material. Muitos grupos tentaram e muitos fingem tentar, mas todos nós temos um longo caminho a seguir para atingir esse fim. Primeiro, produzir uma condição espiritual em um mundo material não significa andar por aí com nossas cabeças nas nuvens e proferindo devoções triviais. Pensamentos bons são legais, mas atingir nossos objetivos significa chegar as raízes "do capim" e fazer nossos pensamentos se disseminarem pela ação. Estabelecer um estado espiritual no mundo pode começar com os menores passos e ações. É o realizar de nossos planos para um estado espiritual que nos faz ter sucesso em estabelecê-lo. Sem ação, planos são inúteis e acabam em nada. Se reclamarmos da escuridão, devemos perceber que podemos acender uma vela e fazer a escuridão ir embora.


Onde muitos de nós erramos, em nossos pensamentos, é no fato de acreditarmos que planos ou objetivos devem ser grandiosos ou precisam impressionar as pessoas com sua magnitude, ao invés de serem efetivos. Eles não o devem ser. Inícios e planos simples podem ser aqueles que se transformarão em grandes. Alguns, entretanto, permanecem pequenos e tencionam assim o ser. A grandiosidade pode entrar no caminho de se atingir os objetivos desses planos menores.


É fácil entender quantas pessoas podem se tornar confusas sobre quais objetivos são os melhores – os maiores ou os menores. Nos anos 70 e 80, fomos bombardeados por mensagens em que o “grande” era bom e o “maior”, melhor ainda. Agora sabemos que o grande pode ficar pelo caminho e pode, na verdade, prejudicar o progresso de atingirmos nossos objetivos. Entretanto, a nova confusão de se tornar pequeno demais está se tornando realidade. Tornar-se pequeno com a nova moda da minimização (*cortes de gastos) pode trazer seus próprios problemas e pode atrapalhar os mesmos objetivos. Em suma, descobrir até onde podemos minimizar é algo que ainda está em fase de testes, mas os rumores estão começando a aparecer. Nós podemos criar uma geração inteira de trabalhadores que não confiam em ninguém. Essa dificilmente será a forma de se estabelecer um estado espiritual. Embora seja a forma em que isso é tratado atualmente nas culturas corporativas, a mesma serve de exemplo de como não ter os melhores interesses, de longo prazo, com “humanidade” em mente.


Nós nos referimos ao “estado espiritual” em nossos objetivos. Não devemos confundir o estado espiritual com o desconhecido ou com aquilo que está além de nossa Terra. Nós, como homens, ficamos empolgados e reverenciamos o desconhecido. Vemos a humanidade explorando o universo com novos e poderosos instrumentos e telescópios. Todos os dias, eles nos revelam mistérios cada vez maiores e um desejo de saber quem somos e de onde viemos no esquema universal das coisas. Nossas mentes parecem pertencer as estrelas, e sonhamos com um estado espiritual que reside num universo maior, além do penoso trabalho de viver e das responsabilidades das tarefas diárias. Normalmente nos escondemos em nossos sonhos de como somos bons e corretos, e quantas coisas boas nós poderíamos fazer, se o universo nos revelasse seus segredos. Se apenas o universo nos desse a varinha mágica de Deus ou uma fórmula antiga que estivesse escondida por séculos... Sabemos que a Fórmula existe, mas ela foi escondida. Poderíamos ser mais benevolentes “se apenas” nos fosse dado o poder de ressuscitar a essência mágica e resolver os males do mundo? Pensar assim não é absurdo, é mais um sonho. Mas, talvez nós sonhemos muito. Se queremos resolver os males do mundo é melhor que comecemos aqui neste planeta. A resposta para colocar “humanidade” de volta ao homem está em nós mesmos, aqui e agora.


Para colocar “humanidade” de volta no homem, devemos nos perguntar, quais são os maiores obstáculos para nos ajudar a atingir nossos objetivos? Alguns obstáculos aparentam estar em nossas atitudes de quão importantes pensamos que somos, e como vemos nosso lugar no esquema das coisas e, finalmente, quando aparentemente acertamos, falhamos em tomar uma ação. Pensamos que somos importantes? Pode contar com isso. Decidimos que tudo na natureza é nosso, para nos apossarmos. Pensamos que nos tornamos mestres do ambiente porque aprendemos como extrair o que queremos da natureza - e então extraimos. Mas, como aprendemos a extrair, isso significa que realmente somos mestres (do ambiente)?


O homem, sem dúvida, é a espécie dominante no planeta. Mas houveram várias espécies dominantes antes de nós. A Natureza decidiu que o Homem é bom para ela? Nós tiramos muito do nosso ambiente para melhorar a humanidade. Certamente vivemos melhor. Pelo menos alguns de nós o fazem. Contudo, não creio que os deuses evolucionários já decidiram que nós, como espécie, teremos sucesso. Não creio que nós já entendemos nosso verdadeiro lugar. Não somos humildes em nossos empreendimentos. Decidimos ser a bola da vez. Até onde isso pode ir no sentido de trazer “humanidade” de volta ao homem? Penso que, em algum lugar, exista uma pequena criatura escondida debaixo de uma pedra rindo de nós, e apenas esperando que nós nos destruamos para ela se tornar a nova espécie dominante. Nós devemos aprender a ser humildes. Se realmente olharmos o universo, começaremos a pensar que somos tão insignificantes como grãos de areia. Temos um longo caminho para podermos nos afirmar. Escrevemos longas e gloriosas histórias sobre a humanidade; mas não seria interessante se essa história fosse escrita por outros ou por algo mais? O que a história refletiria? Pode ser que não fosse tão amável como nós a escrevemos. O homem é uma criatura muito orgulhosa e egoísta. O homem ainda não aprendeu a viver com o que a Natureza provê. Talvez, a Natureza irá, algum dia, dizer que ela já teve o bastante e … Puff! - próxima criatura por favor! Afinal, a Natureza que nos fez, e não o contrário.


Para estabelecer uma condição espiritual em um mundo material, e para trazer “humanidade” de volta ao homem, uma atitude mística é requerida. Eu não quero dizer tipos "sonhadores". Eu me refiro a pessoas normais com atitudes boas. Apesar de eu, e muitos outros, sempre terem considerado aqueles com atitudes místicas como ligeiramente “descentrados”, não posso deixar de pensar que o processo evolucionário sempre dependeu daqueles que são um pouco “descentrados” e nem sempre daqueles que estão sempre cumprindo as regras. A norma realmente nunca foi uma medida confiável do que é “certo”; ela é apenas a norma. Por que uma atitude mística? Ela põe a humanidade na perspectiva de que somos parte do processo completo da Natureza. Não somos o final dos planos da Natureza. Concebemos que toda a natureza tem o direito de viver e, no processo de extrair, participamos do processo de retribuir. Em nossas lutas pela sobrevivência, esquecemos de retribuir. É no processo de retribuir que também trazemos “humanidade” de volta ao homem. Não penso que a Natureza, a longo prazo, possa continuar permitindo e compensando o homem por suas loucuras. Deve haver um ponto de parada. Nós podemos ver que o Homem deve participar do fluxo da Natureza e tentar não dominar o processo.


Dificultamos o processo de trazer “humanidade” de volta ao homem, mesmo quando pensamos que estamos no caminho certo. Apesar de podermos tomar atitude em muitas coisas, esse processo de fazer o "bem" aparenta ser elusivo. Nós beijamos as roupas dos santos, nós mostramos os anéis que usamos, nós consagramos seus ossos, mas as coisas pelas quais eles viveram e morreram - nós ignoramos. A mesma pessoa que deixa sua igreja ou templo, vai para casa, xinga seus vizinhos e chuta o cachorro. Ela deixa sua moralidade na porta do templo. Essa porta aparenta ter feixe mágico que muda as pessoas. O que aconteceria se essa mesma pessoa carregasse esse feixe mágico para fora do templo, para o mundo lá fora? Isso certamente ajudaria a trazer “humanidade” de volta ao homem. Segmentar a nossa vida em partes como "aqui é onde eu faço o bem" e "aqui é onde eu faço o mal" não ajuda a humanidade. O bem, em toda ação, deveria ser a parte central de toda nossa estrutura como pessoas.


Continuar a tomar ações também aparenta ser elusivo no centro de nossa sociedade. Com que frequência nós vemos grupos cozinhando biscoitos, ou indo ao supermercado e comprando alguns enlatados para dar aos pobres, para que possam se sentir bem? Eu duvido que essas mesmas pessoas iriam convidar os pobres para um jantar em suas casas. Eles não iriam querer sujar seus tapetes orientais novos. Apesar de não ser uma crítica a vários trabalhos benevolentes que vem sendo feitos em nossas comunidades, acho que outras atitudes deveriam ser tomadas para ajudar a educar os pobres a melhorar suas situações. Nós todos aprendemos que "retribuir" pode tomar dimensões maiores. Dar algo a alguém é apenas uma solução temporária, não resolve realmente a origem do problema. Pode até criar um problema maior, o da dependência. Educar é a melhor forma. Ensinar os outros a "cozinhar seus próprios biscoitos" é melhor.


Em todas as minhas reclamações sobre o homem não trazendo “humanidade” de volta ao homem, eu não posso evitar pensar que o homem em todas as suas loucuras do presente e do passado ainda tem a capacidade de fazer o bem. Em nós está o "edifício". Em nós se acha o pequeno negócio para sermos os arquitetos. Devemos ser arquitetos e construtores de nossos sonhos. Mas como podemos construir se nós não colocamos o primeiro tijolo, damos o primeiro passo em trazer “humanidade” de volta ao homem? Esse primeiro tijolo é também para sermos capazes de dizer: "Eu sou uma pessoa boa e decente e fiz muitas coisas memoráveis". O processo de ser bom com o próximo é tão apavorante que algumas pessoas preferem não fazer nada? Ou o processo de fazer o mal é mais atraente? Bom, conheço pessoas às quais isso é verdade, mas para a maioria, fazer o bem ainda é a melhor opção.


Sair por aí e fazer o bem é parte do processo de iniciação. A maioria ensaia bem o processo, mas aparenta parar no bem necessário lá fora. Se você aceitar "fazer o bem" como parte do processo iniciatório na "mente da Natureza", ele deixa de ser tão apavorante. Ele não mais se torna um trabalho árduo. Ele pode se tornar divertido. Quanto mais se envolve, mais você se ergue acima de suas idéias e comportamentos pré-concebidos, você supera seus medos e lida progressivamente com os desafios e oportunidades de seu crescimento espiritual.


Colocado de forma simples: o homem deve trazer a humanidade de volta ao homem - se o homem como espécie quiser sobreviver. Nós podemos dizer que estamos fazendo nosso melhor, mas como Winston Churchill disse: "Dizer que está fazendo o seu melhor não tem utilidade alguma. Nós devemos ter êxito fazendo o que é necessário." Isso é o que separa aqueles que são bem-intencionados daqueles que fazem o dever de casa. Quando você está no escuro, e quer luz, não apenas pense sobre isso: acenda uma vela, e a escuridão irá embora.

http://www.omce.org.br/

sábado, 16 de outubro de 2010

Guerreiros da Luz




"Os guerreiros da Luz com frequência perguntam o que estão fazendo aqui.

Muitas vezes acham que suas vidas não tem sentido.

Por isso são guerreiros da Luz.

Porque erram.

Porque perguntam.

Porque continuam a procurar um sentido.

E acabam encontrando."



"Um guerreiro da Luz sempre faz algo incomum.

Pode dançar na rua enquanto caminha para o trabalho, olhar nos olhos de um estranho e falar de Amor, defender uma idéia que pode parecer ridicula.

Os guerreiros da Luz se permitem tais dias.

Ele não tem medo de chorar mágoas antigas ou alegrar-se com novas descobertas.

Quando sente que chegou a hora, larga tudo e parte para sua aventura tão sonhada.

Quendo entende que esta no limite de sua resistência,sai do combate, sem culpar-se por ter feito uma ou duas loucuras inesperadas.

Um guerreiro da Luz não passa a vida tentando representar o papel que os outros escolheram para ele".



"Um guerreiro da Luz assume por inteiro sua lenda pessoal.

Seus companheiros comentam: "sua fé é admirável".

O guerreiro fica orgulhoso por alguns momentos, e logo envergonha-se do que escutou, porque não tem a fé que demonstra.

Neste momento seu anjo sussurra:"você é apenas um instrumento da Luz.

Não há motivos para se vangloriar, nem para se sentir culpado, há motivos apenas para a alegria".

E o guerreiro da luz, consciente de que é um instrumento, fica mais tranquilo e seguro."


Textos escolhidos aleatóriamente do Manual do Guerreiro da Luz.

A ROSA+CRUZ E ESOTERISMO CRISTÃO




De acordo René Guenón e Serge Hutin, e o que nos diz a própria tradição hermética, o termo Rosacruz deve reservar-se aos "libertados vivos", aos Adeptos (com A maiúsculo) que chegaram à Regeneração, ao conhecimento supremo.

São as crianças secretas do Senhor, os Menores Eleitos de Pasqually. Cosmopolitas, dispersos pelo mundo, como Adeptos vivem a experiência da Luz que lhes foi revelada por uma fé viva.

Constituem uma espécie de Igreja Oculta de Cristo, a Igreja Invisível de Eckarthausen. Os Hermetistas Rosacrucianos do século XVII, da primeira Rosacruz eram decididamente cristãos e sedimentavam sua fé inabalável no Cristo como pedra fundamental. A regeneração obtida pelo Adepto através da Verdadeira Medicina, a Panacéia dos Sábios é um estado interior não suscetível de ser examinado pelos anais da História.

Quanto expressão de um profundo esoterismo cristão segue-se alguns trechos de autores Rosacrucianos entre os séculos XVII e XVIII que atestam a aptidão cristã daqueles Adeptos.

J. Valentin Andreae escreve em Chistianópolis :

"Não reterei, senão aquilo que é certo : saber que nos devemos ligar a Cristo e só a ele, em perfeita obediência. Os Cristãos, todos os Cristãos, devem amar-se e unir-se numa sociedade totalitária cujo ideal em reunir todas as coisas no Cristo; tanto aquilo que existe sobre a terra como aquilo que existe nos céus" ( citado por Jean Pierre BAYARD, Os Rosa-Cruz )

Em Christianopolis, se exclue os falsos irmãos da Rosacruz e não os verdadeiros " Na porta oriental existe um guardião que examina os estranhos que pretendem entrar na cidade. Se nega a admissão a certas classes baixas de pessoas, entre elas atores que tenham demasiado tempo livre e impostores que se dizem irmãos dos Rosacruzes". ( J. V. Andreae)

Outro rosacruciano, John Heydon que escreveu entre 1661 e 1664 os tratados "The Glory of the Rosy Cross" e "The Rosie Crucian infaillible axiomata" escreveu :

"A oferenda de si mesmo é um sacrifício tão agradável a Deus, que um homem tão piedoso e bom não conseguirá encontrar outra que lhe possa agradar mais, tal como isso pôde confirmar-se ralativamente a um "gentleman"que descendia da linhagem dos Plantagenetas, e que foi até o Egito, à Itália e à Arábia, tendo depois regressado para vir frequentar a Sociedade dos Cristãos inspirados."

Noutra análise , Frances Yates trata de demonstrar em seu "Iluminismo Rosacruz" que estes "filósofos rosacruzes" formaram parte da órbita do movimento palatino encabeçado por Frederico V, líder da Confoederatio Militiae Evangelicae contra a liga católica que culminaria na Guerra dos Trinta Anos.

A única menção sobre a constituição dessa aliança potestante é narrada por Simon Studion em seu "Naometria". Cabe salientar que na época todos os autores rosacrucianos eram saídos dos círculos intelectuais protestantes tais como J. V. Andreae, Wilhelm Wense , Tobias Hess e Tobias Adami do Círculo de Tübingen, por exemplo. Comenius ( Jan Amós Komensky) recebeu sua educação cristã na Igreja dos Irmãos Morávios, e uma interpretação da Política Hermética dada por Robert Vanloo em sua "Utopia dos Rosacruzes"é de que os manifestos de certa forma comeraram o bicentenário da morte na fogueira de um dos primeiros reformadores cristãos, Johann Hus em 1414-1415 ( prisão e morte).

Outro autor rosacruciano, Daniel Cramer, em seus emblemas rosacruzes de 1616 escreve :

"Depois, redimido pelo sangue de Cristo, estarás cheio de alegria, e te ocuparás de conhecer corretamente a Palavra de Deus".

Ora é sabido, que o Rosacrucianismo original do século XVII era essencialmente cristão, o que basta analisar os textos fundamentais da Rosa+Cruz, como o Fama e Confessio, para se aperceber disto. No Fama, no momento da abertura da mítica cripta de Christian Rosenkreuz ( Cristão da Rosa+Cruz ), encontrava-se um altar redondo coberto por uma placa de cobre, na qual estava gravado o seguinte :

"Jesus é tudo para mim",

logo depois, noutro trecho, após a assinaturas dos presentes na abertura da cripta estava escrito :

"Em Deus nascemos, em Jesus Cristo morremos, e pelo Espírito Santo renascemos".

Nas lâminas do Geheime Figuren, "Os Símbolos Secretos dos Rosacruzes" isso fica mais ainda evidenciado. O movimento Rosacruciano está fortemente vinculado ao tenso contexto histórico da Europa. A Europa vinha dilacerada pelas Guerras de Religião, com a Paz de Augsburgo em 1555 as disputas entre católicos e protestantes supostamente se acalmaram. A tensão tornou a aumentar na década de 80 culminando na Guerra dos Trinta Anos no século seguinte. Susanna Akermann observa que é inadequado falar num Rosacrucianismo antes da circulação do manifesto Fama Fraternitatis.

A história de C.R.C é que irá lançar as bases da Fraternidade, visto que não há Rosacrucianismo histórico sem a história de Christian Rosenkreuz. É impossível saber quando essa história foi concebida, mas sabemos que já circulava em forma de manuscrito por volta de 1610.

Michael Maier outro autor Rosacruciano escreve em seu "Themis Aurea" :

"e mais ainda, Cristo ele mesmo, tendo que encarnar não fez desdém para ser também o médico da Alma, e também o médico do corpo".

Para Robert Fludd em "Summun Bonum " o símbolo da Rosa-Cruz possui dupla significação "A Cruz representa a sabedoria do Salvador, o conhecimento perfeito; e a Rosa é o símbolo da purificação, do ascetismo que destrói os desejos carnais, e igualmente o signo da Obra Alquímica, da purificação de toda mácula, a perfeição do Magistério ". Em Fludd podemos ver as mesmas expressões usadas por Boehme, alusões a a "Pedra Filosofal espiritual", ao "Cristo, a Santa Pedra Angular da Sabedoria" .

Mais tarde, no século XVIII, numa das célebres ilustrações do Manuscrito de Altona ( 1785) há uma prncha descrita como a "montanha dos filósofos", sendo acrescida da seguinte explicação :

"A Alma dos homens em toda parte foi perdida por uma queda, e a saúde do corpo ressentiu-se da queda, vinda a Salvação para alma humana através de Jesus Cristo. A saúde corporal é restituída por algo que não é aprazível de ser contemplado."

Noutro documento, datado de 1794, se trata da admissão do Dr. Bacstrom na Sociedade Rosa-Cruz pelo Conde de Chazal nas Ilhas Maurício :

"estamos novamente unidos em um só espírito sob a denominação de Frates Rosae Crucis, Irmãos da Rosa Cruz, isto é, os irmãos que acreditam no Grande Sacríficio feito por Jesus sobre a Rosa Cruz, manchada e marcada com o Seu Sangue, para redenção de Naturezas Espirituais."

Karl Von Eckarthausen em sua "Nuvem sobre o Santuário":

" Jesus Cristo é a Sabedoria, a Verdade e o Amor. Como Sabedoria Ele é o princípio da razão, a fonte do conhecimento, a mais pura. Como Amor Ele é o princípio da moralidade, o móbil essencial e puro da vontade."

"O cristão prático encontra este móbil da vontade, princípio de toda imoralidade, objetiva e realmente no seu coração e este móbil se exprime na seguinte fórmula:

"Ama a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo".

"O amor de Deus e do próximo é, o móbil da vontade do cristão; e a essência do próprio amor é Jesus Cristo em nós. Assim é que o princípio da razão é a sabedoria em nós; e, a essência da sabedoria, a sabedoria em sua substância é ainda Jesus Cristo, a Luz do Mundo. Assim encontramos n'Ele o principio da razão e da moralidade. Tudo o que eu digo aqui não é, uma extravagância hiperfísica, é a realidade, a verdade absoluta que cada um pode comprovar experimentalmente desde que recebe em si o princípio da razão e da moralidade, Jesus Cristo como sendo a Sabedoria e o Amor essenciais."


Tradicionalmente, o Movimento Rosa-Cruz tem apoiado a liberdade e a responsabilidade pessoal. A Liberdade de escolher e investigar a Verdade sem medo ou opressão de um corpo governante, com ênfase na responsabilidade pessoal para agir apropriadamente.

Eis porque os Rosa-Cruzes têm sempre lutado contra a opressão e a intolerância religiosa, social ou intelectual. Historicamente, o movimento trabalhou para o estabelecimento e a perpetuação de uma condição na qual todas as pessoas possam livremente seguir seus próprios caminhos para a iluminação

A Essência que a tudo permeia infunde todas as coisas, e que todas as coisas são uma parte integral da Essência Única. Ser uma parte da Unidade significa que podemos atingir o conhecimento direto dessa Essência. Este conceito é fundamental para o misticismo.

Reconhecemos o fato de que todo aprendizado deve necessáriamente vir de dentro de cada estudante individual. Portando, devemos dizer que preferimos auxiliar o estudante a aprender por si mesmo. Para esse fim, ajudamos os estudantes a se tornarem pensadores e filósofos independentes que moldam suas próprias crenças.

A “Ordem” Rosa-Cruz verdadeira é a que está no coração da pessoa, significando que um Rosa-Cruz verdadeiro pode existir em qualquer Ordem. A organização é meramente um veículo no qual a essência da R+C se manifesta. Em outras palavras, uma organização, em virtude do propósito e dos motivos de seus membros pode penetrar na essência R+C e ser verdadeira. Justamente por isso, uma organização pode se perder se seus membros esquecerem o que é importante.


God Anubys

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Uma oração de Luz - Por Chuck Dunning



Ò Divina Fonte de luz e vida,

Tal como meus olhos enxergam

pela luz do sol e das estrelas,

Permita meu coração enxergar

pela luz da compaixão,

Permita minha mente enxergar

pela luz da compreensão,

Permita meu espírito enxergar

pela luz da sabedoria,

Conhecendo Tua brilhante presença

como a luz e a vida dentro de mim

e em toda Tua criação.

Do mesmo jeito que brilham o sol e as estrelas

com a luz de Teu poder,

Permita minha vontade refletir

a luz do todo,

Permita minhas palavras refletirem

a Luz da verdade,

Permita minhas intenções refletirem

a luz da integridade

Expressando Tua brilhante presença

Tal como a luz e a vida dentro de mim

e em toda Tua criação.



Original:



A PRAYER OF LIGHT
By Chuck Dunning

O Divine Source of light and life,
Just as my eyes see
By the light of the sun and stars,
Let my heart see
By the light of compassion,
Let my mind see
By the light of understanding,
Let my spirit see
By the light of wisdom,
Knowing Thy brilliant presence
As the light and life within me
And all of Thy creation.
Just as the sun and stars shine
With the light of Thy power,
Let my will shine
With the light of unity,
Let my words shine
With the light of truth,
Let my deeds shine
With the light of integrity,
Expressing Thy brilliant presence
As the light and life within me
And all of Thy creation.


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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Ciência dos Espíritos, por Eliphas Levi - ( Rápido resumo feito por Pseudo-Sedir).




2a PARTE : (p. 65)

O autor discorre sobre as fontes das teorias sobre as Almas, onde afirma "os espíritos vivem a um tempo duas vidas: uma geral, comum a todos; e a outra especial e particular." (p. 66)

A transição (p.68)
Mortos, os espíritos criam seu próprio mundo e suas imagens, segundo suas crenças e ideologias. Alguns caem no vazio e nas trevas devido sua ignorância. Estas imagens são de vários tipos "As vontades audaciosas e desregradas produzem larvas e fantasmas. A imaginação tem o poder de formar coagulações aéreas e eletromagnéticas que refletem os pensamentos durante um momento e, sobre tudo, os erros do homem ou do círculo de homens que os põe no mundo"
O autor não aceita a teoria da reencarnação, pois uma vez morto a Alma segue sua trajetória em outros mundo e planos e não mais pode retornar a este planeta, pois "é impossível que o mesmo homem renasça duas vezes na mesma terra". (p.70)

Pretensos espíritos ou fantasmas (p. 88)

Neste tópico o autor narra e analisa o Livro de Jó, a mais notável síntese que nos restou do dogma filosófico e mágico da antiga iniciação.
Eliphas afirmar ser este o arquétipo dos médiuns das épocas antigas, afirma que ele é o mais triste e o mais desesperado dos três amigos de Jó.
Explicando o contato deste personagem com os mortos afirma: "Os mortos voltam apenas em nossos sonhos. Assim , o estado de mediomania é uma extensão do sonho, é o sonambulismo com toda a variedade de seus êxtases. Aprofundando os fenômenos do sono, dominaremos todos os mistérios do espiritismo". (91)
O autor explica que Piton é uma palavra que os hebreus tomaram de empréstimo para designar a grande serpente astral

A luz astral passiva (Ob) estaria por detrais destes fenômenos, depois lembra que a Luz astral possui duas polaridades mais o equilíbrio:
Luz ativa Od )
Luz passiva Ob
Luz equilibrada - Aour
Ob é a interprete da fatalidade, do enfraquecimento do livre-arbítrio e da vontade, é o fluido sonambúlico, enquanto Od é a Luz dirigida, elevada ao estado de glória.

Recontando a história de Saul que consulta a pitonisa e esta invoca o espírito de Samuel que prediz sua derrota, este entra em desespero, desanimo e vai previamente derrotado para guerra e perde. Para Levi essas invocações são imagens tiradas do princípio passivo de Ob, através do sonambulismo, ou seja, a pitonisa na verdade leu o inconsciente de Saul (com seus medos, fantasmas e idéias) e os apresentou como sendo ditadas pelo espírito de Samuel [ela não faz por trapaça, mas por ignorância do fenômeno]. (93)

Sobre a ressurreição dos mortos: é possível enquanto o organismo vital não tiver sido destruído. Desta forma estando a Alma ainda nas baixas regiões do astral, pela ação firme de um Homem de Vontade ela pode retornar ao seu antigo corpo e voltar à vida.

Sobre Satã afirmar: Seu império é a terra (príncipe do mundo), não se trata de uma força espiritual, mas de uma força material análoga à eletricidade, ou melhor a eletricidade extraviada. (96)

Santo Espiridião (101)

Relatando a hist. deste santo e de sua filha que tendo enterrado um tesouro de um amigo, faleceu com o segredo. Na tentativa de tentar descobrir o lugar, o pai foi ao túmulo da filha e após uma invocação teve a revelação de onde se encontrava o tesouro. Explicação de Levi: a ida do pai ao túmulo serviu para evocar lembranças e obter por simpatia magnética uma intuição de Segunda visão [ou mesmo uma lembrança, quem sabe a filha não o teria dito em vida e ele havia esquecido do fato?].

Capitulo IV (106)

Ë relatada e explicada a participação do sangue nos rituais e sacrifícios antigos, além de suas propriedades: "O sangue é o grande agente simpático da vida; é o motor da imaginação, é o substratum animado da luz magnética ou da luz astral polarizada nos seres vivos; é a primeira encarnação do fluido universal, é a luz vital materializada."
"Todos os mistérios religiosos são igualmente mistérios de sangue" Não há culto sem sacrifícios.."
Para Paracelso "É do vapor do sangue que a imaginação tira todos os fantasmas que cria".
Levi discorre sobre a relação entre sacrifício e sangue e seu papel e legitimidade no mundo antigo, MAS nos tempos atuais isto não é mais necessário pois "Jesus morreu pela abolição dos sacrifícios sangrentos" assim o reino dos deuses de sangue terminou.
O autor associa o espiritismo moderno aos antigos cultos sanguinários, já que eles utilizaram os mesmo princípios fluídicos para dar vida a suas mensagens: "o magnetismo é a projeção dos espíritos do sangue e vós magnetizais os vossos móveis, empobrecendo o vosso cérebro e o vosso coração".

Capitulo VI
Sobre o mundo antigo e a morte do velho culto: "Com Apolônio de Tiana, o velho mundo parecia Ter dito sua última palavra".

Capítulo VII (120)

Para o autor só existe um meio dos espíritos voltarem a terra: a ressurreição. Ele lembra que os teólogos ensinam que os mortos não podem se manifestar neste plano e que são os demônios quem atendem aos apelos dos mortais. 21 ago Pseudo
Vampirismo (126): "Monomaníacos que são fatalmente levados a alimentar-se com a carne dos mortos" , mas os verdadeiros vampiros são mortos que aspiram e sugam o sangue dos vivos. Os médiuns não comem, é verdade, a carne dos mortos, mas aspiram por todo seu organismo nervoso o fósforo dos cadáveres ou luz espectral. Não são vampiros mas evocam os vampiros. Também são todos frágeis e doentes, frágeis de espírito e de corpo, fatalmente propenso às alucinações e à loucura. O espiritismo é o onanismo das almas"

Ele lembra que Moisés condenou a consulta a Oboth, que são os fantasmas do OB ou a luz passiva.

Casas fantasmas (128): O autor atribui as aparições e demais fenômenos que podem ocorrer nestes ambientes a uma magnetização desregrada, um vício ou desvio da luz astral passiva, que provocaria ilusões e manifestações (mesmo as tangíveis) presenciadas por todos.
Outros casos, ainda mais simples, são conseqüência do ar viciado do ambiente, basta arejar a casa e tudo volta ao seu normal.

OBS: O que o autor não explica é o motivo desta má magnetização destes ambientes.

*** Levi, Eliphas: A Ciência dos Espíritos, SP, edt Pensamento, 1997

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

NATAL PORQUE CELEBRAMOS ? O QUE CELEBRAMOS ?



Lembrar que nosso divino Mestre Jesus, o Cristo, jamais sugeriu que comemorássemos a data de seu nascimento *, em nenhuma das escrituras, canônicas, apócrifas ou gnósticas....Veja o que ele nos pediu:

E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim. Lucas 22:19



O Sol realiza a cada ano uma viagem elíptica que começa no dia 25 de dezembro, e então regressa ao pólo sul; exatamente por isto vale a pena refletirmos em seu significado profundo. Nesta época começa o frio no hemisfério norte, devido exatamente ao fato de que o Sol vai se afastando para as regiões austrais e, no dia 24 de dezembro, terá atingido o ponto máximo de sua viagem na direção sul. Se o Sol não avançasse rumo ao norte do dia 25 de dezembro em diante, morreríamos de frio. A Terra inteira se converteria em um bloco de gelo e realmente pereceriam todas as criaturas, tudo o que tem vida.


Assim, vale a pena refletir sobre o acontecimento do Natal. O Cristo-Sol deve avançar para dar-nos vida, e, no equinócio da Primavera, se crucifica na Terra.


É precisamente na Primavera que o Senhor deve passar por sua vida, paixão e morte, para logo ressuscitar; a Semana Santa é na Primavera no Hemisfério Norte.


O Sol físico nada mais é que um símbolo do Sol Espiritual, do Cristo-Sol. Quando os antigos adoravam o Sol, quando lhe rendiam culto, não se referiam exatamente ao Sol físico; rendia-se culto ao Sol Espiritual, ao Sol da Meia-Noite, ao Cristo-Sol. Inquestionavelmente, é o Cristo-Sol quem deve guiar-nos nos Mundos Superiores de Consciência Cósmica. As noites longas de inverno são fortes. Na época do Natal os dias são curtos e as noites longas.


Vamos refletindo sobre tudo isto, e convém que entendamos o que é o Drama Cósmico. É necessário que também em nós nasça o Cristo-Sol, ele deve nascer em nós. Nas Escrituras se fala claramente de Belém e de um estábulo onde ele nasce; esse estábulo de Belém está dentro de cada um aqui e agora; precisamente nesse estábulo interior moram os animais do desejo, todos esses "eus " passionais que carregamos em nossa psique....

Inutilmente teria Mestre Jesus nascido em Belém se não nascesse em nosso coração também. Inutilmente teria morrido e ressuscitado na Terra Santa, se não morre e ressuscita em nós também. Esta é a natureza do "Salvador". O Cristo Íntimo deve salvar-nos, mas salvar-nos desde dentro, a todos nós. Aqueles que aguardam a vinda de Jesus de Nazaré para um futuro remoto estão equivocados; o Cristo deve vir agora de dentro, a segunda vinda do Senhor é de dentro.

Por isto está escrito o que Ele disse: "Se ouvires alguém dizendo na praça pública que é Cristo, não o creiais, e se disserem "Ele está ali no Templo predicando", não o creiais". É que o Senhor não virá desta vez de fora mas de dentro, virá desde o próprio fundo de nosso coração, se nós nos prepararmos. Paulo nos esclarece dizendo: "De sua virtude tomamos todos, graça por graça".

Então, está documentado; se estudarmos cuidadosamente Paulo de Tarso, veremos que raramente alude ao Cristo histórico; cada vez que Paulo de Tarso fala sobre Mestre Jesus, o Cristo, refere-se ao Cristo Interior, ao Cristo Íntimo que deve surgir do fundo de nosso Espírito, de nossa Alma. Enquanto um homem não o tenha encarnado, não se pode dizer que possua a Vida Eterna, Assim, pois, devemos ser menos dogmáticos e aprender a pensar no Cristo Íntimo, isto seria grandioso...

O grande Mestre deve surgir no fundo de nossa Alma, de nosso Espírito.

O mais duro para o Cristo Íntimo, após seu nascimento no coração do Homem, é precisamente o Drama Cósmico, sua Via-Crucis.

No Evangelho as multidões aparecem pedindo a crucificação do Senhor; essas não são multidões de ontem, de um passado remoto, como se supõe. Não, essas multidões estão dentro de nós mesmos, são nossos famosos "Eus"; dentro de cada pessoa moram milhares de pessoas, o "Eu do ódio", o "Eu tenho ciúmes", o "Eu sinto inveja", o "Eu da cobiça", ou seja, todos os nossos defeitos, e cada defeito é um "Eu" diferente. É claro que essas multidões que trazemos dentro de nós, que são nossos famosos "Eus", são os que gritam: "Crucifiquem-no, crucifiquem-no !".

Muita gente diz: "Acredito ser uma boa pessoa; eu não mato, não roubo, sou caridoso, não sou invejoso", ou seja, são todos cheios de virtude, perfeitos, segundo eles próprios; "ignoto", é o que tenho a dizer ante tanta perfeição.

É doloroso isso? É claro, é horrível, é uma traição do tipo mais sujo que há, e não há dúvida de que as religiões se prostituíram e muitos sacerdotes traíram o Cristo Íntimo; não me refiro a nenhuma seita em particular, mas a todas as religiões do mundo.


Pensem por um instante no Cristo Íntimo no mais profundo de cada um de vocês, senhor de todos os processos mentais e emocionais, lutando por salvá-los, sofrendo terrivelmente; os próprios Eus de vocês protestando contra Ele, blasfemando, colocando-lhe a coroa de espinhos, açoitando-o. Bem, esta é a crua realidade dos fatos, este é o Drama Cósmico vivido interiormente.


Aqueles que supõem que pelo simples fato de morrer fisicamente alguém já tem direito à ressurreição dos Mortos são realmente dignos de compaixão; falando outra vez em estilo socrático, não apenas ignoram mas, o que é ainda pior, ignoram que ignoram.


A Ressurreição é algo pelo qual se tem de trabalhar, e trabalhar aqui e agora, e é preciso ressuscitar em carne e osso (e ao vivo).
A Imortalidade deve-se conseguí-la agora mesmo, pessoalmente; assim se deve considerar todo o Mistério Crístico.
Todo o Drama Cósmico é em si mesmo extraordinário, maravilhoso, e se inicia realmente com o Natal do Coração.
Mas o que é que o Cristo Íntimo tem de decapitar em nós? Simplesmente deve degolar o Ego, o Eu, o Si Mesmo.
A seguir vêm os feitos milagrosos do grande Mestre. Caminhava sobre as águas, sobre as Águas da Vida tem de caminhar o Cristo Íntimo.
Abrir a visão dos que não vêem, predicando a palavra para que vejam a luz; abrir os ouvidos dos que não querem ouvir, para que escutem a palavra.

Há que compreender tudo isto de forma mais íntima, mais profunda; isto não corresponde a um passado remoto, é para ser vivido dentro de nós mesmos aqui e agora.

Se começamos a amadurecer um pouquinho, saberemos apreciar melhor a mensagem que o Grande Mestre Jesus, o Cristo trouxe à Terra.

Aquele que ressuscita se transforma radicalmente, se converte num Deus-Homem, é um Hierofante da estatura de um Hermes, um Buda.

Mas é necessário fazer a Grande Obra. Realmente, não se poderia entender os quatro Evangelhos se não se estudasse Alquimia e Cabala, porque são alquimistas e cabalistas, isto é óbvio.

Os judeus tinham três livros sagrados. O primeiro é o corpo da doutrina, a Bíblia. O segundo é a alma da doutrina, o Talmud, no qual está a alma judaica. E o terceiro é o espírito da doutrina, o Zohar, onde está toda a Cabala dos rabinos.

A Bíblia, o corpo da doutrina, está escrita sob chave. Se queremos estudar a Bíblia "compaginando versículos", procedemos de forma ignorante, empírica e absurda.


Prova disto é que todas as seitas mortas que, até a época atual, se nutriram da Bíblia interpretada de forma empírica, não puderam entrar em acordo. Se existem milhares de seitas baseadas na Bíblia, quer dizer que nenhuma delas a compreendeu.


Se quisermos saber algo sobre o Cristo, sobre o Filho do Homem, devemos estudar a Árvore da Vida...

Comecei a pesquisar os ensinamentos internos do cristianismo primitivo por estar convencido de que Mestre Jesus não poderia ter omitido de suas instruções uma metodologia para o caminho espiritual, à semelhança dos métodos conhecidos nas principais tradições orientais. Essas tradições têm atraído milhares de cristãos sinceros mas desiludidos com o receituário do cristianismo tradicional.


Como o esoterismo cristão é muito rico e a literatura existente muito extensa, o foco deste trabalho foi direcionado para o ponto central dos ensinamentos esotéricos do Mestre Jesus, ou seja, a busca do Reino de Deus.

O mais surpreendente, como será visto a seguir, é que a essência dos ensinamentos mais profundos do Mestre Jesus sempre esteve expressa na Bíblia e em outros documentos sem ser devidamente percebida.

É como se as jóias mais preciosas da mensagem bíblica estivessem escondidas debaixo de nossos olhos sob a aparência de coisas sem maior importância. Dentre essas preciosidades negligenciadas do esoterismo cristão poderíamos mencionar:

"Eu e o Pai somos Um,"
"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará,"
"Já não sou eu que vivo mas é Cristo que vive em mim,"
"Quem não nascer de novo não poderá entrar no Reino dos Céus,"
"Vinde a mim as criancinhas,"
"Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer produzirá muito fruto."


Esses exemplos e muitos outros evidenciam que os ensinamentos esotéricos do Mestre Jesus foram preservados em dois segmentos: no primeiro, encontram-se as proposições, instruções e acontecimentos da vida do Salvador, que estão descritos na Bíblia e em diversos documentos apócrifos...

No outro, estão os detalhamentos dessas instruções, com as explicações de suas razões e as técnicas e métodos para o aprimoramento da vida espiritual. Essas instruções e explanações que não se encontram na Bíblia ou nos documentos apócrifos, foram passadas de boca a ouvido, naquilo que se chama de tradição oral, ou mesmo por intermédio de outros métodos que serão abordados posteriormente.

Quando buscamos sintonia com o Mestre em nossas meditações, depois de algum tempo, a confusão inicial cede lugar à simplicidade essencial da mensagem divina, facilitando-nos a tarefa de desenterrar a tradição interna que desconhecíamos. Os objetivos da mensagem salvadora do Mestre Jesus começam a aclarar-se, seus métodos de transmissão de instruções fazem-se presentes, e seus ensinamentos surgem como jóias preciosas escondidas sob o véu da alegoria.

Vivemos na ilusão da separatividade, alimentados pelo egoísmo e pelo orgulho, pensando que criamos de forma separada e independente alguma coisa. A realidade, no entanto, é que cada ser humano é tão somente uma célula no grande organismo da humanidade.

Como tal, a mente de cada um nada mais é do que um aspecto da mente universal, também chamada de inconsciente coletivo ou mente divina. Dentro da mente divina, a verdade está eternamente presente em sua forma essencial, embora seja apresentada de diferentes maneiras, pelos inumeráveis aspectos individuais desse grande Todo.

Verifiquei que, quanto mais procurava estudar e meditar sobre os ensinamentos do Mestre Jesus, mais livros e idéias sobre o assunto iam aparecendo. Percebi que muitas outras almas já haviam decifrado e interpretado boa parte dos ensinamentos do Salvador. Minha tarefa, portanto, foi grandemente facilitada. Como é natural, minhas deficiências literárias, intelectuais e espirituais explicam as falhas que serão encontradas ao longo do texto.

O cristão dedicado e sincero, que procura seguir a orientação do Mestre de tomar a sua cruz e segui-lo, pode se questionar como é possível que o entusiasmo da cristandade dos três primeiros séculos, que seguia Jesus com amor e fervor apesar das perseguições implacáveis que ceifaram a vida de milhares de mártires naqueles tempos, possa ter arrefecido e se transformado, para grande parte daqueles que se dizem cristãos, numa mera afiliação religiosa pró-forma sem o envolvimento de seu coração. As causas dessa mudança qualitativa da religiosidade do cristão são complexas, mas podem ser em boa parte imputadas ao fato de que a maioria das igrejas atuais distanciaram-se dos ideais originais, retornando ao comportamento de obediência a rituais externos e a práticas religiosas mecânicas que Jesus havia tão duramente criticado nos fariseus e levitas.

São poucos os cristãos no mundo de hoje que procuram realmente entender os ensinamentos do Mestre Jesus e, um menor número ainda, seguir o Mestre.


Com o passar dos séculos, a mensagem central do Mestre Jesus foi progressivamente desvirtuada e acabou sendo esquecida.

Porém, se meditarmos profundamente sobre a essência dos ensinamentos de Jesus, deixando de lado nossas idéias pré concebidas, chegaremos à conclusão de que somos o próprio filho pródigo e que algum dia retornaremos à Casa do Pai, que é o Reino dos Céus, voltando ao estágio de pureza prístina original de um Filho de Deus, tornando-nos, então, um Cristo e podendo dizer, por experiência própria, que "Eu e o Pai somos um" (Jo 10:30).

Paulo demonstra estar em sintonia com essa realidade ao dizer: "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2:20). Esse entendimento do potencial ilimitado do homem e o conhecimento da herança divina podem ser obtidos através do estudo e da vivência do lado esotérico de nossa tradição, que permaneceu esquecido e negligenciado por tantos séculos.


O primeiro passo para usufruirmos a herança divina é a decisão de reivindicá-la. Para isso temos que nos desvencilhar dos condicionamentos limitativos impostos por muitos séculos de apatia intelectual e de ausência do exercício da vontade. A verdade sempre esteve ao nosso alcance, mas, por várias razões, deixamos escapar a oportunidade de percebê-la.


Podemos, no entanto, reverter esta situação porque o momento atual é extremamente propício para o despertar espiritual. Felizmente, os ensinamentos esotéricos da tradição cristã não foram totalmente perdidos. Eles podem ser recuperados, compreendidos e, se devidamente vivenciados, podem mudar a nossa vida, permitindo que alcancemos "O estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo" (Ef 4:13).

O primeiro passo neste estudo dos ensinamentos do Mestre Jesus é deixar claro que o cristianismo, em sua essência última, não é uma instituição mas sim uma convicção interior. Essa convicção, a verdadeira fé, deve guiar a conduta de seus seguidores rumo à meta final, o Reino, deixando um rastro de boas obras ao longo do caminho trilhado.


Nesta virada do terceiro milênio, estamos vivendo um momento extremamente propício para tornar conhecidas as coisas ocultas. Por isso esforçamo-nos para fazer com que os ensinamentos do Mestre Jesus entesourados em documentos raros, ao alcance apenas de um limitado círculo de estudiosos, sejam postos à disposição dos cristãos sinceros que ainda não conhecem a inteireza de sua mensagem.

Como não podia deixar de ser, essas energias afetaram de forma positiva a vida espiritual do planeta. As estruturas religiosas foram induzidas a alargar seus horizontes para abranger outros grupos e outras etnias. Em virtude da invasão chinesa, que forçou um êxodo de grandes proporções da comunidade monástica tibetana, o budismo tibetano passou a ser conhecido e praticado por centenas de milhares de pessoas em quase todo mundo ocidental, quebrando um milênio de isolamento no Tibete. O sofrimento do povo tibetano foi transmutado em benefício dos buscadores da verdade em todo o mundo, com a tradução das obras dos mestres budistas daquele país e o estabelecimento de centros de ensino do Dharma em vários países do oriente e do ocidente.


Os cultos de praticamente todas as igrejas cristãs tradicionais, antes e depois da Reforma, baseiam-se num acirramento do aspecto emocional do homem. As liturgias, cânticos, romarias e atos devocionais baseiam-se numa fé emotiva e cega. A questão da verdadeira fé é de grande importância e será examinada posteriormente, pois ela é um dos instrumentos fundamentais do processo transformador da ioga cristã.

Mas a emoção é apenas um dos aspectos interiores do homem. O caminho que leva ao Reino dos Céus requer a integração de todos os aspectos do ser humano. Isso significa que a emotividade religiosa tem que abrir espaço para a razão, a fim de que as duas, emoção e razão, possam ser integradas e transcendidas, no seu devido tempo, pela intuição. Isso só ocorre quando o Cristo interior tem condições de despertar no âmago de nossos corações e, progressivamente, assenhorar-se do comando de nossas vidas. Esse processo de integração, ou ecumenismo interior, é a essência dos ensinamentos internos do Mestre Jesus.

Assim como o aumento da intensidade das energias espirituais neste século se fez sentir ao nível das idéias, dos movimentos e das instituições existentes, com mais razão ainda se fez sentir na alma das pessoas. Milhões de indivíduos em todo mundo passaram a sentir o chamado do alto. Esse chamado, sempre sutil, procura por diversos meios fazer com que o homem entenda que sua meta é o Reino e que, para atingi-la, torna-se necessário um progressivo desapego do mundo material.


A forma como os homens geralmente sentem esse chamado é através da insatisfação com sua vida, mesmo quando estão aparentemente fazendo as coisas certas e vivendo uma vida ética. Essa divina insatisfação deslancha um processo de busca, que, inicialmente, é confuso, pois o homem não consegue identificar exatamente o que está procurando. Busca livros e outras formas de auto-ajuda, dentro e fora de sua tradição; procura ouvir todo tipo de palestra sobre temas espirituais, enfim; procura por todos os meios saciar sua terrível sede da verdade.


Muitos dos que batem às portas das igrejas voltam desapontados com o receituário prescrito pelos seus sacerdotes e pastores.


Podemos identificar três áreas principais de insatisfação com a ortodoxia: os dogmas, a conceituação do homem como pecador e de Deus como justiceiro e, finalmente, as práticas espirituais sugeridas.
Os dogmas de fé sempre constituíram-se em obstáculos para o crescente segmento pensante da cristandade. Enquanto o domínio da Igreja de Roma era total sobre seus fiéis, o medo era geralmente suficiente para manter os fiéis e até mesmo os intelectuais em linha.

Porém, neste último século, com os grandes avanços na educação das massas e a liberdade de pensamento exercida sem as antigas inibições religiosas, o conflito entre dogma e razão vem levando um número crescente de cristãos a assumir uma posição de coerência com seus sentimentos mais íntimos. Infelizmente, isto tem também levado muitos a rechaçarem, juntamente com os dogmas, toda a doutrina cristã e os ensinamentos corretos.


A segunda área de conflito com a doutrina ortodoxa já era sentida de forma latente há muitos séculos, como uma repulsa instintiva ao conceito do Deus justiceiro apresentado pelo Antigo Testamento, que foi encampado pela ortodoxia cristã.


Conceber Deus como um Ser sujeito a ataques de fúria que precisam ser aplacados por diversas formas de sacrifícios e holocaustos fere a consciência daqueles que não se recusam a pensar e constitui-se numa verdadeira heresia. A máxima heresia nesse sentido é a proposição de que o Filho de Deus foi oferecido em sacrifício para propiciar o perdão de Deus pelos pecados dos homens, conhecida como doutrina da expiação vicária.


Felizmente, em nosso século, com os avanços da psicologia moderna e o entendimento do lado sombra do ser humano, o cristão começou a entender porque sempre se sentiu incomodado por sua caracterização como 'vil pecador.
Jung mostrou que as negatividades inerentes ao nosso processo de aprendizado terreno devem ser entendidas e superadas pela compreensão e amor e não pelo temor de um Deus implacável que castiga nossas falhas e fraquezas com os tormentos do fogo eterno.

Finalmente, muitos dos cristãos que ainda se mantêm fiéis à Igreja mostram seu descontentamento com as práticas espirituais tradicionais da ortodoxia e, em alguns casos, com o significado deturpado dado a elas. A missa, o terço, as romarias e as outras práticas disponíveis aos leigos contrastam com as práticas de outras tradições que, aos poucos, se tornaram conhecidas no Ocidente. Esse descontentamento não se restringe aos católicos mas é sentido, também pelos fiéis das seitas evangélicas e protestantes com sua conhecida inflexibilidade em questões doutrinárias.

Se por um lado existe uma natural curiosidade por parte de todo cristão em conhecer os ensinamentos internos de sua tradição, devemos estar preparados para o fato de que esses ensinamentos nem sempre estarão de acordo com nossas idéias tradicionais.


Na verdade, parte dos conceitos ortodoxos deverão ser modificados e, em alguns casos, até mesmo abandonados, à medida que adquirimos um entendimento mais sólido do lado esotérico dos ensinamentos do Mestre Jesus. Esse é o processo natural de amadurecimento de todo indivíduo. As noções que governam a atitude das crianças em seus primeiros anos de interação com o mundo exterior, dão geralmente lugar a conceitos mais abrangentes e complexos quando o jovem adulto está suficientemente amadurecido em sua capacidade intelectual e emocional.


Um processo semelhante ocorre em nossa vida espiritual. Para que o devoto possa crescer espiritualmente, ele deve aprender a entender o sentido esotérico subjacente às doutrinas anteriormente aceitas literalmente como dogmas de fé.


Deve estar disposto a investigar a simbologia bíblica. Essa disposição implica numa atitude de flexibilidade e tolerância para com idéias e argumentos diferentes dos aceitos até então. O verdadeiro estudioso deve submeter todo conceito e argumento, tanto tradicional como não-ortodoxo, ao crivo da razão e, a seguir, à avaliação do coração. O devoto que adotar essa postura espiritualmente sadia estará chamando em seu auxílio o Cristo interior, que derramará suas bênçãos na forma de inspiração para a compreensão mais profunda das verdades transformadoras de nossa tradição. Com isso ele sentirá uma profunda alegria ao efetuar uma leitura crítica, que lhe permitirá construir paulatinamente, e de forma consciente, o arcabouço doutrinário e prático de sua transformação espiritual.

Isso significa que o leitor deve adotar a postura do cientista que, ao iniciar um novo projeto de pesquisa, adota uma série de hipóteses de trabalho, que serão investigadas e testadas. Caso essas hipóteses facilitem o avanço da pesquisa e sejam confirmadas por testes posteriores, então, e só então, poderão ser promovidas de hipóteses a premissas para a implementação da parte prática que permitirá a conclusão do trabalho.

Essa atitude "científica", apesar de atraente e lógica, é difícil de ser adotada na prática. Todos nós interagimos com o mundo a partir de um grande número de condicionamentos, a maior parte dos quais inconscientes. Nossa mente racional pode estar disposta a considerar uma determinada linha de raciocínio, porém, nossos sentimentos, que são governados pelo inconsciente, usurpam muitas vezes a atribuição da razão e rejeitam os argumentos lógicos tão logo percebem que esses podem ameaçar a segurança de nossa estrutura de valores.

Isso explica a natureza intrinsecamente conservadora de todo ser humano. Resistimos à mudança porque toda mudança implica numa revolução interior que demanda um compromisso inabalável com a verdade. Esse compromisso implica em humildade para aceitar a possibilidade de que alguns de nossos mais estimados conceitos foram construídos sobre a areia e, finalmente, uma coragem extraordinária para enfrentar a resistência inicial de nosso ego orgulhoso e inseguro.

Os meandros da mente são muitas vezes desconcertantes para o iniciante. Um profundo estudioso da matéria escreveu: "A mente formal assemelha-se a um ditador de um estado autoritário. Tal dirigente não pode, não ousa, tolerar qualquer interferência de outros no seu despotismo ou sugestão de controle sobre ele, porque se isso prosperasse a sua ditadura eventualmente terminaria.
No que concerne à manutenção de seu sistema e ao controle das mentes cegas de seus membros, a ortodoxia religiosa estreita e defensiva está precisamente na mesma posição. Todo dogmatismo em assuntos religiosos surge do medo e desse impulso para o poder e sua preservação."

Para o estudante de esoterismo, toda e qualquer proposição doutrinária ou filosófica deve ser tomada como hipótese de trabalho da mente concreta, até que ele alcance o estado místico que lhe permita conhecer diretamente a verdade. Quando em profunda contemplação ele passar a comungar com a Luz, então, e só então, poderá saber com toda certeza as verdades que transcendem a mente intelectiva e que pertencem ao âmbito do que chamamos de intuição.

É esse conhecimento que os antigos chamavam de gnosis, o conhecimento direto da verdade que é alcançado com a iluminação, e que gera uma fé inabalável.

O importante são os ensinamentos transformadores, que poderíamos chamar de metodologia para a transformação do homem velho no homem novo. Quando tivermos nascido de novo, iluminados pelo Cristo interior, estaremos capacitados a reavaliar nossas premissas anteriores para, então, estabelecer nossa fundamentação filosófica com base na Verdade e não mais em hipóteses.

O estudante que estabelecer como meta a sua transformação interior, não se deixando limitar ou intimidar por argumentos filosóficos ou teológicos, poderá deixar para mais tarde as decisões doutrinárias, quando estiver capacitado pela iluminação transformadora a pronunciar-se sobre esses pontos de forma definitiva.

O Mestre deve ter tido isso em mente quando nos disse:

"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8:32).

Observamos que o Caminho, como tudo na vida, apresenta uma periódica alternância de ciclos. Na primeira etapa a criança tem uma atitude passiva para com a vida, aceitando a orientação de seus superiores. O adulto, ao contrário, para ser bem sucedido, deve assumir uma atitude ativa, buscando sua liberdade para decidir sobre o que julga ser melhor para seus interesses. Na última etapa, o futuro sábio deve mais uma vez retornar à passividade, aguardando com paciência, humildade e perseverança a chegada da Graça, que trará a iluminação.

Palavras do Mestre:

"Nada há de oculto que não venha a ser manifesto, e nada em segredo que não venha à luz do dia" (Mc 4:22).



O método para alcançar o Reino dos Céus, que foi descrito pelo Mestre Jesus como a Porta Estreita e o Caminho Apertado. Em sua essência, o método poderia ser resumido no que a ortodoxia chamou de 'arrependimento', mas que no original grego era metanoia, que tinha um significado bem mais amplo, que era o de mudança dos estados mentais que levam à mudança de consciência pela superação dos condicionamentos e da ignorância anterior. Esse conceito é basicamente psicológico e oferece um paralelo com o enfoque da tradição budista de transformação da mente. Ainda nesta parte são abordados os primeiros passos no caminho espiritual, incluindo o despertar para a realidade última da vida, a eterna busca da felicidade e o papel da aspiração ardente. Finalmente, são examinadas as regras do caminho espiritual, a fundação da verdadeira fé. Dentre essas regras são discutidas a unidade de todas as coisas, a natureza cíclica da manifestação, o objetivo do processo de manifestação, o papel do livre arbítrio e da lei de causa e efeito e a importância do conhecimento de si mesmo.


Dentre elas destacam-se a integração entre a natureza superior e a inferior do homem, semelhante ao processo de individuação descrito por Jung, como necessária para que ocorra o verdadeiro crescimento espiritual. Verifica-se que o amor e a verdade são os elementos integradores mais importantes no processo. De interesse especial para o devoto são os indícios de que a transformação está ocorrendo e está levando-o progressivamente à união com o Supremo Bem, a meta de todo esforço.

Um fato de especial interesse para o devoto é que a vida do Mestre Jesus, o Cristo, pode ser vista como uma alegoria do caminho acelerado, em que os marcos de seu nascimento, batismo, transfiguração, morte e ressurreição e, finalmente, a ascensão representam as cinco grandes iniciações.



BOAS FESTAS , FELIZ NATAL DO SEU CORAÇÃO, QUE O TEU CRISTO INTERNO, POSSA SE TORNAR CADA DIA MAIS PRESENTE, ATIVO E DESPERTO EM VOCE.


*Ps: A propósito, Mestre Jesus não nasceu dia 25/12.