sábado, 16 de outubro de 2010

A ROSA+CRUZ E ESOTERISMO CRISTÃO




De acordo René Guenón e Serge Hutin, e o que nos diz a própria tradição hermética, o termo Rosacruz deve reservar-se aos "libertados vivos", aos Adeptos (com A maiúsculo) que chegaram à Regeneração, ao conhecimento supremo.

São as crianças secretas do Senhor, os Menores Eleitos de Pasqually. Cosmopolitas, dispersos pelo mundo, como Adeptos vivem a experiência da Luz que lhes foi revelada por uma fé viva.

Constituem uma espécie de Igreja Oculta de Cristo, a Igreja Invisível de Eckarthausen. Os Hermetistas Rosacrucianos do século XVII, da primeira Rosacruz eram decididamente cristãos e sedimentavam sua fé inabalável no Cristo como pedra fundamental. A regeneração obtida pelo Adepto através da Verdadeira Medicina, a Panacéia dos Sábios é um estado interior não suscetível de ser examinado pelos anais da História.

Quanto expressão de um profundo esoterismo cristão segue-se alguns trechos de autores Rosacrucianos entre os séculos XVII e XVIII que atestam a aptidão cristã daqueles Adeptos.

J. Valentin Andreae escreve em Chistianópolis :

"Não reterei, senão aquilo que é certo : saber que nos devemos ligar a Cristo e só a ele, em perfeita obediência. Os Cristãos, todos os Cristãos, devem amar-se e unir-se numa sociedade totalitária cujo ideal em reunir todas as coisas no Cristo; tanto aquilo que existe sobre a terra como aquilo que existe nos céus" ( citado por Jean Pierre BAYARD, Os Rosa-Cruz )

Em Christianopolis, se exclue os falsos irmãos da Rosacruz e não os verdadeiros " Na porta oriental existe um guardião que examina os estranhos que pretendem entrar na cidade. Se nega a admissão a certas classes baixas de pessoas, entre elas atores que tenham demasiado tempo livre e impostores que se dizem irmãos dos Rosacruzes". ( J. V. Andreae)

Outro rosacruciano, John Heydon que escreveu entre 1661 e 1664 os tratados "The Glory of the Rosy Cross" e "The Rosie Crucian infaillible axiomata" escreveu :

"A oferenda de si mesmo é um sacrifício tão agradável a Deus, que um homem tão piedoso e bom não conseguirá encontrar outra que lhe possa agradar mais, tal como isso pôde confirmar-se ralativamente a um "gentleman"que descendia da linhagem dos Plantagenetas, e que foi até o Egito, à Itália e à Arábia, tendo depois regressado para vir frequentar a Sociedade dos Cristãos inspirados."

Noutra análise , Frances Yates trata de demonstrar em seu "Iluminismo Rosacruz" que estes "filósofos rosacruzes" formaram parte da órbita do movimento palatino encabeçado por Frederico V, líder da Confoederatio Militiae Evangelicae contra a liga católica que culminaria na Guerra dos Trinta Anos.

A única menção sobre a constituição dessa aliança potestante é narrada por Simon Studion em seu "Naometria". Cabe salientar que na época todos os autores rosacrucianos eram saídos dos círculos intelectuais protestantes tais como J. V. Andreae, Wilhelm Wense , Tobias Hess e Tobias Adami do Círculo de Tübingen, por exemplo. Comenius ( Jan Amós Komensky) recebeu sua educação cristã na Igreja dos Irmãos Morávios, e uma interpretação da Política Hermética dada por Robert Vanloo em sua "Utopia dos Rosacruzes"é de que os manifestos de certa forma comeraram o bicentenário da morte na fogueira de um dos primeiros reformadores cristãos, Johann Hus em 1414-1415 ( prisão e morte).

Outro autor rosacruciano, Daniel Cramer, em seus emblemas rosacruzes de 1616 escreve :

"Depois, redimido pelo sangue de Cristo, estarás cheio de alegria, e te ocuparás de conhecer corretamente a Palavra de Deus".

Ora é sabido, que o Rosacrucianismo original do século XVII era essencialmente cristão, o que basta analisar os textos fundamentais da Rosa+Cruz, como o Fama e Confessio, para se aperceber disto. No Fama, no momento da abertura da mítica cripta de Christian Rosenkreuz ( Cristão da Rosa+Cruz ), encontrava-se um altar redondo coberto por uma placa de cobre, na qual estava gravado o seguinte :

"Jesus é tudo para mim",

logo depois, noutro trecho, após a assinaturas dos presentes na abertura da cripta estava escrito :

"Em Deus nascemos, em Jesus Cristo morremos, e pelo Espírito Santo renascemos".

Nas lâminas do Geheime Figuren, "Os Símbolos Secretos dos Rosacruzes" isso fica mais ainda evidenciado. O movimento Rosacruciano está fortemente vinculado ao tenso contexto histórico da Europa. A Europa vinha dilacerada pelas Guerras de Religião, com a Paz de Augsburgo em 1555 as disputas entre católicos e protestantes supostamente se acalmaram. A tensão tornou a aumentar na década de 80 culminando na Guerra dos Trinta Anos no século seguinte. Susanna Akermann observa que é inadequado falar num Rosacrucianismo antes da circulação do manifesto Fama Fraternitatis.

A história de C.R.C é que irá lançar as bases da Fraternidade, visto que não há Rosacrucianismo histórico sem a história de Christian Rosenkreuz. É impossível saber quando essa história foi concebida, mas sabemos que já circulava em forma de manuscrito por volta de 1610.

Michael Maier outro autor Rosacruciano escreve em seu "Themis Aurea" :

"e mais ainda, Cristo ele mesmo, tendo que encarnar não fez desdém para ser também o médico da Alma, e também o médico do corpo".

Para Robert Fludd em "Summun Bonum " o símbolo da Rosa-Cruz possui dupla significação "A Cruz representa a sabedoria do Salvador, o conhecimento perfeito; e a Rosa é o símbolo da purificação, do ascetismo que destrói os desejos carnais, e igualmente o signo da Obra Alquímica, da purificação de toda mácula, a perfeição do Magistério ". Em Fludd podemos ver as mesmas expressões usadas por Boehme, alusões a a "Pedra Filosofal espiritual", ao "Cristo, a Santa Pedra Angular da Sabedoria" .

Mais tarde, no século XVIII, numa das célebres ilustrações do Manuscrito de Altona ( 1785) há uma prncha descrita como a "montanha dos filósofos", sendo acrescida da seguinte explicação :

"A Alma dos homens em toda parte foi perdida por uma queda, e a saúde do corpo ressentiu-se da queda, vinda a Salvação para alma humana através de Jesus Cristo. A saúde corporal é restituída por algo que não é aprazível de ser contemplado."

Noutro documento, datado de 1794, se trata da admissão do Dr. Bacstrom na Sociedade Rosa-Cruz pelo Conde de Chazal nas Ilhas Maurício :

"estamos novamente unidos em um só espírito sob a denominação de Frates Rosae Crucis, Irmãos da Rosa Cruz, isto é, os irmãos que acreditam no Grande Sacríficio feito por Jesus sobre a Rosa Cruz, manchada e marcada com o Seu Sangue, para redenção de Naturezas Espirituais."

Karl Von Eckarthausen em sua "Nuvem sobre o Santuário":

" Jesus Cristo é a Sabedoria, a Verdade e o Amor. Como Sabedoria Ele é o princípio da razão, a fonte do conhecimento, a mais pura. Como Amor Ele é o princípio da moralidade, o móbil essencial e puro da vontade."

"O cristão prático encontra este móbil da vontade, princípio de toda imoralidade, objetiva e realmente no seu coração e este móbil se exprime na seguinte fórmula:

"Ama a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo".

"O amor de Deus e do próximo é, o móbil da vontade do cristão; e a essência do próprio amor é Jesus Cristo em nós. Assim é que o princípio da razão é a sabedoria em nós; e, a essência da sabedoria, a sabedoria em sua substância é ainda Jesus Cristo, a Luz do Mundo. Assim encontramos n'Ele o principio da razão e da moralidade. Tudo o que eu digo aqui não é, uma extravagância hiperfísica, é a realidade, a verdade absoluta que cada um pode comprovar experimentalmente desde que recebe em si o princípio da razão e da moralidade, Jesus Cristo como sendo a Sabedoria e o Amor essenciais."


Tradicionalmente, o Movimento Rosa-Cruz tem apoiado a liberdade e a responsabilidade pessoal. A Liberdade de escolher e investigar a Verdade sem medo ou opressão de um corpo governante, com ênfase na responsabilidade pessoal para agir apropriadamente.

Eis porque os Rosa-Cruzes têm sempre lutado contra a opressão e a intolerância religiosa, social ou intelectual. Historicamente, o movimento trabalhou para o estabelecimento e a perpetuação de uma condição na qual todas as pessoas possam livremente seguir seus próprios caminhos para a iluminação

A Essência que a tudo permeia infunde todas as coisas, e que todas as coisas são uma parte integral da Essência Única. Ser uma parte da Unidade significa que podemos atingir o conhecimento direto dessa Essência. Este conceito é fundamental para o misticismo.

Reconhecemos o fato de que todo aprendizado deve necessáriamente vir de dentro de cada estudante individual. Portando, devemos dizer que preferimos auxiliar o estudante a aprender por si mesmo. Para esse fim, ajudamos os estudantes a se tornarem pensadores e filósofos independentes que moldam suas próprias crenças.

A “Ordem” Rosa-Cruz verdadeira é a que está no coração da pessoa, significando que um Rosa-Cruz verdadeiro pode existir em qualquer Ordem. A organização é meramente um veículo no qual a essência da R+C se manifesta. Em outras palavras, uma organização, em virtude do propósito e dos motivos de seus membros pode penetrar na essência R+C e ser verdadeira. Justamente por isso, uma organização pode se perder se seus membros esquecerem o que é importante.


God Anubys

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