terça-feira, 4 de agosto de 2009

Realização no Amor



A vida, enraizada no Espírito, é eterna em si mesma. Na matéria, contudo, depende da colaboração dos amantes, a fim de criar formas que abrigam as consciências em evolução.
O amor não é eterno enquanto dura, mas dura enquanto é terno”, fazendo alusão a um dos mais decantados sonetos de Vinícius de Morais. Pela ânsia de união dos que se amam, a natureza realiza os seus fins, mas quase nunca o dos amantes. Provadas as primícias de suas relações, hoje cada vez mais cedo, os corações ainda embalados nas descobertas da puberdade, o que lhes fica depois? O mesmo de antes, ou seja, a sensação de “incompletude” e a necessidade de continuar buscando o “pedaço que lhes falta”.

Por que o sexo não preenche isso? Ou melhor, por que preenche apenas no exato instante em que os corpos se encontram na sensação orgástica, considerada o maior prazer humano?
O sexo não preenche porque nas relações centradas no prazer, sem dúvida em maioria o que se toca não são as nossas almas, mas apenas o físico. E aí o que predomina é a natureza da matéria, cuja “especialidade” é justamente “separar”, dando inclusive invólucro ao Espírito Individual, nossa própria consciência, quando esta emana do Absoluto.

Ora, sendo da natureza da matéria mais separar do que unir, ela será sempre um obstáculo à união ansiada pelos amantes. A frenética busca sexual, em lugar de uni-los, ainda mais os separa.

O que eles sonham é uma “união eterna”, mas a que praticam é baseada na posse, que pressupõe sujeito e objeto, possuído e possuidor, ou seja, coisas eternamente separadas em si mesmas.

Em nosso ponto de vista, o processo da compreensão é uma resposta para o enigma.
Em geral, tomamos a “compreensão” por “entendimento”. Porém, enquanto este é algo intelectual, a compreensão é abarcante. Envolvendo forças ligadas ao coração de fundo intuitivo ela traz para dentro do Ser o próprio objeto da compreensão, tornando o “dois” em “um” e possibilitando a efetiva realização dos atos de amor, como espelhado na vida dos Santos Seres.

Na presença do desejo, a mesma força que aproxima os amantes também os separa, pois só podem desejar algo externo a si mesmos. O que pode vir em seu socorro? Afinidade, a vibração atrativa da matéria. Quando a relação dos amantes se baseia em elevada afinidade emocional e mental, apóiam-se desinteressadamente em seus fins. Então, os desgastes entre eles são mínimos, manifestando-se o respeito, a compreensão e a própria ternura.
Se, ademais, tiverem eles objetivos espirituais comuns, determinando-se a eliminar as exigências separatistas do “eu” material, dentro e fora da relação, esta há de ser aos poucos mais profícua e mais bela, pelo sentimento de unidade que nos liga a todos os seres.

Posse aí é uma heresia, pois o espírito tem a natureza de irradiar ao invés de concentrar, de doar ao invés de reter. Só então será possível a eterna união buscada pelos amantes. Mas que união? Onde estará o “outro”, “o meu amado”, “a minha amada”? Ocorrerá então estranha fatalidade, evocando de longe o filme “Áquila”. Nele, os amantes - por força de magia - estavam condenados a todo dia se transformar, a mulher virando águia no nascer do sol, e o homem lobo no escurecer, assim jamais se encontrando. Destino bem melhor que esse, garantem os Mestres, nos é reservado pelo Eterno.

Ao finalmente chegarmos, pela compreensão e desapego, à união tão buscada, esse anseio já estará, no entanto, ligado ao infinito. O “outro” e a idéia de separatividade não mais existirão, diluídos na extraordinária felicidade, sem dor e sem dependência do amor a tudo e a todos. Tal é a promessa de delícias do verdadeiro amor (algo talvez muito longe de nossas atuais expectativas).

Tenha sempre bons pensamentos, porque os seus pensamentos se transformam em suas palavras. Tenha boas palavras,porque as suas palavras se transformam em suas ações. Tenha boas ações porque as suas ações se transformam em seus hábitos. Tenha bons hábitos porque os seus hábitos se transformam em seus valores. Tenha bons valores porque os seus valores se transformam no seu próprio destino."

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