segunda-feira, 26 de março de 2012

Versos de Ouro de Pitágoras Versão de Dario Persiano de Castro Vellozo Em um livro do Eliphas Levi ou Papus





PREPARAÇÃO

Aos Deuses imortais o culto consagrado
Rende; e tua fé conserva. Prestigia
Dos sublimes Heróis a imárcida lembrança
E a memória eteral dos supernos Espíritos.

PURIFICAÇÃO

Bom filho, reto irmão, terno esposo e bom pai
Sê; e para amigo o amigo da virtude
Escolhe, e cede sempre a seus dóceis conselhos;
Segue de sua vida os trâmites serenos;
Sê sincero e bondoso, e não o deixes nunca,
Se possível te for: pois uma lei severa
Agrilhoa o Poder junto à Necessidade.
Está em tuas mãos combater e vencer
Tuas loucas paixões; aprende a dominá-las.
Sê sóbrio, ativo e casto; as cóleras evita.
Em público ou só, não te permitas nunca
O mal; e mais que tudo a ti mesmo respeita-te.
Pensa antes de falar, pensa antes de agir.
Sê justo. Rememora; um poder invencível
Ordena de morrer; e os bens e as honrarias,
Fáceis de adquirir, são fáceis de perder.
Quanto aos males fatais que o Destino acarreta,
Julga-os pelo que são: suporta-os, procura,
Quão possível te seja, o rigor abrandar-lhes:
Os Deuses, aos mais cruéis não entregam os sábios.
Como a Verdade, o Erro adoradores conta.
O filósofo aprova, ou adverte com calma;
E, se o Erro triunfa, ele se afasta, e espera.
Ouve, e no coração grava as minhas palavras:
Fecha os olhos e o ouvido a toda prevenção;
Teme o exemplo de um outro, e pensa por ti mesmo;
Consulta, delibera e escolhe livremente. 
Deixa aos loucos o agir sem um fim e sem causa; 
Tu deves contemplar no presente o futuro. 
Não pretendas fazer aquilo que não saibas, 
Aprende: tudo cede à constância e ao tempo. 
Cuida em tua saúde; e ministra com método 
Alimentos ao corpo e repouso ao espírito. 
Pouco ou muito cuidar evita sempre; o zelo 
Igualmente se prende a um e a outro excesso. 
Têm o luxo e a avareza efeitos semelhantes. 
Deves buscar em tudo o meio justo e bom.

PERFEIÇÃO

Que se não passe um dia, amigo, sem buscares
Saber: Que fiz eu hoje? E, hoje, que olvidei? 
Se foi o mal, abstém-te; e, se o bem, persevera. 
Meus conselhos medita; e os estima; e os pratica:
E te conduzirão às divinas virtudes.
Por esse que gravou em nossos corações
A Tétrade sagrada, imenso e puro símbolo,
Fonte da Natureza, e modelo dos Deuses,
Juro. Antes, porém, que a tua alma, fiel
A seu dever, invoque, e com fervor, os Deuses,
Cujo socorro imenso e valioso e forte
Te fará concluir as obras começadas,
Segue-lhes o ensino, e não te iludirás:
Dos seres sondarás a mais estranha essência;
Conhecerás de Tudo, o princípio e o termo.
E, se o Céu permitir, saberás que a Natura,
Em tudo semelhante, é a mesma em toda parte.
Conhecedor assim de todos teus direitos,
Terás o coração livre de vãos desejos.
E saberás que o mal que aos homens cilicia, 
De seu querer é fruto; e que esses infelizes 
Procuram longe os bens cuja fonte em si trazem. 
Seres que saibam ser ditosos, são mui raros.
Joguetes das paixões, oscilando nas vagas,
Rolam, cegos, num mar sem bordas e sem termo,
Sem poder resistir nem ceder à tormenta.
Salvai-os, grande Zeus, abrindo-lhes os olhos!
Mas, não; aos homens cabe, — eles, raça divina, —
O Erro discernir, e saber a Verdade.
A Natureza os serve. E tu que a penetraste,
Homem sábio e ditoso, a paz seja contigo.
Observa minhas leis, abstém-te das coisas
Que tua alma receie, em distinguindo-as bem;
Sobre teu corpo reine e brilhe a Inteligência
Para que, te ascendendo ao Eiter fulgurante,
Mesmo entre os Imortais consigas ser um Deus! 



Estâncias ao PEREGRINO EFÊMERO
I
A CAMINHO DA PERFEIÇÃO
Signo: Câncer.
O último dos Discípulos do Filósofo Desconhecido vai algo recordar ao Peregrino Efêmero.
O Caminho da Perfeição, acidentado e longo, é marginado de tojos.
A flor do tojo abre o matiz do Desespero: é amarela; as hastes espontam acerados espinhos.
O amarelo — o ouro — é também a cor simbólica da opulência material, monetária.
A paixão do bem-estar físico, do luxo, afasta da perfectibilidade.
Que os felizes de corpo e os felizes de espírito, os que desfrutam e se satisfazem com o utilitarismo do Ocidente e com a ciência do Ocidente, não tentem palmilhar o Caminho da Perfeição!
O Caminho da Perfeição é para os Insatisfeitos de coração e de alma; para os sem conforto e sem alegria; para os Infortunados; para os que não encontraram resposta às interrogativas, anelos e anseios do Espírito; para os divorciados do luxuoso e do fútil; para os Insubmissos ao nemrodismo dos Dominadores; para os que não acharam o elixir de longa vida nos filtros do Dr. Fausto, nem a meiguice de Margarida nas sugestões de Mefistófeles; para os viúvos da Alma-lrmã; para os anacoretas da IDÉIA!
Caminhar para a Perfeição, é almejar ouvir a Voz do Silêncio; é orientar-se para a Vida Imortal; para a Verdadeira Vida.
Longe de ser o atalho do Aniquilamento, é a alfombra de Elêusis.
Raríssimos palmilharão a alfombra, raríssimos ouvirão a Voz do Silêncio: — porque a ronda da Mentalidade não começou ainda para a espécie. Só os pioneiros do Novo Ciclo escutam a música das Esferas; só os vencedores do Plano-físico entram os áditos da Renúncia.
Aos Instintivos a Renúncia custa; e não vencem o Dragão do Ádito.
O Dragão simboliza a ânsia do bem-estar material, da volúpia, da luxúria, do conforto da carne. Renunciar ao Gozo, é, para o Instintivo, renunciar à Vida. E, quanto mais afunda no Gozo, mais se afasta de Elêusis, dos hortos da IDÉIA, do Caminho da Perfeição que conduz aos santuários do Espírito.
Quem leva e guia o Peregrino?
O Destino?
Engano! A vontade.
A Vontade vence, modifica, enflora, domina os Destinos.
Querer, é poder; saber querer, é saber vencer.
Educar a Vontade, purificar as Idéias, é armar-se para a VITÓRIA.
Pelo domínio da Vontade, obtém-se o domínio da Vida.
A Vontade afasta a própria morte, demora-a, retarda-a.
A Morte é a metamorfose das Formas.
As Formas são efêmeras, e Essência é eterna.
Para a eternidade da Essência existe o Âmbito Infinito.
A seiva da Vontade é a Esperança.
A Dúvida exaure, — porque a Dúvida conturba a Vontade. Duvidar, é debilitar-se.
A Dúvida é a agonia do Ser. Não duvides!
Sempre que duvidares, teu aura far-se-á vulnerável; e as vibrações dos inferiores penumbrarão a luz de tua Consciência.
Teu aura é tua égide, a armadura que reveste tua alma.
Para que teu aura seja invulnerável, sê PURO.
Conforma-te à lição de Zaratustra: — Puro em pensamentos, puro em palavras, puro em atos.
A palavra realiza a Idéia; o ato é a materialização do Verbo.
O verdadeiro delito contra as Normas, não consiste em praticar a má-ação; o verdadeiro delito consiste em pensar mal; porque é o mau pensamento que engendra a má palavra ou o mau ato.
Os delitos morais, contra os quais a Civilização não clama, constituem o crime: porque, não efeito, mas causa do crime.
As idéias, os pensamentos, bons ou maus, vivem. Quem gera idéias, gera palavras e atos. Quem gera idéias, fecunda cérebros; quem gera más idéias, fecunda cérebros malmente.
Os geradores de más idéias, são os verdadeiros responsáveis dos delitos.
Pensa bem: E, não só ficarás invulnerável ao MAL, como concorrerás para que o BEM aumente.
Ficarás invulnerável, porque, sendo o mal inferior, só poderá penetrar onde encontre medo ou afinidade.
A VONTADE aniquila todos os contrários; a boa-vontade não é violenta: é serena, suave, consoladora.
Atravessa, Peregrino, As Portas de Ouro, e medita, carinhosamente, os Ensinamentos do Mestre.
As Portas de Ouro levam ao ádito do Instituto; no santuário fulge a ESSÊNCIA! 



II
A BÚSSOLA DAVIDA
Signo: Virgo.
Ouve, Peregrino.
O coração é uma bússola.
A agulha imantada dessa bússola de fogo chama-se: DESEJO.,
Entre dois pólos oscila a agulha: a Inércia e a VONTADE.
Possuir a Vontade, é possuir a chave do Grande Arcano. Buda ensinou: Cultiva a Força de Vontade.
Cultivar a Vontade, é palmilhar o caminho da REALIZAÇÃO. Cultivar a Vontade, é traduzir em ATOS os pensamentos e as palavras.
Não basta conhecer o Bem, é necessário praticá-lo. Desconhecê-lo é mal; conhecê-lo e não praticá-lo, é crime.
Só não age bem, quem não tem boa-vontade. Conhece-te a ti mesmo, proclamava Sócrates.
Sê bom; vence-te a ti mesmo! era a lição de Sidarta.
E o materialismo ocidental reconhece: "O domínio de si próprio e a caridade são as duas pedras-de-toque do budismo."
Quem a si mesmo se não vence, como se poderá fazer guia de outrem? Quem não percorre o Caminho da Perfeição, como assinalará aos outros o Caminho?
Cultiva a Força de Vontade.
A criatura sem vontade, é como um cadáver ao fluxo e refluxo do oceano da vida; é como um cadáver que os maus rolam e abandonam.
Pergunta a Prentice Mulford, o Magnífico, o segredo de Nossas Forças Mentais.
E ele te ensinará a formula secreta do néctar dos Deuses.
De teu ansioso coração verás cair os espinhos; verás brilhar as rosas de teu espírito: e todo o teu Ser ficará impregnado de eflúvios suavizantes.
Ele te ensinará os Cinco Votos; penetrarás o ádito de Raja loga, murmurando, ó Peregrino Efêmero:
"Juro não matar homem ou animal;
Juro não roubar;
Juro não manter ilícitas relações;
Juro não mentir;
Juro não usar tóxicos nem narcóticos."
Dirás: e teu coração se inundará da fragrância das rosas de Esperança. A serenidade de tua alma bem vale a renúncia dos prazeres fáceis. Ânimo, Peregrino! Perseverança, meu Irmão!
Depois do gozo abjeto, que te fica? — O nojo, o tédio, a vergonha de ti mesmo.
Bebes, e és brutal;
jogas, e és cruel;
mentes, e és covarde;
calúnias,e és torpe;
vadias, e és inútil;
quanta degradação, Peregrino!
Caminhas para o ABISMO, os olhos vendados pelo Desejo Impuro. Reaje! Se queres conhecer a LUZ, evita as trevas. As emanações do Abismo são sempre deletérias.
Quanto mais densa a atmosfera de tua Mentalidade, mais difícil subir aos paramos etéreos.
A essência é sutil; o eiter é a região do ESPÍRITO.
Os paramos da IDÉIA não enojam nunca, e nunca entendiam, e não envergonham.
SÊ PURO! Cultiva a Força de Vontade!
Segue a lição de Apolônio de Tiana: “Se sois meus discípulos — disse o Solitário Peregrino — dizei também que nada possuis, que não trucidais animais, que não comeis carne, que sois livres de toda paixão, da inveja, da maledicência, do ódio, da calunia, do rancor; que, finalmente, tendes o nome inscrito entre os dos homens que alcançaram a liberdade."
Para conquistar a Liberdade,é necessário possuir o domínio de si mesmo.
O domínio de si mesmo é ato de Energia.
O Solitário deTiana assim falou um dia a seus discípulos:
"Uma vez que vos falta energia, adeus.
Devo partir para onde me levam a sabedoria e meu íntimo arcano."
Peregrino, se não queres ficar à beira do Caminho,como coisa inútil, talvez nociva,
Conhece-te a ti mesmo;
Vence-te a ti mesmo;
Cultiva a Força de Vontade.
A VONTADE é a Bússola da Vida. 



III
ATRAVÉS DA HARMONIA
Signo: Libra.
Venho dos belvederes da Morte, ó Peregrino. No frêmito dos Mármores, no enternecimento das covas rasas, nos epitáfios e nos símbolos encontrei os ritmos da Vida. Os crepes também são véus de noiva; o Aniquilamento não existe. As estatuas funerárias evocam, em as fisionomias clássicas, a Helade magestosa. Têm sorrisos de vida as estatuas dos mortos. E dá vontade de viver com os Mortos, ou nas manhãs radiosas, ou nos zênites solarianos, ou nos poentes evocativos, ou no embevecimento das noites contemplativas, ouvindo a Voz do Silêncio e murmurando aos astros os versículos do Bagavad-Gita.
Bem aventurados os Mortos, que habitam o Âmbito Infinito, bem aventurados os Mortos, que são guia dos vivos!
O Cosmos é harmonia: Pitágoras surpreendeu-lhe as vibrações que afinizam os corpos e as almas; Wagner fixou-lhe os acordes que enlevam os corações e encantam os espíritos
Ouve, Peregrino, a Música das Esferas: é o supremo arcano da ESSÊNCIA. O segredo da Alta Magia é o mistério do Ritmo.
Aprende os arcanos do Ritmo, ó Peregrino, e conhecerás a proporção das linhas e das formas, o Arcano da Beleza que imortalizou a ARTE grega, e foi a efialta, a tortura do Vinci.
Aprende os arcanos do Ritmo, e vencerás como Orfeu, pela voz da lira e pela voz da alma, dominando os Efêmeros, sejam instintivos como Nero, ou sensitivas como Ofélia.
A lei do Ritmo é a lei do equilíbrio universal: coese os grânulos de areia que envolvem os oceanos; gera as nebulosas, nas polarizações magnéticas dos Átomos invisíveis.
O Ritmo faz o minério, a planta, o animal, o astro.
Sempre que o Ritmo se perde, as afinidades se rompem e os corpos se dissolvem.
As almas também são corpos.
Se queres perpetuar tua alma, sê PURO; não peques contra a Lei do Ritmo, ó Peregrino Efêmero!
Quando o Ritmo se perde, morre a simpatia, morre o amor; nem a amizade resiste.
Por que há simpatias inatas? Por que antipatias irredutíveis?
Estuda os matizes e os ancenúbios dos auras, estuda a Química Oculta, e receberás a iniciação de Eleusis, marco entre o profano e o sacro, entre a Ciência e o Mistério.
As afinidades perfeitas realizam a idealidade mística das Almas Irmãs.
A alma irmã é a suprema harmonia do Ritmo, harpa eólea vibrando a Música das Esferas: Realiza o tríplice arcano: arcano físico, arcano mental, arcano divino.
Rebusca as normas da Harmonia Cósmica, e acharás o segredo das Almas Irmãs.
Vive em a Natureza, e viverás eterno.
Fora do estável, tudo é fictício, decepcionante, rápido e transitório.
Os Efêmeros não mudam a essência ao ETERNO: passam, e o Eterno fica.
Cegos os que só vêem em a Natureza o plano físico.
Assim no Homem, assim em a Natureza: Tríplice o Homem, tríplice a Natura: Físico, Mental, Místico: — Corpo, Substancia, Essência.
E, como querias tu, Peregrino, fosse o efeito mais perfeito que a causa?
O Microcosmos é reflexo do Macrocosmos.
Eleva-te do plano físico, e, quem sabe, ouvirás a melodia das Almas Irmãs.
Viver em a Natureza, não é viver instintivamente, fauno de húmus que só tivesse boca e ouvidos para dizer e para ouvir o rugido dos Sentidos.
Procura a comunhão das Estrelas, aprende a sabedoria da Infância.
As Estrelas ensinam as antinomias, o ínfimo atômico e o infinito excelsior.
Quando o Pensamento se alcandora entre os Astros, não há sensismo que subsista; sente-se o vácuo em torno. Só! só! Peregrino.
É quando se ouve a Voz do Silencio, a Música das Esferas; e nossos lábios murmuram: Alma Irmã! alma irmã!
Tudo mais se nos apaga da Mente; tudo mais, até que seus lábios nos dizem, num balbucio de piedade:
— Irmão, façamos o sacrifício de nossa íntima ventura; volvamos à Terra, auxiliemos o evolver dos Instintivos, indiquemos o Caminho da Perfeição aos Efêmeros inferiores!
E o sacrifício se faz, na maravilha da FRATERNIDADE.
A Infância é sábia, porque não desaprendeu com os Homens o Ritmo da Natureza.
Eleva-te, Peregrino! Eleva-te acima dos Carniceiros.
Os Carniceiros trazem a cabeça à altura da espinha dorsal; são instintivos; no Homem, a cabeça sobre eleva-se ao corpo: é racional. Não te degrades, Peregrino, nivelando a cabeça à espinha.
Procura o caminho de Elêusis.
Inquire as normas da Harmonia Cósmica;
E compreenderá a UNIDADE,
E sentirás a fragrância da ESSÊNCIA,
E conhecerás a formula do Elixir de Vida. 



IV
CICLO DE OURO
Signo: Scorpio.
A FRATERNIDADE é a Lei da Vida. Respeita-a na Flor que perfuma, na Abelha que zumbe, na Linfa que murmura, na Ovelha que bale. Destruir, é pecar contra o Ritmo; é provocar dissonâncias que perturbam a vibração das ondas harmônicas, a vitalizante flutuação cósmica dos Invisíveis da Essência.
As dissonâncias desagregam os corpos, como os ódios desagregam as almas.
Respeita a Vida para que a solidariedade seja perfeita no Universo.
O visível é a manifestação do Invisível
Quando ressoa o violino sob a arcada nervosa, por que te chega o som ao ouvido?
Os invisíveis da ESSÊNCIA são veículos de harmonia...
E o som do violino se propagará pelo Cosmos.
Mas, tu não vês o som do violino.
A imperfeição dos sentidos limita os ambientes.
Meditas... e ouves flébil cicio.
Se ouves a caricia da Ausente, é que a Ausente subsiste e em ti concentra o pensamento. Quem transmitiu a distância o pensamento da Ausente?
Os Invisíveis da ESSÊNCIA são veículos de idéias.
Quando um cérebro vibra faz vibrar outros cérebros.
Pensa bem, a fim de que teus pensamentos não conturbem os Ritmos da Vida.
Não basta evitar o instintivo? Não basta, ó Peregrino!
Não basta não destruir? Não basta.
Não basta não supliciar? Não.
O caminho de Elêusis é longo e difícil.
Para alcançar a porta do Templo, forçoso o haver já auxiliado o Instintivo a se tornar consciente; forçoso haver britado a pedra bruta e auxiliado os Arquitetos de Hiram na propaganda fraternizadora; necessário ter ouvido a Voz da Renúncia, ter sentido a piedade do sacrifício, a indiferença do conforto.
Necessário haver-se afastado das iguarias do banquete da existência, pensando nos míseros que sucumbem à fome; haver tiritado nas noites de invernia ríspida, pensando nas criancinhas que soluçam de frio.
Instrui-te, e instrui; educa-te e educa, ó meu Irmão,ó Peregrino Efêmero!
Sê bom, sê PURO!
Dos gozos, na miragem rápida, os ressábios, não te acompanharão nem mesmo até o túmulo.
Das jóias custosas e inúteis não te iluminará o reverbero as trevas de teu espírito.
Dos manjares opíparos e das bebidas embriagantes ficará o veneno a corroer-te o corpo, a perturbar-te as idéias, a debilitar-te as energias da alma.
E serás fraco como o vício, inútil como a indolência.
Escuta,Peregrino.
Desde o remoto Egito, as Epoptas que se apiedaram do sofrimento dos Humanos e pensaram resolver o Problema da Felicidade, despiram-se do fútil, cultivaram o lótus do CARINHO.
O Carinho é o aroma da Fraternidade; cultivar o Carinho, é cultivar os lírios da PAZ.
Ouve a lição de Buda: Renúncia e Bondade.
A lição de Pitágoras: Amizade; A de Sócrates: Dever; A de Jesus: Amor; A de Apolônio: Vontade; A dos Iniciados: Paz. Ensina, ó Peregrino! Ensina: — Homens, não vos agrupeis sob os lábaros das seitas, porque os sectarismos afastam da Verdade; O rótulo não dá propriedades às substâncias, nem o hábito dá ao monge virtudes morais; Pode ser virtuoso o ateu, e ser o crente impudico; Não julgueis pelas aparências, nem recuseis a mão que se vos estende;
As convicções subjetivas são de ordem secundária nas relações sociais;
Acima de todos os credos paire sempre a Lei Universal da SOLIDARIEDADE.
Proclama, ó meu Irmão, a todos os Efêmeros: — a unidade religiosa do gênero humano, através de todos os cultos; a verdade única, através de todos os símbolos.
É esse, ó Peregrino, um dos princípios básicos do ensinamento dos Pitagóricos.
Aí começa o ciclo de ouro. O ciclo de ouro é o Ciclo da Fraternidade 



NA ALFOMBRA DA LUZ
Signo: Sagitário.
Vamos, Peregrino!
Venceste o Dragão do Sólio, venceste Maiá; o vício, o egoísmo, a cólera, o sectarismo esfuminharam-se ao império de tua Vontade. És PURO. Mais um passo. Estás à porta do Templo da Sabedoria.
Bate, Peregrino.
— Quem bate?
— O Peregrino Efêmero.
— Que almeja?
— A lâmpada de ouro.
— Para que?
— A fim de rebuscar a VERDADE.
— Irmãos, deixei passar o Peregrino
O Peregrino penetrou no Templo.
— Como te chamas?
— Ahasverus.
— Em teu caminhar insano, que mais te impressionou, Peregrino?
— A majestade de Prometeu encadeado ao Cáucaso.
— Sabes qual o delito do Titã?
— Não houve delito.
— Como, se Prometeu roubou o fogo sagrado?
— A liberdade não se rouba; o Titã ensinou aos Humanos o caminho da Liberdade.
— Estás preparado para sofrer o suplício de Prometeu?
— Sim.
— Estás preparado para morrer pela liberdade de consciência?
— Sim.
O Magnífico ergueu a destra.
O Peregrino concentrou-se.
Na abobada azul brilhavam estrelas de ouro.
Era respeitável a assembléia: Ali estavam budistas, pitagóricos, essênios, mosaistas, cristãos, maometanos, ateus, irmanados em mesmo pensamento fraternal e amigo: A felicidade dos Seres.
— Peregrino,conheces a Esfinge?
— Sim.
— Algo mais conheces?
— Também conheço a Atlântida.
— Por que almejas conhecer a Verdade
— Para praticar a JUSTIÇA.
— Irmão da coluna da VERDADE, o Peregrino pede ser admitido?
— Sim, meu Irmão; porque é consciente.
— Irmão da coluna da JUSTIÇA, o Peregrino pode ser admitido?
— Sim, meu Irmão; porque é puro.
— Respeitáveis Irmãos, expressai vosso anelo.
As destras se ergueram, num gesto de assentimento.
— Aproxima-te, Peregrino.
E sobre os ombros do postulante caiu o hábito de linho.
— Peregrino, a pureza do linho lembra ao Iniciado a pureza das idéias, palavras e atos. Instruir-se, para instruir; educar-se, para educar, é o fim de toda iniciação superna. Instruir e educar, é emancipar consciências; é conduzir os seres aos ciclos de ouro da FRATERNIDADE. Amai: A harmonia cósmica é resultante do AMOR.
O Magnífico emudeceu; mas, em todo o ambiente havia acordes pianíssimos: Era o ritmo dos espíritos afinizados ao diapasão da IDÉIA.
Salve, Peregrino!
Eleva os inferiores, intelectualiza os instintivos; respeita a vida sob seus múltiplos aspectos.
Quem já bebeu a vida em a taça de Tântalo, não volve à penumbra do gozo abjeto.
Pelo saber, atinge a VERDADE; e os tojos do caminho se transmudarão em lírios.
À luz da Razão eleva a JUSTIÇA; e tua consciência imergirá na beatitude do Nirvana.
Não desfolhes das almas as rosas da Esperança.
A Esperança é o cântico da Vida.
Não apagues nos corações a lâmpada do Sonho; porque o Sonho ilumina os hortos da Esperança.
Dize aos Efêmeros o Caminho da Perfeição, indica-lhes a Bússola da Vida, leva-os Através da Harmonia, aponta-lhes o Ciclo de Ouro, e que penetrem contigo na Alfombra da Luz, enternecedora e sereníssima.
A Alfombra da Luz é trâmite do Santuário; no Santuário fulge a ESSÊNCIA.
Adeus, Peregrino!
Pais da Renúncia, — Câncer-Virgo, 1910. 

2 comentários:

  1. Olá tudo bem ? Duas dicazinhas... Os Versos de Ouro de Pitágoras versão Dario Vellozo não estão nos livros de Papus ou Eliphas, e sim a versão que o Ir.: Amônio havia postado. Esta versão que o Ir.: Amônio veiculou comentei ser mais instrutiva e direta. Dario Vellozo foi poeta Simbolista Paranaense. Daí... ja viu né? A complexidade de sua forma de escrita.

    A partir de Estâncias ao PEREGRINO EFÊMERO a publicação se chama Ramo de Ouro, de Dario Vellozo, curiosamente existiram Ramos de Ouro anteriores de outros autores, mas o primeiro que eu tive contato foi este.

    Obrigado pela divlgação !!!
    Adonai Cintra

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