sábado, 3 de março de 2012
Audi, Vide, Tace.
Quem entrava na escola de Pitágoras não podia falar nos primeiros dois anos. Percebemos que as pessoas falam geralmente antes de serem solicitadas, e que devem aprender a ouvir “a voz”, Deus dentro de si.
Isso é mostrado de modo muito acertado na história de Samuel, que é
chamado três vezes, e que, somente no quarto chamado, quando procura o conselho de seu mestre Eli, reconhece a voz de Deus.
Falar é chumbo. A alquimia ensina a transformar o chumbo, metal
vil, em ouro, metal nobre, ou seja, a realizar a passagem do homem impuro ao homem em quem a luz divina foi liberada.
Muitas religiões consideram o falar vão e enaltecem o silêncio.
Podemos citar trechos dos provérbios de Salomão:
Na multidão de palavras não falta transgressão; mas o que refreia os seus lábios é prudente.
E Mestre Jesus disse em relação à pureza:
"O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem."
Sabemos que o falar pode arrastar muita impureza para o exterior.
É a impureza interior que se derrama, e isso se manifesta claramente pelo fato de o pensamento fazer uso de “matéria” mental, o éter mental, do mesmo modo que os sentimentos são animados por forças astrais.
Aquele que escuta é ligado às forças derramadas por aquele que fala.
Ele recebe seus problemas, seus descontentamentos, e sofre essas influências até em seus pensamentos, sentimentos e ações.
Falar é prata, calar é ouro. Este provérbio significa que nenhum falar pode superar o silêncio.
Na antiga sabedoria, a prata, metal semiprecioso, simboliza a dualidade, como o número dois. O ouro simboliza a unidade, o número um.
Reconhecer que no falar e no ouvir há uma escolha entre ligar-se à pureza ou à impureza pode trazer uma mudança na consciência.
Vamos supor que decidamos só ter pensamentos e sentimentos puros e que consigamos realizar isso. Então nosso falar também dará testemunho dessa pureza.
Nesse sentido é dito: Falar é prata. A prata brilha ao ser limpa.
O falar é mágico porque a voz é um órgão criador. Falar é criar.
A fala comum é alimentada pelas forças da consciência do sistema fígado-baço. Ela é a expressão do instinto de conservação e da sede de poder. A fala que é de prata é o intérprete de um coração e de um pensamento purificados.
E isso não é fácil como o exemplifica o conto Os três desejos:
Júpiter concede três desejos a um pobre lenhador. Este reflete e, com sua mulher, já se imaginam ricos. Eles decidem aguardar o dia se- guinte para formular seus três desejos.
Mas, embriagados pelo vinho,eles se deixam levar e três disparates
tomam o lugar dos desejos.
Eis a moral da história: É especialmente verdadeiro que pessoas insensatas e confusas, que agem de modo inconseqüente sob a influência da ira ou da ignorância, não podem pedir o que quer que seja, pois são incapazes de aproveitar os dons que o céu lhes envia.
Este conto ensina que o pensamento, a vontade e a fala, que obedecem à lei de causa e efeito, não ficam sem conseqüências.
Falar é criar.
Uma pergunta se impõe: Em que nível se situa esse processo de criação?
É para erigir ou para desintegrar?
Lao Tsé disse: "Quem fala pouco permanece ele mesmo."
Aquele que fala pouco, com consciência e com toda a responsabilidade, permanece ele mesmo. Tal é a base de uma mudança libertadora.
O apóstolo Paulo diz, quando alcançou o estado da nova consciência:
E sei que tal homem [...] foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras
inefáveis, de que ao homem não é lícito falar.
Falar é ouro
O falar áureo não é acessível ao homem terreno. Somente Deus emite o Verbo.
E o Evangelho de João inicia assim:
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ela estava no princípio com Deus."
No Novo Testamento Mestre Jesus exprime a força criadora. Ele diz ao leproso: "Quero; sê limpo;" ao paralítico: "Levanta-te, toma tua cama e anda."
À tempestade ele ordena: "Cala-te, aquieta-te e estas coisas se cumpriram."
As palavras do Mestre Jesus, o Cristo e de outros enviados tomam um sentido especial para aquele que alcançou o silêncio interior.
Não é somente não articular nenhuma palavra, porém, também, e sobretudo, realizar o apaziguamento mental e emocional.
Isso só é conseguido à custa de profunda purificação. Nesse silêncio, uma outra consciência, uma consciência divina, irrompe no homem.
Ele ouve dizer: "Quero, sê limpo e levanta-te", e pleno de uma força nova, ele se põe a caminho para retornar à Casa do Pai.
Ao vento da tempestade que sopra nele, ele ordena:
"Cala-te, aquieta-te", a fim de que surja a consciência nova, a qual trabalha com força.
Aquele que trabalha com uma força dessas faz, realiza, cria.
Ele chama as coisas à manifestação.
Este é o fundamento, a base exclusiva e absoluta de toda a atividade gnóstica: o Verbo!
Onde a Gnosis começa a manifestar-se, lá é pronunciado o Verbo, isto é, a força fundamental.
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