sábado, 21 de julho de 2012





Nos Upanixades, a escritura sagrada hindu, aparece a seguinte alegoria: 

“O Eu, Atman, tomou lugar na carruagem que é o corpo; o entendimento, Budi, é o condutor; o pensamento, Manas, é a rédea; os sentidos são os cavalos, e aquilo que os sentidos percebem representa o caminho que leva ao objetivo”.

A busca desse elevado objetivo, o caminho, requer, contudo, uma grande perseverança; mas, apenas
com ela, não estamos em condição de nos alinhar a esse objetivo.

Nosso mental está sujeito a determinado impulso de vida biológico que nos prende dentro dos limites do mundo material.

Isso marca nossas experiências e nossa compreensão e determina nossos objetivos.

Nosso pensamento está sempre ocupado, evidentemente, com as coisas transitórias.

Seguidamente nosso ânimo, nossos impulsos afetivos, é como cavalos selvagens, impossíveis de controlar.

Somos apanhados pelas aparências às quais nos ligamos.

A fim de controlar os cavalos, esforçamo-nos por refinar nossos instintos e adquirimos capacidades cada vez mais sutis que nos ajudam a nos mantermos no mundo material.

O Eu verdadeiro, como um germe de luz, está em algum lugar entre as bagagens da carruagem e mantém-se intocado por todas essas refinadas manifestações de vida.

Enquanto permanecermos voltados para a matéria e, portanto, também o nosso pensamento, os movimentos do coração ficarão também restritos aos limites deste mundo dos opostos, e os impulsos do germe de luz não poderão chegar até nós.

Tentar aquietar-se para refletir.

Não conseguimos evitar a ronda sem fim de nossas alegrias e tristezas às quais somos arrastados pelos nossos sentidos, e, principalmente, não reconhecemos aí nenhum objetivo, pois este não existe.

Isso não nos fará alcançar algo determinado, porém nos levará a conscientizar-nos de que pertencemos a um outro campo de vida.

Daí um objetivo poderá nascer!

Em semelhante estado de ânimo, experimentaremos que a coerência sugerida pelos sentidos é mera ilusão.

O desejo, como um fogo-fátuo lançado de cá para lá, mantém a ilusão e já traz em si o pesar seguinte.

A ilusão provém de uma interpretação errônea das leis que regem nossa vida.

Quando renunciamos a nossas idéias e começamos a observar, tranqüilamente, todas as coisas e situações, aceitando-as tal como elas se apresentam, chegamos a um limite.

E quando questionamos a coerência exterior que nos é sugerida, damos o primeiro passo no caminho da libertação do pensamento, até então orientado para a matéria.

O núcleo de luz latente terá, assim, então despertado em nossas profundezas um sentimento até então desconhecido: um desejo indefinido, uma nostalgia.

Caso neguemos esse sentimento, os sentidos e o intelecto nos conduzirão por inúmeros desvios.

Mas, se o aceitamos, os impulsos da centelha de luz trazem, desse modo, a compreensão à nossa vida interior, há muito tempo esquecida.

Essa nova compreensão, surgida do coração, eleva nosso pensar acima do plano material.

Os Upanixades ensinam que um coração puro conduz a uma justa
compreensão, graças à qual podemos, enfim, entender nossas experiências.

À luz de nosso “fundamento”, percebemos que nossas experiências foram de fato necessárias, mas que também nos afastaram de nossa verdadeira meta.

Nosso passado é o solo nutridor do verdadeiro Eu esquecido, que pode agora eclodir como a flor de lótus enraizada no lodo de um lago.

A morada de Vishnu.

Aquele que alia a pureza interior à justa compreensão e faz uso delas como condutor da carruagem e utiliza o pensamento objetivo como rédeas alcança o ponto mais elevado, a morada augusta de Vishnu, o deus dos deuses, que ao lado de Lakshmi, deusa do lótus desabrochado, repousa sobre a serpente cósmica.

Lakshmi simboliza a radiação da sabedoria divina que nos eleva acima do plano dos fenômenos sensoriais e quer nos conduzir para fora do caos das ilusões.

O mito hindu menciona que o deus dos deuses dorme e que todas os acontecimentos da criação, da origem até o fim dos mundos, são apenas o encadeamento infinito de imagens de seu sonho.

Vishnu e Lakshmi formam uma unidade: juntos, eles são a primeira e única entidade consciente do Universo.

Em contraposição, tudo neste mundo de aparências é multiforme, e os acontecimentos estão desligados da realidade.

As antigas energias vitais podem, freqüentemente, através de seus
impulsos, nos levar à confusão.

Elas permanecem mesmo quando podemos compreender sem impedimentos o novo sentido da vida.

Os velhos padrões existenciais que pensávamos ter deixado para trás requerem continuamente nossa atenção.

Somente quando a tempestade de nossas reações arraigadas for anulada pela pura nova energia é que nosso estado de ser poderá mudar de padrão vibratório.

A verdade encontrou uma morada em nós, porém não podemos abarcar essa realidade por meio de nossos sentidos exteriores.

Quando nosso desejo está orientado para o Eu verdadeiro, nossos sentidos exteriores podem fundir-se no sentido interior individual.

Essa é a verdadeira compreensão das coisas.

Então, nossos sentidos outra coisa não podem fazer senão orientar-se para o objetivo da vida.

A carruagem é aliviada de seu lastro.

Finalmente o condutor reconhece a sua própria essência.

Os cavalos dão meia-volta a fim de seguir o caminho indicado pela
radiação da sabedoria divina.

Desse homem é dito:

Ele não vê, não sente nem saboreia;
ele não fala nem escuta; não pensa nem reconhece, pois nada existe que seja diferente dele...
E, contudo, ele vê, pois a visão e
ele são unos, ele ouve, pois o ouvir e ele são unos...
E ele sente, pois o sentir e ele são
unos, e ele discerne, pois o discernimento e ele são unos.

Essa realidade é refletida pela personalidade purificada que já não está sujeita à coerência sugerida pela vida exterior.

Disso surge uma projeção pura da verdade eterna, uma radiação
que intervém em nosso campo de existência com luz e amor.

"Este é o segredo da existência: levar-vos a vós mesmos, como
homens-personalidades, a tal estado, conduzir-vos a tal atitude de vida, que a realidade, o Uno, se projete através de vós...
Então, uma poderosa luz se derrama nas trevas desta existência,
para a bênção de muitos."

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