segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Fernando Pessoa





Porque choras de que existe

A terra e o que a terra tem?

Tudo nosso – mal ou bem –

É fictício e só persiste

Porque a alma aqui é ninguém.

Não chores! Tudo é o nada

Onde os astros luzes são.

Tudo é lei e confusão.

Toma este mundo por strada

E vai como os santos vão.

Levantado de onde lavra

O inferno em que somos réus

Sob o silêncio dos céus,

Encontrarás a Palavra,

O Nome interno de Deus.

E, além da dupla unidade

Do que em dois sexos mistura

A ventura e a desventura,

O sonho e a realidade,

Serás quem já não procura.

Porque, limpo do Universo,

Em Christo nosso Senhor,

Por sua verdade e amor,

Reunirás o disperso

E a Cruz abrirá em Flor.

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