Luz: — Tens sob o domínio de tuas aparências multiformes os seres humanos que me pertencem.
Matéria: — Tu te enganas. Eu não retenho nada. São eles que se agarram fortemente. Eles me desejam e se apegam muito a
mim. É que, como tu vês, eles amam mais a mim que a ti.
Luz: Tu te enganas, sombra. Nas diversas formas que tomas, é a mim que eles buscam e desejam. E porque tu os cegas e os obscureces, eles não percebem sua essência. Sua essência é luz, assim como a minha é luz.
Matéria: — Se fosse como dizes, por que, então, se agarrariam eles tanto a mim, vivendo de mim e através de mim? Por que teriam eles criado o seu próprio mundo? Sim, eles são seres criadores. Não foi sempre essa a tua vontade?
Luz: — Eu queria que eles espalhassem minha luz. Porém, eles criaram a aparência, a escuridão, na qual se perdem e permanecem cativos. E tu és essa escuridão!
Matéria: — Tu me chamas, pois, "escuridão"?
Luz: — Sim. Tuas formas são, de fato, ilusórias. Tu mesma és engano. Não deixas entrar a luz; estás fora da verdade e, por conseguinte, és irreal.
Matéria: — Eu me sinto, contudo, muito real. O fato de estarmos conversando já mostra isso.
Luz: — Tuas inúmeras aparências mantêm o mundo. Porém ele é um mundo de sombras. Tu apenas existes graças à "ausência de luz".
Matéria: — Então, concede-me aquilo a que aspiro. Deixa que eu seja luz!
Luz: — Tu eras o Universo. Foi justamente esse pensamento, matéria, que causou teu vir-a-ser, teu surgimento.
Matéria: — Por que, então, me privas de tua luz? Não sabes, apesar de tudo, que este é meu maior desejo?
Luz: — Naturalmente.
Matéria: — Por que não realizas, então, o meu desejo? Quero ser como tu; luz!
Luz: — Nas trevas, a chama de uma vela é bastante útil. Então, por que querer ser a chama de uma vela entre os raios do sol? Quem a acenderá? Sonhas muito alto, compreendes?
Matéria: — Mas eu quero fazer parte do sol!
Luz: — O sol já existe. Por que não aceitas simplesmente as possibilidades que se encontram a teu alcance? O que queres, pois, conseguir? Torna-te parte do todo, então permanecerás na luz e estarás ligada a tudo. Abandona tua vontade própria!
Matéria: — Mas eu sou vontade própria. Não me disseste isso tantas vezes? Pode a vontade própria entregar a própria vontade?
Luz: — Existe um caminho, e tu o conhece. Já falamos dele muitas vezes.
Matéria: — Pode haver outro caminho.
Luz: — Tu o buscas há milhões de anos.
Matéria: — Eu o encontrarei.
Luz: — Ele não existe. Sabes muito bem que existe apenas um caminho. Crê em mim. Entrega-te a mim. Renuncia à aparência e à forma. Então te encontrarás na luz. Porém, nunca algo pode ser a luz.
Matéria: — Mas tu mesma és a luz!
Luz: — Sou tudo em todos e, não
Luz: — Tens sob o domínio de tuas aparências multiformes os seres humanos que me pertencem.
Matéria: — Tu te enganas. Eu não retenho nada. São eles que se agarram fortemente. Eles me desejam e se apegam muito a mim. É que, como tu vês, eles amam mais a mim que a ti. Não obstante, não sou. Quando já "não" fores, então tudo serás.
Matéria: — Mas como se pode "não" ser?
Luz: — Eu já te disse. Nada forces. Renuncia a ti mesma e confia-te a
mim. Somente então poderei contribuir para a tua libertação.
Matéria: — Mas, se eu fizer isso, eu não existirei mais e me tornarei nada!
Luz: — Escuta. A gota de água que cai no oceano deixa de ser uma gota. Ela se torna muito mais que uma gota! Chamar isso de morte não é um engano? Se levares em conta que a gota se torna infinita, que ela é envolvida pelo oceano… Ela somente perde sua condição de gota. E ao mar, à união de todas as gotas, à plenitude, tu chamarias "nada"?
Matéria: — Tenho medo.
Luz: — De quê?
Matéria: — De não ser, de nada ser.
Luz: — Mas se te confias a mim, se te fundes em mim, então tu te tornas "tudo".
Matéria: — Bem. Admitamos que seja assim como dizes. Se assim fosse, entretanto, eu não poderia desaparecer simplesmente, mesmo que quisesse. São as formas das quais sou composta que me fazem desaparecer. Não fales, então contra elas e nem contra mim!
Luz: — Quando falo contigo, eu me dirijo também a elas, pois as criaturas e tu são um só.
Matéria: — Antes, tu disseste que elas são tuas. E agora garantes que são minhas. Tu te contradizes!
Luz: — O fruto provém da semente.
Matéria: — Está correto. Então achas que a semente provém de ti, que a casca provém de mim e com ela eu posso ficar, não é?
Luz: — Eu amo o fruto inteiro; não apenas a semente ou a casca. Embora
a polpa seja corruptível, ainda assim eu não separo a semente e o fruto.
Matéria: — Queres, então, me privarde tudo? Queres para ti o fruto inteiro e a mim também? Confessa.
Luz: — Sim, eu envolvo todas as partes do fruto. Mas não para destruí-las.Não esqueças que minha semente é amor. Os frutos, entretanto, se transformam. Eles se transformam nos frutos da árvore da vida que está no centro. É lá que eu espero que venhas. Então, seremos unas.
Matéria: Vou refletir sobre isso.
Luz: Eu sei. Vou esperar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário