segunda-feira, 27 de agosto de 2012

OPUS ALCHIMICAE (A Obra Alquímica) – por Awmergin, o Bardo



II


NIGREDO

Se queres a vida viver
Deves morrer, ó filho.
Não penses que vivendo
Podes viver realmente.
Hás de morrer para o mundo
Dos homens e nascer novamente.
Prepara-te para descer ao antro escuro.
Ali, onde pavorosas são as vozes
E desesperados são os gritos.
Desfaz-te de tuas vestes.
Deixa tudo para trás e arroja-te à caverna.
Acendeste tua lâmpada? Tens luz própria?
Se já a tens, então estás pronto.
Ousar: eis o primeiro passo.
Sê intrépido em tua jornada.
Se o medo te acometer, inflama-te de coragem.
No mundo dos mortos verás
Muitas faces familiares.
Não te apegues a elas –
Não passam de sombras e espectros falsos.
Afugenta-os e dá-lhas as costas.
Segue teu passo resoluto.
Não podes parar; ainda tens caminho à frente.
Recorda-te de que deves encarar
O demônio face-a-face.
Muitas formas tem ele.
“Que forma assume”, tu te indagas?
Isso depende de ti.
Para cada neófito ele assume uma forma.
Qual será aquela que ele se apresentará
A ti? Vai e verás.
Chegaste ao fundo do antro.
A câmara está escura como
A treva primordial. Não olhes para fora.
Confia na luz que arde dentro de ti.
Só ela poderá iluminar-te.
Deixa que se putrefaça a matéria.
Não impeças o processo.
Colhe a substância do que restar
A obra em negro está sendo realizada.
Deixa os resíduos para trás e segue.
Agora estás morto.
Uma vez morto, podes retornar
Sendo outro. Agora és um filho da luz real.
Todavia, a Obra não está finalizada.
Ainda deves purificar a matéria.
Recorda-te de do que te disse
Hermes a seu filho Asclépios
E segue com o labor.
Eis a primeira etapa
Da Obra Solar.

Rudy Rafael

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"A MULHER E O SUFISMO



Mesmo que neste mundo de dualidades nós podemos adotar distintas formas, em última instância não existem homens ou mulheres, senão somente o Ser. Dentro da tradição sufi, o reconhecimento desta verdade estimulou a maturidade espiritual das mulheres, de uma maneira que nem sempre foi possível no Ocidente.

Desde os primórdios do Islã, as mulheres desempenharam um importante papel no desenvolvimento do sufismo, a espiritualidade islâmica, o qual tradicionalmente se entende que começou com o profeta Maomé (ou Muhammad, que a paz esteja com ele). Maomé transmitiu uma mensagem que combinava o espírito e a matéria, a essência e a forma, e o reconhecimento do feminino e do masculino. Ainda que as manifestações culturais tenham ocultado em parte a pureza original da intenção, as palavras do Alcorão expressam a igualdade de mulheres e de homens ante os olhos de Deus.

Em um tempo em que as tribos árabes adoradoras de deusas eram ainda bastante brutais, chegando inclusive a enterrar as meninas recém-nascidas para favorecer a descendência masculina, entes novo porta-voz da tradição abraâmica tentou restabelecer o reconhecimento da Unidade do Ser. Tratou de corrigir os desequilíbrios que haviam surgido, aconselhando honrar e respeitar o feminino, assim como a graça e a harmonia da natureza.

Durante os primeiros anos da nova revelação islâmica, Khadija, a amada esposa-sacerdotisa de Maomé, jogou um papel de grande importância. Foi ela quem respaldou, fortaleceu e apoiou o Profeta, quando este foi assaltado por dúvidas e inseguranças. Esteve junto dele no meio das dificuldades e angústias extremas, e ajudou a transmitir a luz da nova fé. Fátima, a filha de Maomé e Khadija, foi a primeira a compreender o Islã da maneira mais profunda e, de fato, a miúdo ela é conhecida como a primeira gnóstica muçulmana. Seu casamento com Ali semeou no mundo esta nova manifestação de misticismo, e as sementes de sua união começaram a florescer.

Quando se desenvolveu mais ainda a dimensão mística do islamismo, foi uma mulher, Rabi’a al-Adawiyya (século 8º d.C.) quem expressou pela primeira vez a relação com o divino em uma linguagem que chegamos a reconhecer como especificamente sufi, referindo-se a Deus como O Amado. Rabi’a foi o primeiro ser humano que falou sobre as realidades do sufismo com uma linguagem que qualquer pessoa podia entender. Apesar de que experimentou muitas dificuldades em seus primeiros anos, o ponto de partida de Rabi’a não foi nem o temor ao Inferno nem o desejo do paraíso, senão somente o Amor. “Deus é Deus”, dizia, “por isso amo a Deus… não por nenhum de Seus dons, senão por Ele Mesmo.” Seu objetivo era dissolveu seu Ser em Deus. Segundo ela, pode-se encontrar a Deus voltando-se para dentro de seu próprio Ser. Tal qual disse Maomé: “Quem conhece a si mesmo conhece a Seu Senhor”. Em última instância, é o Amor o que nos conduz à Unidade do Ser.

Ao longo dos séculos, mulheres e homens seguiram levando a luz desse Amor. Por muitas razões, as mulheres foram a miúdo menos visíveis e mais reservadas que os homens, porém, sem embargo, participaram ativamente. Dentro de alguns círculos sufis, as mulheres participavam com os homens nas cerimônias. Em ouras ordens, as mulheres reuniam-se em seus próprios círculos, recordando a Deus e adorando-O separadas dos homens. Algumas mulheres entregaram-se ao Espírito através da ascese, isolando-se da sociedade, como fez Rabi’a, para a eliminação do próprio Eu, em benefício do Ser… Outras optaram pelo trabalho de benemerência – ou terceiro fator –, e fomentaram grupos de oração, rituais e estudos.

Infelizmente, no Ocidente sabemos muito pouco sobre a influência das Mestras sufis. Muitos dos grandes iluminados do sufismo que conhecemos tiveram mestras e discípulas, companheiras e até mesmo esposas-sacerdotisas que muito influenciaram em seus pensamentos e em suas vidas. Esposas e mães também apoiaram os membros de suas famílias, enquanto continuavam sua própria viagem para unir-se com O Amado (o Íntimo, o Ser).

Ibn Arabi, conhecido como o Polo do Conhecimento Superior (séculos 12-13 d.C.), fala do tempo que passou junto a duas anciãs contemplativas que exerceram profunda influência sobre ele: Shams de Marchena, “a dos suspiros”, e Fátima de Córdoba. De Fátima, com quem passou muito tempo, disse:

“Servi como discípulo de uma das amantes de Deus, uma gnóstica, uma dama que vivia em Sevilha, chamada Fátima bint ibn al-Muthanna de Córdoba. Estive a seu serviço durante vários anos, tendo ela uns 95 anos de idade… Ela conseguia tocar o pandeiro e mostrava grande prazer em fazê-lo. Quando perguntei a ela sobre isso, respondeu: ‘Regozijo-me nEle, que me deu atenção e me converteu em um de Seus Amigos, usando-me para Seus próprios fins. Quem sou eu para que Ele deve me escolher dentre todos os seres humanos? Ele se mostra zeloso comigo, pois, cada vez que, de maneira negligente, dirijo minha atenção a algo que não seja Ele, me envia alguma aflição relacionada com esse algo’. Construí-lhe com minhas próprias mãos uma choça de juncos tão alta quanto ela, na qual viveu até seu falecimento. Ela me dizia: ‘Sou tua Mãe Espiritual e a luz de tua mãe terrena’. Quando minha mãe veio visitar-me, Fátima lhe disse: ‘Ó luz! Este é meu filho e Ele é teu pai, portanto, trata-o com amor filial e não o desgoste!’” ( Fonte - Gnosisonline )

domingo, 5 de agosto de 2012

O significado do Nam-myoho-rengue-kyo


O título do Sutra de Lótus é Myoho-rengue-kyo. Nitiren Daishonin acrescentou a palavra Nam, que significa devoção ou dedicação, consta em uma de suas escrituras: "Somente praticar os sete caracteres do Nam-myoho-rengue-kyo pode parecer limitado, mas desde que esta Lei é o mestre de todos os Budas do passado, presente e futuro, o professor de todos os bodhisattvas do universo, e o guia que capacita todos os seres humanos atingir o estado de Buda, sua prática é incomparavelmente profunda".
Em outras palavras, o título, Myoho-rengue-kyo contêm a essência dos ensinos do Sutra de Lótus na qual contém dentro de si, todos os ensinos budistas. Nas escrituras de Nitiren Daishonin consta o seguinte trecho: "dentro do título, Nam-myoho-rengue-kyo, está incluso todo o sutra que consiste em todos os oitos volumes, vinte e oito capítulos e 69.384 caracteres sem nenhuma exceção".
Assim, em poucas palavras se torna impossível estudar todos os aspectos do significado do Nam-myoho-rengue-kyo, já que como exposto acima, implicaria em explanar toda a filosofia budista. Desta forma, somente iremos destacar os pontos básicos.
Myoho é geralmente traduzido como Lei Mística. A palavra místico significa, difícil de discernir. Myo se refere a iluminação inerente e ho, a ignorância inerente. Myo representa a morte e ho, a vida. Ho, corresponde a todos os fenômenos na qual pode ser percebido pelos nossos sentidos, enquanto myo, se relaciona aos aspectos da vida que não podem ser percebidos. Por exemplo, se alguém está triste, se torna óbvio através de sua expressão facial e reações. Mas, quando está mesma pessoa se torna feliz e começa a sorrir, para onde vai a tristeza ? Não podemos dizer que a tristeza existe como antes, mas ela continua existindo em algum lugar dentro da vida desta pessoa e pode reaparecer a qualquer momento. Este é o chamado estado de "nem existência, nem não-existência", e é descrito como místico. Logo, a vida em todas as suas miríades manifestações, tanto físicas como não–físicas, é acompanhada por um contínuo ciclo de myo e ho, do latente ao manifesto, da morte para a vida.
Myo também engloba outros três significados na qual Nitiren Daishonin explica na carta "Sobre o Daimoku do Sutra de Lótus": abrir, ser dotado e perfeito, e reviver. A energia inerente da vida é a expansão. Isto é o que significa abrir. Ser dotado e perfeito significa que todo e qualquer elemento da vida apresenta esta qualidade. Por exemplo, cada gota do oceano contém as propriedades e elementos do próprio oceano. E por último, reviver, se refere a força vital de regenerar-se e recriar-se.
Myo descreve a vida em sua totalidade, embora esta seja de difícil compreensão e por esta razão é chamada mística. Ho se refere ao aspectos do indivíduo, enquanto Myo se refere ao ritmo universal da vida, na qual se harmonizam e se unificam entre si. Ho, representa os dez estados de vida, enquanto myo, o estado de Buda. Naturalmente, ambos os aspectos são inseparáveis. Esta é a razão para que uma vida baseada somente no ho, que representa a aparência externa, tende a destruição enquanto que uma vida baseada no myoho é sempre voltada para a harmonia e criatividade.
Rengue representa a flor de lótus e significa a simultaneidade da lei de causa e efeito, pois o lótus é uma das únicas espécies do reino vegetal que a flor e a semente nascem no mesmo instante. Rengue indica a simultaneidade do myo (estado de Buda) e ho (nove estados: Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranquilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhissatva). Em termos de nossa prática budista, os nove estados são a causa e o estado de Buda é o efeito.
Na verdade, existem duas causas, a causa inerente e a causa externa, e dois efeitos, o efeito latente e o efeito manifesto. Todos nós apresentamos a causa inerente para a iluminação. A causa externa é o Gohonzon e nossa relação se estabelece ao recitarmos o Nam-myoho-rengue-kyo. Este ato cria o efeito manifesto do estado de Buda e com isto, surge uma tendência (efeito latente) para que possamos evidenciar o estado de buda no futuro. Mas, isto não significa que nossas ações não gerem um efeito imediato. Rengue explana a simultaneidade da lei de causa e efeito e Nitiren Daishonin escreveu:
"Para a questão, onde está exatamente o inferno ou a terra do Buda. Um sutra diz que o inferno existe abaixo de nós e outro sutra diz que o Buda está no Oeste. Entretanto, um exame minucioso revela que ambos existem dentro de nós. A razão para que eu veja desta forma, é que o inferno está no coração de um homem que despreza seu pai e desrespeita sua mãe, assim como a semente do lótus, na qual desabrocha a flor e o fruto ao mesmo tempo."
Por último, desde que a flor de lótus nasce em pântanos, rengue também representa a capacidade da própria vida em purificar-se.
Kyo significa o sutra, ensino, som ou vibração. O som nunca se interrompe, há uma reação em cadeia que se expande por todo o universo. "Kyo denota as vozes e sons de todos os seres vivos. Nos Ensinos Orais de Nitiren Daishonin consta: "a voz é uma parte essencial da prática budista". Isto é chamado kyo e as três existências da vida também são chamadas de kyo."
Assim, kyo também significa interligar, como o ato de costurar uma peça de roupa, simbolizando a continuidade ou o fluir do passado, presente e futuro. Em breves palavras, o perfeito ensino na qual explana o eterno fluir da vida.
Embora esta explanação possa ser limitada, podemos dizer que o Myoho-rengue-kyo possui uma infinita profundidade. Todos os princípios budistas, assim como a sua filosofia, emergem através de um contínuo e profundo estudo destes caracteres. Mas, como podemos usá-los em nossas vidas ? Caso o Myoho-rengue-kyo se torne uma mera teoria, se tornará inútil. Neste ponto reside o significado do Nam.
Nam é derivado da palavra Namas, que em Sanscrito, significa devoção ou saudação. Em chinês, é traduzido como kimyo. Ki, significa retornar para a imutável e verdade inabalável e myo (diferente do myo de myoho) significa ter a sabedoria para agir de acordo com as circunstâncias. Logo, Nam, incorpora o ato de devotar ou concentrar-se no ato de recitar o Nam-myoho-rengue-kyo ao Gohonzon. E nesta ação retornamos para a verdade imutável do Myoho-rengue-kyo e começamos a viver nossas existências com sabedoria, para agir da melhor forma em todas as circunstâncias da vida diária. Em suma, significa unir a vida individual com o ritmo universal. Desta forma, a felicidade não depende de nada externo a nós. Um bom emprego, casamento ou qualquer outra situação da vida pode ser tanto um fonte de alegria como de sofrimento. Esta é a razão para recitarmos o Nam-myoho-rengue-kyo: assegurar uma inabalável condição de vida.
(Por Pat Allwright – SGI-UK)

sábado, 4 de agosto de 2012

Tao Te Ching - Lao Tsé



LEIA NA TELA: A tradição diz que o livro foi escrito em cerca de 600 a.C. por um sábio que viveu na Dinastia Zhou chamado Lao Tzi ("Velho Mestre"), como um livro de provérbios relacionados com o Tao , e que acabou servindo como obra inspiradora para diversas religiões e filosofias, em especial o Taoísmo e o Budismo Chan (e sua versão japonesa o Zen).  Lao Tsé, também escrito Laozi, Lao Tzu, Lao Tzé, Láucio, Lao Tzi, Lao Tseu ou Lao Tze foi um famoso filósofo e alquimista chinês. Sua imagem mais conhecida o representa sobre um búfalo, o processo de domesticação deste animal é associado ao caminho da iluminação nas tradições zen budistas.

INTRODUÇÃO
O Tao Te Ching é um texto profundo e ao mesmo tempo simples porque apresenta por meio da linguagem aquilo que se experimenta na sua ausência. A profundidade é o próprio caminho do mistério, a experiência do sagrado que corresponde à vivência espiritual. A simplicidade, um dos três tesouros dos ensinamentos de Lao Tse, conduz à naturalidade que orienta o indivíduo no macrocosmo. Portanto, a leitura do Tao Te Ching implica um desafio: esvaziar-se e ser natural como a água que flui no vale. O desvendamento do texto deve fluir gradualmente, levando à contemplação de suas palavras. Se estas não parecem suficientemente claras, isso se deve ao fato de a sociedade contemporânea, na qual prolifera o pensamento, dificultar a ampliação da consciência. Nesse contexto, a contemplação já é por si um ato transgressor.

Esta tradução do Tao Te Ching, diretamente do chinês para o português, resgata a tradição taoísta e oferece a decifração necessária de conceitos fundamentais, respeitando a estrutura original do texto em chinês clássico em detrimento de frases mais convencionais em língua portuguesa. Desse modo, o leitor pode estabelecer nexos, coordenar e reconstituir relações entre os conceitos, traduzindo-os em experiências e
proporcionando à leitura a suave alegria da vivência de um ensinamento. Reverenciado como escritura sagrada pelos mistérios que revela, o ensinamento contido neste livro corresponde a uma tradição que integra filosofia, ciência e religião à experiência. Mestre Wu Jyn Cherng - Tradutor desta edição (chinês-português).


CAPÍTULO  1
O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante
Sem-Nome é o princípio do céu e da terra
Com-Nome é a mãe de dez mil coisas
Assim, a constante não-aspiração  é contemplar as Maravilhas
E a constante aspiração  é contemplar o Orifício
Ambos são distintos em seus nomes mas têm a mesma origem
O comum entre os dois se chama Mistério
O Mistério dos Mistérios é o Portal para todas as Maravilhas

CAPÍTULO  2
Quando os seres sob o céu reconhecem o belo como belo
Então isso já se tornou um mal
E reconhecendo o bem como bem
Então já não seria um bem
A existência e a inexistência geram-se uma pela outra
O difícil e o fácil completam-se um ao outro
O longo e o curto estabelecem-se um pelo outro
O alto e o baixo inclinam-se um pelo outro
O som e a tonalidade são juntos um com o outro
O antes e o depois seguem-se um ao outro
Portanto
O Homem Sagrado  realiza a obra pela não-ação
E pratica o ensinamento através da não-palavra 
Os dez mil seres fazem, mas não para se realizar
Iniciam a realização mas não a possuem
Concluem a obra sem se apegar
E justamente por realizarem sem apego
Não passam

CAPÍTULO  3
Não valorizando os tesouros, mantém-se o povo alheio à disputa
Não enobrecendo a matéria de difícil aquisição, mantém-se o povo alheio à cobiça
Não admirando o que é desejável, mantém-se o coração alheio à desordem
O Homem Sagrado governa
Esvazia seu coração 
Enche seu ventre 
Enfraquece suas vontades 
Robustece seus ossos
Mantém permanentemente o povo sem conhecimentos e desejos
Faz com que os de conhecimento não se encorajem e não ajam
Sendo assim
Nada fica sem governo

CAPÍTULO  4
O Caminho é o Vazio 
E seu uso jamais o esgota
É imensuravelmente profundo e amplo, como a raiz dos dez mil seres
Cegando o corte
Desatando o nó
Harmonizando-se à luz
Igualando-se à poeira
Límpido como a existência eterna
Não sei de quem sou filho
Venho de antes do Rei Celeste 

CAPÍTULO  5
céu e a terra não são bondosos
Tratam os dez mil seres como cães de palha 
O Homem Sagrado não é bondoso
Trata os homens como cães de palha
O espaço entre o céu e a terra assemelha-se a um fole
É um vazio que não distorce
Seu movimento é a contínua criação
O excesso de conhecimento conduz ao esgotamento
E não é melhor do que manter-se no centro 

CAPÍTULO  6
O Espírito do Vale   nunca morre
Isso se chama Orifício Misterioso 
A porta do Orifício Misterioso é a raiz do céu e da terra
Seja suave e constante
Usufruindo sem se apressar

CAPÍTULO  7
céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros
Assim
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás e o Corpo   avança
Além do corpo, o Corpo permanece
Através do não-corpo, conclui o Corpo

CAPÍTULO  8
A bondade sublime é como a água 
A água, na sua bondade, beneficia os dez mil seres sem preferência
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso assemelha-se ao Caminho
Viva com bondade na terra
Pense com bondade, como um lago
Conviva com bondade, como irmãos
Fale com a bondade de quem tem palavra
Governe com a bondade de quem tem ordem
Realize com a bondade de quem é capaz
Aja com bondade todo o tempo
Não dispute, assim não haverá rivalidade

CAPÍTULO  9
O que é mantido cheio não permanece até o fim
O que é intencionalmente polido não é um tesouro eterno
Uma sala cheia de ouro e jade é difícil de ser guardada
Riqueza e nobreza somadas à arrogância
Trazem para si a própria culpa
Concluir o nome, terminar a obra, retirar o corpo
Este é o Caminho do Céu

CAPÍTULO   10
Quem conduz a realização do corpo por abraçar a unidade
Pode tornar-se indivisível
Quem respira com pureza por alcançar a suavidade
Pode tornar-se criança
Quem purifica através do conhecimento do mistério
Pode tornar-se imaculado
Ame o povo e governe o reino através do não-conhecimento 
Ilumine e clareie os quatro cantos através da não-ação
Abra e feche a porta do céu através da ação feminina
O que gera e cria
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude 

CAPÍTULO   11
Trinta raios convergem ao vazio do centro da roda
Através dessa não-existência
Existe a utilidade do veículo
A argila é trabalhada na forma de vasos
Através da não-existência
Existe a utilidade do objeto
Portas e janelas são abertas na construção da casa
Através da não-existência
Existe a utilidade da casa
Assim, da existência vem o valor
E da não-existência, a utilidade

CAPÍTULO   12
As cinco cores tornam os olhos do homem cegos
As cinco notas tornam os ouvidos do homem surdos
Os cinco sabores tornam a boca do homem insensível 
Carreiras de caça no campo tornam o coração do homem enlouquecido
Os bens de difícil obtenção tornam a caminhada do homem prejudicada
Por isso, o Homem Sagrado se realiza pelo ventre e não pelo olho
Assim, afasta este e escolhe aquele

CAPÍTULO   13
O prestígio e a humilhação geram susto
A nobreza e a grande preocupação situam-se no corpo
O que são prestígio e humilhação?
Prestígio é inferior
Ao obtê-lo ficamos assustados
Ao perdê-lo ficamos assustados
Isto é o que quer dizer “o prestígio e a humilhação geram susto”
O que quer dizer “a nobreza e a grande preocupação situam-se no corpo” ?
A razão de eu ter esta “grande preocupação” é ter um corpo
Se não tivesse um corpo
Com que teria que me preocupar?
Por isso
Nobre é aquele que entrega o corpo ao mundo
A este o mundo pode se entregar
Quem ama faz do mundo o seu corpo
Neste o mundo pode confiar

CAPÍTULO   14
Aquilo que se olha e não se vê, chama-se invisível
Aquilo que se escuta e não se ouve, chama-se inaudível
Aquilo que se abraça e não se possui, chama-se impalpável
Estes três não podem ser revelados
Por isso se fundem e se tornam um
Enquanto superior não é luminoso
Enquanto inferior não é vago
O Constante que não pode ser nomeado
É o retorno à não-existência
É a expressão da não-expressão
É a imagem da não-existência
A isso se chama indeterminado
Encarando-o, não se vê sua face
Seguindo-o, não se vê suas costas
Quem mantém o Caminho Ancestral
Poderá governar a existência presente
Quem conhece o Princípio Ancestral
Encontrará a ordem do Caminho

CAPÍTULO   15
Os bons realizadores da antiguidade eram sutis
Maravilhosos, misteriosos e despertados
Eram profundos e não podiam ser compreendidos
E justamente por não poderem ser compreendidos
É preciso esforçar-se para ilustrá-los
Receosos como quem atravessa um rio no inverno
Cautelosos como quem teme seus vizinhos
Reservados como o hóspede
Solúveis como o gelo fundente
Genuínos como a madeira bruta
Vazios como os vales
Entorpecidos como as águas turvas
O turvo, através da quietude, torna-se gradualmente límpido
O quieto, através do movimento, torna-se gradualmente criativo
Aquele que resguarda este Caminho não tem desejo de se enaltecer
E justamente por não se enaltecer, mesmo envelhecido, pode voltar a criar

CAPÍTULO   16
Alcançando o extremo vazio e permanecendo na quietude da extrema quietude
Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno 
Apesar da diversidade dos seres
Cada um deles pode retornar a sua raiz
O regresso à raiz se chama quietude
Quietude se chama retornar a viver
Retornar a viver se chama constância
Conhecer a constância se chama iluminação
Desconhecer a constância é a impropriedade que provoca o infortúnio
Quem conhece a constância é abrangente
Quem é abrangente pode ser coletivo
O coletivo tem o poder da criação
A criação tem o poder do céu
céu tem o poder do Caminho
O Caminho tem o poder do eterno
Assim,
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer

CAPÍTULO   17
Do supremo, o inferior tem apenas ciência da existência
Do estado que o sucede, intimidade ou admiração
Do estado seguinte, temor ou desprezo
Não havendo suficiente confiança, surge a desconfiança
Quem valoriza a palavra, realiza a obra sem deixar rastros
Assim, o povo achará que surgiu por si, naturalmente

CAPÍTULO   18
Quando se perde o Grande Caminho
Surgem a bondade e a justiça 
Quando aparece a inteligência
Surge a grande hipocrisia
Quando os seis parentes   não estão em paz
Surgem o amor filial e o amor paternal
Quando há desordem e confusão no reino
Surge o patriota

CAPÍTULO   19
Anule o sagrado e abandone a inteligência
E o povo cem vezes se beneficiará
Anule a bondade e abandone a justiça
E o povo retornará ao amor filial e ao amor paternal
Anule a engenhosidade e abandone o interesse
E não haverá mais ladrões nem roubos
Se estas três frases ditas não são o suficiente
Então faça existir aquilo em que se possa confiar
Encontrando e abraçando a simplicidade
Reduzindo o egoísmo e diminuindo os desejos

CAPÍTULO   20
No ensinamento pela supressão não há preocupações
Entre aceitar e repudiar qual a diferença?
Entre apreciar e desprezar qual a distância?
O que os homens temem, poderiam não temer?
Abandone isso antes que se esgote!
Os homens se agitam como um festejo na grande prisão
Ou como subir à varanda na primavera
Meu corpo não tem expressão
Como uma criança antes de nascer
Como a estrela Kuei   que não tem onde se apoiar
As pessoas todas possuem em excesso
Somente eu aparento estar perdendo
Sou como um ignorante que tem o coração puro
Os medíocres vivem lúcidos
Somente eu aparento estar confuso
Os medíocres vivem lúcidos
Somente eu estou introspectivo
Indefinido como uma infinita noite silenciosa
As pessoas todas têm um ego
Somente eu o ignoro considerando-o precário
O que quero que me distinga dos demais
É valorizar o alimentar-se da Mãe 

CAPÍTULO   21
A abrangência da virtude do orifício   é seguir apenas o Caminho
O Caminho, enquanto existência é indistinguível e indescritível
Dentro do indistinguível e indescritível há uma existência
Dentro do indistinguível e indescritível há uma imagem
E dentro dessa profunda obscuridade há uma essência 
Essa essência é absolutamente autêntica
E dentro dela há uma prova 
Desde a antiguidade até hoje o seu nome nunca foi esquecido
E ele pode observar a beleza e a bondade de tudo
Como posso saber a causa da beleza e da bondade de tudo?
É através da prova

CAPÍTULO   22
Curvar-se permite a plenitude
Submeter-se permite a retidão
Esvaziar-se permite o preenchimento
Romper permite a renovação
Possuir pouco permite a aquisição
Possuir muito permite a ganância
Por isso, o Homem Sagrado abraça a unidade
Tornando-a o modelo sob o céu
Não julga por si, por isso é óbvio
Não vê por si, por isso é resplandecente
Não se vangloria, por isso há realização
Não se exalta, por isso cresce
Só por não disputar, nada pode disputar com ele
Antigamente se dizia: “Curvar-se permite a plenitude”
Como poderiam ser palavras vazias?
Assim, ao alcançar a plenitude encontra-se o retorno

CAPÍTULO   23
Falar pouco é o natural
Um redemoinho não dura uma manhã
Uma rajada de chuva não dura um dia
De onde provêm essas coisas?
Do céu e da terra
Se nem o céu e a terra podem produzir coisas duráveis
Quanto mais os seres humanos!
Por isso, quem segue e realiza através do Caminho adquire o Caminho
Quem se iguala à Virtude adquire a Virtude
Quem se iguala à perda, perde o Caminho
Convicção insuficiente leva à não convicção

CAPÍTULO   24
Quem respira apressado não dura
Quem alarga os passos não caminha
Quem vê por si não se ilumina
Quem aprova por si não resplandece
Quem se auto-enriquece não cria a obra
Quem se exalta não cresce
Esses, para o Caminho, são como os restos de alimento de uma oferenda
Coisas desprezadas por todos
Por isso, quem possui o Caminho não atua desse modo

CAPÍTULO   25
Há algo completamente entorpecido
Anterior à criação do céu e da terra
Quieto e êrmo
Independente e inalterável
Move-se em círculo e não se exaure
Pode-se considerá-lo a Mãe sob o céu
Eu não conheço seu nome
Chamo-o de Caminho
Esforçando-me por denominá-lo, chamo-o de Grande
Grande significa Ir
Ir significa Distante
Distante significa Retornar
O Caminho é grande
céu é grande
A terra é grande
O rei   é grande
Dentro do universo há quatro grandes, e o rei é um deles
O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
céu se orienta pelo Caminho
O Caminho se orienta por sua própria natureza

CAPÍTULO   26
A ponderação torna enraizado o leviano
A quietude torna governado o inquieto
Por isso o Homem Superior   termina o dia de caminhada sem se afastar da ponderação
e dos recursos
Embora existam maravilhas em perspectiva
Permanece quieto e naturalmente transcendente
Como pode um senhor de dez mil veículos   utilizar seu corpo levianamente sob o céu?
Ao ser leviano, perderia a raiz
Ao ser inquieto, perderia o governo

CAPÍTULO   27
A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas
A boa palavra não deixa imperfeição para críticas
O bom cálculo não utiliza medida nem número
A boa porta não necessita de ferrolho para ser fechada
E não pode ser aberta
O bom nó não necessita de corda para ser atado
E não pode ser desatado
Assim, o Homem Sagrado
É constante e bondoso
Salva os homens e não abandona os homens
É constante e bondoso
Salva coisas e não abandona coisas
Isso se chama herdar a luz
O homem bom é mestre daquele que não é bom
O homem que não é bom é o recurso daquele que é bom
Quem não valoriza seu mestre e quem não ama seu recurso
Mesmo inteligente, permanece enormemente desorientado
A tudo isso denomina-se Maravilha Essencial

CAPÍTULO   28
Conhecendo o masculino, resguardando o feminino
Sendo a ravina sob o céu
Sem se afastar da Virtude Eterna
Retornará a ser criança.
Conhecendo o branco, resguardando o negro
Sendo o modelo sob o céu
Sem se enganar com a Virtude Eterna
Retornará à Extremidade-Inexistente 
Conhecendo a glória, resguardando a humildade
Sendo o vale sob o céu
Sendo o vale sob o céu, completará a Virtude Eterna
E retornará a ser madeira bruta
A madeira bruta partida transforma-se em instrumentos
E o Homem Sagrado utiliza-os através de um regente
Isto tudo é um grande corte sem incisão

CAPÍTULO   29
Para quem deseja possuir o mundo e age para isso
Vejo, não o conseguirá
O mundo é um recipiente espiritual
Que não se pode manipular
Quem o manipula, destrói
Quem o retém, perde
Pois as coisas
Caminham ou acompanham
Sopram quente ou sopram frio
São rígidas ou flexíveis
Ligam-se ou rompem-se
Por isso, o Homem Sagrado
Elimina o excesso
Elimina a opulência
Elimina a complacência

CAPÍTULO   30
Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens
Não utiliza a arma e a força, sob o céu
Pois esta atividade beneficia o revide
Onde o exército se instala, surgem espinhos e ervas secas
Por isso
O homem bom é determinado, porém cauteloso
Não utiliza a força para conquistar
É determinado sem se orgulhar
É determinado sem se envaidecer
É determinado sem se glorificar
É determinado sem se tornar excessivo
Isto é, determinado, porém sem se esforçar
Coisas exuberantes dirigem-se à velhice
Isso se chama negar o Caminho
Negando o Caminho irá falecer cedo

CAPÍTULO   31
As boas armas
São recipientes de desventura
Os seres as detestam
Por isso
Os que guardam o Caminho não as compartilham
O Homem Superior, na residência, honra o esquerdo
Na utilização da arma honra o direito
A arma é o recipiente da desventura
Não é o recipiente do Homem Superior
Seu uso é apenas para o inevitável
O superior é como uma chama serena
Por isso, não se maravilha
Ao maravilhar-se certamente teria prazer
Tal prazer mata o homem
Aquele que tem prazer em matar
Não pode triunfar sob o céu
Por isso
Assuntos venturosos valorizam o esquerdo
Assuntos funestos valorizam o direito
Sendo assim
O general-auxiliar encontra-se à esquerda
O general-superior encontra-se à direita 
Suas palavras são tratadas como rito fúnebre
Matam muitas pessoas
Por estas, chora-se de tristeza
A guerra vencida é tratada como rito fúnebre

CAPÍTULO   32
O Caminho é eterno e não tem nome
É genuíno e, embora pequeno,
O mundo não tem coragem de dominá-lo
Se reis e príncipes pudessem preservá-lo
Os dez mil seres iriam por si próprios obedecer
Quando o céu e a terra unem-se
Para escorrer o doce orvalho
O povo não pode interferir nisso, que por si é uniforme
O princípio domina a existência e o nome
Então o nome passa a existir
E irá também saber cessar
Sabendo cessar não perecerá
A relação do mundo com o Caminho
É como a dos riachos e vales
Com os rios e mares

CAPÍTULO   33
Quem conhece os homens é inteligente
Quem conhece a si mesmo é iluminado
Vencer os homens é ter força
Quem vence a si mesmo é forte
Quem sabe contentar-se é rico
Agir fortemente é ter vontade
Quem não perde a sua residência, perdura
Quem morre mas não perece, eterniza-se

CAPÍTULO   34
O Grande Caminho é vasto
Pode ser encontrado na esquerda e na direita
Os dez mil seres dele dependem para viver
E ele não os rechaça
Conclui a obra sem mostrar a sua existência
É o manto que cobre os dez mil seres, sem agir como senhor
Podendo ser chamado de pequeno
Os dez mil seres voltam para ele, sem que aja como senhor
Podendo ser chamado de grande
Assim o Homem Sagrado nunca age como grande
Por isso pode atingir sua grandeza

CAPÍTULO   35
Conservando a Grande Imagem
O mundo passa
Passa sem danos
Com tranqüilidade, serenidade e supremacia
A música e as iguarias
Param o viajante
As palavras que nascem do Caminho
São insossas, carecem de sabor
Olhar não é suficiente para vê-lo
Escutar não é suficiente para ouví-lo
Usar não é suficiente para esgotá-lo

CAPÍTULO   36
Para querer iniciar o recolhimento
É necessário consolidar a expansão
Para querer iniciar o enfraquecimento
É necessário consolidar o fortalecimento
Para querer iniciar o abandono
É necessário consolidar o amparo
Para querer iniciar a subtração
É necessário consolidar o aumento
Isto se chama breve iluminação 
O suave e o fraco vencem o rígido e o forte
Os peixes não podem separar-se do lago
O reino que tem o instrumento afiado
Não pode colocá-lo à vista do homem

CAPÍTULO   37
O Caminho é uma constante não-ação
Que nada deixa por realizar
Se reis e príncipes pudessem resguardá-lo
Os dez mil seres iriam se transformariam por si
Porém, se na transformação despertassem desejos
Eu iria estabilizá-los através da simplicidade do sem-nome
A simplicidade do sem-nome também se inicia no não-desejo
O não-desejo traz quietude
céu e a terra, por si, estarão em retidão

CAPÍTULO   38
A Virtude Superior não é virtude
Assim, possui a Virtude
A Virtude Inferior não perde a virtude
Assim, não possui a Virtude
A Virtude Superior é não-ação
Pois não utiliza ação
A Virtude Inferior é ação
Que faz uso da ação
A Bondade Superior é ação
Porém não utiliza a ação
A Justiça Superior é ação
Que faz uso da ação
A Suprema Polidez é ação que,
se não obtém correspondência,
repele usando o braço como reação
Por isso, à perda do Caminho segue-se então a Virtude
À perda da Virtude segue-se então a Bondade
À perda da Bondade segue-se então a Justiça
À perda da Justiça segue-se então a Polidez
Assim a Polidez é o empobrecimento da fidelidade e da confiança
É o princípio da confusão
Aquele de conhecimentos avançados
Como a flor do Caminho
É o princípio da estupidez
Por isso, o Grande Homem
Coloca-se no consistente e não coloca-se no rarefeito
Habita no Fruto e não habita na Flor
Por isso, afasta esta e persiste naquele

CAPÍTULO   39
Esses adquiriram o Um na antiguidade:
céu adquiriu o Um e tornou-se transparente
A terra adquiriu o Um e tornou-se tranqüila
O espírito adquiriu o Um e tornou-se desperto
Os vales adquiriram o Um e tornaram-se opulentos
Os dez mil seres adquiriram o Um e tornaram-se vivos
Os príncipes e reis adquiriram o Um e tornaram-se o eixo do mundo
Esses alcançaram a supremacia
céu não se tornando transparente temerá rachar-se
A terra não se tornando tranqüila temerá estremecer
O espírito não se tornando desperto temerá exaurir-se
Os vales não se tornando opulentos temerão secar
Os dez mil seres não se tornando vivos temerão extinguir-se
Os príncipes e os reis não se tornando nobres temerão a derrota
Por isso
O nobre utiliza a humildade como princípio
O alto utiliza o baixo como base
Sendo assim
Os príncipes e os reis denominam-se a si mesmos de órfãos, carentes e indignos
Isto seria utilizar a humildade como princípio, não seria?
Por isso, alcançar o valor é aproximar-se do não-elogio
Não desejando o vulgar, como o jade
Sendo simples como a pedra

CAPÍTULO   40
O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência

CAPÍTULO   41
O homem superior ao ouvir sobre o Caminho
Esforça-se para poder realizá-lo
O homem mediano ao ouvir sobre o Caminho
Às vezes o resguarda, às vezes o perde
O homem inferior ao ouvir sobre o Caminho
Trata-o às gargalhadas
Se não fosse tratado às gargalhadas
Não seria suficiente para ser o Caminho
Por isso, as seguintes palavras sugerem:
A iluminação do Caminho é como se fosse a obscuridade
O avanço do Caminho é como se fosse o retrocesso
As planícies do Caminho são como se fossem iguais
A Virtude superior é como se fosse o comum
A grande brancura é como se fosse o sujo
A Virtude ampla é como se fosse insuficiente
Construir a Virtude é como se fosse roubar
A consistência verdadeira é como se fosse o instável
O grande quadrado não tem ângulos
O grande recipiente conclui-se tarde
O grande som carece de ruído
A grande imagem não tem forma
O Caminho é invisível e não tem nome
Assim, apenas o Caminho é bom em auxiliar e concluir

CAPÍTULO   42
O Caminho gera o um
O um gera o dois
O dois gera o três
O três gera os dez mil seres
Os dez mil seres se cobrem com o obscuro e abraçam o claro
E se harmonizam através do esplêndido sopro 
O que os homens detestam
São os órfãos, os carentes e os indignos
Mas é assim que os reis e príncipes se denominam
Por isso as coisas
Ao serem diminuídas, irão aumentar
Aumentadas, irão diminuir
O que os homens ensinaram eu também ensino com o mesmo sentido:
Os rígidos troncos não merecerão a sua morte
Eu irei utilizar isto como o pai do ensinamento

CAPÍTULO   43
Sob o céu
O mais suave cavalga sobre o mais duro sob o céu
A não-existência pode penetrar no sem-espaço
Por isso conheço o benefício da não-ação
O ensinamento da não-palavra
O benefício da não-ação
Sob o céu, são poucos que os alcançam

CAPÍTULO   44
A fama ou o corpo, o que mais se ama?
O corpo ou a riqueza, o que vale mais?
Ganhar ou perder, o que mais adoece?
Por isso o excesso de desejo causará um grande desgaste
E o excesso de acúmulos causará uma morte rica
Quem sabe se contentar não se humilha
Quem sabe se conter não irá se exaurir
Sendo assim, poderá viver longamente

CAPÍTULO   45
A suprema conclusão parece incompleta
Sua utilização não danifica
A suprema abundância parece vazia
Sua utilização não esgota
A suprema retidão parece tortuosa
A suprema habilidade parece canhestra
A suprema eloqüência parece tartamudear
O movimento vence o frio
A quietude vence o calor
A transparência e a quietude atuam governando sob o céu

CAPÍTULO   46
Existindo o Caminho sob o céu
Conduzem-se os cavalos para estercar
Não existindo o Caminho sob o céu
Armam-se os cavalos para viver nas fronteiras
Não há delito maior do que estimar os desejos
Não há calamidade maior em não saber se contentar
Não há erro maior do que desejar possuir
Por isso, com a suficiência de quem sabe que é suficiente
Terá sempre o suficiente

CAPÍTULO   47
Sem sair da porta
Pode-se conhecer o mundo
Sem ver através da janela
Pode-se conhecer o Caminho do céu
Quanto mais longe saímos
Tanto menos conhecemos
Por isso, o Homem Sagrado
Conhece sem caminhar
Reconhece sem ver
Realiza sem agir

CAPÍTULO   48
A realização através dos estudos é expandir dia após dia
A realização através do Caminho é simplificar dia após dia
Simplificando e simplificando mais
Até alcançar a não-ação
Na não-ação não há o que não possa ser feito
Apoderar-se do mundo é permanecer através da não-atividade 
Ao surgir a atividade
Já não é mais suficiente para apoderar-se do mundo

CAPÍTULO   49
O Homem Sagrado não tem coração
Toma o povo como seu coração
Com os bons faço o bem
Com os que não são bons faço o bem também
Adquirindo o bem
Com os sinceros sou sincero
Com os que não são sinceros sou sincero também
Adquirindo a sinceridade
O Homem Sagrado sob o céu
Age cautelosamente fundindo os corações do mundo
O povo todo com olhos e ouvidos atentos
O Homem Sagrado os trata como crianças

CAPÍTULO   50
Nascer na vida, entrar na morte
Dos que pertencem ao nascimento, entre dez, há três
Dos que pertencem à morte, entre dez há três
Dos homens vivos
Os que se movem para a terra da morte, entre dez, há três
E qual é a causa?
Suas vidas são vividas em excesso
Ouvi dizer que o bom cultivador da vida
Viaja pela terra e não se confronta com rinocerontes nem tigres
E atravessa um exército sem armadura nem armas
Os rinocerontes não têm onde enfiar o chifre
Os tigres não têm onde cravar as garras
E as armas não têm onde alojar as lâminas
E qual a causa?
Nele não existe lugar para a morte

CAPÍTULO   51
O Caminho gera
A Virtude cria
A matéria forma
A conclusão completa
Por isso os dez mil seres veneram o Caminho e estimam a Virtude
O Caminho é venerável, a Virtude é estimável
Pois eles não segregam e são constantemente naturais
Assim, o Caminho gera, a Virtude cria
Fazem crescer, fazem nutrir
Fazem completar, fazem concluir
Fazem o sustento e fazem a cobertura
Geram, porém não se apossam
Agem, porém não retêm
Cultivam, porém não controlam
Isto chama-se Misteriosa Virtude

CAPÍTULO  52
Sob o céu há um princípio
Que age como mãe do mundo
Já que existe a mãe
Pode-se conhecer o filho
Já que se conhece o filho
Volte a preservar a mãe
Assim
O fim do corpo não conduzirá à morte
Fechando a boca
Trancando a porta
Até o fim do corpo, sem desgaste
Abrindo a boca
Favorecendo a atividade
Até o fim do corpo, sem salvação
Ver o pequeno se chama iluminação
Usar a suavidade se chama força
Use de volta sua luz para voltar a iluminar-se
Assim, não restará dano ao corpo
Isto se chama herdar o constante

CAPÍTULO   53
Torne-me naturalmente firme e possuidor do saber
Percorrendo o Grande Caminho
Temendo apenas o desperdício
O Grande Caminho é bastante tranqüilo
Mas os homens gostam bastante de trilhas
Governo com excesso de degraus
Campo com excesso de erva daninha
Armazém com excesso de vazios
Vestir bordados coloridos
Carregar espada afiada
Satisfazer-se comendo e bebendo
Possuir moedas e bens em excesso
Isto chama-se roubo e auto-encantamento
Roubo e auto-encantamento negam o Caminho

CAPÍTULO   54
Bem plantado, não se desarraiga
Bem abraçado, não se aparta
Assim
Filhos e netos não cessam de cultuar
Restaure seu corpo
Sua virtude será autêntica
Restaure sua casa
Sua virtude será abundante
Restaure sua província
Sua virtude será crescente
Restaure seu reino
Sua virtude será farta
Restaure seu mundo
Sua virtude será vasta
Assim, através do corpo percebe-se o corpo
Através da casa percebe-se a casa
Através da província percebe-se a província
Através do reino percebe-se o reino
Através do mundo percebe-se o mundo
Como posso saber da natureza do mundo?
É através disso

CAPÍTULO   55
Quem possui a Virtude em abundância
É como um recém-nascido
Os insetos não o picam
As aves de rapina e os animais bravios não o agarram
Tem ossos leves e cartilagens macias
Mas pegam com firmeza
Desconhece a união de macho e fêmea
Mas seu órgão se desperta, pela plenitude da essência
Grita até o fim do dia
Mas não fica rouco, pela plenitude da harmonia
Conhecer a harmonia chama-se constância
Conhecer a constância chama-se iluminar
Enriquecer a vida chama-se esclarecer
E o coração que ordena o sopro chama-se força
As coisas no seu auge tornam-se velhas
Isso chama-se negar o Caminho
Negando o Caminho, rapidamente falecem

CAPÍTULO   56
O que é da compreensão não é a palavra
O que é da palavra não é a compreensão
Fechando a boca
Trancando a porta
Cegando o corte
Desatando o nó
Harmonizando-se à luz
Igualando-se à poeira
Isto chama-se o Mistério Comum 
Com o qual
Não se pode encontrar aproximação
Não se pode encontrar afastamento
Não se pode encontrar benefício
Não se pode encontrar malefício
Não se pode encontrar valorização
Não se pode encontrar desvalorização
Por isso age como nobre sob o céu

CAPÍTULO   57
Através da retidão organiza-se o reino
Através da singularidade dirige-se a guerra
Através da não-atividade adquire-se o mundo
Como posso saber da natureza do mundo?
É através disso
Muitas restrições e omissões no mundo
Tornam completamente pobre o povo
Muitos instrumentos afiados entre o povo
Fazem crescer a confusão no reino e na família
Muito conhecimento engenhoso entre o povo
Faz crescer o surgimento de objetos estranhos
Leis e coisas crescendo visivelmente
Fazem surgir muitos ladrões e salteadores
Por isso o Homem Sagrado dizia:
Eu não agindo, o povo se transforma
Eu sem atividade, o povo se enriquece
Eu bem tranqüilo, o povo se retifica
Eu sem desejos, o povo se simplifica

CAPÍTULO   58
Onde governa a tolerância
O povo tem tranqüilidade
Onde governa a discriminação
O povo tem insatisfação
É na desgraça que se encontra a felicidade
É na felicidade que se esconde a desgraça
Quem é capaz de conhecer estes extremos?
Na ausência de governo
O governo passa a agir como estranho
A bondade passa a agir como maldade
A ilusão do homem tem seu dia consolidado longamente
Seja quadrado sem corte
Seja honesto sem humilhar
Seja reto sem abuso
Seja luminoso sem ofuscar

CAPÍTULO   59
Para reger o homem e servir o céu
Nada como ser o modelo
Somente sendo o modelo
Pode-se dominar cedo
Dominar cedo significa aumentar o acúmulo de Virtude
Aumentando o acúmulo de Virtude
Então não há o que não se possa vencer
Não havendo o que não se possa vencer
Não se conhece seu extremo
Podendo conhecer seus extremos
Pode-se possuir o reino
Possuindo a mãe do reino
Pode-se ser constante
Isto é uma raiz profunda e um pedúnculo sólido
É o Caminho da vida constante e visão duradoura

CAPÍTULO   60
Governar um grande reino é como cozinhar um pequeno peixe
Atuando sob o céu através do Caminho
Seus demônios não são despertados
Não que seus demônios não sejam despertados
Seu despertar não fere o homem
Não apenas que seu despertar não fira o homem
O Homem Sagrado também não fere o homem
Sendo que os dois não se ferem
Assim suas Virtudes se unem e retornam

CAPÍTULO   61
O grande reino é aquele corrente abaixo
É um campo sob o céu
Num campo sob o céu
A fêmea sempre vence o macho através da quietude
Por isso, o grande reino estando abaixo do pequeno reino
Conquista o pequeno reino
O pequeno reino estando abaixo do grande reino
Absorve o grande reino
Assim
Ou por estar abaixo para conquistar
Ou por estar abaixo para absorver
O grande reino apenas deseja unir e cultivar os homens
O pequeno reino apenas deseja integrar e servir aos homens
Cada um destes dois encontra o local para seu desejo
Portanto, o grande deve estar abaixo

CAPÍTULO   62
O Caminho é o segredo dos dez mil seres
Tesouro do homem benevolente
É o que o homem não-benevolente não guarda
Palavras bonitas podem ser negociadas
Atitudes reverentes podem aumentar um homem
Mesmo com a não-benevolência do homem
Como se poderia abandoná-lo?
Por isso, ergue-se o filho do céu 
Ordenam-se o três duques
Mesmo possuindo o jade de oferenda  , antes de quatro cavalos 
Nada se compara a sentar e entrar no Caminho
Por que motivo antigamente se valorizava o Caminho?
Não diziam que quem busca pode adquirir?
Quem possui culpa pode ser absolvido?
Por isso é valioso sob o céu

CAPÍTULO   63
Ação através da não-ação
Atividade através da não-atividade
Sabor através do não-sabor
Grande como pequeno, muito como pouco
Retribuir injustiça através da Virtude
Planejar o difícil a partir do fácil
Realizar o grande a partir do pequeno
Sob o céu
A difícil atividade se realiza certamente a partir da fácil
A grande atividade se realiza certamente a partir da pequena
Promessas levianas certamente carecem de confiança
Excesso de facilidades certamente traz excesso de dificuldades
Sendo assim,
O Homem Sagrado assemelha-se ao difícil
E, por isso, até o fim, não tem dificuldades

CAPÍTULO   64
O que tem paz é fácil de manter
O que é anterior ao despertar é fácil de planejar
O que é frágil é fácil de quebrar
O que é pequeno é fácil de dissolver
Realiza-se a partir da existência
Organiza-se a partir de antes da desordem
Uma árvore de grande abraço gera-se de uma fina muda
Uma torre de nove andares levanta-se de um acúmulo de terra
Uma viagem de mil léguas inicia-se debaixo dos pés
Quem age fracassa
Quem se apega perde
Assim, o Homem Sagrado não age, por isso, não fracassa
Não se apega, por isso não perde
Os homens, na realização das atividades
Sempre fracassam em suas quase-conclusões
Cautela tanto no fim como no princípio
Conduz à atividade sem fracasso
Assim, o Homem Sagrado deseja através do não-desejo
Não valoriza as coisas de difícil aquisição
Aprende através do não-aprender
Possui o que ultrapassa todos os homens
Para auxiliar a naturalidade dos dez mil seres
E não encorajar a ação

CAPÍTULO   65
Na antiguidade, os bons realizadores do Caminho
Não o utilizavam para esclarecer o povo
Utilizavam-no para alegrá-lo
A dificuldade de se governar o povo
É devida aos seus conhecimentos
Por isso
Utilizando o intelecto para governar o reino
Têm-se furtos no reino
Não utilizando o intelecto para governar o reino
Tem-se Virtude no reino
Aquele que conhece estes dois
Também se orienta por estes modelos
O constante conhecimento de orientar-se por estes modelos
Chama-se Misteriosa Virtude
A Misteriosa Virtude é profunda e longa, inverso das coisas
Naturalmente, após isso, alcança-se a grande fluência

CAPÍTULO   66
O que pode tornar os rios e mares reis dos cem vales
E saber situar-se embaixo
Por isso podem ser os reis dos cem vales
Assim
O Homem Sagrado aspirando estar acima dos homens
Coloca suas palavras abaixo das deles
Aspirando estar à frente dos homens
Coloca seu corpo atrás dos deles
Portanto
Situa-se em cima mas seu povo não sente o peso
Situa-se à frente porém o povo não é lesado
Assim, o mundo alegra-se em exaltá-lo porém sem desgosto
Como ele não disputa
O mundo não pode disputar com ele

CAPÍTULO   67
Sob o céu todos se consideram o grande
Não rio disso
O grande sendo grande
Por isso não ri
Se risse
Ha muito teria se tornado pequeno
Eu tenho três tesouros
Que valorizo e preservo:
O primeiro chama-se afetividade
O segundo chama-se simplicidade
E o terceiro chama-se
Não encorajar ser o dianteiro sob o céu 
Assim
Através da afetividade pode-se ter coragem
Através da simplicidade pode-se ter amplitude
Não encorajando ser o dianteiro sob o céu
Pode-se concluir o instrumento do eterno
Hoje
Abandonando a afetividade e tendo coragem
Abandonando a simplicidade e tendo amplitude
Abandonando o ulterior e tornando-se o dianteiro
Isso é morrer
Através da afetividade
Com a manifestação, é ordenada a retidão
Com o resguardo, é ordenada a duração
Quando o céu quer salvar
Utiliza a afetividade como proteção

CAPÍTULO   68
Na antiguidade, os bons praticantes de cavalheirismo
Não eram belicosos
Bons em guerrear, sem ira
Bons em vencer os inimigos, sem disputa
Bons em empregar os homens, agindo como o inferior
Isso se chama a virtude da não-disputa
Isso se chama a força de empregar os homens
Isso se chama a supremacia da união com o céu e a antiguidade

CAPÍTULO   69
Sobre o uso da arma ha um provérbio
“Não me encorajo a agir como anfitrião
Prefiro agir como hóspede
Não me encorajo em avançar uma polegada
Prefiro recuar um pé ”
Isso se chama mover não movendo
Agarrar não abraçando
Defender não lutando
Enfrentar sem inimizade
Não há desgraça maior do que humilhar o inimigo
Humilhando o inimigo, então
Arriscamos perder nosso tesouro
Por isso
No confronto onde as armas se igualam
Vence, então, o que está entristecido

CAPÍTULO   70
Minha palavra é bastante fácil de compreender
Bastante fácil de praticar
Mas, sob o céu, ninguém consegue compreendê-la
Ninguém consegue praticá-la
Palavras têm uma origem
Atos têm um regente
E somente através da não-compreensão
Não se tem a compreensão do ego
Aqueles que me compreendem são poucos
Aqueles que me seguem são nobres
Por isso
O Homem Sagrado se cobre com andrajos abraçando um jade

CAPÍTULO   71
Saber do não-saber é sublime
Não saber do saber é doença
Assim, o Homem Sagrado não adoece
Por considerar doença a doença
Por isso, não há doença

CAPÍTULO   72
Quando o povo não tem medo do temível
Então, o grande temor chega
Não estreite sua morada
Não despreze sua vida
Pois somente não desprezando
Pode-se tornar o não-apodrecido
Por isso, o Homem Sagrado
Conhece a si mesmo mas não se evidencia
Ama a si mesmo mas não se estima
E, assim, nega isto e admite aquilo

CAPÍTULO   73
Quem tem coragem de ser valente terá a morte
Quem tem coragem de ser cauteloso terá a vida
E esses dois são ora benéficos, ora maléficos
Quando o céu repudia
Quem compreenderá a causa?
O caminho do céu
Não disputa mas é bom em vencer
Não fala mas é bom em responder
Não é invocado mas por si vem
Não fala mas é bom em planejar
A teia do céu é grandiosamente grande
Liga-se a tudo e de nada se perde

CAPÍTULO   74
O povo constante não teme a morte
Como se pode intimidá-lo usando a morte?
Se considero estranho esse constante que não teme a morte
Devo, sinceramente, matar
Mesmo reconhecendo sua coragem?
O Constante possui o encargo de matar e mata
O homem que tomar o lugar no encargo de matar
Será como substituir grande lenhador ao serrar
O homem que substituir o grande lenhador ao serrar
Raramente não machucará a mão

CAPÍTULO   75
A fome do homem
É devida a seu superior alimentar-se de impostos em demasia
Por isso existe a fome
A difícil governabilidade de cem famílias
É devida a seu superior agir intencionalmente
Por isso existe o desgoverno
A fácil morte do povo
É devida a viver-se uma vida de excessos
Por isso existe a morte fácil
Assim apenas aqueles que não utilizam a vida para agir
São bons em valorizar a vida

CAPÍTULO   76
O homem ao nascer é tenro e brando
Ao morrer é rígido e duro
A erva, a madeira e os dez mil seres ao brotarem
São como a suave penugem do ventre do pássaro
Ao morrer são secos e murchos
Por isso, os rígidos e duros são companheiros da morte
Os tenros e brandos são companheiros da vida
Sendo assim
As armas duras não vencem
As árvores duras são comuns
Por isso, os rígidos e duros moram embaixo
Tenros e brandos situam-se em cima

CAPÍTULO   77
O Caminho do Céu é como o retesar do arco
A parte superior abaixa, a parte inferior sobe
A parte que possui sobra e diminuída
A parte não-suficiente é completada
O Caminho do Céu
Diminui a sobra possuída
Completa o não-suficiente
Mas o caminho do homem não se orienta assim
Diminui do não-suficiente
Para oferecer ao que possui sobra
Mas quem pode possuir sobra para oferecer ao mundo?
Somente aquele que possui o Caminho
Por isso, o Homem Sagrado
Age sem querer para si
Conclui a obra mas não se apega
E não deseja mostrar sua eminência

CAPÍTULO   78
Sob o Céu
Nada é mais suave e brando que a água
No entanto, para atacar o que é rígido e duro
Nada pode se adiantar a ela
Nada pode substituí-la
Assim
A suavidade vence a força
O brando vence o duro
Sob o céu
Não há quem não o saiba
Não há quem possa praticá-lo
Por isso o Homem Sagrado disse:
Aceitar as impurezas do reino
Chama-se reger o cereal e a terra
Aceitar as desventuras do reino
Chama-se reinar sob o céu
As palavras corretas parecem contrárias

CAPÍTULO   79
Ao se conciliar um grande rancor
Certamente ainda se terá um resto de rancor
Então como se pode agir bem?
Sendo assim
O Homem Sagrado toma o Sinal Esquerdo   e não critica as pessoas
Por isso, quem tem Virtude se orienta pelo sinal
Quem não tem Virtude se orienta pelo vestígio
O Caminho do Céu não cria intimidade
Mas acompanha sempre o homem bom

CAPÍTULO  80
Um pequeno reino de poucos habitantes
Mesmo que possua um utensílio para dezenas de centenas não o usa
Faça o povo valorizar a morte e não viajar longe
Possuindo barcos e carruagens mas não tendo onde usá-los
Possuindo armas e armaduras mas não tendo onde enfileirá-las
Faça o povo retornar aos nós em corda e ao seu uso
Então serão doces seus alimentos
Belas suas roupas
Pacíficas suas moradias
Alegres seus costumes
Que os reinos vizinhos estejam a vista
Que o som de galos e cachorros sejam ouvidos
Faça o povo alcançar a velhice sem ter que ir e vir

CAPÍTULO   81
Palavras confiáveis não são belas
Palavras belas não são confiáveis
Quem sabe não é abrangente
Quem é abrangente não sabe
Quem é bom não discute
Quem discute não é bom
O Homem Sagrado não acumula
Quanto mais faz para os homens, mais tem
Quanto mais dá aos homens, mais aumenta
O Caminho do Céu é favorecer e não prejudicar

O Caminho do Homem Sagrado é fazer e não disputar


Tao Te Ching - Capa de edição japonesa de 1770