sábado, 19 de maio de 2012

O HOMEM REALMENTE ESPIRITUAL



É bem assim o homem realmente espiritual: Não é um homem pacatamente virtuoso, uma alma dogmaticamente mansa e domesticada para encampar docilmente as crenças tradicionais. 

O homem integralmente espiritual é um intrépido aventureiro dos mundos ignotos, um genial sonhador do infinito, uma alma empolgada pela dinâmica inquietude metafísica dos insatisfeitos, dos insaciáveis, dos descontentes com o que “todos” sabem e fascinado pelo que todos ignoram...

O homem espiritual, surdo aos barulhos da turba-multa dos profanos e às teses dos catedráticos, escuta intensamente vozes do grande silêncio que principia além de todos os ruídos estéreis. E o que esse silêncio anônimo lhe sugere é mais sedutor do que tudo o quanto os discursos e os sermões dos sabidos e afamados possam lhe dizer.


H.R. Cosmorama

terça-feira, 15 de maio de 2012

O livro da pureza



1. Lao Tsé, o sublime, disse: “O grande Tao não tem forma, mas gera o céu e a terra e os alimenta. O grande Tao não tem desejos, mas ele faz girar o sol e a lua. O grande Tao não tem nome, mas ele assegura o crescimento e a manutenção de
todas as coisas. Não conheço seu nome, mas chamo-o de Tao.

2. Tao se manifesta no puro e no impuro, no movimento e na imobilidade. O céu é puro, e a terra, impura. O masculino é puro, o feminino, impuro; o masculino é móvel, o feminino, imóvel. O que é genuinamente puro desce, ao passo que o impuro é fluido e se espalha; assim tudo foi gerado. O puro é a fonte do impuro, e o movimento, o fundamento do repouso. Se o homem permanecesse sempre
puro, calmo e silencioso, o céu e a terra retornariam ambos ao não-ser.

3. O espírito humano ama a pureza, mas o intelecto a corrompe.
A razão ama a calma e o silêncio, as cobiças os fazem cessar. Se o espírito é capaz de sempre rejeitar as cobiças, o intelecto fará de si mesmo silêncio. Se a inteligência for depurada, o próprio espírito se tornará puro; os seis desejos (os dos cinco sentidos e o da imaginação) não aparecerão, e os três defeitos
(cobiça, cólera e estupidez) se aniquilarão, desaparecendo por si mesmos.

4. Se os seres humanos não podem ter acesso à razão, é porque seu mental não é puro e seus desejos persistem. Quem consegue rejeitar suas cobiças verá que sua razão já não lhe pertence; se considerar seu corpo, verá que ele já não lhe pertence; se considerar as coisas exteriores, verá que já não se interessa por
elas. 

Se compreender esses três pontos, ele estará simplesmente vazio. Esse vazio despertará seu pensamento à contemplação do “nada”. Sem esse “nada”, não
existe vazio. Quando o pensamento do vazio desaparece, o “nada” desaparece também, e quando o pensamento do “nada” desaparece, segue-se nitidamente um estado de repouso e de silêncio contínuos. Como, nesse repouso, independentemente do lugar que ocupamos, poderia nascer um desejo sequer?

Então, quando já nenhum desejo aparece, reinam o verdadeiro silêncio e o
verdadeiro repouso. O verdadeiro silêncio é uma qualidade constante e, nessa disposição, percebemos todas as coisas no interior do ser; sim, essa verdadeira
e constante qualidade torna-nos mestre da natureza humana. E essa entrega e esse calmo silêncio proporcionam pureza e repouso contínuos. 

Quem possui a pureza perfeita chega progressivamente ao verdadeiro Tao. E, quando chegar a isso, ele será chamado mestre do Tao. Embora chamado mestre do Tao, ele não pensa ter na verdade melhorado o que quer que seja. Por proceder à transmutação de todas as coisas vivas ele é chamado de mestre.do Tao. Quem está em condição de compreender isso tem o poder de transmitir a outros o Tao sagrado”.

5. Lao Tsé disse: “Os superiores, os que sabem, não fazem esforço; as pessoas de condição inferior se esforçam com prazer. Quem possui uma grande qualidade não a mostra; quem só tem uma pequena se contenta com ela. Quem se contenta com
ela e a mostra não é contado como participante “do Tao e de suas qualidades”.

6. A razão pela qual todos os homens não recebem o verdadeiro Tao é porque seu mental está corrompido. Se seu mental está corrompido, seu espírito está perturbado. Se seu espírito está perturbado, eles se deixam atrair pelas coisas exteriores. E, neste caso, eles as buscam com avidez. Ora, essa avidez causa embaraço e tormentos, provocando a confusão do pensamento e lançando o corpo e o espírito na angústia e na aflição. A pessoa experimenta tristeza e humilhação,
ela atravessa de forma selvagem e precipitada as conseqüências dos estados de vida que levam à morte, continuamente arriscada a soçobrar no oceano da amargura e a perder o verdadeiro Tao pela eternidade.

7. O verdadeiro e eterno Tao! Os que o compreendem recebem-no por si mesmos. E os que chegam a compreender o Tao permanecem na pureza e no repouso”.

sábado, 12 de maio de 2012

Música - Gnosis - Bach - R+C



“Não é verdade que o artista é sempre um estrangeiro entre os homens?
Onde quer que ele vá, levado por determinado impulso, ele se sente banido em toda a parte. Parece que ele conheceu um céu mais puro, um sol mais quente e
homens melhores.” Franz Liszt

Como um compositor como Johann Sebastian Bach expressou estes sentimentos
na música? 

Seu lema era que toda a música deve servir unicamente “à honrar o Senhor e fazer florescer a alma”. “Se não fizermos assim”, diz ele no prefácio de um de seus manuais, “não se trata de verdadeira música, mas de rugidos e de ruídos diabólicos.” 

Para Bach, a verdadeira música tem sua raiz na consciência religiosa. Segundo seus alunos, ele considerava as partes vocais de suas composições como diálogos
entre os participantes que, na ordem de inscrição, falavam e escutavam.

Cada nota devia ser de uma grande pureza, a fim de servir perfeitamente
o sentido interior da composição. 

Esta retidão, esta disciplina, formam a base de toda a obra de Bach. 

Nenhuma de suas criações é superficial ou medíocre.

Seu comportamento se reflete tanto em suas obras religiosas quanto profanas.

É por esta razão que alguns críticos o acham muito douto, muito sério e meticuloso.

Sua visão se expressa muito poderosamente em inúmeras cantatas em que letras e sons ilustram passagens da Bíblia. 

Os escritores que trabalharam com Bach estavam, sem nenhum dúvida, sob a influência do pietismo e mostravam o profundo desejo de interiorizar e aprofundar a fé. 

A palavra pietista foi utilizada como apelido para designar um “carola”. O pietismo é uma corrente espiritual na qual se aspirava à experiência divina individual sob
a influência do gnosticismo. 

Neste contexto, lembremo-nos de Johann Valentin Andrea, o pastor de Calw (Alemanha), que escreveu As Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreuz. 

Andrea é citado como fundador do pietismo suábico.

As cantatas de Bach contêm, além disto, uma quantidade de textos que
encontram eco no aluno, em razão de sua visão de vida. 

Assim, o coro da Cantata 22 canta: 

"Faz-nos morrer por tua graça; desperta-nos por tua bondade.
Que o velho homem pereça a fim de que ele possa viver novamente." 

Estas palavras ligam diretamente à endura, que é o processo do recuo deliberado
do eu em proveito do novo homem-alma.

Há muito tempo já se acha que Sebastian Bach introduziu seu próprio nome e o de Christian Rosenkreutz nas composições por meio da simbologia dos números. 

No livro entitulado Bach en het getal publicado em 1985, os autores mostram que Bach deu algumas indicações que dizem respeito aos rosa-cruzes da Idade Média e a suas obras. 

Numerando de 1 a 24 as vinte e quatro letras do alfabeto de sua época, e
adicionando estes números, os autores encontraram, por exemplo:

“A C.R.C. Hoc Universi Compendium Vivus Mihi Sepulchrum Feci” (Altar
de C.R.C., deste compêndio do universo fiz, em vida, um sepulcro),frase
tirada do Manifesto Fama Fraternitatis.

terça-feira, 1 de maio de 2012







Sabemos tão pouco sobre Deus quanto sobre as formas sob as quais Ele se manifesta.

Da mesma forma que um som ou que uma freqüência somente podem ser percebidos por um instrumento adaptado a eles, da mesma forma, a sombra divina
somente será percebida por sentidos adaptados, sem que estes tenham, por isso, a capacidade de perceber Deus.

Estes conceitos importantes evocam a alegoria da caverna de Platão.

Nesta caverna, encontram-se homens que estão acorrentados a ela desde muito jovens.

Eles não podem voltar a cabeça e não vêem, portanto, a entrada diante da qual arde uma fogueira.

Diante desta fogueira passam todos os tipos de formas que projetam sua sombra sobre a parede do fundo, enquanto os ruídos do exterior somente chegam até a caverna sob a forma de ecos.

Para os prisioneiros, essas sombras e esses ecos são a única realidade, e, no entanto, é uma realidade inexata.

Este exemplo mostra bem a relatividade do mundo e do eu.

Esta tomada de consciência é a primeira etapa na senda da Verdade:

“Homem, conhece-te a ti mesmo.”

No livro “O Anel da sabedoria” , Ibn Arabi declara:

“O conhecimento que temos de Deus é tão ínfimo quanto os fenômenos por meio dos quais Ele se manifesta”.

E ele explica: “Se uma luz incolor atravessar um vidro colorido, ela ficará da cor do vidro. Quem diz que a luz é verde, diz a verdade a partir de seu ponto de
vista, e seus sentidos testemunham a favor desta verdade. Mas, quem diz que a luz não é nem verde nem colorida, diz a verdade e é a razão sã que dá testemunho desta verdade”.

Quando a luz atravessa pedaços de vidro de diferentes cores, acontece uma multiplicação aparente desta, conforme a consciência dos observadores.

O sufi Abdul Quasim al Djunaid diz: “A água é da cor daquele que a olha”.

Da mesma forma, um processo ou um certo número de características dependem do ponto de vista do observador.

Podemos dizer da luz que penetra tudo no universo que ela é “branca” e que ela não pode ser percebida a não ser por aqueles que se encontram nela.

Para tocar os homens, a luz deve adaptar-se a sua consciência, a fim de fazê--los sair de sua decadência.