quinta-feira, 19 de abril de 2012

E Trabalhem em silêncio.



“Ainda não estamos em condição de abrir os olhos de nosso ânimo e contemplar a imperecível e inimaginável beleza do bem. Somente a verás quando aprenderdes a já não falar dela, porque a Gnosis do bem é tanto silêncio divino como o silenciar de todos os sentidos.
Quem uma vez a encontrou já não pode dar atenção a nenhuma outra coisa. 
Quem uma vez a vislumbrou já não pode ter olhos nem ouvidos para outra coisa, porque até seu corpo participa da imobilidade.
Porque enquanto todas as percepções e estímulos corpóreos desaparecem de sua
consciência, ele permanece na quietude.”

Hermes Trismegisto - Corpus Hermeticum

O silenciar de todos os órgãos dos sentidos acontece concomitantemente com o participar do silêncio insondável da natureza fundamental.

Então, o ânimo, tal como Hermes o denomina, desperta.

Ele é a unidade entre a cabeça e o coração. O ânimo experimenta um repouso interior inabalável de grande intensidade.

Nesse silêncio, é inflamado um fogo em perfeita suavidade.

E a energia desse fogo brando nutre o inteiro sistema corporal, a fim de que o silêncio recém-nascido, a paz interior, seja fortalecida.

Assim, nosso inteiro ser torna-se maduro para perceber a voz do silêncio

segunda-feira, 9 de abril de 2012




O Buda disse num sutra que quando você ouve algo, mesmo uma palestra de Dharma, quando vê algo, mesmo uma prática, não deveria ser capturado pelo que ouviu ou viu porque isso pode ser um obstáculo para seu crescimento, para seu crescimento espiritual. Você tem que manter sua liberdade porque o que você vê e ouve pode te dar uma visão e o fato é que todas as visões são visões erradas. As visões não nos deixam ter acesso direto à realidade. Portanto, seja muito cuidadoso quando usar seus olhos, seja muito cuidadoso quando usar seus ouvidos, seu nariz, sua língua, seu corpo e sua consciência. Não seja capturado por visões. Este é o núcleo dos ensinamentos, e este é o ensinamento chamado “desapego a visões”.

Se você aprendeu a prática dos 14 Treinamentos sabe que os primeiros três treinamentos existem para nos ajudar a não ficar apegado a visões, doutrinas, ideologias e que os olhos do Buda podem ser descritos primeiramente como o tipo de olhos que podem nos ajudar a reter nossa liberdade. Liberdade, não liberdade política, mas liberdade de nossas visões, liberdade de teorias, de doutrinas. Portanto o Buda barrou o caminho das especulações filosóficas. Isto é muito autêntico. Você não deveria gastar seu tempo especulando sobre doutrinas, ideologias. O que você deveria fazer é aprender o caminho da prática de forma que possa identificar seu sofrimento e ver o caminho que leva à cessação do sofrimento. Você não deveria se doar para uma ideologia, teoria ou doutrina, você não deveria se entregar à especulação filosófica. Isto é muito básico nos ensinamentos budistas.

O Buda disse, “Eu apenas ensino duas coisas: eu ensino sobre o sofrimento e a saída do sofrimento.” Seu tempo deveria ser devotado ao estudo e à prática dessas duas coisas. E quando somos capazes de nos liberar do sofrimento, nossa mente se torna clara, então ela pode refletir a realidade última sem nenhuma procura intelectual. Sua mente se torna como um espelho que pode refletir a realidade como ela é, sem nenhuma distorção. Você é um rei e sua face é como um espelho refletindo a realidade como é, e você não precisa de nenhuma palavra, nenhum conceito, nenhuma noção. Aquele que ainda espera pacientemente por visões dogmáticas, considerando-as as mais altas no mundo, pensando que é a mais excelente visão, depreciando as outras visões considerando-as inferiores não está ainda livre. Meus amigos, meus alunos, não entrem nessa. Façam bom uso de seu tempo para a prática da transformação e cura.

Ao ver, ouvir ou sentir alguma coisa e considerar que é a única coisa que pode te trazer conforto e vantagem, você sempre fica inclinado a ficar preso nisso e considera tudo mais inferior. Esta é a tendência natural de cada um de nós. Queremos confinar a verdade. É um sentimento maravilhoso sentir que temos a verdade e os outros não (risos) e assim perdemos nossa liberdade. A atitude de ficar preso na visão pessoal e considerar as outras como inferiores, é considerada pelos sábios, como  escravidão, como ausência de liberdade e quando você não tem liberdade, seu caminho espiritual é bloqueado. Não pode fazer mais progressos.

Na semana passada alguém me escreveu e disse, “Thay, eu percebi que o caminho espiritual apenas nos satisfaz por dois ou três anos e parece que depois não podemos fazer mais progressos. Você fica muito entusiasmado durante os primeiros anos aprendendo e praticando, mas depois de poucos anos você não sente mais avanços.”

Eu entendi imediatamente. É assim porque o que foi oferecido a ele é um conjunto de ensinamentos, um conjunto de visões, e o tipo de prática que é baseada nestas visões. É por isso você fica preso e não pode mais fazer progressos. A única maneira de continuar a fazer progressos no seu caminho espiritual é remover os obstáculos feito de visões, mesmo visões da doutrina, visões sobre liberdade e transformação. Temos que nos livrar de quaisquer visões.

No Sutra das Cem Parábolas, o Buda conta a história de um jovem homem de negócios que perdeu seu filho. Ele estava ausente, era tão ocupado, e por isso não estava em casa para tomar conta do filho. Durante sua ausência muitos piratas vieram e colocaram fogo na vila e seqüestraram o garoto. Quando o homem de negócios voltou para casa, a viu queimada, apenas um monte de cinzas. Ele entrou em pânico, estava procurando por seu filho e não podia vê-lo em nenhum lugar. Nesse estado de pânico, viu um corpo queimado de criança que acreditou ser do seu filho. Ele se jogou no chão, bateu no peito, puxou seu cabelo e chorou, porque estava ausente e por isso seu filho estava morto. Depois de organizar a cerimônia de cremação, ele coletou as cinzas e as colocou em um saco de veludo que passou a carregar com ele o tempo todo. Comendo, dormindo ou andando ele sempre carregava o saco, porque como não tinha mais esposa, seu filho era a única razão de sua vida. Ele era habitado por um sentimento de pesar e lamento e completamente apegado ao pequeno saco contendo as cinzas do seu filho.

Uma noite quando estava deitado, sem conseguir dormir e chorando silenciosamente, ele ouviu batidas na porta. Era seu filho que tinha conseguido escapar dos piratas e voltou para casa, descobrindo que seu pai havia construído uma nova casa. Ele bateu na porta. Era cerca de uma hora da manhã e o pai disse: “Quem está aí?” ”Sou eu, seu filho! Por favor, abra!” O pai disse: ”Não, seu garoto mau, meu filho já morreu. Quem é você para vir a esta hora da noite para me perturbar! Vá embora!”. O garoto insistiu muitas vezes, mas o pai estava certo que o garoto estava morto.

Esta história foi contada pelo Buda que disse: ”Às vezes na sua vida você toma algo como verdade, e fica preso nisso, e por isso você para. Não há como avançar no seu caminho espiritual e continuar a procurar a verdade. Mesmo se a verdade vier e bater na sua porta você se  recusará em abrir a porta.” É uma história maravilhosa sobre apego.

Se você continua a sofrer, a prática do Buda é soltar as visões de forma a poder avançar no seu caminho espiritual. Suponha que você tenha subido uma escada e chegou no quinto degrau e olhando para baixo vê que é muito alto e assim pensa que adquiriu o mais alto tipo de visão, a visão mais bonita. Se você ficar preso nesta situação, não vai mais querer dar um outro passo, porque sempre é possível dar outro passo.

É como a ciência. Cientistas descobriram coisas e consideram-nas verdade, e se ficarem presos a isto, se acharem que é a verdade absoluta, vão parar de questionar e não poderão avançar. Um bom cientista é aquele que está pronto para abandonar suas visões porque tem a mente aberta, é livre de espírito. O espírito da ciência é o espírito da abertura. Um bom cientista está sempre pronto para deixar ir suas descobertas de forma a dar outro passo no caminho do questionamento livre. Portanto a prática de desapego a visões é muito básica nos ensinamentos do Buda. Cada um de nós tem que usar seus olhos de Buda de forma a praticar assim, para nos libertarmos de nossas visões. Feliz é a pessoa que é livre de visões, incluindo as visões sobre a felicidade. (risos)

Há um país que acredita que a ideologia sozinha pode ajudar o país a ser forte e as pessoas felizes e por isso abraçam esta ideologia há 70 anos. Durante este tempo houve perseguições de muitas pessoas que não concordam com eles. Foram colocados em prisões, em hospitais psiquiátricos porque têm a coragem de desafiá-los sobre suas visões. Os líderes criaram muito sofrimento, morte, separação e frustração porque são muito apegados a uma visão, uma super ideologia.

Você pode se agarrar a uma visão como essa por 70 anos, mas 70 anos é muito. Pode criar muito sofrimento para você e para as pessoas que você ama. Sua boa intenção está presente, mas você não tem liberdade. Cada um de nós pode ainda ser aprisionado pela visão que temos a respeito de nossa felicidade. Acreditamos que só podemos ser felizes sob certas condições: a,b,c,d... Portanto, de acordo com este ensinamento, ajuda muito dar um passo atrás e olhar para nossa visão a cerca de nossa felicidade. Talvez seja provável que sua visão de felicidade seja o principal obstáculo para que você seja feliz. (risos)

Se tiver uma hora, duas horas, para praticar por favor, vá, sente-se no pé de uma ameixeira e olhe para idéia relativa a sua felicidade. Você acreditou firmemente que se não conseguisse isso ou aquilo, a felicidade não seria possível. Pode ser que se você abandonar esta visão de felicidade então ela possa vir até você aqui e agora. Nunca houve condições antes. De acordo com o Buda, viver feliz no aqui e agora é possível para qualquer um. Você precisa apenas de uma coisa: ser livre, ser livre de suas visões. Não é que outra pessoa esteja impondo algo a você e assim você não pode ser livre. É você mesmo que se aprisiona nas suas visões. É por isso que a prática básica do budismo é a prática de remover as visões. Nirvana é a ausência, é o silenciamento de todas as visões porque visões e noções são a fundação do sofrimento.

Quando você for capaz de silenciar todas as visões e palavras, quando se libertar delas, a realidade se revelará sozinha para você. Isto é Nirvana. Nirvana é a cessação, é a extinção. Primeiro a extinção das visões e então a extinção do sofrimento que nasce com as visões. Estamos bastante conscientes, estamos muito preocupados sobre nosso bem estar e o bem estar de nossos entes queridos. Queremos ser felizes, queremos que nossos filhos, parceiro, amigos sejam felizes. Não temos nenhuma dúvida sobre esse tipo de bom desejo. Mas não estamos livres. Pensamos que nosso filho somente poderá ser feliz se fizer isto. Se ele não fizer isto... Nossa filha só pode ser feliz se fizer aquilo, e ela não fez aquilo... Portanto impomos nossas visões aos nossos amados e os destruímos por causa de nossas boas intenções. Amar é oferecer liberdade, oferecer as condições para a outra pessoa ser livre e conseguir o correto entendimento sobre sua felicidade.

Thich Nhat Hanh
(Palestra de Dharma feita no dia 8 de junho de 2000 em Plum Village)
(Tradução para o português: Leonardo Dobbin)
Comente esse texto em  http://sangavirtual.blogspot.com

EVANGELHO DA VERDADE



Ele se transforma, por assim dizer, nos seres e nas coisas, que, por sua vez, se transformam nele. 

Já não há objetos diante dele, ele torna-se o sujeito que tudo abarca. 

Pode-se dizer que a Gnose consiste em uma experiência espiritual direta.

Com base nessa compreensão da Gnose, fica evidente que os fundadores das religiões e das escolas de mistérios, desde a noite dos tempos, eram gnósticos, “portadores do conhecimento”, isto é, aqueles que ao longo de suas vidas experimentaram a unidade de todas as coisas em Deus.

Assim disse Mestre Jesus: “Eu e o Pai (a fonte primordial divina) somos um”. 

E Paulo: “Agora vemos por espelho em enigma (isto é, por meio de nossos
sentidos através dos quais as coisas nos parecem objetos enigmáticos), mas então veremos face a face”, ou seja, olhos nos olhos, de forma direta, imersos na essência de todas as coisas.

Ou como disse Buda: “O que percebo em minha contemplação é a verdade. 
O que pratico com devoção é a verdade, pois, vê, eu mesmo tornei-me a verdade”.

E o hinduísmo declara: “Tat tvam asi”. Tu és o ser.

Tudo o que está à tua volta e vês como objeto, na realidade, é tu mesmo. 

Mas, com a tua consciência comum não podes percebê-lo. 

Além dessa noção geral, a Gnose tem um significado específico ligado a uma religião ou filosofia que surgiu na mesma época que o cristianismo e floresceu nos primeiros séculos de nossa era. 

Os grandes nomes dessa corrente são Madalena, João, Tiago, Mateus, Marta, Tomé, Filipe, Salomé, Mani, Cerintho, Paulo, Menander, Saturnilo, Silas/Silvanus, Priscila, Euphrates, Marcion, Amônio Saccas, Basílides, Valentino, Carpócrates, Bardesanes, Monoimus, Cerdo, Theodotus/Panteno, Ptolomeu, Heracleon, Philon, Hipatia, Porfírio, Jâmblico, Clemente, Orígenes, Proclo, Dionísio Areopagita. 

Dessa Gnose histórica (em sentido literal) provêem os escritos gnósticos descobertos em 1945, em Nag Hammadi, no Alto Egito. 

O Evangelho da Verdade, que se estima ter sido escrito por volta da metade
do segundo século, estava entre os documentos descobertos em Nag Hammadi.

A Igreja, com o passar do tempo, tornara-se incapaz de uma experiência espiritual direta com o divino, tornara-se dogmática. 

Ela condenou os escritos gnósticos como errôneos, heréticos, e não os admitiu no Novo Testamento. 

Para essa Igreja romana, a Gnose histórica era, e ainda é, uma doutrina falsa.

Mas, sob o ponto de vista de que o cristianismo original foi o instituído por Jesus, percebe-se que esse cristianismo efetivamente se refere a uma experiência
espiritual, precisamente como a Gnose da mesma época. 

Não há diferença essencial entre o cristianismo espiritual e a Gnose histórica, até mesmo no que concerne aos símbolos. 

Desse ponto de vista, Jesus foi um gnóstico tal como Valentino
e Mani foram cristãos espirituais, e também Paulo e João. 

A hostilidade, ainda atual, do cristianismo tradicional contra a Gnose histórica e contra a Gnose em geral começou quando, em benefício do dogmatismo e do poder romano, desapareceu do cristianismo o sentido espiritual interior fundamental, ensinado por Jesus.

Verificamos, no entanto, ao comparar os documentos do cristianismo original com os pertencentes à Tradição da Gnose histórica como, por exemplo, o Evangelho da Verdade, que o sentido revelado por um confirma o significado apontado pelo
outro.

Valentino, nascido no Egito, por volta do ano 110 d.C., é um dos gnósticos mais conhecidos e provavelmente o autor do Evangelho da Verdade. 

Por volta do ano 150, Valentino foi escolhido bispo da comunidade cristã em Roma. 

Desse fato é possível concluir que nessa época ainda não havia separação
entre "cristãos" e gnósticos. 

Sobretudo, parece que nessa primeira comunidade cristã reinava certa
liberdade. 

Seus bispos eram eleitos e não havia a figura do Papa. 

Ao retornar para o Egito, Valentino fundou uma escola filosófica religiosa. 

Valentino morreu no ano 170, no entanto suas idéias sobre o surgimento do mundo e o desenvolvimento da humanidade permaneceram através de alguns fragmentos de suas cartas e alocuções, bem como do Evangelho da Verdade, que muito provavelmente é de sua autoria.

Um testemunho de um dos Pais da Igreja talvez nos permita compreender melhor Valentino: “Valentino afirmava que, tendo visto um menino muito jovem, lhe perguntou quem era, e que o menino lhe respondera: Eu sou o ‘Verbo’.”

Essa é uma bela referência à compreensão característica dos gnósticos: experiências interiores feitas pela consciência espiritual. 

Valentino vê em seu interior, como em uma visão, um menino, uma criança. 

Em contraposição ao homem terrestre, ele se torna consciente do Outro, o Verbo divino eterno, luz, vida, sabedoria. 

Esse Verbo é ainda pequeno como uma criança. 

Isso significa que Valentino percebe sua identidade espiritual, seu verdadeiro ser, ainda por desenvolver-se, mas que é incondicionado e capaz de desenvolver-se como uma criança. 

Sem preconceitos, sem desconfianças, sem opiniões rígidas. 

Assim simboliza Valentino o primeiro ingresso auspicioso do mundo divino em
sua consciência. 

Foi o início de sua iluminação, durante a qual o mundo divino, o ser espiritual no
imo, desenvolveu-se cada vez mais. 

De maneira cada vez mais abrangente a estrutura e as forças do mundo divino revelaram-se para sua consciência.

A mesma experiência foi vivida por Paulo: “[…] porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus […] Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus.”

E Paulo pergunta a seus companheiros: “Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós?” 

O gnóstico Paulo é consciente de sua verdadeira identidade e da identidade de seus companheiros, homens espirituais.

Valentino nos relata seus pensamentos a respeito do mundo divino no Evangelho da Verdade. 

Ele fala da alegria e do repouso que o preencheram desde que se tornou consciente da realidade espiritual.

Valentino diz que já não faz parte dos que caíram nos reinos dos infernos, mas que se encontra no mundo onde já não há cobiça, nem sofrimento, nem morte. 

O mundo exterior, inferior, é o inferno, um mundo de conflitos, de angústias, de cobiça, de sofrimento e de morte, no entanto esse mundo infernal já não influencia sua vida.

Os seres que se tornaram conscientes da Verdade, afirma Valentino: “[…] repousam Naquele que está em repouso, não são atormentados pelo anseio pela
Verdade e não são confundidos na busca pelaVerdade. E o Pai está neles, e eles estão no Pai. Porque eles são perfeitos e inseparáveis do verdadeiro Bem e não sofrem com a carência de qualquer coisa, mas vivem no repouso e são constantemente revigorados pelo Espírito”. 

E dizemos aos que não se encontram nesse repouso e nesta alegria: “[…] saibam que eu já não posso falar sobre outra coisa depois de ter estado uma vez nesse
lugar de repouso”.

O objetivo único do autor do Evangelho da Verdade é indicar para nós, que somos atormentados por essas carências, o caminho para livrar-nos delas.

O caminho para salvar-nos dos reinos dos infernos, da carência da verdade e do desejo aflitivo pela verdade é o conhecimento, o conhecimento da verdade.

Esse caminho começa com a compreensão de que nos encontramos em ignorância e engano sobre a verdade e sobre nós mesmos. 

Esquecemos e negamos nossas raízes e as do mundo. 

É do mundo divino, do Pai – diz Valentino – que fomos criados, como seres espirituais, de quem recebemos tudo e por quem somos incentivados a progredir em nosso desenvolvimento.

Entretanto, conservamos nosso corpo, assim como nossos pensamentos e sentimentos que dele provêem, como bens pessoais; cremos que no espaço a matéria visível – portanto mortal – tal com como estrelas e planetas – são a única realidade. 

E com base nesse preconceito, nessa crença, reprimimos o Espírito e não reconhecemos que ele quer operar em nós e no mundo. 

Dormimos e acreditamos que nossos sonhos são a realidade. 

Contrariamente ao mundo do Espírito, nossas percepções sensoriais do mundo material nos apresentam uma realidade de segunda ordem, tal como são os sonhos
em relação ao estado de vigília.

Nossa ignorância em relação ao Pai, diz Valentino, nossa incapacidade de perceber o Espírito, em nós e fora de nós, gera medo, confusão, instabilidade, indecisão, divergência, muitas ilusões e vãs ficções que são como pesadelos durante o sono.

Esse estado é acompanhado da crença na idéia preconcebida de que a matéria é a única e definitiva realidade. “[…] Aqueles que rejeitaram o sono da ignorância já não vêem o sono como realidade… eles deixam o sono e os sonhos da noite para trás. O que há de melhor para o homem é despertar-se e converter-se…”.

O primeiro passo no caminho da experiência do “eu” verdadeiro e da verdade é reconhecer que nos enganamos a respeito de nós mesmos e do mundo.

Que nossas considerações de orientação puramente materialista sobre a realidade nada são senão sonhos. 

Porém, uma concepção gnóstica é possível com base em uma abertura a uma imagem espiritual do mundo, que se dá por meio da fé gnóstica.

Mas, como a autêntica realidade aparece? Como acordar e tornar-se consciente?

Façamos algumas analogias para explicar como acontece esse despertar interior de uma consciência gnóstica. 

Tomemos um exemplo simples da vida comum: já aconteceu a todos nós de não lembrarmos o nome de alguém conhecido. Sabemos o nome dessa pessoa, sentimos que seu nome está na “ponta da língua”, que está em algum lugar obscuro de nossa consciência, no entanto, embora façamos um imenso esforço
mental para lembrá-lo, não conseguimos. 

Temos a sensação desagradável e irritante de que esse nome é como que impedido de vir à nossa consciência.

Entretanto, ao deixarmos o problema de lado e nos ocuparmos com outra coisa, de repente o nome surge em nossa memória, e respiramos aliviados.

Um último exemplo: temos uma vida social e uma vida privada às quais estamos tão habituados que não percebemos o quanto elas contradizem profundamente nosso coração. 

Habitualmente, consideramos que as circunstâncias particulares nas
quais nos encontramos são realmente necessárias e fundamentais para nossa existência. 

Entretanto, sentimos uma tensão vaga e um conformismo, capazes de nos levar ao desespero. 

Então, temos a impressão de que nossa vida não corresponde à nossa natureza, que teríamos de mudar de direção. 

Mas, por medo das conseqüências, acabamos por seguir o mesmo caminho.

A repentina lembrança de alguma coisa esquecida; o sentimento de ter reprimido um antigo ideal e a consciência de levar uma vida mentirosa podem ser comparados à compreensão gnóstica, com a diferença que esta é muito mais profunda e global.

O gnóstico chega de repente a um insight de que ele esqueceu o verdadeiro sentido de sua vida. 

Que sua vida nesta terra e suas tentativas de encontrar felicidade, riqueza, sucesso, ou seu impacto nomundo material já não o contentam e que o mais
profundo e espiritual de sua alma não está ativo.

Ele compreende, enfim, que sua vida é uma grande ilusão. 

Para ele, essa é a única visão possível da vida,e apesar de tudo, ela é bela.

Essa idéia traz conseqüências. O que reprimimos até o presente se faz sentir e clama por seus direitos.

Se assim não fosse, o que reprimimos jamais poderia vir à tona. 

Dessa maneira, o núcleo espiritual fundamental em nós que é eterno nos convida,
nos chama, sim, nos tira de nossa ordem para que ele possa evoluir e tornar-se consciente. 

Passamos a perceber em nós uma nova receptividade ao espiritual, uma abertura ao que temos de mais profundo,uma fé na Gnose. 

Ora, são essa fé e essa abertura que nos permitem adquirir a compreensão.

A compreensão, o despertar gnóstico, de acordo com a fé gnóstica, nada é senão tornar-se novamente consciente daquilo que até o presente havíamos abandonado, esquecido, dissimulado ou reprimido. 

À medida que esse fundamento espiritual oprimido se revela à consciência, damo-nos conta do sentido da vida há muito tempo esquecido e desmascaramos a relatividade, o erro, a mentira e a superficialidade de nossa vida comum.

E aspectos de nossa consciência há muito abandonados tornam-se facilmente ativos outra vez. 

Dessa maneira, é possível perceber que as concepções gnósticas não são fórmulas ou teorias intelectuais, mas que se trata aqui de tornar-nos conscientes de nosso ser interior profundo. 

A maior parte das tentativas filosóficas e teológicas modernas de compreender os gnósticos sofre da deficiência de acreditar que o conhecimento gnóstico é mera
especulação do pensamento sobre a situação do ser humano no mundo. 

Quando os gnósticos dizem que são libertos pelo conhecimento entendem que
passam do estado inconsciente ao consciente do que que há de mais profundo neles, que essa nova consciência age neles e os conduz à libertação; o que alguns teólogos compreendem de maneira errônea quando consideram que os gnósticos se sentem libertos graças a um conhecimento secreto especial, pois acreditam que determinadas fórmulas e teorias sobre o mundo e a natureza humana conduziriam os gnósticos à libertação. 

No entanto, para o gnóstico, a libertação pelo conhecimento significa que seu ser interior mais profundo voltou à consciência e à vida, e assim, age nele e o liberta
de sua superficialidade e de sua inércia. 

Como Valentino, o gnóstico adquire a consciência de sua verdadeira identidade espiritual, ele ouve o Verbo divino, percebe o mundo divino, no início, como
uma criança particularmente dotada, e depois, cada vez de forma mais ampla e intensa. 


Se o chamado ressoar no mais profundo de nossa alma, sugerindo a possibilidade de tornar-nos conscientes, de despertar em nós a eternidade que nos libertará,
poderemos apresentar duas reações: ter fé ou não.

Pode acontecer também que, profundamente tocados, aceitemos imediatamente escutar o chamado e a ele responder.

O Evangellho da Verdade a esse respeito expõe:

“Quando é chamado [pelo nome], ele ouve, responde e volta-se para aquele que o chama, eleva-se até ele e, nesse chamado, obtém a Gnose. E, como agora sabe, ele faz a vontade daquele que o chamou”. 

Essa seria a reação apropriada do ser humano a esse chamado proveniente do próprio imo: abertura e resposta positiva. Isso é fé gnóstica.

Metanóia - Alétheia



A passagem chave sobre o “Reino dos Céus” é atribuída a João Batista, e encontra-se logo no início do Evangelho de Mateus. 

Essa passagem lapidar gerou uma triste confusão na maior parte dos leigos e teólogos sobre o verdadeiro significado do Reino. 

As palavras de João, como chegaram a nós, foram: “Arrependei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3:2).

A razão da confusão explica-se, em parte, pela tradução inapropriada da primeira palavra, o que dificultou o entendimento do verdadeiro sentido espiritual da mensagem.

A palavra traduzida como “arrependei-vos”, que no original grego derivava de metanóia, tinha uma rica conotação, pois significava transformação dos estados mentais pelo entendimento dos fatores que haviam levado ao pensamento ou ação errônea inicial.

Metanoia (do grego antigo μετανοεῖν, translit. metanoein: μετά, metá, 'além', 'depois'; νοῦς, nous, 'pensamento').

Com a tradução do termo como “arrependimento” a conotação que passou a ser dada para essa passagem é a de “culpa por transgressões anteriores” e não de “transformação interior devida ao entendimento dos fatores envolvidos”.

A tradução foi extremamente infeliz porque desvirtuou a passagem e contribuiu para que, ao longo dos séculos, os cristãos desenvolvessem um sentimento negativo e apático de culpa em vez da atitude positiva desejada de transformação.

Essa postura induziu, ademais, a uma interpretação errônea do “Reino dos Céus”, que passou a ser identificado como um lugar a ser atingido por aqueles que se arrependessem de seus pecados.

Assim como a expressão basilar do Mestre Jesus, o Cristo: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8:32) tem um alcance bem mais profundo do que geralmente imaginamos.

Não se referia meramente àquilo que achamos ser a verdade em termos de nossos padrões tradicionais.

Alétheia (em grego antigo, ἀλήθεια: «Verdade», no sentido de desvelamento: de a-, negação, e lethe «esquecimento» ).

Não era a “verdade” na forma dos conceitos ensinados externamente pela família e a sociedade.

A verdade libertadora a que se referia Jesus era a verdade interior, a verdade sem mácula, muitas vezes com implicações surpreendentes, que surgia do fundo do coração, do Cristo interior.

Por isso Mestre Jesus disse: “Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas futuras” (Jo 16:13).

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Tu, Místico, Vês uma Significação em Todas as Cousas



Tu, místico, vês uma significação em todas as cousas. 
Para ti tudo tem um sentido velado. 
Há uma cousa oculta em cada cousa que vês. 
O que vês, vê-lo sempre para veres outra cousa.

Para mim, graças a ter olhos só para ver,
Eu vejo ausência de significação em todas as cousas;
Vejo-o e amo-me, porque ser uma cousa é não significar nada.
Ser uma cousa é não ser susceptível de interpretação.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa

quinta-feira, 5 de abril de 2012







A ilha ninguém achou
porque todos a sabíamos.
Mesmo nos olhos havia
uma clara geografia.
Mesmo nesse fim de mar
qualquer ilha se encontrava,
mesmo sem mar e sem fim
mesmo sem terra e sem mim

Mesmo sem naus e sem rumos,
mesmo sem vagas e areias,
há sempre um copo de mar
para um homem navegar........

Jorge Lima - Invenção de Orfeu

Saúde tem dois aspectos.




Um deles é o físico, o outro é o espiritual.
O corpo é seu templo-não negligenciá-lo.

Seu corpo é um templo -
respeito, não negligencie, o seu corpo.
Se o seu corpo é negligenciada,
você não será capaz de encontrar a harmonia interior-
Tome todos os cuidados de sua saúde, do seu corpo;
amá-lo, respeitá-lo, é um grande presente.
É um milagre, um mistério.

O alimento é, para o corpo,
repouso é exatamente o mesmo para a alma:
alimento nutre os alimenta corpo e repouso da alma.

O materialista esquece repouso;
é por isso que no Ocidente há muito inquietação-
esqueceram-se repouso, eles não sabem como relaxar.

Eles não sabem como estar em um estado de unoccupiedness; eles não sabem como se sentar em silêncio sem fazer nada.
Eles esqueceram completamente!
O materialista é obrigado a esquecer.
Ele passa a comer demais,
e ele se esqueceu de que
apenas o seu corpo vai ficando cada vez mais gordos e mais gordos,
e sua alma vai ficando cada vez mais magro.

O repouso é muito mais essencial do que o alimento mesmo.
Se às vezes você vai em um rápido pequeno é bom,
mas repouso nunca deve ser esquecido-
porque, basicamente, o corpo é apenas um templo:
a divindade está dentro.
O corpo tem que ser amado
só porque é um templo da divindade.
O corpo é apenas um meio, o fim está dentro.

O repouso é o alimento da alma
Repouso é a comida, a meditação é alimento, para a alma.
Repouso significa silêncio, descanso, relaxamento,
calma, calma, recolhimento meditativo.

Um estado de mente desocupada, vazia, silenciosa,
sem qualquer ideia de fazer, não vai a lugar nenhum, não correndo qualquer lugar, basta estar aqui agora.

Isso é o repouso.
Para estar aqui agora é tremendamente nutritivo,
porque então você está em profunda sintonia com a piedade,
em seguida, chuveiros de música em você.


No sentido de repouso que é realmente alimentar.
Como o corpo vai morrer sem comida,
a alma morre sem repouso.

O materialista pensa apenas do corpo,
eo espiritualista pensa apenas em repouso,
e ambos permanecem desequilibrada.
Um deles tem uma alma muito nutrida
mas um corpo desnutrido;
o templo está em ruínas.
E tem um belo templo,
um templo de mármore, mas a divindade está morto,
ou ainda não chegou. Ambos estão faltando alguma coisa.

Precisamos de uma música da terra e do céu, de corpo e alma;
precisamos de uma harmonia entre o visível eo invisível. A comida é visível, o repouso é invisível.
Você precisa de um ritmo entre os dois.




Foi o que eu disse há tempos,
Isto acontecerá, agora eu sei.

Amanhã eu despertarei,
E diferente tudo será.
Com outros olhos o mundo verei.

Todos os sons ouvirei,
Discernirei o mundo de amanhã,
Todas as cores verei.

Falarei outra linguagem:
A linguagem da alma,
A linguagem do coração.

Tristezas desaparecerão,
Tudo será diferente,
Preocupações desaparecerão.

Na manhã do meu despertar
Não conhecerei tristeza nem dor,
É a linguagem da alma a falar.

A melodia do dia vindouro
Está inteiramente composta,
E eu a conheço do nascedouro.

Já começo a ouvir o som puro,
Com ele logo me harmonizarei,
Nele está todo meu futuro.

Ah! Que despertar será este!

No mundo obscuro e confuso,
Sono, nunca mais,
Nem novas ilusões e devaneios.

De minha jornada de amanhã ativa,
A claridade transparente
Será como a água de uma fonte viva.

Fonte eterna, inexaurível,
Quem se saciará do sagrado?
Eu sinto! Amanhã eu despertarei.

Vejo uma estrela e um raio de luz,
Um astro com brilho de ouro e prata,
Cujo cintilar toca meu coração, me
seduz.

Longe, lá em baixo, encontra-se a
porta,
Ela me levará para o amanhã,
Como uma entrada brilhante se
mostra.

Um novo mundo me aguarda...

Eu dou um passo à frente...

Orfeu

quarta-feira, 4 de abril de 2012





Alguém que tem tolerância não vai dizer "eu tenho que tolerar", porque isso implica que eles estão sentindo dor. Em vez disso, eles vão dizer: "Não é um problema. Há algo para eu aprender no presente." Seja qual for a situação, a tolerância me permite aprender. Talvez eu precise de paciência, ou a humildade, ou a compreensão. Tolerância permite-me paz e meu amor para ficar constante. Dessa forma eu ficar conectado com a Fonte de tudo que é bom, para que eu possa ajudar tanto a mim e aos outros.

Tolerância me permite manter o foco, para que eu possa estar ligado com Deus, ea luz que vem de conexão que me permite ver o que eu preciso fazer em cada momento, e como fazê-la. Caos pode me cercar, mas se eu tiver essa luz na minha frente, eu sei para onde ir. Se eu sentir que a luz em cada passo que dou, então eu posso iluminar o caminho para que outros também.




Contempla o Tao; tu não o vês:
ele é chamado de invisível.

Escuta o Tao; tu não o ouves:
ele é chamado de inaudível.

Toca o Tao; tu não apalpas nada:
ele é chamado de imaterial.

Faltam palavras para pintar esta tríplice indeterminação: é porque elas se fundem em uma só.

O aspecto superior de Tao não está na luz.

O aspecto inferior não está nas trevas.

O Tao é eterno e não saberia receber um nome.

Ele sempre volta ao não-ser.

Tu te aproximas de Tao e não vês seu princípio.

Tu o segues e não vês seu fim.

Deves penetrar no antigo

Tao para poder dominar a existência presente.

Quem conhece o princípio do original tem em mãos o fio de Tao.

LAO-TSÉ, TAO TE KING.








“A não ser que entendamos que deve haver refinamento na qualidade, nunca avançaremos no crescimento cultural. E como podemos falar de refinamento de consciência e cultura, se não conseguimos compreender o que aquilo significa?
Devemos procurar servir a melhor qualidade. Só assim podemos servir à cultura”.

Carta de Helena Roerich de 21/08/1931

V.I.T.R.I.O.L

Confessio Fraternitatis - 1615





“Assim como a cabeça humana possuiu dois órgãos para ouvir e dois para ver, dois para cheirar e um para falar, e que seria inútil exigir que os olhos falassem e que os ouvidos vissem, assim também houve épocas que viram, outras que ouviram e outras ainda que sentiram odor, e em muito pouco tempo, virá a época, se aproxima a grandes passos, em que a língua receberá a honra de exprimir tudo o que antes foi visto, ouvido e percebido pelo olfato.
Depois que o mundo houver despertado de seu sono de embriaguês, bebido na taça envenenada, o homem irá ao encontro do Sol nascente, ao raiar do dia, com o coração aberto, a cabeça descoberta e os pés nus, jubiloso e transbordante de alegria.” Confessio Fraternitatis - 1615

terça-feira, 3 de abril de 2012

“Amanhã eu despertarei”



Foi o que eu disse há tempos,
Isto acontecerá, agora eu sei.
Amanhã eu despertarei,
E diferente tudo será.
Com outros olhos o mundo verei.
Todos os sons ouvirei,
Discernirei o mundo de amanhã,
Todas as cores verei.
Falarei outra linguagem:
A linguagem da alma,
A linguagem do coração.
Tristezas desaparecerão,
Tudo será diferente,
Preocupações desaparecerão.
Na manhã do meu despertar
Não conhecerei tristeza nem dor,
É a linguagem da alma a falar.
A melodia do dia vindouro
Está inteiramente composta,
E eu a conheço do nascedouro.
Já começo a ouvir o som puro,
Com ele logo me harmonizarei,
Nele está todo meu futuro.
Ah! Que despertar será este!
No mundo obscuro e confuso,
Sono, nunca mais,
Nem novas ilusões e devaneios.
De minha jornada de amanhã ativa,
A claridade transparente
Será como a água de uma fonte viva.
Fonte eterna, inexaurível,
Quem se saciará do sagrado?
Eu sinto! Amanhã eu despertarei.
Vejo uma estrela e um raio de luz,
Um astro com brilho de ouro e prata,
Cujo cintilar toca meu coração, me seduz.
Longe, lá em baixo, encontra-se a porta,
Ela me levará para o amanhã,
Como uma entrada brilhante se mostra.
Um novo mundo me aguarda...
Eu dou um passo à frente...

Quem era Dionísio? Numerosos historiadores tentaram penetrar os segredos desse deus, e diversos filósofos e autoridades religiosas tentaram explicar esse mito. 

A veneração a Dionísio espalhava-se pelas regiões mediterrâneas, no Oriente Médio e até na Índia. 

Segundo algumas fontes, o culto proviria da Trácia, a atual Bulgária. Para os gregos a Trácia era a “terra sagrada”, o “país da luz”. 

Lá se erguiam os antigos santuários de Zeus, Cronos e Urano bem como os antiqüíssimos santuários de Dionísio. 

Uma das mais antigas tradições da Trácia afirma: “No começo, o tempo criou o ovo argênteo do mundo, de onde surgiu Dionísio, o andrógino que traz em si as sementes de todos os deuses e de todos os homens”.

O jovem deus Dionísio foi entronizado tão logo quando nasceu numa gruta da Ilha de Creta. Mas os Titãs deram-lhe um espelho para distrair sua atenção, e enquanto o menino se olhava nele e ficava fascinado por sua própria imagem, o despedaçaram e devoraram. 

Só o coração do deus se salvou. Isto quer dizer que Dionísio, ao ver seu eidolón, seu reflexo no espelho, em certo sentido se duplicou e desapareceu no interior do espelho e desta maneira se dispersou no Universo. 

Segundo os sábios órficos, isto significa que a alma do mundo se divide e dispersa por meio da matéria. 

Mas o espírito do mundo permanece indiviso e puro de todo contato com a matéria. Ao descobrir o crime, Zeus destruiu aos 12 Titãs e com suas cinzas criou o gênero humano. 

Este mito explica como a chispa divina manifesta-se primeiro em doze homens arquétipos, os signos do Zodíaco e depois na multidão de seres humanos que nascem sob a influência de um ou outro dos signos. 

A última Ceia é um sacrifício deste tipo, no qual o corpo de Jesus é consumido simbolicamente por 12 seguidores seus.