quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ame seu inimigo


"Vocês ouviram o que foi dito: 'Ame seu próximo e odeie seu inimigo.' Eu, porém, lhes digo: amem seus inimigos, abençoem aqueles que os amaldiçoam, façam o bem àqueles que os odeiam e orem por aqueles que rancorosamente os usam e os perseguem. Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu: porque ele faz o sol nascer sobre os maus e os bons, e a chuva cair sobre os justos e os injustos."
Muitas pessoas rezam a Deus porque querem que Ele satisfaça algumas de suas necessidades. Se elas querem fazer um piquenique, pedem a Deus que lhes dê um dia claro e ensolarado. Ao mesmo tempo, os agricultores poderão estar rezando para pedir chuva. Se o tempo ficar bom, as pessoas que querem fazer o piquenique dirão: "Deus está do nosso lado; Ele atendeu às nossas preces." Mas, se chove, os fazendeiros dirão que Deus ouviu as preces deles. É dessa maneira que costumamos rezar.
Quando você reza apenas pelo seu piquenique, e não pelos fazendeiros que precisam de chuva, está fazendo o oposto do que Jesus ensinou. Jesus disse: "Amem seus inimigos, abençoem aqueles que os amaldiçoam." Se você examinar profundamente sua raiva, perceberá que o indivíduo que você chama de inimigo também está sofrendo. Tão logo você compreende esse fato, a capacidade de aceitar e ter compaixão por essa pessoa passa a estar presente. Jesus chamou essa atitude de "amar seu inimigo". Quando você é capaz de amar seu inimigo, ele deixa de ser seu inimigo. A idéia de "inimigo" desaparece e é substituída pela noção de alguém que está sofrendo e precisa de compaixão.
Fazer isso às vezes é mais fácil do que você poderia imaginar, mas é preciso praticar. Ler a Bíblia sem praticar não é muito proveitoso. No budismo, praticar os ensinamentos de Buda é a forma mais elevada de prece. O Buda disse: "Se alguém estiver numa margem e quiser ir para a outra, terá de usar um barco ou atravessar o rio a nado. Ele não pode simplesmente rezar: 'Oh, outra margem, por favor venha até aqui para que eu possa caminhar sobre você!'" Para um budista, rezar sem praticar não implica a verdadeira prece.
Na América Latina, os teólogos da libertação falam da preferência ou "opção" de Deus pelos pobres, pelos oprimidos e pelos marginalizados. Mas não acho que Deus queira que tomemos partido, mesmo que seja o dos pobres. Os ricos também sofrem, em muitos casos mais do que os pobres! Eles podem ter riquezas materiais, mas muitos são espiritualmente pobres e sofrem bastante.
Conheci pessoas ricas e famosas que acabaram cometendo suicídio. Estou certo de que aqueles que possuem um elevado grau de entendimento serão capazes de enxergar o sofrimento tanto dos pobres quanto dos ricos.
Deus abraça tanto os ricos quanto os pobres, e ele quer que eles se compreendam uns aos outros, que compartilhem uns com os outros seu sofrimento e sua felicidade e que trabalhem juntos pela paz e pela justiça social. Não precisamos tomar partido. Quando o fazemos, interpretamos erroneamente a vontade de Deus. Sei que algumas pessoas poderão usar estas palavras para prolongar a injustiça social, mas isso será abusar do que estou dizendo. Temos de descobrir as verdadeiras causas da injustiça social e, quando descobrirmos, não condenaremos certo tipo de pessoas. Perguntaremos: por que a situação dessas pessoas permaneceu assim? Todos temos o poder do amor e do entendimento. Estas são nossas melhores armas. Qualquer resposta dualista ou qualquer reação motivada pela raiva só tornará pior a situação.
Quando nos acostumamos a examinar as questões em profundidade, temos o insight do que devemos e não devemos fazer para que a situação mude. Tudo depende da nossa maneira de ver as coisas. A existência do sofrimento é a Primeira Nobre Verdade ensinada pelo Buda, e as causas do sofrimento são a segunda. Quando examinamos profundamente a Primeira Verdade, descobrimos a segunda. Depois de enxergarmos a Segunda Verdade, veremos a seguinte, que é o caminho da libertação. Tudo depende de compreendermos toda a situação.
Uma vez que o façamos, nosso estilo de vida se modificará de acordo com isso e nossas ações jamais ajudarão os opressores a fortalecer sua posição. Examinar profundamente uma questão não significa ser inativo. Nós nos tornamos muito ativos com nosso entendimento. Não violência não significa não-ação. Não-violência significa agir com amor e compaixão.
Antes de o monge vietnamita Thich Quang Duc queimar se vivo em 1963, ele meditou durante várias semanas e depois escreveu cartas muito carinhosas para seu governo, sua igreja e seus colegas monges e monjas explicando por que ele havia tomado aquela decisão. Quando somos motivados pelo amor e pela disposição de ajudar outras pessoas a alcançar o entendimento, até o auto-sacrifício pode ser um ato de compaixão. Quando Jesus se permitiu ser crucificado, Ele estava agindo da mesma maneira, motivado pelo desejo de despertar as pessoas, de restaurar o entendimento e a compaixão e de salvar as pessoas.
Quando estamos motivados pela raiva ou discriminação, mesmo que ajamos exatamente da mesma maneira, estaremos fazendo o oposto. Quando lemos as cartas de Thich Quang Duc, percebemos com extrema clareza que ele não estava motivado pelo desejo de se opor ou de destruir, e sim pelo desejo de se comunicar. Quando estamos presos numa guerra na qual as grandes potências possuem armas enormes e o controle total dos meios de comunicação, temos de fazer algo realmente extraordinário para nos fazermos ouvir.
Sem termos acesso ao rádio, à televisão ou à imprensa, precisamos criar novas maneiras de ajudar o mundo a compreender a situação em que estamos. O auto-sacrifício pode ser uma dessas maneiras. Se o fizermos por amor, estaremos agindo de um modo bastante semelhante ao de Jesus na cruz e de Gandhi na Índia. Gandhi jejuou não com raiva, e sim com compaixão; não somente por seus compatriotas, mas também pelos ingleses. Esses grandes homens sabiam que é a verdade o que nos liberta, e fizeram todo o possível para tornar a verdade conhecida.
As práticas budista e cristã são as mesmas - tornar a verdade conhecida, a verdade sobre nós mesmos, sobre nossos irmãos, sobre nossa situação. Esta é a tarefa dos escritores, dos pregadores, dos meios de comunicação e também dos praticantes. Praticamos diariamente examinando profundamente a nós mesmos e a situação dos nossos irmãos.
Se praticamos sem ter consciência de que o mundo está sofrendo, de que crianças estão morrendo de fome, de que a injustiça social reina em toda parte, não estamos exercendo a prática da mente alerta. Estamos apenas tentando escapar. Mas a raiva não é suficiente. Jesus disse que devemos amar nosso inimigo.
"Pai, perdoai-os, porque eles não sabem o que fazem." Este ensinamento nos ajuda a saber como olhar para o indivíduo que julgamos ser a causa do nosso sofrimento. Se nos acostumarmos a examinar profundamente a situação e o que fez com que ele se tornasse o que é agora, e se nos visualizarmos nascendo na condição dele, talvez possamos perceber que poderíamos nos ter tornado exatamente como ele.
Quando fazemos isso, a compaixão surge naturalmente em nós, e compreendemos que a outra pessoa deve ser ajudada, e não punida. Nesse momento, nossa raiva se transforma na energia da compaixão. De repente, aquele a quem vínhamos chamando de inimigo torna-se nosso irmão. Este é o verdadeiro ensinamento de Jesus. Examinar profundamente uma questão é uma das maneiras mais eficazes de transformar nossa raiva, nossos preconceitos e nossa discriminação. Praticamos não apenas como indivíduos, mas também como grupo.
No budismo, falamos da salvação através do entendimento. Percebemos que é a falta de compreensão que gera o sofrimento. O entendimento é o poder capaz de nos libertar. É a chave que pode abrir a porta da prisão do sofrimento. Se não praticarmos o entendimento, não estaremos aproveitando o mais poderoso instrumento para libertar a nós mesmos e outros seres humanos do sofrimento.
O verdadeiro amor só é possível com o verdadeiro entendimento. A meditação budista - parar, acalmar-se e examinar profundamente - visa nos ajudar a compreender melhor as coisas. Em cada um de nós existe uma semente do entendimento. Essa semente é Deus. Ela também é o Buda. Se você duvidar da existência dessa semente, estará duvidando de Deus e de Buda.
Quando Gandhi disse que o amor é a força libertadora, ele quis dizer que temos de amar nosso inimigo. Mesmo que nosso inimigo seja cruel, mesmo que esteja nos oprimindo, semeando o terror e a injustiça, temos de amá-lo. Esta é a mensagem de Jesus. Mas como podemos amar nosso inimigo? Existe apenas uma maneira compreendê-lo. Temos de entender por que ele é como é, como veio a ser assim, por que não vê as coisas do modo como nós vemos. Compreender uma pessoa nos confere o poder de amá-la e aceitá-la. E, no momento em que nós a amamos e aceitamos, ela deixa de ser nossa inimiga. É impossível "amar nosso inimigo" porque, no momento em que passamos a amá-lo, ele deixa de ser nosso inimigo.
Para amá-lo, precisamos praticar o exame profundo a fim de compreendê-lo. Se o fizermos, nós o aceitaremos, amaremos e também aceitaremos e amaremos a nós mesmos. Na qualidade de budistas e cristãos, não podemos pôr em dúvida que o entendimento é o componente mais importante da transformação. Se conversamos um com o outro, se estabelecemos um diálogo, é porque acreditamos que existe uma possibilidade de compreender melhor a outra pessoa. Quando entendemos outra pessoa, nós nos compreendemos melhor. E, quando nos compreendemos melhor, passamos a entender também melhor a outra pessoa.
"Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido." Todo o mundo comete erros. Se formos observadores, perceberemos que algumas das nossas ações no passado fizeram outras pessoas sofrer, e algumas ações de outras pessoas nos fizeram sofrer. Queremos ser magnânimos. Queremos recomeçar. "Você, meu irmão ou irmã, foi injusto comigo no passado. Compreendo agora que isso aconteceu porque você estava sofrendo e não viu claramente o que estava acontecendo. Não sinto mais raiva de você."
Você não pode se obrigar a perdoar. Somente quando entender o que aconteceu é que poderá sentir compaixão pela outra pessoa e perdoá-la. Esse tipo de perdão é fruto da consciência. Quando somos atentos, conseguimos perceber as inúmeras causas que levaram outra pessoa a nos fazer sofrer, e, quando enxergamos isso, o perdão e a libertação surgem naturalmente. É sempre proveitoso pôr em prática os ensinamentos de Jesus e do Buda.

(Do livro “Vivendo Buda, vivendo Cristo” – Thich Nhat Hanh)

Vivemos em tempos de medo...



Vivemos em tempos de medo! Muito do que empreendemos
tem por conta o zelo pela nossa segurança.
Os homens querem cercar-se de garantias para estar
a salvos, da vida afetiva, profissional,
econômica à integridade física.

É tanta cautela, que todos esses procedimentos
tomados têm cada vez mais afastado as pessoas e
formado um ser humano desequilibrado e frio.
São grades que engaiolam crianças,
blindagens contra a liberdade, ensinamentos
que não transmitimos por medo de perder o cargo,
mãos que não selam acordos. Estamos nos condicionando
a ter o mínimo de contato com o ser humano.

Somos seres dotados de afetividade.
Afetividade é o que afeta, interfere no íntimo da pessoa.
O gênero humano tem por aspiração o ser comunitário.
Precisamos viver juntos, necessitamos uns dos outros.

Sentimentos e afetos são parte do todo do ser humano.
São faculdades que proporcionam cor e
intensidade a cada momento e circunstância
da nossa vida e trazem significado em nosso
interior sobre pessoas e acontecimentos.
Juntamente com o lado racional, as emoções também são
alicerces para tomadas de decisão.

Daí, a importância de cultivarmos boas emoções,
estarmos sadios afetivamente.
E isso acontece por meio do relacionamento,
das conversas, da procura da concórdia,
dos gestos que demonstram carinho e consideração.
Contudo, depois daquele agradável
encontro ou ao ser gerada uma boa impressão a
respeito de alguém, quando entendemos que
amamos e somos amados, o que vem a ser o penhor
e coroar todo tipo de relacionamento são
as diversas formas de contato, como o toque,
o aperto de mãos, o abraço, o beijo, o afago,
entre outros. Gestos muito importantes na construção
de nossa afetividade, que geram homens e
mulheres sadios emocionalmente, pois ao sentirmos o
amor pelo calor humano conectamos a impressão
psicológica e espiritual ao que experimentamos fisicamente.

Então a partir daí todo gesto de amor que recebemos
pode ser sentido pelas três instâncias do ser:
Física, Psiquica e Espiritual.
Um exemplo é quando um indivíduo sabe que sua família o
ama pelas palavras proferidas ou pelo sustento que lhe garantido,
mas se não há o carinho físico, fica faltando uma dimensão.

O amor manifestado para o todo (três dimensões) do ser
humano gera segurança e autoconfiança.
Sentir a mão de quem amamos nos passa a sensação concreta
de porto seguro. Dá uma percepção palpável
do amor que antes intuímos pelo lado racional e na alma.

Jesus tocava os doentes e abraçava as crianças e,
um dia, disse ao fariseu que O convidou para jantar:
“Não me deste o ósculo (beijo); mas esta, desde que entrou,
não cessou de beijar-me os pés” (Lc 7, 45).
Em referência àquela pecadora que, em seu gesto, demonstrou
um amor no qual o anfitrião não o manifestava (cf. Lc 7, 47).
Da mesma forma os apóstolos também tocavam
nos enfermos e assim ministravam a cura
“quando impuserem as mãos sobre os doentes,
estes ficarão curados” (cf. Mc 16, 17-18).

Quem sabe hoje não precisemos abraçar alguém que há muito
não trazemos para perto do coração e deixemos
calar as mágoas passadas num gesto
que é imprescindivelmente humano?
Talvez até pessoas da nossa família,
de dentro de nossa casa que há tempos
não sentimos o calor nem o perfume,
porque não mais nos aproximamos.

Diminuamos as distâncias e
construamos pontes de amor
que nos liguem a outras pessoas.
Não tenhamos medo de apertar a
mão ou envolver com um abraço
aquele(a) que não é ainda parte do
nosso círculo de amizades.
Este gesto pode salvar uma alma.
Há muita gente por aí
precisando de um abraço,
nos hospitais, prisões,
asilos ou talvez no trabalho,
na escola, alguém que esteja
próximo fisicamente de nós.
Vidas gritam por isso!

Um grande abraço a você!

domingo, 27 de novembro de 2011

Poemas copiados de CEM POEMAS DE KABIR.


Não vás para o jardim florido!
Ó amigo! Não te voltes para lá;
É em ti que se encontra esse jardim.
Escolhe teu lugar entre as mil pétalas
do lótus, e contempla desse posto
a Beleza Infinita.

Dentro deste vaso de barro
encontram-se os canteiros e os bosques,
e nele está o Criador.
Neste vaso estão os sete oceanos
e um sem-número de estrelas.
A pedra filosofal e o que louvam suas virtudes
estão em seu interior;
E neste vaso o Eterno soa, e a fonte mana.
Kabir diz: "Escuta, amigo! Meu Bem-Amado Senhor
está em teu interior!"

A Ti atraíste meu amor, ó Fakir!
Eu estava adormecido e abandonado
à minha sorte e Tu me despertaste,
sacudindo-me com Tua voz, ó Fakir!
Eu estava afogando-me nas profundezas
do oceano deste mundo e Tu me salvaste
sustendo-me em Teu braço, ó Fakir!
Uma palavra Tua - não duas - e fizeste-me
romper todos os meus cativeiros, ó Fakir!
Kabir diz: "Uniste Teu coração ao meu, ó Fakir!"

Ó Servidor! Onde estás a Me procurar?
Olha! Estou a teu lado.
Eu não estou nem no templo nem na mesquita.
Não me encontro na Caaba muçulmana
ou no Kailash dos deuses hindus:
Não estou nos rituais e cerimônias,
tampouco no ioga e nas mortificações.
Se és buscador sincero, em breve me verás:
chegará o momento de encontrar-Me.
Kabir diz: "Ó Sadhu! Deus é a respiração 
de tudo o que respira".

O rio e suas ondas são um mesmo fluxo:
qual a diferença entre o rio e suas ondas?
Quando se crispa a onda, é a água que se eleva;
e quando a onda cai, é novamente e ainda
água. Dize-me Senhor, a diferença:
por ter sido denominada onda, não mais devemos
considerá-la água?
No seio do Supremo Brahma, os mundos alinham-se
como contas:
Contempla esse rosário
com os olhos da sabedoria.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

IRMANDADE INVISÍVEL



Desde que me encontrei com o Grande Anônimo,
Me tornei anônimo do meu velho ego,
Esse ego faminto de nomes...
E ingressei na Fraternidade Branca
Dos irmãos anônimos,
Incolores,
Amorfos,
Invisíveis,
Onipresentes...
Ingressei na mística "ekklesía"
Dos arautos da Divindade,
Das vestais do Fogo Sagrado.
Que operam no mundo inteiro,
Em todos os universos do Cosmos.
Mas ninguém os conhece,
Esses anônimos,
Envoltos no manto branco
Do eterno silêncio,
De inefável beatitude...
Onde quer que haja uma dor
A ser suavizada,
Uma alegria
A ser compartilhada,
Onde quer que agonize
Um coração chagado,
Lá estão os Irmãos Anônimos
Da Fraternidade Branca...
Nenhum monumento ostenta seus nomes,
Nenhuma estátua perpetua seus atos,

Nenhum obelisco lhes canta as glórias,
Nenhum poema celebra a grandeza
Desses invisíveis arautos do bem,
Dessas alvas vestais do amor...
Somente nas páginas brancas
Do livro da vida eterna
Estão escritos seus nomes,
Com as tintas da reticência,
Em perpétuo anonimato...
Suas obras ocultam sempre
Suas pessoas...
A presença do seu visível "agir"
Coincide com a ausência do seu invisível "ser"...
Porque anônimos como Deus
São esses ignotos filhos de Deus,
Benéficos raios solares
Do Grande Sol do universo,
Sempre ausente de mim
E sempre presente a Ti...
Na Tua longínqua transcendência,
Na Tua propínqua imanência...
Desde que me encontrei com o grande Anônimo
Me tornei anônimo do meu eu humano,
Eclipsado por seu Tu divino,
Pelo eterno Eu divino
Em mim...

Huberto Rohden - "Escalando o Himalaia"

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

ORAÇÃO PERMANENTE



Muitas pessoas precisam de fatores externos para encontrarem Deus dentro de si. Outras vivem um vasto período de análise intelectual sem se permitirem um momento se quer, de intuição espiritual.
 
Nós não podemos chegar à verdadeira experiência de Deus somente por meio da análise mental. Isto é apenas uma preliminar que deve ser ultrapassada para poder se alcançar uma certeza espiritual. A análise mental é como um grande labirinto sem saída.

Muitas pessoas ficam presas a métodos. Os grandes mestres não estavam preocupados com grandes métodos espirituais. O maior dos terapeutas dizia somente para que se orasse sempre. Sempre quer dizer orar 24 horas por dia, durante 365 dias por ano.
As pessoas confundem oração com reza, pensam que oração e meditação é um tipo de ato externo.
Os mestres não falam de atos, falam de atitude. O que é atitude? Atitude é o modo de ser, não é agir, não é fazer alguma coisa, é ter a consciência do Ser, a consciência da Presença de Deus. Isso não significa pensar em Deus. Não adianta nada ficar pensando em Deus por que isso é apenas um ato. As pessoas não sabem distinguir entre pensar e conscientizar.
Mas o que é conscientizar? Conscientização é um estado permanente da consciência.
Pensar é uma sucessão de atos transitórios. O pensamento é sucessivo e analítico.
A consciência nada tem haver com análise, com sucessividade. Ela é um estado simultâneo, permanente do nosso ser espiritual, do nosso Eu. Eu e consciência são a mesma coisa. Ego e inteligência são outra coisa.
A inteligência pensa, a consciência conscientiza, de maneira que, orar sempre não é pensar, não é falar, é ter a consciência do seu Ser. Naturalmente que quem se identifica com o seu ego intelectual não pode conscientizar. Agora, aquele que já descobriu a sua alma, o se Eu espiritual, pode perfeitamente conscientizar a Presença de Deus.
O evangelho diz: "Eu e o Pai somos um, o Pai está em mim e eu estou no Pai". Isto é conscientizar a Presença de Deus.
Não podemos pensar em Deus durante as 24 horas do dia, somente se não fizermos mais nada fora disto, suspender todo o trabalho profissional e pensar em Deus, mas isso não é possível. Agora, conscientizar a Presença de Deus é perfeitamente compatível com qualquer trabalho. Podemos trabalhar em qualquer profissão, dentro de uma consciência da Presença de Deus.
Conscientização é uma coisa muito parecida com respirar. Se alguém dissesse: "Você tem que respirar sempre e nunca deixar de respirar, por que se você deixar de respirar você morrerá em cinco minutos!" Isso é natural e todo mundo o sabe! Mas se a pessoa dissesse: "Eu não posso respirar sempre por que tenho que trabalhar!" Mas que bobagem é essa?
Ora, é a mesma bobagem que estão cometendo quanto a pratica espiritual... Dizer que não podem conscientizar a Presença de Deus por que tem que trabalhar numa fábrica ou tocar um tipo de negócio... A respiração impede o nosso trabalho? Em absoluto, pois ninguém se preocupa com a respiração, durante as suas atividades do dia. As pessoas vão dormir tranqüilamente e continuam a respirar.
A Oração Permanente de que fala o grande mestre, é uma respiração da alma e nada mais. Assim como o corpo respira constantemente para poder viver, assim a alma deve respirar constantemente para poder viver. Quem não respira espiritualmente, morre espiritualmente. Quem não tem a consciência da Presença de Deus, não vive espiritualmente, seu viver não tem qualidade.
Duas coisas são necessárias para podermos viver fisicamente: comer e respirar.
Podemos deixar de nos alimentar por vários dias, através de jejuns, e não morrer, mas não podemos ficar sem respirar. Em cinco minutos, a falta de oxigênio nos mata. O oxigênio do ar é vida para o nosso corpo. Das comidas, extraímos as calorias. As calorias não são tão necessárias quanto o oxigênio.
Os mestres exigem que oremos sempre e não nunca deixemos de orar. Na nossa linguagem, podemos traduzir esta exigência por:
"Tende sempre a consciência permanente da Presença de Deus" - mas nunca pensando em Deus como uma pessoa. Deus é a vida Universal do Cosmos. Esta Vida Universal nos alimenta quando vivemos dentro da consciência cósmica da Presença de Deus. Para isto, não se faz necessário pensar. É um estado de consciência.
Os grandes mestres não recomendam uma meditação intermitente, uma hora por dia, eles exigem uma meditação permanente, 24 horas por dia. Isso não no sentido de um ato, mas sim num sentido de um estado. Não no sentido de um processo analítico de pensamento, mas sim, no sentido de uma consciência simultânea e permanente.
Isto para os principiantes é difícil de compreender, mas, se você se habituar a este estado de consciência, não a uma ato de pensamento, você irá verificar que a oração permanente ou o estado permanente da Presença de Deus, não impede nenhum trabalho, pelo contrário, torna todos os trabalhos mais fáceis.
Quando alguém se habituou a viver na consciência da Presença de Deus, ele verifica que os seus trabalhos outrora antipáticos se tornam simpáticos, outrora odiados, se tornam até amados. Ele pouco a pouco descobre que o trabalhar não é dever compulsório, mas sim, um querer espontâneo. Quando alguém passa do maldito dever para o bendito querer, então está tudo resolvido, por que o grosso da humanidade só trabalha por um maldito dever. Elas dizem que infelizmente tem que trabalhar para poder viver e sustentar a si e a sua família. Quando o trabalho é um maldito dever é um trabalho antipático. Quando o trabalho se transforma num bendito querer então o trabalho fica com gosto.
Todos os grandes iniciados trabalhavam muito; nenhum deles foi preguiçoso. Nenhum deles arranjou aposentadoria permanente para não trabalhar mais. Todos trabalhavam, mas, os verdadeiros iniciados trabalhavam por um bendito querer e não por um maldito dever.
Um dos mais modernos iniciado, escreveu o maravilhoso livro A Arte de Curar pelo espírito, diz: "na primeira metade de minha vida, eu trabalhava para viver. Na segunda metade da minha vida, eu vivo para trabalhar". Note bem como ele inverteu o programa: primeiro ele trabalhava para viver - o maldito dever de trabalhar... Com o suor do teu rosto, ganharás o teu pão. Isto é dos não iniciados.
Ele dizia que trabalhava para viver, mas que depois que entrou na iniciação espiritual, passou a viver para trabalhar. Todos nós, sem exceção, podemos chegar a este ponto. Isto vai depender do estado de consciência da pessoa, pois o trabalho é o mesmo. O que pode ser diferente é o motivo pelo qual se trabalha: ou por dever ou por querer. Dever é desagradável, querer é agradável. O dever nos faz escravos, o querer nos liberta, nos torna servidores.
Quem faz o que deve é escravo. Quem não faz o que deve é um mal escravo.
Quem faz por querer, faz com alegria, boa vontade, entusiasmo e amor e por isso, é livre e feliz.
A Oração permanente não impossibilita o trabalho profissional, muito pelo contrário, qualifica-o, torna-o gostoso e agradável.
A Baghavad Gita recomenda: Trabalhar intensamente, mas renuncie a cada instante aos frutos do teu trabalho... não trabalhar por causa do resultado, mas por causa da autorealização.
No Evangelho diz o nazareno: "Quando tiverdes feito tudo o que devíeis fazer, dizeis: agora somos servos inúteis, cumprimos a nossa obrigação, nenhuma recompensa merecemos por isso!" Não é trabalhar por recompensa, seja recompensa terrestre ou celeste, mas sim, por amor a sua autorealização, ao aperfeiçoamento do seu espírito, da sua alma, isto é um trabalho bendito!
Todos os grandes mestres recomendam aos seus discípulos que tenham duas asas para voar. Você já viu algum avião voar com uma só asa? Nenhum inseto voa com uma asa... Uma asa só, por mais bela e forte que seja, não serve. As duas asas que os grandes mestres recomendam são:
1. Orai sempre e nunca deixeis de orar. 
2. Quem não renunciar a tudo que tem, não pode ser meu discípulo.

A primeira asa é muito simpática, mas a segunda, para os não iniciados, é muito antipática. Por que entendem que renunciar como uma coisa muito dolorosa. Eles logo compreendem por coisas materiais como dinheiro, casa, automóvel e outras coisas mais. Isso não é muito importante. Muito mais necessário é renunciar a si mesmo, que é muito mais importante do que renunciar a objetos.
Mas, o que vem a ser renunciar a si mesmo?
Quem não conhece a natureza humana não pode compreender estas palavras. Para esta pessoa, renunciar a si mesmo parece com suicidar-se. Mas isto não resolve nada, só piora a situação. Enquanto a pessoa se identifica com o seu ego, não renunciou a seu ego. Somente quando descobre que não é o seu ego físico-mental-emocional, o seu invólucro humano, que isto ele tem, mas que isso ele não é, que ele é o seu espírito, a sua alma, a luz do mundo, a pérola preciosa...Então, ele renunciou.
Renunciar é o descobrimento da verdade sobre si mesmo!
Quem não entrou no autoconhecimento, não renunciou! Renunciou a que?
Aqui não se trata de renunciar a objetos externos, impessoais, trata-se de renunciar a um objeto pessoal, interno, chamado ego. Dentro de nós existe uma ilusão de nos identificarmos com o nosso ego humano e é justamente a isso que devemos renunciar. Mas como renunciar a esta ilusão?
Uma ilusão só pode ser combatida pela verdade. Ilusão é escuridão, verdade é luz! É possível combater a escuridão a não ser pela luz? A ilusão de que eu sou o meu ego é uma treva, a verdade de que eu sou a minha alma é uma luz. Só podemos combater a ilusão de que somos um ego, pela ação da luz do autoconhecimento. Luz é presença, treva é ausência. Onde há 100% de presença há o de ausência.
O que os mestres recomendam é puro autoconhecimento e isto, cada um deve fazer.
Cada um precisa responder satisfatoriamente a pergunta: Quem sou eu? Quando o homem chega a conclusão de que é o espírito de Deus em forma individual, então, está liberto de toda ilusão.
Deus é Espírito Universal.
Eu sou o espírito de Deus em formal individual.
Eu sou uma emanação espiritual da Divindade Universal.

Então, a segunda asa é a renúncia. Quando se fala em renúncia, quase todo mundo se choca e pensa que se trata de uma renuncia a nível material externo. Pensam que renunciar é jogar tudo fora, perder tudo, ficar com nada... Isso não é verdade, pois a renúncia não se refere a coisas materiais, mas sim, mentais. A nossa falsa mentalidade ego é que deve ser renunciada.
Se alguém renunciar a ilusão da sua mentalidade errada, então ele é completamente livre.
Só então ele é um discípulo dos grandes mestres.
Se alguém renunciou a sua identificação com o seu ego e depois olhar para os seus bens materiais lá fora, será que ele tem dificuldades em renunciar a estes bens? Não tem nenhuma dificuldades! A dificuldade é a renuncia interna e não a renuncia externa, pois isto é uma conseqüência de um transbordamento que pode ser constatado na vida de todos os grandes homens da história. Os inexperientes pensam que seja difícil a renuncia aos bens materiais. Os iniciados sabem que a renuncia aos bens materiais é uma simples brincadeira. É coisa tão fácil como beber um copo d'água, pois o que é realmente difícil é renunciar ao seu ego mental, não ao seu ego material.
No nosso século Mahatma Gandhi e Albert Shuawaseir fizeram a grande renuncia material colocando todos os seus bens materiais a serviço da humanidade.
As coisas materiais nunca foram nossas, isso é pura ilusão. Nosso foi o nosso ego mental e esse é muito nosso, pois é um objeto pessoal. Os bens externos são bens impessoais. Renunciar as coisas impessoais não é muito difícil, agora, recusar as coisas pessoais, aí sim é difícil! Quem passou pela maior aventura da renuncia pessoal, faz brincando a renuncia material por que isto é apenas uma conseqüência!
Então, todos os grandes mestres exigem que voemos com as duas asas, que são a asa da oração e a asa da renúncia. O engraçado é que muitos estão dispostos a criar a primeira asa da oração, mas quando se deparam com a segunda asa da renúncia, então retrocedem temerosos e tentam voar apenas com uma das asas. O resultado é que não conseguem voar!
Mas aquele que se habituou a oração, a consciência, não acha difícil a renuncia mental por que se ele já está convencido de que ele é a alma, de que ele é o espírito, ele também com a maior facilidade renuncia a ilusão de que ele seja o ego, por que se ele é o Eu, ele não pode ser o ego. Uma coisa é a conseqüência da outra, de maneira que propriamente não são duas coisas; parecem ser duas coisas, oração permanente e renuncia total, mas no fundo são uma coisa só. Por que aquele que já fez a oração permanente, também já fez a renuncia do seu ego, por que a oração permanente é incompatível com a identificação com o ego. O ego de fato não é o Eu.

Logo as duas asas quase se identificam... Oração permanente e renuncia total, no fundo são duas asas, mas logo chegamos a conclusão de que podemos voar com uma asa só, contanto que as duas asas sejam identificadas apenas numa. Então, tudo virá como que um "helicóptero" no final, por que o helicóptero não tem duas asas. O avião precisa de duas asas para voar, mas o helicóptero não tem nenhuma asa e por isso ele pode subir em linha vertical. O avião precisa de uma enorme linha horizontal para subir. Quem descobriu que oração é renúncia e que renuncia é oração identificou as duas asas do avião numa só e pode subir na vertical como um helicóptero.


Esta é a grande verdade descoberta pelos grandes mestres.


Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!


Quem não tem asas tem que rastejar. Então, o principal está em criarmos asas para podermos voar.


Uma minhoca não voa e se ela vê uma águia voando nas alturas, acha uma bobagem. Quem é minhoca, não pode compreender a liberdade de ser águia, prefere continuar rastejando, comendo húmus por debaixo da terra da sua ignorância. Mas, quem já não é minhoca e já tem consciência espiritual de águia, não se contenta com uma vida debaixo da terra, quer alçar vôo à luz do sol. Isso é uma questão de desenvolver a consciência. A nossa evolução vai a espaços mínimos em espaços máximos. Precisamos muito tempo para dar um passo na evolução ascensional. Rastejar na horizontal é fácil por que isso não exige esforço nenhum. Deixar-se cair para baixo ainda é mais fácil. Involução é para baixo, estagnação é na horizontal e evolução é na vertical. Temos apenas estas três possibilidades.


Involução é regresso. Estagnação, rotina. Evolução, para cima. A única difícil é a evolução. A estagnação é inércia, é ficar sempre no mesmo plano, empurrando a vida com a barriga... Meus pais viveram assim, meus avós viveram assim, eu vou viver assim e os meus filhos e netos também vão viver assim. Isso é estagnação e quase todo mundo gosta da estagnação, ou se preferir, normóse. O que os outros fizeram, eu vou fazer também! Deixa como está para ver com vai ficar isso! O ego adora uma estagnação, pois a mesma não exige esforço, é comodismo, é inércia horizontal, é ir adiante, mas nunca ir para cima! Para cima já é esforço. Mais fácil ainda é regredir, ir para baixo, involução ainda é mais fácil do que a estagnação...

E muitos gostam disso!
Quem pensa está na horizontal.
Quem não pensa vai abaixo da horizontal.
Quem conscientiza vai para cima, vai para as alturas.
Quem pensa fica só na horizontal, fica sempre na mesmice de milênios atrás. Não sai da rotina. O grosso da humanidade prefere o rotineiro. Para eles, o principal é continuar na normóse da horizontalidade.
Toda evolução exige esforço e o ego não gosta de esforço, por que ele é amigo da lei da inércia e do menor esforço.
Quem nunca saiu da consciência do ego, não vai sair da horizontalidade, se satisfaz com tudo aquilo que os seus antepassados fizeram e que ele espera que os filhos também o façam. Pronto! Isto continua na horizontal.
Existem uns poucos, uma pequena elite que se animam a sair da horizontal para a vertical. Eu digo para a vertical, mas isso não é possível em pulo só. Ninguém pode dar um pulo de 0 para 90º. Entre o 0 da horizontal e o 90 da vertical está o nosso grande problema. Temos que fazer um trabalho de desenvolvimento ascensional de 0 a 90.
Do crer a pessoa pode cair para o descrer. Quem chegou à experiência espiritual do seu Eu Divino está definitivamente garantido. Do saber a pessoa nunca mais pode cair para o não-saber. A autorealização não vem de fora, ela vem da conscientização da nossa realidade espiritual. Quem se conscientizou como sendo o Espírito de Deus, não pode saber mais se identificar com o seu pequenino ego humano.
A pessoa pode ter a crença que for, pode crer quanto quiser, mas por nenhuma crença poderá estar segura, por que do crer existe a possibilidade de um regresso para o descrer. A pessoa só pode estar absolutamente segura a partir da experiência pessoal de Deus, quando experimenta em si mesma: "Eu e o pais somos um". Somente um ângulo reto pode retificar a nossa vida. Retificação é autorealização.
Será que podemos chegar a retificação na vida presente? Sim, podemos! Não foram muitos que conseguiram esta retificação, do tipo Paulo de Tarso, Mahatma Gandhi, Francisco de Assis, Albert Shuaisteser e outros. Os grandes retificados, os grandes místicos são aqueles que tiveram a experiência pessoal de Deus, não a crença de Deus, mas a experiência de Deus e através dela, chegaram à absoluta certeza de que nunca mais poderiam recair ao padrão anterior de pensamento, sentimento e ações.
Da experiência não a regresso para a inexperiência.
Da crença há regresso para a descrença. Por isso, a crença não garante a nossa autorealização.
A crença é um caminho para a experiência, mas muitas vezes, não se chega até lá. Quem para na crença não pode se sentir muito seguro. A crença pode ser como uma boa vontade, mas não é muito sabedoria. É preciso muito mais que boa vontade - boa vontade ainda é crença. É preciso sabedoria, que é fruto direto da experiência. Somente aquele que chegou a experiência vertical de Deus, pode ter a absoluta certeza de que não vai mais recair.
A meditação é o instrumento pelo qual buscamos por 100% da consciência da realidade espiritual que somos. É por meio da meditação que podemos não mais nos iludir com dúvidas ou incertezas. É pela verdadeira meditação, que podemos chegar à certeza da nossa identidade essencial com o Espírito de Deus.
 
* A Sabedoria ultrapassa o intelecto, através da intuição, contempla. A Sabedoria faz com que a Verdade seja inteligível. O intelecto usa a razão e o conhecimento discursivo.
 
Huberto Rodhen