quinta-feira, 5 de novembro de 2009



Busquei o amor em muitas vidas.

Para saber o que é o amor, derramei as lágrimas mais amargas de separação e de arrependimento.

Sacrifiquei tudo, todo apego e toda ilusão, para compreender, afinal, que estou apaixonado
pelo Amor - por Deus - apenas.
Então, bebi o amor de todos os corações sinceros.

Vi que Ele é o Único Amante Cósmico, a Única Fragrância que,
no jardim da vida, permeia as variadas flores do amor.

Muitas almas se perguntam, numa atitude triste e desamparada, por que o amor foge de um coração para outro.

As almas despertas percebem que o coração não é volúvel quando ama seres diferentes, mas ama o Deus-Amor único, presente em todos os corações.

O Senhor sempre vos sussurra em silêncio:


Eu Sou o Amor.


Porém, a fim de experimentar o ato de amar e a dádiva do amor, dividi-Me em três: o amor, o amante e o amado.

Meu amor é belo, puro, eternamente jubiloso; e Eu saboreio de muitas maneiras, por meio de muitas formas.

Como pai, bebo o amor reverente do manancial do coração de meu filho.

Em forma de mãe, bebo o néctar do amor incondicional do cálice da alma de meu bebezinho.

Na criança, absorvo o amor protetor da razão justa do pai.

Como infante, bebo o amor imotivado no santo graal de materna atração.

Patrão, bebo o amor cheio de consideração que vem do frasco da amabilidade do servidor.

Como servidor, sorvo o amor respeitoso no copo do apreço do patrão.

Na forma de guru-preceptor, desfruto do mais puro amor, proveniente do cálice da devoção do discípulo em entrega total.

Na forma de amigo, bebo dos mananciais borbulhantes do amor espontâneo.

Como amigo divino bebo, a grandes sorvos, as águas cristalinas do amor cósmico, provenientes do reservatório dos corações que adoram a Deus.

Estou apaixonado somente pelo Amor, mas permito-Me ser iludido quando, como pai ou mãe, apenas penso no filho e Me compadeço dele; quando, como amante, só me preocupo com a pessoa amada; quando, como servo, vivo apenas para o patrão.

Todavia, porque amo somente o Amor, destruo, por fim, esta ilusão das Minhas miríades de Eus humanos.


Trechos do escrito "O Vinho Onírico do Amor", por Paramahansa Yogananda na década de 1930.


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Não Sou Mestre de Ninguém




Não sou mestre de ninguém.
Ninguém é discípulo meu.
Sou como a flecha na encruzilhada,
Cuja missão é apontar o caminho certo
- E depois ser abandonada...
Se o viandante não ultrapassar a seta,
Não cumpre o desejo da mesma.
Ai de mim se eu não for abandonado!
Se o vianjante parar diante de mim,
Contemplando a minha forma e cores,
Se, em vez de demandar
A invisível longinqüidade
Se enamorar da minha visível propinqüidade,
Não compreender a minha mensagem,
Que aponta para além de mim,
Rumo ao Infinito...
Ai de mim, se eu for espelho,
Perante o qual os homens parem
Para se contemplarem a si mesmos,
Em mortífero narcisismo!
Feliz de mim, se eu for janela aberta,
Que permita visão de horizontes longínquos,
Passagem franca para o Infinito!

Não sou mestre de ninguém,
Ninguém é discípulo meu!
Indico a todos o Mestre invisível,

Que habita na alma de cada um
E para além de todos os mundos.
Sinto-me feliz, quando o viajor,
Orientado pela legenda da minha seta,
Me abandona e vai em demanda
Da indigitada meta
Em espontânea liberdade,
Rumo à longínqua felicidade...

Huberto Rohden
Do livro: A Voz do Silêncio - Ed. Martin Claret